sexta-feira, 14 de março de 2008

Piadinha sem graça.

Não fosse trágico, seria cômico, mas dizem que política e honestidade são conceitos mutuamente excludentes. Claro que generalizar é sempre perigoso - afinal, existem políticos honestos e até bem intencionados (embora eu não consiga me lembrar de nenhum para mencionar assim, de bate-pronto, como tampouco me recordo em quem votei para vereador, deputado federal, estadual e senador). Mas o foco desta postagem não é bem esse, e sim o projeto do ínclito deputado Aldo Rebelo - do PC do Brasil -, que pretende banir o "estrangeirismo" em anúncios públicos, documentos oficiais, meios de comunicação, anúncios e letreiros de lojas e restaurantes.
Sem embargo de a gente até poder se acostumar a chamar o mouse de rato (aliás, o plural de "mouse" é "mice", e não "mouses"), e o computador, de ordenador (embora soe estranho, é como se faz em Portugal), esse projeto é um retrocesso inominável. Até porque nosso idioma não está sendo ameaçado pelos neologismos oriundo de termos em inglês (comuns especialmente no âmbito da informática); antes pelo contrário.
Parafraseando Millor, "a língua é a mais complexa, a mais milagrosa, a mais estranha, a mais gigantesca e variada invenção humana". E a história comprova que todos os idiomas ampliam seus vocabulários, evoluem e se tornam mais ricos absorvendo termos e expressões de outras línguas. Claro que alguns exageros podem - e devem - ser evitados; aliás, os renomados manuais de redação e estilo de veículos de comunicação como a Folha e o Estado (de São Paulo) desaconselham o uso de galicismos, anglicismos e outros "ismos" (mas proibí-lo já é um pouco demais; afinal, isto aqui é ou não é uma democracia?).
Pessoamente, não vejo sentido em lojas anunciarem seus produtos com preços "50% Off!" - afinal, pra que isso? - mas impor por força de lei que passemos a chamar futebol de ludopédio - ou, pior, de pebolismo? Tenha dó!
A tentativa de proteger idiomas de influências estrangeiras é vista pelos filólogos como uma característica de governos autoritários. Os regimes fascistas e nazistas de Mussoline e Hitler, por exemplo, proibiram o uso de termos estrangeiros e baniram o ensino de inglês das escolas, além de exigir que os cinemas só exibissem filmes dublados. Mais recentemente, o então presidente francês François Mitterrand sancionou a Lei Toubon (chamada jocosamente pelo povo de Lei All Good), que determinava a substituição de termos estrangeiros por seus equivalentes em francês. No Irã, o presidente Mahmoud Ahmadinejad criou uma lista de estrangeirismos a serem banidos, fazendo com que "pizza" passase a ser chamada de "massa elástica" e "celular", de "comunicador companheiro" (durma-se com um barulho desses).
Deixando de lado o absurdo da proposta do nobre deputado, fica aqui a pergunta que não quer calar: será que nossos dignos(?) representantes não têm nada mais importante com que se preocupar? Num país onde a corrupção campeia solta - e chega a dar ânsia de vômito a porcos da Tasmânia -, não seria mais producente implementar a transparência e banir a roubalheira institucionalizada - que disputa as manchetes dos principais jornais? Tudo bem que político é político em qualquer parte do mundo (só muda o endereço). Não é apenas no Brasil que acontecem conchavos e maracutaias. Ademais, não seria de se esperar algo diferente de quem disputa cargos cuja remuneração, mesmo se economizada sovinamente durante todo o mandato, não daria para cobrir as despesas de campanha - o que nos leva a imaginar quais e quantos interesses ocultos existem por trás das contribuições (muitas vezes milionárias) que algumas pessoas físicas e jurídicas ofertam a seus escolhidos. E como ninguém da ponto sem nó (muito menos o empresário), a resposta me parece óbvia.
Então, juntemo-nos aos porcos e vomitemos (metaforicamente) idéias retrógradas, populistas e delirantes. Defenestremos políticos que, por interesses questionáveis e ambições meramente eleitoreiras, só façam se locupletar à custa de quem confiou em suas sandices - e os botou lá, como serviçais do povo (aspecto quase sempre esquecido por quem se aboleta no poder e para quem tratamentos pomposos como Vossa Excelência e assemelhados não só massageia o ego, mas também leva acreditar - de verdade - que eles são diferentes daqueles cujos interesses deveriam representar).
Outubro está aí; vade retro, satanás!
Bom final de semana a todos.