segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A SOCIEDADE BRASILEIRA E O ELEFANTE DE DRUMMOND


A maioria de nós está apreensiva com a falta de alternativas para a sucessão presidencial, e não sem razão. Todavia, mais importante que a descobrir "um nome" é a sociedade civil criar meios para controlar o governo, pois não elegemos anjos, mas pessoas de carne e osso.

De certo modo, já exercemos algum controle, mas somente em relação a grandes temas, já que tratamos como normais e cotidianas as inúmeras aberrações que colocam a nação de cabeça para baixo, como o recente pedido oficial de Geddel Vieira Lima para saber o nome e o telefone de quem o denunciou.

Felizmente, a procuradora-geral Raquel Dodge negou esse absurdo ― que, se acolhido, daria início a uma prática inusitada: caso a polícia revelasse o nome e o endereço do delator, estaria quebrando o anonimato de informantes e permitindo que eles fossem assassinados (ou alguém acha que Geddel queria apenas tomar uma cervejinha com o dito-cujo?). Mas só o fato de tamanha aberração ter existido e circulado como uma notícia normal dá uma boa ideia de como anda o Brasil.

Enfim, a vida continua... Engolindo um sapo aqui, outro acolá, acostumamos o estômago para os grandes batráquios de fim de mandato. Um deles, que está sendo urdido nos bastidores do Congresso e no próprio STF é a derrubada da prisão em segunda instância ― que tanto os parlamentares quanto alguns ministros do Supremo veem como saída para neutralizar não só a Lava-jato, mas todas as operações que envolvam políticos corruptos. Enunciado como uma tese jurídica, o fim da prisão em segunda instância faz sentido pois todos são inocentes até que a sentença seja confirmada pelo STF. Na prática, todavia, reverter o entendimento será um retrocesso que resultará fatalmente em impunidade geral. Todos terão direito a uma trajetória semelhante à de Paulo Maluf, que de recurso em recurso vai tocando a vida, exercendo mandatos e até defendendo outros acusados de corrupção, como o próprio Michel Temer.

Enquanto essas coisas acontecem, o debate entre os que querem a mudança tende a focar no perfil do líder que nos vai salvar. Em que rua, em que esquina o encontraremos? Acho improvável que um grande líder aflore desse mar de lama ― e mesmo que surja, ele não será um anjo enviado do Céu. A despeito do que afirma a autodeclarada alma viva mais honesta do Brasil, não elegeremos anjos em 2018 ― e nem em qualquer outro pleito. Até lá, precismos fortalecer as organizações que trabalham com a transparência, fortalecendo, consequentemente, a sociedade civil como um todo.

Nem todos pensam da mesma maneira, naturalmente, mas a situação que o país atravessa é dramática e requer empenho para que pontos de convergência sejam encontrados. A fronteira do pessimismo não nos deve desesperar. Há algumas instituições funcionando, há grupos trabalhando na busca da transparência, há a possibilidade real de que todos os que querem mudanças encontrem um denominador comum.

Como o poeta que fabrica um elefante com seus parcos recursos, a sociedade terá de construir seu sistema de defesa. Alguns móveis velhos, algodão, cola, a busca de amigos num mundo enfastiado que duvida de tudo ― o Elefante de Drummond é inspirador.

Texto inspirado num artigo publicado por FERNANDO GABEIRA no Estadão

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