quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

LULA DECRETOU QUE SÓ EXISTEM NO SEU PASSADO OS FATOS QUE LHE INTERESSAM.



Todo cidadão honesto que tem uma causa na justiça deseja, acima de tudo, que o processo ande o mais rápido possível. Se a pessoa está com a consciência tranquila em relação aos atos que praticou, por que iria querer algo diferente? No Brasil, todavia, há, neste preciso momento, um homem que deseja exatamente o contrário, que reclama de, no seu caso, a Justiça estar indo rápido demais. Quem já ouviu falar de uma coisa dessas?

Há 500 anos existe neste país uma certeza acima de qualquer outra: do presidente do STF ao mais ordinário rábula de porta de cadeia, todo mundo acha que um dos problemas mais repulsivos do Brasil é a morosidade da Justiça. Justiça que tarda não é justiça, ouvimos desde o jardim da infância: só os ricos, os poderosos e os culpados tiram proveito de processos que se vão arrastando até o Dia do Juízo Universal.

Lula deveria ser 100% a favor de uma Justiça rápida e simples ― a única que atende aos interesses do cidadão comum, sobretudo dos mais pobres. Mas não. É ele, justamente ele, o homem que está fazendo hoje uma campanha inédita pela lentidão da Justiça.

Lula, como se sabe, é réu em 7 processos e foi condenado num deles a 9 anos e 6 meses de prisão, em junho passado. Recorreu da sentença ao TRF-4, que acaba de marcar para 27 de janeiro de 2018 o julgamento do apelo. O que poderia haver de errado nisso? Eis aí, afinal, um exemplo claro de magistrados que trabalham com rapidez, que cumprem seu dever junto ao público e que não aceitam o adiamento eterno das sentenças. Mas Lula e todo séquito de imprestáveis ficaram imediatamente indignados. Acham que o Tribunal está “andando depressa demais”, que outros casos levaram mais tempo para ser julgados, que o certo seria jogar tudo para as calendas gregas.

Não dá para entender. Os mais de seis meses transcorridos entre a condenação e o julgamento do apelo não bastariam para esclarecer tudo? Isso sem mencionar o tempo que seus advogados tiveram para defendê-lo, entre a aceitação da denúncia e o julgamento pelo juiz Sérgio Moro. Essa novela vai completar um ano e meio daqui a pouco, será que não chega?

Mais que isso, enfim, há a questão que não quer calar: é incompreensível que Lula não aceite ser julgado o mais cedo possível se, como ele próprio já disse em público tantas vezes, nunca cometeu crime algum, e que não existe no Brasil alma viva mais honesta do que ele. É igualmente lamentável que demonstre, também, mais uma vez seu total desprezo pelas “instituições” de que tanto fala. As leis, as eleições, as decisões da Justiça, as votações no Congresso, enfim, só são boas quando são a seu favor. Quando não, é tudo golpe, armação e ódio ao povo brasileiro. Em suma: só é legítimo, nesta Banânia, o que Lula aprova.

Sua insolência, cada vez mais, parece trancar-se num mundo escuro, onde só existem sua própria voz, sua própria vontade e seus próprios interesses. A lógica e os fatos, há muito que deixaram de existir. Ainda outro dia, no Rio de Janeiro, num comício para militantes do PT, o pulha saiu-se com a seguinte pérola: “O Rio não merece que governantes que foram eleitos democraticamente pelo povo estejam presos porque roubaram dinheiro público”. Como assim? Estaria o molusco abjeto lamentando a prisão de Garotinho e Cabral? Por que esses “eleitos democraticamente”, e por que duvidar logo em seguida, e por duas vezes, se houve mesmo corrupção no Rio? “Eu nem sei se é verdade”, repetiu Lula.

Logo foram dadas explicações. Lula foi mal interpretado, pode ter se atrapalhado um pouco com as palavras, mas, como tanta gente, estava triste com o que vem acontecendo no Estado. Tudo bem, mas só ele, em todo o Brasil, duvida que o ex-governador Sérgio Cabral ― já condenado a 72 anos de prisão e com outros 13 processos pela proa ― seja o maior ladrão que governou o Rio desde Estácio de Sá, conforme comprovado pela Justiça. E também não dá mais para apagar o que Lula disse a respeito do dito-cujo: “Votar em Sérgio Cabral é uma obrigação ética, moral e política”. Está-se vendo.

Lula, já há muito tempo, decretou que só existem no seu passado os fatos que lhe interessam.

PARA QUEM NÃO LÊ AS ENTRELINHASO comandante máximo da ORCRIM pretendia arrastar sua candidatura até setembro, com chicanas jurídicas no STJ, no STF e no TSE. Se ele fosse cassado, transferiria uma parte de seus votos para o poste Jaques Warner. A rapidez do desembargador Gebran, porém, desarmou esse golpe, porque o discurso vitimista de Lula vai esfriar até o início da campanha eleitoral. Além disso, o pulha corre o risco de ser preso ― e, com isso, tornar-se um cabo eleitoral ainda mais tóxico. O PT tem de refazer seus planos. Rapidamente.

Com J.R. Guzzo

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