sábado, 26 de maio de 2018

BRASIL ― ALGUMA COISA ESTÁ MUITO ERRADA




Em meio à paralisação dos caminhoneiros, professores do ensino básico de 34 escolas da rede particular da cidade de São Paulo suspenderam as aulas na última quarta-feira (23), em protesto contra a redução do recesso de final de ano, o cancelamento do direito a bolsas de estudo para filhos e uma série de outros benefícios. Não vou entrar no mérito, mas apenas ponderar que se o objetivo era pressionar o sindicato patronal ou os estabelecimentos de ensino, a estratégia não funcionou. Seja porque a paralisação prejudicou apenas os alunos ― e, indiretamente, seus pais, que pagam caras mensalidades para que as crianças tenham aulas ―, seja por não ter sensibilizado a população em geral, que anda de saco cheio dessas coisas. E não sem razão.

Mesmo após colocar o governo de quatro, os representantes dos caminhoneiros ficaram de “discutir se aceitavam ou não a proposta”. Nesse entretempo, a absurda paralisação segue causando inestimáveis prejuízos, sobretudo ao impedir produtos perecíveis de chegar ao destino, remédios a hospitais e farmácias e combustíveis aos postos. Ainda que esse imbróglio termine neste final de semana, levará dias até que o abastecimento, o transporte e as demais rotinas voltem ao normal no país. 

Claro que as consequências seriam menos dramáticas se quem queria trabalhar não tivesse sido impedido pelos bloqueios em estradas, marginais, portos e outros pontos estratégicos, mas até aí morreu o Neves. Fato é que, além do prejuízo bilionário aos contribuintes, o único resultado palpável do acordo firmado na última quinta-feira foi expor a fragilidade de um governo mambembe, que mal se sustenta nas pernas: o “day after” amanheceu sob o comando da greve, alimentando o temor de que a situação se agravasse se o presidente e o Planalto precisasse ceder ainda mais. Só que Temer já deu os anéis; agora, só lhe restam os dedos.

Salta aos olhos a falta de entrosamento entre os presidentes da República, do Senado e da Câmara. Temer ignorou a crise e se escafedeu para o Rio ― a pretexto de comparecer a uma cerimônia qualquer ―, depois de encarregar o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, das negociações com os caminhoneiros. Eunício Oliveira deixou Brasília na tarde da quinta-feira e só voltou porque sua viagem pegou mal ― e a mídia caiu de pau. Rodrigo Maia tentou capitalizar, mas mostrou que não é bom de conta ao aprovar uma desoneração que geraria um rombo de R$ 10 bilhões. E a Abin, por sua vez, só se apercebeu das dimensões da greve quando era tarde demais. 

Ontem, como solução in extremis, Temer decidiu recorrer às Forças Armadas para desobstruir as estradas ― e convenhamos: já estava mais que na hora. A medida parece ter surtido efeito, embora alguns bloqueios persistam teimosamente, na manhã deste sábado, em diversas rodoviária do país. Aguarda-se uma coletiva de imprensa para logo depois da reunião desta manhã, no Palácio do Planalto (como foi dito na coletiva de ontem, serão duas reuniões diárias para avaliar a situação do movimento; uma logo pela manhã e outra no final da tarde).

Observação: Se alguém tem algo a comemorar, esse alguém é o ex-presidente Lula. Inconformado com o fato de sua vassala Gleisi Hoffmann ― a quem escolheu para substituir Ruy Falcão na presidência nacional do PT ― não ter conseguido “parar o Brasil” em protesto contra sua prisão, agora lhe serve de consolo o fato de os caminhoneiros terem obtido sucesso, mesmo que os motivos do protesto sejam bem outros.

Vale lembrar que greve é como sexo: quando se obriga alguém a fazer, é porque alguma coisa está errada.

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