segunda-feira, 13 de agosto de 2018

SOBRE DIAS TOFFOLI, O PRÓXIMO PRESIDENTE DO STF (TERCEIRA PARTE)


O Banco Mercantil do Brasil, fundado numa cidadezinha distante 160 km de Belo Horizonte e controlado desde a década de 1950 pela família Araújo, tem cerca de 1 milhão de correntistas e opera principalmente em Minas Gerais e no interior de São Paulo. Crusoé descobriu que a área técnica dessa instituição identificou indícios de lavagem de dinheiro nas transações envolvendo a conta do ministro Dias Toffoli, dentre as quais o fato de ela ser gerenciada pelo procurador Ricardo Newman — um ex-gerente de agências do Banco do Brasil em Brasília, que passou a assessor externo de Toffoli quando este foi nomeado Advogado-Geral da União e a assessor direto depois que o chefe ascendeu ao STF

Graças ao Mercantil, o magistrado também figurou em uma investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro. Os procuradores descobriram que o banco foi usado para repassar R$ 350 mil para Toffoli dar aulas na Universidade Gama Filho. Em uma decisão temerária e repleta de suspeitas, o enrolado Postalis — fundo de pensão dos funcionários dos Correios — havia escolhido a instituição para investir parte de seu dinheiro. Enquanto não recebia os aportes, era com dinheiro do Banco Mercantil que a Gama Filho pagava alguns de seus prestadores de serviço — um dos quais nosso caro ministro. Os valores eram repassados pelo Mercantil e, em seguida, transferidos para Toffoli; quando a universidade recebia os recursos do Postalis, ela ressarcia o banco.

Um dos citados na investigação é o empresário Ronald Guimarães, alvo de um processo que chegou ao STJ em 2014. Era uma causa de incríveis R$ 250 milhões, e o empresário, que já contava com Cezar Peluso — ex-presidente do STF — em sua equipe de defensores, contratou também os serviços de Roberta Maria Rangel. A ação segue em aberto, agora no Supremo e com outros advogados, no gabinete da ministra Cármen Lúcia.

Além de funcionar como relator de processos de interesse do Mercantil no STF, o ministro Dias Toffoli foi beneficiário de generosas operações autorizadas pela cúpula da instituição. Documentos internos obtidos por Crusoé revelam que, em 2011, ele pediu um empréstimo de R$ 900 mil, a ser pago em parcelas de R$ 13.806 ao longo de 15 anos. A prestação representava quase 75% do salário líquido que o magistrado percebia na época, mas o banco liberou o financiamento mesmo assim — e com uma taxa de juros de 1,35% ao mês (metade da taxa utilizada nas operações de crédito pessoal dos demais clientes).

Continua na próxima postagem.

Enquanto isso...

A menos de dois meses do pleito presidencial, o cenário nebuloso se torna ainda mais incerto quando se projeta um “pós-eleição” em que não há certeza de nada, senão de que a campanha sucessária vem sendo marcada como nunca pela escassez de líderes com visão de longo prazo e capacidade de infundir confiança no eleitorado e no empresariado.

A inequívoca a perda de legitimidade dos políticos — independentemente de vinculações partidárias — leva os eleitores a uma apatia jamais vista na história recente deste país. Para piorar, nomes antes promissores foram varridos do tabuleiro sem que novos líderes despontassem no horizonte. 

O resultado é o que se vê: uma população composta majoritariamente por analfabetos, desculturados, desinformados e desinteressados, não raro seduzidos por discursos populistas de supostos “salvadores da pátria” — só isso explica o fato de um criminoso condenado liderar as pesquisas de intenção de voto, de um extremista de direita vir logo atrás (detalhe: ao contrário do primeiro colocado, que está cumprindo pena por corrupção e lavagem de dinheiro, o segundo tem chances reais de assumir a Presidência, caso vença as eleições), seguido por um pseudo cearense que promete, num prodígio de magia, "limpar o nome" de dezenas de milhões de brasileiros inscritos no Serviço de Proteção ao Crédito.

Some-se a isso uma total incerteza quanto ao cenário “pós eleitoral”, dada a acentuada pulverização das forças políticas num contexto de elevada descrença e mau humor da população, com:

1) uma herança maldita, com renda per capita quase 10% inferior à de 2014 e quase 14 milhões de desempregados; 

2) um contexto externo bem menos favorável que o dos últimos anos, por conta da guerra comercial empreendida por Trump; 

3) a tensão permanente entre a população impaciente com a política e as práticas da maioria fisiológica num Congresso onde boa parte dos parlamentares é ou está em vias de ser investigada, processada e (queira Deus) condenada e presa; 

4) o acirramento dos conflitos em torno do orçamento público, com fortes demandas da sociedade por mais e melhores serviços, enquanto o apetite pantagruélico dos servidores e grupos políticos por recursos e privilégios só faz crescer; 

5) As incertezas quanto ao prosseguimento do combate à corrupção.

Em seus discursos de palanque, candidatos atacam as elites, os esquerdistas, os rentistas, a grande mídia, os banqueiros e a Fada do Dente, e prometem soluções fáceis e rápidas — mas impraticáveis —, induzindo o confronto, a divisão e o ressentimento e demostrando inequívoca propensão para o intervencionismo estatal, o autoritarismo, a indisciplina fiscal e o assistencialismo.

Nem sei mais o que dizer.

Visite minhas comunidades na Rede .Link: