domingo, 13 de janeiro de 2019

GLEISI HOFFMANN COM MADURO E RENAN CALHEIROS COM BOLSONARO


Gleisi Hoffmann, a abilolada, viajou à Venezuela para prestigiar a posse de Nicolás Maduro, reeleito em maio do ano passado num pleito boicotado pela oposição, com alta abstenção e denúncias de fraude, sem mencionar que o novo mandato do tiranete não é reconhecido pela Assembleia Nacional e por dezenas de países. Para a presidente nacional do PT, porém, o venezuelano foi eleito dentro do marco constitucional. À imprensa, ela disse que “não entraria no mérito” sobre a ditadura instalada naquele país, e que compareceu à posse para "marcar posição contra grosseira relação do governo Bolsonaro com a Venezuela". 

Relembro que o PT e seus satélites não compareceram à cerimônia de posse de Jair Bolsonaro. Gleisi alegou que a "lisura" do processo eleitoral deste ano foi "descaracterizada pelo golpe do impeachment, pela proibição ilegal da candidatura do ex-presidente Lula e pela manipulação criminosa das redes sociais para difundir mentiras contra o candidato Fernando Haddad", deixando claro que só reconhece a legitimidade de uma eleição quando o vitorioso teve o apoio do partido chefiado por um presidiário. O PSOL, através de comunicado assinado por sua executiva nacional, informou que os parlamentares da sigla não compareceriam à solenidade de Bolsonaro porque "não havia nada a comemorar". Eis aí a mentalidade da esquerda brasileira.

Mudando de pato pra ganso, Dias Toffoli revogou a decisão monocrática do ministro Marco Aurélio e manteve o voto secreto na eleição da mesa diretora do Senado — a exemplo do que havia feito antes em relação à da presidência da Câmara. Para quem não leu minha postagem da última sexta-feira, isso foi sopa no mel para Renan Calheiros, que é um exemplo pronto e acabado de tudo o que não presta na política tupiniquim e estava propenso a renunciar à candidatura no caso de o voto secreto não ser mantido, dada a possibilidade de seus pares não votarem abertamente nele. Quando mais não seja, porque o cara já foi alvo de 18 inquéritos no STF (9 deles arquivados), é “arroz de festa” em delações premiadas da Lava-Jato e exibe um currículo recheado de casos suspeitos. Eis aí um resumo da velha política, que boa parte do Congresso continua defendendo.

Já tentaram me matar muitas vezes, mas eu não sou morredor”, costuma dizer o cangaceiro das Alagoas. Relembrando: em 1989, Renan articulou a eleição de Collor a presidente e no ano seguinte rompeu com o governo e chegou a depor contra o caçador de marajás fajuto na CPI que investigou o esquema PC Farias. Em 2002, o nobre senador apostou em José Serra contra Lula, mas acabou apoiando a adesão do então PMDB ao governo petista, acumulando poder para se eleger presidente do Senado em 2005. Renan foi um aliado do PT até a véspera do impeachment de Dilma, quando pulou para o barco de Michel Temer — com quem romperia no ano seguinte para se aliar ao PT em prol de sua reeleição nas Alagoas, estado afinado com o lulismo. Passada a campanha, o camaleão do nordeste reatou com Temer e agora tenta se realinhar ao novo eixo de poder para se aproximar de Bolsonaro.

O sentimento do MDB é de ajudar o governo e fazer as mudanças de que o país precisa. Eu só posso ser produto da indicação da minha bancada se concordar com isso”, diz o sanfoneiro sem sanfona, que passou a usar as redes sociais para se adaptar aos novos tempos, fez ataques a indicações políticas para cargos públicos (compromisso de campanha de Bolsonaro) e até flexibilizou sua visão sobre pautas sociais: “Quando a sociedade muda os costumes, o Parlamento tem que atualizar as leis. Muitos itens da pauta de costumes do Bolsonaro eu vou ajudar”, afirmou sua excelência.

O velho Renan Calheiros, lulista, foi desautorizado pelo novo Renan Calheiros, bolsonarista. Ele disse para O Globo: “Não estou dando entrevista porque as pessoas querem perguntar ao velho Renan o que o novo senador Renan, que será empossado no dia primeiro, vai fazer. E o velho está se sentindo sem legitimidade para responder.” É uma das guinadas mais extraordinárias jamais vistas na política brasileira. O novo Renan se oferece a Bolsonaro exatamente da mesma maneira que o velho Renan se oferecia a Lula: “Tem que conversar e tentar, na complexidade que vivemos, construir convergências para o Brasil. Converso com ele (Bolsonaro) qualquer hora que for convidado. Jamais se pode ser presidente de um Poder sem conversar com o presidente da República. Isso é elementar. A hora que ele me chamar, eu vou.”

Ao contrário de Rodrigo Maia, que conseguiu a adesão do PSL à sua candidatura a presidente da Câmara, Renan não é bem visto por integrantes do governo, mas vem se esforçando para derrubar essas resistências e, principalmente, convencer seus pares de que não será um elemento de conflito com o Planalto caso seja eleito para comandar o Senado. Não vai ser fácil: o grupo de Bolsonaro demonstra hostilidade aberta ao alagoano, já que ele simboliza a “velha política” rejeitada na eleição. 

A conferir.