sábado, 16 de março de 2019

AINDA SOBRE A CHACINA EM SUZANO


Com o rosto encoberto por moletom, acompanhado de delegados de polícia e da mãe, um terceiro suspeito de ter participado da chacina na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, se apresentou na manhã desta sexta-feira ao fórum da cidade. Segundo a polícia, o jovem, de 17 anos, teria participado do planejamento do atentado. A decisão de apreendê-lo foi anunciada na última quinta-feira pelo delegado-geral, Ruy Ferraz Fontes; se for comprovado seu envolvimento no caso, a juíza pode dar uma sentença imediata, inclusive de internação.

“Não há explicação”, avisa o título do artigo publicado no Estadão desta quinta-feira pelo psiquiatra Daniel Martins de Barros. Não há como explicar o inexplicável. Crimes como o de Suzano angustiam pela morte de jovens, mas também pelo desejo nunca alcançado de se entender”. Para o articulista, episódios do gênero são especialmente chocantes também por não serem frequentes.

Nos últimos anos, 30 jovens brasileiros foram assassinados em selvagerias semelhantes à registrada nesta quarta-feira. Só em 2016, compara o psiquiatra, morreram mais de 30 mil brasileiros com 15 a 29 anos de idade, vítimas de outros tipos de homicídio. Desde o tempo das cavernas sobram evidências de que o ser humano tem defeitos de fabricação, alguns dos quais produzem assassinos patológicos. Não há como decifrar a mente criminosa, mas nossos especialistas em tudo não admitem a existência de perguntas sem respostas.

“É a cultura da violência”, garantem alguns decifradores de enigmas. Provavelmente ignoram que o mais apavorante desses crimes, consumado em 2011, teve como palco uma ilha da pacífica Noruega: um atirador solitário matou 92 jovens reunidos num acampamento. Outros gênios da raça culpam a chamada flexibilização do acesso às armas de fogo, por enquanto apenas um desejo do governo Bolsonaro. A legislação é a mesma de 2011, quando 12 jovens foram executados na escola em Realengo, no Rio de Janeiro.

Há também os que atribuem tais erupções de violência à internet, acusada de manter à margem da vida lá fora uma imensidão de adolescentes. Mas são milhões os jovens que passam horas a fio enfurnados no quarto, às voltas com videogames sangrentos. E se contam nos dedos os que resolveram reproduzir no mundo real cenas de guerras virtuais. Mas explicadores de botequim pulverizam qualquer interrogação com menos de 50 palavras. É hora de confrontá-los com as três perguntas que afligem a humanidade desde o Dia da Criação. Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Os analistas de galinheiro decerto já têm na ponta da língua a resposta errada.

Enfim, só nos resta lamentar — inclusive a gritante propensão do Judiciário para... bem, é melhor deixar pra lá.