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terça-feira, 19 de novembro de 2019

PRA QUEM GOSTA É UM PRATO CHEIO (TERCEIRA PARTE)



Cerca de 15 horas depois de uma das mais abjetas decisões plenárias do STF — cuja composição é hoje a pior de toda a história do tribunal —, Lula já destilava seu ópio para uma penca de militantes. Não foi encontrar os filhos — que tampouco se deram ao trabalho de esperá-lo na saída da prisão —, nem levar flores ao túmulo da ex-primeira dama ou visitar as sepulturas do irmão e do neto (falecimentos que ele explorou com maestria de dentro de sua sala VIP na superintendência da PF em Curitiba). Em vez disso, como o bom mau caráter que é, preferiu escarrar vitupérios contra Bolsonaro e os ministros Moro e Guedes e exortar sua récua de jumentos amestrados a reproduzir no Brasil o que a esquerda chilena vem fazendo no país vizinho.

ObservaçãoLula não visitou os túmulos dos parentes mortos durante a temporada na cadeia porque “eles foram cremados”. A família do irmão Vavá informa: o corpo de Genival Inácio da Silva foi sepultado no Cemitério Pauliceia, em S. Bernardo do Campo. Alguém se surpreende com mais essa mentira vinda da que nasceu para mentir?

O placar de 6 votos a 5 pelo restabelecimento da jurisprudência nefasta que autoriza a prisão somente após o processo transitar em julgado — o que equivale a dizer "no dia de São Nunca" — foi alcançado no último dia 7 com o voto de minerva do Maquiavel de Marília, mas o cenário havia sido delineado na sessão do dia 27 de outubro, quando a ministra Rosa Weber, talvez por pura incompetência, talvez por gratidão a quem forneceu a toga que hoje lhe recobre os ombros — embora Rosa tenha sido indicada por Dilma, em 2011 a calamidade travestida de gente não dava um peido sem a devida aprovação de seu criador e mentor —, mudou o entendimento que mantinha até então e se aliou à fação pró-crime da nossa mais alta corte de injustiça.

Chegou-se a imaginar que o supremo mestre de picadeiro oferecesse uma terceira via, ou que votasse com a ala punitivista, mas, como o escorpião da fábula, o artrópode de toga não foi capaz de agir contra sua natureza e ficou do lado de Lula — responsável por sua nomeação para a Suprema Corte.

Em seu voto, cuja leitura demorou cerca de 3 horas, Antonio Maquiavel Dias Toffoli perorou absurdos com “lenda da impunidade” antes de concluir alegremente que a prisão após o trânsito em julgado não é o desejo de um juiz, mas a vontade do povo brasileiro (não foram exatamente essas suas palavras, mas o sentido foi exatamente esse). Ao final, como quem jogava migalhas aos cães, disse que a Corte não se oporia no caso de o Congresso alterar o CPP e "legalizar" a prisão após a condenação em segunda instância.

Acaba anão quem cuida de coisas pequenas, se deixa envolver por questões menores em detrimento da grandiosidade das decisões e confunde grandeza de espírito de espírito com espírito de grandeza, dizia Ulysses Guimarães. Toffoli preferiu entrar para a história como o presidente do STF que, para favorecer o PT e seu eterno presidente de honra, martelou o derradeiro prego no esquife da maior operação anticorrupção da história deste país, sobretudo porque defecou sobre a Constituição e usou como papel higiênico as páginas que restaram pautando esse julgamento num momento em que Lava-Jato está particularmente fragilizada devido à Vaza-Jato de Verdevaldo das Couves (esse, sim, deveria passar uns bons anos atrás das grades, de preferência num presídio comum, em cela apinhada de estupradores e assassinos contumazes) e ao clima nada alvissareiro para Deltan Dallagnol na suprema usina de injustiças.

E così la nave va. 

sexta-feira, 15 de março de 2019

NEM TUDO É O QUE PARECE



EXISTE A HISTÓRIA, A HISTÓRIA DA HISTÓRIA E A HISTÓRIA POR TRÁS DA HISTÓRIA.

A imagem que ilustra este post mostra como tantos brasileiros (e eu me incluo entre eles) se sentem diante do vem acontecendo no Brasil. Aliás, falando em revezes e cenas insólitas, terminou ontem, no STF, o julgamento sobre a competência da Justiça Eleitoral para investigar casos de corrupção que envolve caixa 2 de campanha e outros crimes comuns, como corrupção e lavagem de dinheiro. O placar ficou em 5 a 5, cabendo ao presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, o voto de Minerva. Nem é preciso dizer que ele acompanhou o relator, ministro Marco Aurélio, a exemplo do que fizeram antes dele Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Celso de Mello e Ricardo Lewandowsky. Nem é preciso dizer que a Lava-Jato perdeu, que o cidadão de bem perdeu, que o Brasil perdeu. E o cara ainda quer impor respeito ao Supremo na marra. Quem quer ser respeitado deve se dar ao respeito. Simples assim.

Publico o vídeo a seguir com dois propósitos. O primeiro é óbvio, mas o segundo, um pouco mais sutil, remete ao que eu venho sempre dizendo sobre meias-verdades serem mais perigosas do que mentiras. Para entender melhor, veja sob que título o vídeo abaixo foi publicado num site da Web:

"Parece inacreditável, mas o jornalista Augusto Nunes, ardoroso crítico das mazelas do PT, que não titubeia em qualificar a deputada Gleisi Hoffmann pelo codinome “amante”, como ela era conhecida nas planilhas da Construtora Odebrecht, saiu em “defesa” da petista ante a acusações do eterno presidenciável Ciro Gomes."

Mais adiante, o texto esclarece que seu autor endossa a opinião de Augusto Nunes, mas os incautos que tiraram conclusões precipitadas, baseando-se somente na chamada, sem assistir ao vídeo ou ler o restante da matéria... enfim, para bom entendedor, meia palavra basta.

A estratégia foi usada para chamar a atenção dos leitores, mas bastaria editar o vídeo e retirar do contexto apenas uma ou duas frases para dar a impressão de que o jornalista estaria realmente "virando a casaca". E é exatamente isso que vem sendo feito... bem, como os gatos pingados que me leem são pessoas inteligentes, não vejo necessidade de exaltar o óbvio.



Segue um nota lapidar sobre as estultices do presidente Bolsonaro, publicada originalmente na coluna de Carlos Brickmann:

A reforma da Previdência, assunto essencial, está no Congresso. Outra reforma com alto potencial de controvérsia está para ser enviada: a que devolve ao Congresso sua missão básica de determinar o Orçamento, dando fim às porcentagens obrigatórias para Educação, Saúde, etc. O Ministério Público desistiu de criar uma fundação para lutar contra a corrupção, com verbas recuperadas após investigações. Um pacote anticrime, proposto por Sergio Moro, está pronto para exame pelos parlamentares. Para o bem ou para o mal, são propostas que modificam muito a estrutura do país.
E estamos discutindo tuítes e fake news que, seja a razão de quem for, fazem tanta diferença quanto o resultado de um jogo sub-15. É triste. 

Ou não: um leitor desta coluna, advogado e ex-ministro, lembra que, por menos relevantes que sejam esses temas, pelo menos não discutimos hoje alguns bilhões de reais em propinas, nem somos surpreendidos porque um diretor de estatal devolveu R$ 90 milhões que tinha na conta! para se livrar da prisão fechada. As notícias de hoje são sobre indecências no Carnaval ou declarações atribuídas a uma repórter que estaria se esforçando para que suas descobertas derrubem o presidente. Coisa mais micha!

O comportamento é ilegal? Cabe à Justiça decidir. A discussão é boba? É. Mas os temas são menos escandalosos que construir uma refinaria como Hugo Chávez mandou sem ele botar um centavo na obra. Esta coluna quer esquecê-los. Mas admite que é melhor discutir besteira do que ladroeira.

Para encerrar, a despeito de a mídia ter explorado ad nauseam a lamentável chacina ocorrida na última quarta-feira numa escola em Suzano, achei por bem reproduzir um trecho do Jornal da Manhã da Jovem Pan de ontem:


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

CRISE? QUE CRISE?



Já nem sei quantas vezes modifiquei este texto ou adiei sua publicação, tantos foram os fatos e versões que se sucederam desde que a Folha denunciou a laranjada do PSL nas eleições, transformando o cenário político numa espécie de figura produzida num caleidoscópio. E se a novela Fabrício Queiroz/Flávio Bolsonaro — que ainda não terminou — já continha elementos bastantes para preocupar o núcleo do governo, este novo folhetim está aí para provar que nada é tão ruim que não possa piorar.

Até onde a vista alcança, a crise que culminou com a exoneração do secretário-geral da Presidência se deve em grande medida a Carlos Bolsonaro, que nunca simpatizou com Bebianno e sempre teve ciúmes de sua influência sobre o pai. A essa antipatia se acirrou o filho do capitão se viu sem cargo no governo, enquanto o desafeto ganhou um ministério. Aliás, de tudo que vi, li e ouvi sobre esse rebosteio, nada supera o tuíte do impagável J.R. Guzzo, que reproduzo a seguir:

 “Ninguém na oposição está conseguindo prejudicar mais o trabalho do governo do que os três filhos do presidente. Não importam as intenções de cada um, mas sua conduta pública; o que fazem está sabotando o país. Ou Bolsonaro faz os três se calarem, hoje, ou vira um banana completo.”   

Cabe ao Presidente da República escolher seus ministros e demiti-los a qualquer momento, a seu talante. Mas a demissão serôdia de Bebianno, oficializada quase uma semana depois de a Folha denunciar o laranjal do PSL, produziu uma crise que talvez não tivesse existido se Carlos Bolsonaro não se aproveitasse da situação para se vingar do desafeto, desmentindo as conversas que ele afirmou ter tido com o Presidente, como forma de minimizar o estrago produzido pela denúncia da Folha.

Bebianno foi um dos primeiros a vislumbrar o potencial da candidatura de Jair Bolsonaro, a quem auxiliou de diversas maneiras ao longo do trajeto que o levou o capitão da Câmara ao Planalto. Ele nega as irregularidades, afirmando que não, como presidente nacional do PSL, não escolheu as candidatas que receberam dinheiro do partido, já que isso é prerrogativa dos diretórios regionais. Se a mágoa pode transformá-lo em “homem-bomba”, bem, sabemos que conhecimento é poder

Pelo visto, nem a nota lacônica lida pelo porta-voz da Presidência, na última segunda-feira, agradecendo os valorosos serviços prestados pelo ex-ministro, nem o pronunciamento feito em seguida pelo próprio Presidente, que elogiou tanto a atuação de Bebianno na campanha quanto sua dedicação ao cargo que ocupou por 50 dias, tiveram o condão de evitar a sucessão de desdobramentos que a mídia vem explorando alegremente, com destaque para os áudios que Veja divulgou na última terça-feira, e que, salvo melhor juízo, desmentem a versão de Carlos Bolsonaro (endossada pelo próprio Presidente), sobre Bebianno não teria conversado com o chefe. A menos, naturalmente, que não se considere como conversa uma troca de mensagens feita pelo WhatsApp, mas isso seria flertar com o ridículo. A pergunta é: Quem mentiu em toda essa história? Responda quem souber.

Observação: O jornalista Augusto Nunes, durante a transmissão do programa OS PINGOS NOS IS, na Rádio Jovem Pan, assumiu a responsabilidade pela divulgação dos áudios com as conversas por WhatsApp entre Bolsonaro e Bebianno, que lhe foram repassados pelo próprio ex-presidente do PSL.

Sem passado político nem mandato popular, Bebianno só ganhou maior protagonismo devido aos recorrentes entreveros com zero dois, a quem o Presidente se refere carinhosamente como “meu pitbull” — aliás, Carluxo anunciou praticamente todos os ministros pelo Twitter, com exceção de Bebianno, com quem disputava desde a campanha o controle da comunicação digital do capitão. Por outro lado, sua exoneração preocupa políticos, militares e assessores mais próximos do núcleo do governo, que receiam ter suas conversas privadas vazadas para o público pelos filhos do capitão, que usam suas contas no Twitter como metralhadoras giratórias sem controle, mirando em qualquer um.  

Parafraseando o Major Olímpio, líder do PSL no Senado, “Bolsonaro precisa fazer uma modulação do papel de pai com o papel de Presidente, assim como seus filhos têm que fazer o mesmo. Qualquer espécie de confusão entre esses papéis pode ser realmente desgastante em alguns episódios. Mesmo assim, o senador afirma que a saída de Bebianno não deve atrapalhar a articulação política do governo para aprovar a reforma da Previdência e o pacote de medidas anticrime. Parafraseando a mim mesmo, urge livrar o governo dessa aura de pseudo realeza e conscientizar os pseudo príncipes de que eles devem cuidar de seus próprios mandatos e deixar o comando da nação a cargo de quem foi eleito para comandá-la.

Nesse meio tempo, a Folha critica a Globo e classifica o SBT e a Record de emissoras “chapa-branca”. Para quem aprecia esse tipo de "jornalismo", recomendo dar uma lida nesta matéria. Antes de encerrar, algumas linhas da lavra de Augusto Nunes e, em seguida, a opinião de Josias de Souza

"O preço pago por Jair Bolsonaro para livrar-se de um ministro que nada fez de errado merece ser festejado por quem torce para que o governo dê certo. Na semana passada, o vereador Carlos Bolsonaro, que desencadeou a crise ao chamar Gustavo Bebianno de mentiroso, foi enfim devolvido ao local do emprego. E reapareceu na Câmara Municipal do Rio depois de meses de sumiço. Levou com ele o primo Leonardo Rodrigues de Jesus, vulgo Leo Índio.

Desde 1º de janeiro, quando desfilou no Rolls Royce presidencial com os pés sobre o banco traseiro, Carlos Bolsonaro permaneceu 24 horas por dia ao lado do pai. Hospedado no Palácio da Alvorada, ia de manhã para o Palácio do Planalto e ficava até o fim do expediente acampado no gabinete presidencial. Essa rotina só foi interrompida com a viagem do chefe de governo a Davos.

Carlos não desgrudou do pai nem mesmo no período em que Bolsonaro permaneceu hospitalizado, recuperando-se da terceira cirurgia desde o atentado ocorrido em Juiz de Fora. Léo Índio, por sua vez, foi 58 vezes ao Palácio do Planalto nos 49 dias de novo governo. A menos que tenha usado a alcunha como currículo para virar assessor especial para questões indígenas, ele não ocupa nenhum cargo oficial. Carlos e Léo Índio sumiram do Planalto. São duas ausências que preenchem uma lacuna. Ou duas."

Segue o texto de Josias de Souza:

"O vídeo divulgado pelo Presidente após o anúncio oficial da exoneração de Bebianno foi gravado por exigência do ex-ministro. O teor do pronunciamento foi minuciosamente negociado, com direito rasgados elogios. Em troca do silêncio do ora desafeto, Bolsonaro ladrilhou com pedrinhas de brilhante o caminho percorrido por Bebianno desde a coordenação da campanha presidencial até a poltrona de ministro, passando pelo período em que exerceu o comando de um PSL cítrico. Apenas os dois conhecem na plenitude os segredos que compartilham, mas o desfecho da negociação sinaliza o potencial destrutivo de uma eventual inconfidência.

Numa articulação que teve o ministro Onyx Lorenzoni como principal intermediário, Bebianno esclareceu que não aceitaria calado a "humilhação" de ser exonerado sob as pechas de desleal, incompetente e corrupto. Inicialmente, Bolsonaro deu de ombros, mas as conversas do final de semana suavizaram suas convicções. O Bolsonaro implacável com "todos aqueles que tentam praticar corrupção no Brasil" perdeu-se em algum lugar no trajeto que separa o entrevistado da Record do leitor de teleprompter da última segunda-feira. Acabrunhado com o resultado de sua metamorfose, o ex-Bolsonaro se absteve de reproduzir nas redes sociais o vídeo de sua contrição, comportando-se como um Narciso que acha feio o que deixou de ser o espelho dos habitantes de sua bolha no Twitter."

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

CRÍTICA E AUTOCRÍTICA



Ainda convalescendo dos efeitos da “síndrome do macaco”, venho enfrentando alguma dificuldade para desenvolver postagens sobre o atual cenário político. Assim, ainda de ressaca da análise circunstanciada que apresentei nas duas últimas postagens sobre o presidente eleito e sobre o estapafúrdio pedido da defesa de Lula para anular o julgamento do processo em que o molusco foi condenado, resolvi, na postagem de hoje, apenas transcrever mais um texto brilhante de Dora Kramer e uma tirada do igualmente impagável Augusto Nunes. Começando pelo último:

Manuela d'Ávila corre o risco de levar um triplo puxão de orelhas de Haddad, de Gleisi e do chefão presidiário. A deputada do PCdoB — eterno satélite do PT —, vice do poste que Lula fabricou e Jair Bolsonaro pulverizou, saiu-se, numa entrevista à Globo, com a seguinte pérola:

“O Ciro teve uma participação brilhante no primeiro turno e ele foi quem viabilizou também, com seu elevado percentual de votos, o segundo turno. Ciro não contribuiu para nossa derrota. Ele contribuiu para a existência do segundo turno com a campanha que fez até o último dia em alta intensidade. Ele cometeu um equívoco em não se envolver no segundo turno”.

Agora o texto de Dora Kramer:

Ainda sob os efeitos do azedume geral, pode ser difícil pensar em produzir limonadas a partir da colossal quantidade de limões encruados nas almas e entalados nas gargantas país afora. Não falo de pacificações ao molde de conversões forçadas por um bom-mocismo de ocasião. Tampouco me refiro a pregações por união nacional mediante a interferência da figura de um pacificador, dada a semelhança com o anseio por um salvador.

Tudo isso é mito. Civilizatório, realista e institucionalmente pedagógico é o aprendizado do exercício do contraditório dentro das balizas do bom-senso. A eleição de Jair Bolsonaro, do jeito e pelas razões (ainda a ser completamente desvendadas e catalogadas) que ocorreu, põe o Brasil diante de uma preciosa oportunidade de subir de patamar na qualidade das relações entre governantes e governados.

Por paradoxal que soe, esse caminho foi aberto pelo ambiente de acirramento extremo que vem tomando conta do país já há algum tempo e que chegou aos píncaros durante a campanha eleitoral. Tivemos um processo inédito do qual resultou uma situação também sem precedentes. Nenhuma das eleições anteriores, desde a retomada do voto direto para presidente, produziu uma vitória que aborrecesse com tanta estridência tal volume de eleitores. O mesmo teria ocorrido caso o vencedor fosse o oponente, diga-se.

Somados os votos dados ao derrotado com a manifestação dos que preferiram não se posicionar (já expressando aí uma posição), grosso modo tivemos um contingente de praticamente metade do eleitorado habilitado. Isso significa que o eleito já inicia sua trajetória sob intenso mau humor social. Ruim? Depende da perspectiva. Se a ideia é que governos novos precisam ter aceitação unânime para se legitimar e conseguir trabalhar, a resposta é sim, bem ruim.

Podemos, contudo, adotar outro ponto de vista, aquele segundo o qual a existência de uma substanciosa massa crítica no país melhora a sociedade, aumenta o grau de consciência de cidadania e alimenta a noção de que governos existem para servir à coletividade, e não para servir-se dela com apropriação indevida do dinheiro de todos e da captura de consciências. Nesse caso, a existência de uma oposição social vigorosa é benéfica. Já vimos o que a subserviência a mitologias da propaganda oficial fez nos governos do PT.

Estabeleceu-se a lógica da criminalização da crítica, e, com isso, os então locatários do poder sentiram-se desobrigados de qualquer autocrítica. Quando tentaram voltar, depararam com uma força antagônica cujas fundações foram fincadas no pecado original do elogio à unanimidade. Não fosse isso, talvez as coisas tivessem tomado outro rumo em decorrência da vigilância e das exigências rigorosas da sociedade.

Jair Bolsonaro não terá a vida boa de Luiz Inácio da Silva no tocante à aceitação impune por longo período. E querem saber, senhoras e senhores? É ótimo que assim seja.