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sábado, 1 de outubro de 2016

DE VOLTA AO CIRCO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS


Mesmo quem não se interessa por política ― ou não sabe diferenciar conversa de palanque do que realmente pode ser feito pela cidade ― desconfia do verborrágico blábláblá entoado pela seleta confraria de candidatos à prefeitura da maior metrópole latino-americana. A julgar pelas promessas vazias e eminentemente eleitoreiras que a gente ouve no lamentável horário obrigatório e nas demais inserções ao longo da programação das emissoras de rádio e TV, essa cáfila parece ter uma varinha de condão que lhe permitirá resolver tudo da noite para o dia, como num passe de mágica, mas, depois que consegue se eleger, sua carruagem vira abóbora, e o resultado é o de sempre: continuam as inundações, o trânsito caótico, as filas nas creches e postos de saúde, o desperdício de dinheiro público em obras inúteis ou faraônicas, e por aí vai.

Mas nem só do alcaide vive o município, e amanhã os 8.886.324 eleitores cadastrados em Sampa deverão escolher também os 55 vereadores que os representarão pelos próximos quatro anos. Seria uma excelente oportunidade de defenestrar os maus políticos e preencher as vagas com gente proba, competente e bem-intencionada, mas, lamentavelmente, o nível dos 1273 candidatos que disputam uma cadeira na Câmara parece ser ainda pior que o dos que postulam a prefeitura.

Num contexto onde 11 de cada 10 brasileiros minimamente esclarecidos repudiam a classe política como um todo e vêm demonstrando cada vez menos interesse em se filiar a partidos, a proporção entre o número de candidatos chegaria a surpreender, não fosse o fato de a mamata ser pra lá de boa: além do salário de 15 mil reais, cada vereador paulistano tem direito a mais 165 mil reais para bancar funcionários e demais custos do gabinete, além de carro oficial com motorista e combustível pago pelos contribuinte e outras mordomias.  

Observação: Uma desconexão generalizada entre políticos e cidadãos leva um número cada vez menor de pessoas a se filiar a partidos e a votar sem qualquer entusiasmo ― se vão às urnas, é apenas porque no Brasil ainda existe o anacronismo do voto obrigatório, do contrário, a maioria nem se daria a esse trabalho.

O fato é que os candidatos, salvo raríssimas exceções, estão mais focados na própria independência financeira do que em resolver os problemas da cidade ― que são muitos e de difícil solução. Para piorar, segundo matéria publicada na Vejinha da semana passada, mais da metade dos candidatos não tem nível superior, e entre os que têm, há apenas 7 economistas e 1 sociólogo. E para piorar ainda mais, 42% não concluíram nem mesmo o ensino médio, e 24 declararam só saber ler e escrever.    

Ainda segundo o levantamento feito pela reportagem, 3 dos 10 candidatos mais ricos (segundo dados do TRE) são vereadores que disputam a reeleição. Na outra ponta, 505 declararam não possuir bens ou revelaram quantias irrisórias, como a “Bia Taxista”, que sustenta ter juntado apenas 1 centavo em seus 31 anos de vida. Além dessas excrescências, há também a indefectível “bancada dos famosos”, como o ex-goleiro da Seleção Waldir Peres, o socialite Chiquinho Scarpa, o ex-craque Marcelinho Carioca, o ex-cantor da Jovem Guarda Ed Carlos e o filho da contara Gretchen (a rainha do bumbum) Thammy Miranda.  

Na atual campanha, da qual participam nada menos que 39 partidos, dos 55 vereadores que atualmente compõem a Câmara, apenas 6 não tentam a reeleição (2 por disputar a prefeitura, 1 por ter optado pelo cargo de secretário estadual do Turismo e 3 que simplesmente pularam fora, sem dar maiores explicações). Os outros 49 estão novamente nas ruas distribuindo santinhos e pedindo voto para emplacar mais quatro anos de mamata.

As funções de um vereador consistem em criar, discutir e votar projetos de lei, fiscalizar o executivo, acompanhar as atividades das secretarias, propor a convocação de audiências públicas para discutir projetos de grande relevância e analisar as contas do município para aprová-las (ou reprová-las), mas, entre 2013 e 2016, os edis paulistanos dedicaram seu valioso tempo (e desperdiçaram o ainda mais valioso dinheiro público) em projetos prosaicos, como alterar o nome de ruas e incluir no calendário datas como o “Dia do Farmacêutico”. Dos 10 821 projetos apresentados nos últimos 4 anos, 3 939 foram de votos de júbilo, 513 de pesar, 255 de outorga de títulos a cidadãos, 243 de inclusão de datas no calendário oficial, 159 de alteração de nomes de ruas, 115 de concessão de salva de prata e 105 de medalha Anchieta.

Enquanto isso, a cidade definha em abandono, com ruas esburacadas e mal iluminadas, bandos de drogados, sem-teto e outros indigentes acampados sob viadutos e achacando transeuntes, carência de leitos e médicos nos postos de saúde e hospitais públicos e de vagas em creches e escolas de primeiro grau (onde grassam professores mal remunerados, desestimulados e indiferentes ao aproveitamento dos alunos). Vez por outra, surge uma denúncia como a que envolve o vereador Marquito ― aquele do programa do Ratinho ―, que é acusado de embolsar parte do salário dos funcionários do seu gabinete. Ou um escândalo como o da compra de 22 aparelhos de TV por R$50 mil, às vésperas da Copa de 2015, ou o da criação de 660 novos cargos para os gabinetes oficiais. Isso sem mencionar tumultos como o promovido pelo MTST durante a discussão do Plano Diretor do município, ou o dos taxistas em protesto contra a concorrência do UBER.

Para encerrar, deixo no ar uma pergunta que não quer calar: dá gosto sair de casa, enfrentar trânsito, chafurdar em santinhos e ser obrigado a estacionar a quadras de distância do local de votação para votar nesse tipo de gente? Tô fora!

Voltando rapidamente à disputa pela prefeitura de Sampa: no debate realizado nos estúdios da TV Globo na noite da última quinta-feira, Marta, de olho em uma vaga no segundo-turno, evitou bater de frente com Doria, líder em intenções de voto. 
Segundo o IBOPE, o candidato tucano tem 28%;  Russomanno aparece em segundo lugar, com 22%, e a ex-petista e ora peemedebista disputa com Haddad a terceira colocação (ela com 16% e ele com 13%, o que o instituto de pesquisa entende como empate técnico). 
Por não ter estômago para suportar aquele deplorável folhetim que a Globo exibe depois do Jornal Nacional ― e que deve terminar hoje ―, eu mudei de canal para ver um filme, acabei cochilando e só acordei quando o troço já havia acabado. No entanto, a julgar pelas sinopses que vi na Web, acho que não perdi grande coisa. Só lamento que não existam perspectivas de tudo se resolver amanhã, o que nos obrigará a aturar mais uma dose de propaganda eleitoral na segunda quinzena do mês. 
A propósito: nas simulações de segundo turno, Doria venceria Russomanno por 42% a 37%, e ganharia de Marta por 45% a 36%. A conferir.