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quarta-feira, 18 de setembro de 2019

ENTREVISTA NO RODA VIVA — A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM



Alguns atores — a minoria, infelizmente — incorporam o personagem com tal maestria que nem parecem representar. Mutatis mutandis, o mesmo se aplica a alguns apresentadores — que se identificam com seus programas de tal maneira que, sem eles, o show não tem a menor graça (imaginem o Programa Sílvio Santos sem o próprio ou o Domingão do Faustão sem o dito-cujo).

Sempre gostei do Roda Viva — quadro de entrevistas que a TV Cultura leva ao ar, nas noites de segunda-feira, desde 1986. Já ancoraram o programa Marília Gabriela, Heródoto Barbeiro, Lillian Witte Fibe e outros medalhões do jornalismo. O meu preferido era o Augusto Nunes, que comandou o show de 1987 a 1989 e de 2013 a 2108, mas deixou o posto em abril de 2018 devido a pressões políticas (sucedeu-lhe o insípido Ricardo Lessa, que se desligou do programa há cerca de 8 semanas).

Na última segunda-feira, após meses sem sintonizar a Cultura — aliás, a TV aberta no Brasil anda uma m***a —, resolvi conferir a exumação do Vampiro do Jaburu (leia-se a primeira entrevista de Michel Temer a uma emissora de TV depois que ele deixou a presidência). Quem atuou como âncora nesta edição foi Daniela Lima — uma loira bonitinha, mas que consegue ser ainda mais sem sal que seu antecessor.

Não foi difícil notar que o emedebista pouco mudou na voz, mas seus cabelos... digo, pouco mudou na aparência, mas sua maneira enxergar as coisas já não é a mesma. Ou parece não ser. Talvez por estar nitidamente preocupado com seu legado, o trevoso tenta passar essa impressão. 

Não colou, mas não importa. Importa mesmo é que meu estoque de Plasil acabou. Então, segue o vídeo com a entrevista completa dessa alma do outro mundo e, na sequência, as ponderações de Caio Copolla sobre esse circo de horrores (no segundo vídeo, se necessário, avance a exibição até a marca dos 45 minutos e comece a assistir a partir daí).

Vade retro! Cruz, credo, pé de pato, mangalô três vezes!   


terça-feira, 2 de julho de 2019

O CORINGA QUER SER SOLTO PORQUE O BATMAN CONVERSOU COM O COMISSÁRIO GORDON



A novela continua: Hoje, na segundo capítulo da Santa Inquisição, o ministro Sérgio Moro deve ir à CCJ da Câmara para ser inquirido pelos deputados sobre as revelações espúrias feitas pelo site esquerdista The Intercept. Prevê-se um ambiente ainda mais hostil do que da primeira vez, quando o ex-juiz da Lava-Jato foi interpelado por quase 9 horas na CCJ do Senado. Na Câmara, a oposição ao governo Bolsonaro é maior e mais atuante, mas Moro chega respaldado pelas manifestações de rua em seu apoio, ocorridas, no último domingo, em dezenas de cidades brasileiras. 

Ficou também para esta terça-feira a apresentação final do relatório do deputado Samuel Moreira na comissão especial que analisa a reforma da Previdência. Ainda há pendências importantes, como a inclusão ou não de estados e municípios no projeto. A leitura do parecer final estava prevista para a semana passada, mas não ocorreu porque Rodrigo Maia buscava costurar um acordo com os governadores.

No apagar das luzes do primeiro semestre, atos em defesa do ex-juiz Sérgio Moro eclodiram nos 26 estados e no DF, com maior repercussão em capitais como Rio, Sampa, BH, Recife e Salvador. Houve manifestações também em apoio à Lava-Jato, à reforma previdenciária e às medidas anticrime e anticorrupção, além de repúdio a determinados políticos e membros do STF. Estima-se que a adesão tenha sido menor do que no dia 26 de maio, mas é bom lembrar que esta foi a segunda vez, em menos de 2 meses, que o povo saiu às ruas para “protestar a favor do governo”, o que é algo inusitado — pelo menos para mim, que nunca havia visto, em seis décadas de existência, protestos a favor de alguma coisa.

Não se tem uma ideia precisa do número de manifestantes e de municípios participantes, já que as PMs estaduais deixaram de fazer essa contagem e divulgar os resultados. É claro que os inimigos da Lava-Jato — parlamentares suspeitos, acusados, processados e condenados pela operação — desdenharam os protestos, mas isso era esperado e não quer dizer muita coisa. O fato é que os atos de domingo mostraram que as tentativas — da esquerda em geral e do PT em particular — de desestabilizar o ministro da Justiça têm produzido o efeito inverso, pois abre a porta da política, através da qual Moro poderá se tornar um competidor de peso.

Em sua participação no Jornal da Gazeta da noite de ontem, José Nêumanne sugeriu ao Congresso, que se jacta de representar a cidadania, e ao STF, que considera como principal missão corrigir decisões de juízes de instâncias inferiores e fazer ouvidos de mercador à pressão popular, convocarem  o povo a defender suas prerrogativas institucionais nas mesmas ruas onde os atos de 26 de maio e 30 de junho os recriminaram. Se políticos e magistrados não gostaram de ser execrados nas passeatas em defesa de Moro e da Lava-Jato, por que Alcolumbre, Maia e Toffoli não convocam o povo que os dois primeiros dizem representar e o terceiro prefere não ouvir para desagravá-los em atos mais concorridos do que os que consideram pífios? Se o fizerem, a PM nem precisará fazer a contagem, pois é provável que o número de policiais seja maior que o de manifestantes.Dito isso, segue o baile. 

Num país onde os ratos culpam o queijo, pode parecer natural o Coringa querer ser solto porque o Batman conversou com o Comissário Gordon. Mas não tem nada de natural na maneira como boa parte da imprensa, do Congresso e do Judiciário reage aos vazamentos do Intercept Brasil. A menos que seja natural defender a corrupção, prender o xerife e soltar os bandidos.

Os novos trechos divulgados pelo site neste final de semana envolvem críticas que procuradores do MPF supostamente fizeram ao então juiz federal Sérgio Moro. Essa “bomba” produziu orgasmos múltiplos na mais petista das jornalistas da Folha e levou ao delírio a patuleia em geral, os petistas em particular e uma porção de debiloides fanáticos, para quem o fato de a procuradora Monique Cheker não reconhecer a autenticidade dos diálogos não passa de mero detalhe.

Ao Antagonista, Monique afirmou que jamais havia ouvido falar de Sérgio Moro ou tido qualquer contato com alguém do MPF/PR na época em que as supostas conversas teriam ocorrido, e que não reconhece os registros remetidos pelo Intercept, que possuem dados errados e alterações de conteúdo. Pelo Twitter, o ministro da Justiça disse que, se verdadeiras, as mensagens não passariam de "supostas fofocas de procuradores, a maioria de fora da Lava-Jato”, e salientou mais uma vez a possibilidade de os diálogos terem sido adulterados: "o que se tem é um balão vazio, cheio de nada".

Não é o que pensa muita gente, a começar pelo semideus togado mato-grossense — brilhantemente definido pelo também ministro supremo Luís Roberto Barroso como “uma pessoa horrível, uma mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia“, e pelo jornalista J.R Guzzo como “uma fotografia ambulante do subdesenvolvimento brasileiro, mais um na multidão de altas autoridades que constroem todos os dias o fracasso do país”. Na última terça-feira, de seu trono no alto da versão tupiniquim do Monte Olimpo, o obelisco do saber jurídico roubou o papel da defesa de Lula ao sugerir a soltura do petralha e sua permanência em liberdade até o julgamento do mérito do HC baseado na suspeição do juiz de primeira instância responsável pela condenação. 

Na subida opinião do excelso ministro, o então juiz federal Sérgio Moro cometeu falhas funcionais gravíssimas, que podem anular todas as atos processuais na ação sobre o tríplex no Guarujá. Se você tem estômago forte, não deixe de assistir à entrevista que Mendes deu à Globo News um dia depois de a 2ª Turma do STF decidir nada decidir, mas ainda assim rejeitar a concessão da liminar sugerida pelo ministro numa manobra indecente, mas não inédita, dada a semelhança com o salvo-conduto dado pelo plenário da Corte ao próprio Lula em março de 2018, depois de desistir de prosseguir com o julgamento e, atendendo a um pedido verbal da defesa, conceder uma estapafúrdia liminar que impedia a prisão do petista até que o mérito do recurso fosse julgado — o que veio a acontecer somente após os feriados da Semana Santa.


Vamos combinar que essa caça às bruxas já está virando palhaçada (detalhes no post anterior). Afinal, o que teria a ver a suposta “parcialidade” de Sérgio Moro com o bloqueio de R$ 78 milhões de Lula, determinado recentemente pelo juiz Luís Antonio Bonat nos autos do processo que trata do terreno que a Odebrecht se propôs a doar para servir de sede ao Instituto Lula? E com o fato de o MP, no recurso contra a decisão da juíza-substituta Gabriela Hardt nesse mesmo processo, pedir o aumento da pena  de 12 anos e 11 meses de prisão que foi imposta ao molusco? E como Lula, o desempregado que deu certo, teria acumulado patrimônio suficiente, como sindicalista e político, para justificar um bloqueio dessa magnitude? E o que tudo isso tem a ver com a suspeita de que Moro e os procuradores, no caso do tríplex, considerando que a condenação foi ratificada, por unanimidade, tanto pelo TRF-4 (que, de quebra, aumentou a pena) quanto pelo STJ (que a reduziu para algo próximo do que Moro havia estabelecido em sua decisão)? Vão insultar nossa inteligência na ponte que os partiu!

Na entrevista à Globo NewsGilmar traça um paralelo entre o material que vem sendo vazado pelo Intercept com a gravação da conversa de alcova entre o então presidente Michel Temer e o moedor de carne bilionário dono da JBS, publicada por Lauro Jardim em O Globo em maio de 2017. Data venia, uma coisa nada tem a ver com a outra. 

Naquele caso de Temer, quem gravou a conversa, ainda que à sorrelfa, foi um dos interlocutores. Quando a notícia veio à público, todos sabiam disso. Mesmo assim, foram feitas perícias para atestar a veracidade do conteúdo. Segundo Ricardo Molina, contratado pela defesa do então presidente para periciar os arquivos, mas que atuou mais como advogado do vampiro do Jaburu do que como perito, a gravação era imprestável dada a existência de mais de 70 “pontos de obscuridade” ― e o MPF, “inocente e incompetente”. 

Os peritos ouvidos pelo Jornal Nacional chegaram à conclusão de que toda a gravação estava intacta  ― a exemplo do que a PF atestaria mais adiante ― e Temer só não foi afastado porque as marafonas da Câmara venderam seus votos a peso de ouro, e ele empenhou as cuecas da nação para os comprar. Nem é preciso lembrar que desde o início do ano, quando deixou o Planalto e perdeu a prerrogativa de foro, Temer se tornou alvo de 11 ações criminais na Justiça Federal do Rio de Janeiro, de São Paulo e do DF, chegando a ser preso preventivamente, em duas ocasiões, por determinação do juiz Marcelo Bretas, responsável pelos processos da Lava-Jato no Rio.

Para encurtar a conversa, ideologias e paixões à parte, o bom jornalismo é aquele que recorre a expedientes que facilitam a separação do joio do trigo no noticiário. A prática de ouvir as partes citadas em reportagens logo após os fatos revelados é ao mesmo tempo a oportunidade de dar voz ao outro lado e uma defesa prévia para eventuais ações judiciais que vierem a questionar a correção das notícias divulgadas.

Até agora, o Intercept e seus parceiros não apresentaram nenhum atestado de autenticidade das mensagens que obtiveram (criminosamente, uma vez que fruto de hackeamento digital), o que reduz a cada dia a credibilidade dos diálogos reproduzidos. Essa dúvida só será dirimida se e quando os diálogos vazados forem autenticados por registro de fé pública — e o resultado, qualquer que seja, não afastará a essência criminosa da maneira como os arquivos foram obtidos. Demais disso, somente agentes que atuaram e atuam no combate à corrupção vêm sendo mirados nesses ataques, numa evidente tentativa de desqualificar e desmoralizar a Lava-Jato e outras medidas em curso de combate à corrupção.

Em contrapartida, eventuais vazamentos e delações premiadas no bojo da Lava-Jato nunca privilegiaram políticos ou partidos. Foram denunciadas quase todas as organizações partidárias do espectro político brasileiro, do PT e seus satélites ao PSDB, legenda tida tradicionalmente como opositora ao lulopetismo. Dilma, em sua subida sabedoria, costumava a se referir aos vazamentos como “seletivos”, quando seletiva, mesmo, é a espionagem dirigida exclusivamente a agentes da lei que devassaram, investigaram, processaram, condenaram e até conseguiram repor dinheiro roubado do erário.

O Intercept perdeu a credibilidade — se é que a teve em algum momento — ao fatiar as “informações bombásticas” e disseminá-las a conta-gotas. Nos jornais que têm reproduzido com mais destaque o material divulgado pelo site, o colunista Elio Gaspari referiu-se explicitamente a esse erro de origem cometido pelo militante americano. No último dia 23, ele publicou: O site Intercept Brasil deveria divulgar todo o acervo de grampos que amealhou. A divulgação parcial e seletiva dos grampos, acompanhada por insinuações ameaçadoras de Glenn Greenwald, é um feitiço que pode se virar contra o feiticeiro. Antes da internet era comum que revelações jornalísticas fossem expostas em séries, mas Greenwald vem fazendo bem outra coisa, prometendo isso ou aquilo, às vezes em tom de vaga ameaça. A divulgação de denúncias num regime de conta-gotas foi uma das piores táticas dos procuradores da Lava-Jato”.

Greenwald não se comportou em nenhum momento como repórter, mas, sim, como ativista político. Isso, de per si, não significa que o material que divulgou não tem valor, ou mesmo que o jornalista mente. Mas a maneira como escolheu divulgar esse material, de forma unilateral, sem checagem, autenticação e, sobretudo, sem nenhum cuidado em dar ao lado exposto o direito elementar de expor sua versão dos fatos, torna sua história bastante suspeita. Isso para dizer o mínimo.

Segundo o Estadão, a versão de integrantes da inteligência do governo dá conta de que já se esgotou o arsenal do The Intercept contra Moro, e que os próximos capítulos seriam sobre conversas entre Dallagnol e outros procuradores. Com efeito: no mais recente episódio dessa abominável novela, Greenwald primeiro atribuiu a nova troca de mensagens ao procurador Ângelo Villela, depois disse que seria Ângelo Augusto Costa. A interlocutora, segundo Glenn, era Monique Cheker, a quem o americano atribui lotação na Procuradoria em Osasco — local onde ela nunca trabalhou. Quem tem lotação original em Osasco é justamente Ângelo Villela, retirado da matéria por “erro de edição”. Villela, como é de conhecimento público, foi preso pela Operação Greenfield, do MPF em Brasília, vendendo informações privilegiadas à JBS

Não se trata, portanto, de erro de edição, mas de pura (e atrapalhada) manipulação com nítido objetivo político.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

NÃO HÁ ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL. O BRASIL É UMA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA.



Enquanto juiz, Sérgio Moro “atuou contra os políticos”. Como sempre há um dia da caça e outro do caçador, nada interessa menos à classe política do que o sucesso do ora ministro da Justiça e Segurança Pública. Por determinação do presidente da Câmara — ele próprio enrolado na Lava-Jato —, o pacote de medidas anticrime e anticorrupção apresentado pelo ex-magistrado está sendo discutido por um grupo de trabalho formado por parlamentares de pouca expressão, e temas importantes, como a criminalização do caixa 2, foram apartados. 

Também por decisão de Rodrigo Maia, foi anexada aos projetos uma proposta de mudanças na legislação criminal apresentada ao Congresso em 2018 pelo togado supremo Alexandre de Moraes. Pelo andar da carruagem, a análise só deve terminar em setembro, quando então uma comissão especial terá dois meses para deixar o projeto em condições de ser votado. Vencidas essas etapas, se o Senado não fizer alterações que obriguem a Câmara a reexaminar o assinto, Moro poderá ver seu projeto se transformar em lei no ano que vem, se até lá ele ainda estiver no governo.

Bolsonaro não tem sido de grande ajuda — aliás, a julgar pelo que vem fazendo desde que assumiu o posto, o presidente não é de grande ajuda nem para si mesmo. Além de não mover uma palha para apressar a tramitação do projeto do ministro da Justiça, o presidente negou que lhe tivesse prometido a indicação do próximo procurador-geral (o mandato de Raquel Dodge termina em setembro), fê-lo recuar da nomeação da cientista política Ilona Szabó como suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, flexibilizou a posse de armas sem levar em conta suas sugestões e não se empenhou pela manutenção do Coaf  em sua pasta. Prova disso é que na manhã da última quinta-feira uma comissão mista da Câmara e do Senado, ao analisar a Medida Provisória que montou o governo, aprovou por 14 votos a 11 a volta do Coaf para o Ministério da Economia. É certo que a medida ainda precisa ser votada no plenário da Câmara dos Deputados e no Senado, mas até aí morreu o Neves.

Observação: O personalismo de Moro ajuda a aprofundar o abismo existente entre ele e a classe política. Um dos poucos parlamentares a apoiar abertamente sua agenda no Congresso, o senador tucano Márcio Bittar resume a má vontade de Brasília: “Ele não tem bancada, não é do meio político e sendo quem é não facilita. Representa alguém que prendeu políticos. Não é um personagem agradável para a maioria no Congresso. Contrariou muitos interesses”.

A exemplo da maioria dos políticos tupiniquins, Rodrigo Maia e seu papai — o ex-prefeito do Rio e hoje vereador Cesar Maia — são investigados na Lava-Jato, e o ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e ex-ministro de Minas e Energia no governo TemerWellington Moreira Franco, e casado com sua sogra. 

Identificado como Gato Angorá nas planilhas do departamento de propina da Odebrecht, Moreira Franco era o único ex-governador eleito e ainda vivo do Rio sem passagem pela prisão até março deste ano, quando foi preso preventivamente com o ex-presidente e o coronel Lima. Os três foram soltos depois dias depois por um desembargador que ficou afastado do cargo durante sete anos por suspeita de estelionato e formação de quadrilha, mas, na última terça-feira, 7, a 1ª Turma do TRF-2 cassou os habeas corpus que beneficiaram Temer e Lima, conquanto tenha mantido o gato gatuno em liberdade.  

No final do mês passado, o ministro Edson Fachin atendeu a um pedido da PGR que pleiteava o arquivamento de um inquérito envolvendo Rodrigo Maia e o senador Renan Calheiros — o presidente da Câmara ainda responde a outros 2 inquéritos, ao passo que o cangaceiro das Alagoas é alvo de 13 apurações. Dias atrás, Marcos Tadeu, ex-executivo da OAS, afirmou em depoimento que a empreiteira pagou propina a Cesar Maia por meio de contrato fictício com o escritório de Sérgio Bermudes — renomada banca de advogados que tem entre seus clientes Eike Batista e a mineradora Vale, e cuja sucursal em Brasília acontece de ser chefiada por Guiomar Mendes, esposa do semideus togado que o ministro Luís Roberto Barroso definiu como “uma pessoa horrível, uma mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia“ e o jornalista J.R Guzzo como “uma fotografia ambulante do subdesenvolvimento brasileiro, mais um na multidão de altas autoridades que constroem todos os dias o fracasso do país”).

Para encurtar a conversa, o pacote de medidas anticrime e anticorrupção de Sérgio Moro perdeu protagonismo devido à relevância da reforma previdenciária, que vem sendo tratada como prioridade única pelo Planalto. Apesar de as mudanças no sistema de aposentadorias serem muito mais impopulares, interlocutores do presidente dizem que a proposta do ministro, mesmo sendo positiva para o governo, não recebe igual tratamento devido à sua rejeição no Congresso, sem mencionar que o presidente Bolsonaro não gosta de dividir a ribalta com seus “superministros”. Mesmo ciente das consequências políticas de um eventual pedido de demissão de Moro — que, fora do governo, não teria dificuldades em arrumar um novo emprego com remuneração infinitamente superior à de ministro de estado —, o capitão faz questão de reafirmar que ele é quem manda, deixando claro que sombras não são bem-vindas. 

Moro se mostra resignado com as “boladas nas costas”, mas acredita que conseguirá aprovar ao menos uma parte de seu pacote, o que lhe daria reconhecimento. Depois, em não havendo outros sobressaltos, poderia assumir uma das vagas a serem abertas no Supremo durante a gestão de Bolsonaro. Reservadamente, ele diz acreditar que está no “caminho certo”, mas que os desafios são imensos. Tomara que não mude de ideia agora que perdeu o Coaf.

Para fechar em grande estilo: numa sessão marcada por momentos de tensão, o plenário supremo decidiu na tarde de ontem, por 7 a 4, declarar constitucional o decreto assinado pelo então presidente Michel Temer em 2017, beneficiando, inclusive, condenados por crimes do colarinho branco ao entender que o indulto é um ato privado do presidente da República, não cabendo ao Judiciário definir ou rever as regras estabelecidas pelo chefe do Executivo. Lula não será beneficiado, porque só começou a cumprir pena em 2018, ao ser condenado pelo TRF-4.

Eis aí mais uma decisão tomada por togados supremos que acham perfeitamente normal, num país com 13 milhões de desempregados e um salário mínimo "de fome", fazer uma licitação de R$ 1,3 milhão para comprar medalhões de lagosta e vinhos importados — e somente os premiados — para as refeições servidas pela Corte. O ministério público do TCU pediu a suspensão, o pedido foi acatado pela juíza Solange Salgado, da 1ª Vara Federal em Brasília (para quem a licitação afronta o princípio da moralidade administrativa) mas a AGU recorreu e o vice-presidente do TRF-1 cassou a decisão e liberou a boca-livre. País de merda, este nosso, e povo de merda esse que aceita bovinamente essa bandalheira toda com o suado dinheiro dos impostos. Depois vem deputado de esquerda dizer que a reforma da Previdência vai matar de fome os mais pobres. Demorô! Quem vota nessa corja merece bem mais que isso.

Como disse o zero três, "bastam um soldado e um cabo...". Às vezes, fico pensando se isso não vai acabar acontecendo, pois é público e notório que uma banda podre... enfim, a tendência é a coisa mudar naturalmente, conforme os atuais integrantes forem se aposentando (Celso de Mello e Marco Aurélio completam 75 anos em 2021, ainda no governo Bolsonaro, portanto), mas se a mudança será para melhor vai depender de quem os substituirá. Mas isso é conversa para outra hora.



sexta-feira, 22 de março de 2019

TEMER PRESO E BOLSONARO COM A POPULARIDADE EM QUEDA. O QUE ISSO SINALIZA?



No início da tarde de ontem eu noticiei a prisão do ex-presidente Michel Temer, do ex-ministro e ex-governador do Rio, Moreira Franco (o quinto governador do Rio a ser preso no âmbito da Lava-Jato), do célebre coronel João Batista Lima Filho e de outros membros da quadrilha supostamente chefiada pelo ex-presidente. Postei em edição extraordinária devido à importância do fato — a partir do qual o Brasil passou a ter dois ex-presidentes presos — e porque este episódio é mais uma evidência de que narrativa petista de perseguição política a seu amado líder não passa de conversa mole para boi dormir. Aliás, ainda falta prender a dona Dilma, mas isso é conversa para outra hora.

Como o assunto em tela ocupou boa parte dos telejornais da última quinta-feira, e considerando as repercussões que ainda estão por vir, acrescento apenas que Temer classificou sua prisão como “uma barbaridade”, a despeito de o juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava-Jato no Rio, entender que a conclusão dos procuradores que atuaram no desdobramento batizado de Operação Radioatividade, de que o emedebista é o líder da organização criminosa que desviou cerca de R$ 1,8 bilhão, “é convincente”. Aliás, Bretas ordenou busca e apreensão nos endereços de Maristela Temer, filha de Michel Temer, do almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, de Ana Cristina da Silva Toniolo e de Nara de Deus Vieira e em empresas vinculadas aos investigados.

Cumpre salientar dois pontos que eu reputo importantes: o primeiro é que, a despeito do bombardeio sofrido dias atrás — tanto por parte do STF quanto do MPF — a Lava-Jato mostra que continua viva, ativa e operante. Agora, se isso vai dar início a uma guerra entre os procurados e os ministros supremos, bem, o que eu posso dizer é que, se isso acontecer, quem tende a ser mais prejudicado é o país. Aliás, a prisão de Moreira Franco, que é sogro do presidente da Câmara, já respingou no andamento da reforma da Previdência — a indicação do relator na CCJ, que deveria acontecer nesta sexta, foi adiada para a semana que vem.

O segundo ponto é que a prisão de Temer escancara a fantasia falaciosa que da narrativa petista de que Lula está na cadeia por ser perseguido pela Justiça. Aliás, por mais lamentável que seja ver dois ex-presidentes da República nessa situação vexatória, ainda mais lamentável ainda seria vê-los se safarem impunemente, como acontecia até a Lava-Jato entrar em ação. Pena que parte do Judiciário compactue com os malfeitos dessa caterva e crie todo tipo de dificuldade para evitar que criminosos do colarinho branco respondam por seus atos. Não é à toa que, de 2015 para cá, chegaram ao Senado nada menos que 45 pedidos de impeachment de ministros do STF, 10 dos quais pedem a saída Gilmar Mendes

Também não é à toa que o juiz Bretas incluiu em sua decisão que um possível recurso de Temer ao STF não deve ser relatado por Mendes, que já relatou outros casos da Lava-Jato no Rio, como as operações Saqueador e Calicute. No documento, o magistrado afirma que a prisão do emedebista não guarda relação com as ações penais dos dois casos da Lava-Jato já relatados pelo ministro. "Apenas para evitar confusões a respeito da competência para eventual impugnação desta decisão, repito que estes autos guardam relação de conexão e continência com a ação penal derivada da denominada operação Radioatividade e seus vários desdobramentos", observou. Bretas entende que o encaminhamento deva ser feito ao ministro Barroso, remetente do inquérito que leva o ex-presidente à 7ª Vara Federal do Rio, ou a qualquer outro ministro sorteado eletronicamente. A expectativa dos membros do MPF é que o relator seja o ministro Fachin, responsável por relatar processos decorrentes da Operação Radioatividade, que apurou desvios na Eletronuclear.

Observação: O habeas corpus apresentado pela defesa de Temer está nas mãos do desembargador Ivan Athié, do TRF-2, que, dizem, acredita na prisão somente depois de condenação final. Mas o magistrado pode jogar a batata quente no colo da 1ª Turma daquele regional, que costuma apoiar as decisões do juiz Bretas. Como se vê, no Brasil a Justiça está mais para um jogo de roleta do que... Bom, deixa pra lá. Passemos ao texto que eu havia preparado para hoje:

É pública e notória a aversão que parte da mídia nutre pelo presidente Jair Bolsonaro (aliás, a recíproca é verdadeira), mas há quem vá mais além, criando fake news para desmoralizar seu governo. Os bolsomínions não ficam atrás, mas, convenhamos: esse revanchismo irresponsável é contraproducente, sobretudo quando o capital político do chefe do Executivo é fundamental para a aprovação da reforma da Previdência — sem o que a economia tupiniquim entrará em colapso.

Na última quarta-feira, noticiou-se ad nauseam que a popularidade do atual governo é a pior desde a redemocratização do país. Segundo o Ibope — que ouviu 2002 pessoas entre 16 e 19 de março e atribui margem de confiança de 95% a esse levantamento —, a avaliação positiva da gestão de Bolsonaro caiu de 49% para 34% em menos de 3 meses, enquanto o percentual dos entrevistados que a consideram ruim ou péssima subiu de 11% em janeiro para 24% em março, e a aprovação pessoal do presidente é de 51%. Nunca é demais lembrar o Ibope, a exemplo da maioria dos principais institutos de pesquisa, dava como líquida e certa a eleição de Dilma para o Senado, e que a ex-presidanta ficou em quarto lugar, com 15,29% dos votos válidos — e ainda viu seu ex-companheiro de luta armada e ex-ministro, Fernando Pimentel, ser expurgado do segundo turno na disputa pelo governo de Minas Gerais.

Observação: Em seus tempos de guerrilheira, a Rainha Bruxa do Castelo do Inferno integrou o grupo Colina, que executou  um oficial alemão por confundi-lo com o major boliviano Gary Prado, suposto matador de Che Guevara. Como se vê, a incompetência está no DNA dessa calamidade em forma de gente.

A mídia também divulgou os índices de aprovação de FHC (1995) Lula (2003) e Dilma (2011) ao cabo dos primeiros três meses em seus primeiros mandatos, que foram respectivamente de 41%, 51% e 56%. Mas ninguém deu um pio sequer sobre Lula ter acabado na cadeia e Dilma, defenestrada do Planalto pela porta dos fundos. Ou essa gente tem memória seletiva, ou age de má-fé, valendo-se de meias-verdades para manipular a opinião pública.

Outro fato curioso é o destaque dado ao assassinato da vereadora Marielle Franco — cujo mandante (ou mandantes) não ter sido identificado (ou não terem sido identificados, embora já se tenha passado mais de um ano — ser muito maior que o do atentado contra a vida de Jair Bolsonaro. Também chama a atenção o fato de Adélio Bispo ser considerado um “lobo solitário”, a despeito de todas as evidências em contrário — a começar pelo fato de ele não ter um gato para puxar pelo rabo e ser defendido por 5 advogados renomados, pagos sabe lá Deus por quem. Como se isso não bastasse, as investigações que visavam elucidar quem está por trás do atentado foram suspensas por um pedido do presidente da OAB, que tem fortes laços com o PT, deferido por um desembargador nomeado por Dilma e crítico figadal da Lei da Ficha-Limpa.

Tenta-se agora vincular Bolsonaro ao atentado contra a vereadora carioca. Argumenta-se que o atirador, o sargento reformado da PM Ronnie Lessa, era seu vizinho no condomínio em que Bolsonaro morava antes de se mudar para o Palácio do Planalto, que Bolsonaro aparece numa foto (tirada em 2011) com o outro suspeito, o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, e que o fato de o filho mais novo do presidente, Jair Renan, ter namorado a filha de Lessa. Bolsonaro argumenta que o condomínio em questão tem 150 casas, e que ele não conhecia todos os seus vizinhos; que já tirou fotos com milhares de policiais e que zero quatro já namorou todo mundo naquele condomínio.  

Eis aí mais uma história mal explicada a destruir a confiança da nação em seu presidente — como se já não bastasse a interminável novela Fabrício Queiroz /Flávio Bolsonaro, que se arrasta desde o ano passado e parece estar longe de terminar. Agora, depois de ter faltado a quatro convocações do MP, o ex-assessor afirmou por escrito que abiscoitava parte do salário dos funcionários do gabinete do então deputado, na Alerj, para redistribuí-los entre outros servidores “informais”, sem que o chefe tivesse conhecimento. Uma explicação tão mambembe quanto a que atribuía os depósitos feitos em sua conta à compra e venda de veículos usados. Pelo visto, criatividade não é o forte do ex-factótum dos Bolsonaro; afinal, tempo não lhe faltou para elaborar uma narrativa mais convincente.


Para não estender ainda mais este texto, vou deixar as demais considerações para uma próxima postagem.

quinta-feira, 21 de março de 2019

MICHEL TEMER E MOREIRA FRANCO PRESOS NO ÂMBITO DA OPERAÇÃO RADIOATIVIDADE



Foram presos preventivamente na manhã desta quinta-feira, por determinação do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, o ex-presidente Michel Temer, o coronel João Batista Lima Filho e o ex-ministro de Temer e ex-governador do Rio, Wellington Moreira Franco.


Também foi decretada a prisão preventiva da mulher do coronel Lima, seu sócio Carlos Alberto Costa e o ex-presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, entre outros. Para quem achava que a Lava-Jato tinha sido ferida de morte pela decisão do STF, aí está a resposta.

Temer é alvo de pelo menos dez investigações e perdeu o foro privilegiado ao deixar a Presidência da República. A ação de hoje é decorrente da Operação Radioatividade, investigação que apurou crimes de formação de cartel e prévio ajustamento de licitações, além do pagamento de propina a executivos da Eletronuclear. Após decisão do STF, o caso foi desmembrado e remetido à Justiça Federal do Rio de Janeiro.

O inquérito que mira o ex-presidente e seus aliados tem como base as delações do empresário José Antunes Sobrinho, ligado à Engevix. Em seu acordo de colaboração, Sobrinho fala sobre pagamentos indevidos que somam 1,1 milhão de reais, em 2014, solicitados pelo coronel Lima e por Moreira Franco, com anuência de Temer, no contexto do contrato da AF Consult Brasil com a Eletronuclear. O total rapinado pelo quadrilhão supostamente chefiado pelo ex-presidente, nos últimos 40 anos, atinge R$ 1,8 bilhão!

A Polícia Federal cumpre um total de oito mandados de prisão preventiva e dois de custódia temporária, 26 de busca e apreensão nos Estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Paraná e no Distrito Federal. Ao desembarcar do Aeroporto Internacional de Santiago do Chile, o presidente Jair Bolsonaro considerou que a prisão do ex-presidente Michel Temer está relacionada aos acordos políticos. “Cada um responde por seus atos, mas está claro que a política em nome da governabilidade feita no passado não deu certo, não estava correta”.

Com essas e outras, o Brasil já contabiliza dois ex-presidentes presos. Ainda falta a dona Dilma.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

AINDA SOBRE A GREVE DOS CAMINHONEIROS



Os quase 10 dias de paralisação que trouxeram de volta o que houve de pior na década de 80 ― quando cenas de desabastecimento nos supermercados, descontrole de preços e filas quilométricas em postos de combustíveis eram comuns ― confirmaram a fragilidade de um governo impopular e inepto e serviram de prévia para o que está por vir durante a campanha eleitoral, dado o oportunismo da maioria dos postulantes à presidência da República, que mudam de opinião ao sabor das conveniências.

Desde o início da paralisação já se ouvia ― tanto na imprensa quanto nas redes sociais ― que a revolta da boleia tinha traços do velho corporativismo brasileiro e adotava uma postura fortemente autoritária, incompatível com a convivência democrática. O primeiro a ser atropelado foi o governo federal, que subestimou todos os alertas e se revelou incapaz de lidar com a chantagem dos caminhoneiros. Quando os efeitos da greve ficaram claros, só lhe restou atender a todos os pleitos da categoria. E enquanto o bufão da corte, Carlos Marun, fazia pouco da gravidade da situação a cada aparição pública, Temer entregava tudo e mais um pouco, e a sociedade comemorava seu próprio descaminho: subsídio ao diesel, reserva de mercado e redução de pedágios por decreto.

Se o presidente encontrou seu desmoronamento moral nas denúncias da JBS e seu fim político no abandono da agenda de reformas, sua administração chegou perto da derrocada operacional durante essa paralisação, cujo prejuízo bilionário será repassados aos consumidores. E o Congresso não ficou atrás em matéria de irresponsabilidade. O primeiro a aderir ao oba-oba populista, certamente pensando em capitalizar politicamente sobre o sofrimento da nação, foi o presidente da Câmara, que logo anunciou em vídeo cheio de papagaios de pirata ― incluindo o presidente do Senado ― a proposta de zerar a Cide. Depois, liderou a votação para zerar o PIS/COFINS com base em cálculos ginasianos, quiçá feitos em papel de pão. 

Ao se dar conta da patuscada, Eunício Oliveira preferiu se resguardar da falta de combustíveis e voar de volta para seu reduto em plena quinta-feira, enquanto deputados e senadores se refestelavam na pantomima democrática, manifestando no plenário e em redes sociais uma compreensão pedestre das contas públicas e do funcionamento da economia, pedindo a cabeça do presidente da Petrobras. Não à toa, a empresa perdeu mais de R$ 120 bilhões em valor de mercado durante a greve.

A queda de Temer está fora de cogitação, seja porque faltam 4 meses para as eleições, seja porque nem a oposição quer tirá-lo do cargo. É certo que do governo e do Congresso que estão aí já não se esperava mais nada, mas preocupa o fato de os pré-candidatos à Presidência tampouco se terem revelado à altura do momento dramático que o país enfrentou.

Jair Bolsonaro, abandonando qualquer flerte com o liberalismo e esquecendo-se oportunamente de sua oposição aos métodos autoritários de reivindicação política ― contra os quais, aliás, ele mesmo apresentou um projeto de lei ―, só na undécima hora pediu a “volta à normalidade”. Marina Silva repudiou o uso das Forças Armadas, alertou para o risco de as concessões aos caminhoneiros recaírem no bolso da população e salientou a insatisfação generalizada dos brasileiros, mas escusou-se de apresentar uma solução para pôr fim à crise, limitando-se a dizer que “propor soluções para problemas complexos exige legitimidade para negociar em nome da sociedade”.

Álvaro Dias e Ciro Gomes aderiram à mesma mentalidade populista e irresponsável ― este último, inclusive, aproveitou para desfiar o rosário do estatismo intervencionista mais tacanho, somando equívoco sobre equívoco em rede nacional no programa Roda Viva. Henrique Meirelles e Geraldo Alckmin mostraram alguma preocupação com a independência da política de preços da Petrobras, mas falharam, certamente pelo incentivo do calendário eleitoral, ao não demonstrarem a clareza moral, em suas posições, contra os métodos autoritários do movimento paredista.

No campo da esquerda, Manuela D’Ávila defendeu um plano de investimentos na Petrobras para aumentar a capacidade de refino e tornar o país menos dependente das oscilações de preço do petróleo no mercado internacional, e Guilherme Boulos, a quintessência do socialismo abilolado, condenou a “política de preços que só visa ao lucro dos acionistas de Wall Street” e viu na paralisação um movimento de resistência popular. Já a FUP, movimento ligado ao PT, não traiu seu oportunismo atávico e armou uma greve para chamar de sua (a dos petroleiros).

Em uma democracia sadia, ninguém é dono verdade nem tenta impor seu projeto pessoal de sociedade, sob pena de a coisa pública ser apropriada por interesses privados e momentâneos ― ainda que da maioria ― em detrimento do bem comum, e da força prevalecer sobre o direito. Não se nega que assista razão ao caminhoneiros, pelo menos em algumas de suas reivindicações, mas há um sem-número de alternativas legítimas para defender as próprias pautas em uma democracia. A paralisação nunca teve nada de democrático ― pelo contrário, é mais do velho autoritarismo e do corporativismo à brasileira.

Não é exagero dizer que, nestes dias que passaram, grande parte da sociedade brasileira foi tomada por um surto coletivo. Que este momento de convalescença possa servir a uma reflexão ― de cada cidadão, liderança política e empresarial ― que recoloque a todos no caminho da razoabilidade, do diálogo e da moderação. Fora desse caminho, as dores serão ainda maiores.

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segunda-feira, 4 de junho de 2018

MAIS UMA VITÓRIA DO ATRASO



ANTES DA MATÉRIA DO DIA, SEGUE BREVE ADITAMENTO AO POST ANTERIOR:

Mensagens dando conta de uma nova greve dos caminhoneiros, supostamente nesta segunda-feira, vem sendo propagada em tom alarmista nas redes sociais e pelo WhatsApp. Algumas associações que estiveram à frente do movimento encerrado no final da semana afirmaram não estar envolvidas em uma nova greve, mas um grupo reduzido de caminhoneiros autônomos se reuniu ontem, em Brasília, a pretexto de articular uma possível manifestação ou greve. O motivo seria um suposto veto presidencial à redução de R$ 0,46 no preço do diesel ― segundo fontes oficiais, não houve veto algum e a medida já entrou em vigor. O governo assegura que as mensagens não passam de boatos, e que, a princípio, não renovaria o decreto de Garantia da Lei e da Ordem que permitiu às Forças Armadas agir na greve dos caminhoneiros. Mas, pelo sim ou pelo não, monitora a situação, a despeito de ter publicado nas redes sociais um vídeo no qual nega uma nova greve de caminhoneiros

A demissão de Pedro Parente (*) da presidência da Petrobras foi uma baixa importante na guerra que as forças do atraso travam contra o País. Nas circunstâncias em que se deu, não representou apenas a perda de um valoroso colaborador do governo, mas principalmente o triunfo dos que parasitam o Estado e sabotam todos os esforços daqueles que trabalham duro para impor alguma racionalidade à administração dos escassos recursos públicos.

Fossem as coisas diferentes, o governo não aceitaria a saída de Parente, cuja retidão moral e capacidade profissional não serão encontradas em quase nenhuma sala do entorno da Presidência da República. O executivo foi responsável pela notável recuperação da Petrobras, que havia sido destroçada pelos governos lulopetistas. Naquela trevosa época, a estatal transformou-se na petrolífera mais endividada do mundo, à beira do colapso, quando passou a funcionar como máquina de dinheiro para financiar o populismo do PT, que se manifestou tanto na forma de subsídio para os combustíveis como na participação em empreendimentos controvertidos e mal planejados. O pressuposto era que o papel da empresa ― “estratégico”, como não se cansam de dizer os empulhadores ― era servir como motor do desenvolvimento nacional. O tal desenvolvimento não veio ― em lugar disso, o que essa política doidivanas gerou foi a ruína da maior empresa do País.

Munido de liberdade de ação, Parente pôde implementar uma administração austera e dinâmica, que em pouco tempo reequilibrou as finanças da Petrobras ― por meio da venda de ativos e, principalmente, de uma política de preços que dispensava os subsídios, por respeitar as variações de mercado. A greve dos caminhoneiros, contudo, colocou essa política na berlinda, pois a principal reivindicação do movimento era o restabelecimento do subsídio.

Diante da hesitação do Palácio do Planalto, que tremeu em razão das consequências de uma greve que não conseguiu prever nem soube conter, Parente ainda fez o possível para que o governo ganhasse tempo para negociar um acordo ― que, ao final, se revelou uma verdadeira capitulação ao movimento paredista. Em sua carta de demissão, ele deu a entender que a decisão do governo de restabelecer o subsídio, sem dar suporte firme para manter a política de preços por ele implementada, foi o fator preponderante para sua saída. “Diante desse quadro, fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva”, escreveu Parente.

Ao aceitar a demissão, o presidente Temer também deu uma vitória aos petroleiros que haviam deflagrado uma greve política, na qual exigiam justamente a saída do executivo. E nem é preciso dizer que a decisão foi celebrada por todos os que trabalham incansavelmente em favor do subdesenvolvimento travestido de “justiça social”. “Já vai tarde”, disse Guilherme Boulos, candidato a presidente pelo PSOL. “Era o que a sociedade esperava”, declarou o presidente do Senado, Eunício Oliveira. “Finalmente!”, tuitou o PT.

Enquanto o governo perde quadros de imenso valor ― antes de Parente, Maria Silvia Bastos Marques deixou o BNDES depois que o governo lhe sonegou apoio contra os que sabotavam sua política de reorganização do banco ―, personagens notórios mais por escândalos que por capacidade administrativa continuam prestigiados no Palácio do Planalto. Nada disso augura um bom futuro. Nem para o governo, nem para o País.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

MICHEL TEMER E SEU GOVERNO ZUMBI



Pelo calendário oficial, diz uma matéria publicada em O GLOBO na última quinta-feira, o mandato de Michel Temer termina no dia 31 de dezembro deste ano, mas, na vida real, seu governo morreu na noite de 17 de maio do ano passado, quando o terremoto provocado pelas revelações da delação da JBS abalou as estruturas de uma gestão à qual sempre faltou a legitimidade das urnas. A partir de então, sua excelência deixou de ser um presidente que se pretendia reformista para virar um político que usaria todos os meios junto ao Congresso para não cair.

Cinco dias antes de a bomba explodir, Temer comemorara seu primeiro ano de governo, e apesar da popularidade esquelética (em abril de 2017, o Ibope lhe atribuía míseros 10% de aprovação), articulava um discurso em tom triunfante, exaltando a aprovação da PEC dos gastos públicos, a queda da inflação e a redução da Selic. Naquele cenário, a reforma da Previdência eram favas contadas ― ainda que o texto original fosse relativamente atenuado, ninguém, nem mesmo a oposição, duvidava da força de Temer para fazê-la passar no Congresso.

Mesmo que as ruas não lhe sorrissem, Temer era o senhor do Congresso. No discurso do dia 12 de maio do ano passado, disse estar seguro de que “ao completar nosso segundo ano de governo, teremos um país reestruturado e muito mais feliz”. Mas o presidente que arriscou essa profecia foi o mesmo que meses antes recebera Joesley Batista para a fatídica conversa a dois no Palácio do Jaburu, e quando o diálogo veio a público, passou a viver em função de três objetivos: não cair, não cair e não cair.

Especialista na arte de conhecer os desejos dos parlamentares, Temer negociou tudo o que podia para sepultar as duas denúncias do então procurador-geral Rodrigo Janot. Venceu a parada na Câmara e se manteve no cargo, mas seu governo, desde a noite de 17 de maio de 2017, virou um zumbi. A partir de então, seu capital político, fortalecido pela liderança na articulação para depor sua predecessora, passou a ter outra função: a sobrevivência virou pauta única.

Presidente da Câmara por três vezes, Temer conhece o Legislativo como poucos. Sabia que precisava atuar em dois campos para conseguir evitar que 342 deputados autorizassem o Supremo a processá-lo. O discurso da continuidade era necessário, mas o mais importante era manter a base satisfeita com a moeda típica da coalizão: cargos, emendas e obras nas bases dos parlamentares. Dois ministros chegaram a sondar um cacique do PSDB com a ideia de derrubar o governo, mas, abatidos pelas fortes acusações contra Aécio Neves, os tucanos mais graúdos resistiram e, com o tempo, o partido rachou.

A estratégia da tropa de choque do Planalto foi atuar no varejo e conquistar o coração do baixo clero. Todavia, vendo o governo nas cordas, os parlamentares se aproveitaram para conseguir benesses na véspera do ano eleitoral. Um ministro conta que, entre as demandas, houve quem solicitasse a aprovação de uma obra de R$ 300 milhões

Os ministros políticos pressionavam a área técnica pela liberação de emendas. Em junho e julho foram empenhados R$ 4,2 bilhões, mais de 60% do previsto para o ano. O ritmo caiu em agosto para R$ 200 milhões, depois que, no dia 2 daquele mês, Temer venceu a primeira batalha. Entre setembro e outubro, quando a segunda acusação foi rejeitada, o governo empenhou mais R$ 900 milhões.

Para sepultar as denúncias, Temer empenhou capital político demais para exigir do Congresso a aprovação da impopular reforma da Previdência. Houve até articulações para tentar ressuscitar o tema, mas a intervenção do Rio o sepultou em definitivo. Ainda se fala em suspender a medida por alguns dias para votar a PEC, mas isso é tão improvável quanto a alegada candidatura do peemedebista à reeleição em no pleito de outubro. Na vida real, o governo naufragou. Só as investigações é que não sucumbiram.

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segunda-feira, 14 de maio de 2018

SOBRE O STF, GILMAR MENDES, PAULO PRETO, MDB E PSDB



A combinação de um Executivo mambembe com um Legislativo corrupto e corporativista transformou o Judiciário numa tábua de salvação para os esperançosos mais obstinados (este país não tem remédio, só não vê quem não quer). Prova disso é o fato de o povão reconhecer a fuça dos 11 ministros do STF mais facilmente que a dos 11 titulares da seleção brasileira, a despeito de estarmos às vésperas da Copa do Mundo na Rússia.

Felizmente para a senhora de pedra que guarda a entrada do prédio do STF em Brasília ― esculpida por Alfredo Ceschiatti (1918 – 1989) ―, a grossa venda que lhe cobre os olhos também lhe tapa as orelhas, poupando-a de ver e ouvir os conflitos ruidosos que não raro se deflagram nas dependências da Corte, e de corar de vergonha diante da atual composição daquele Tribunal ― talvez a pior desde que foi criado, em 28 de fevereiro de 1891, para substituir o Supremo Tribunal de Justiça do Império.

Dos onze ministros atuais, três são paulistas: Celso de Mello, indicado por Sarney, Dias Toffoli, pelo criminoso Lula, e Alexandre de Moraes, por Michel Temer. Os fluminenses Marco Aurélio Mello, Luiz Fux e Luís Roberto Barroso foram promovidos durante o governo da anta sacripanta, à exemplo da gaúcha Rosa Weber e do gaúcho-paranaense Edson Fachin. Ricardo Lewandowski, nascido no rio, mas criado em São Paulo, e a mineira Cármen Lúcia assumiram o cargo na gestão do sevandija de Garanhuns, e o mato-grossense Gilmar Mendes é herança do governo FHC.

Observação: O então presidente e hoje presidiário Lula chegou a nomear oito ministros, e a ex-presidente e presidiária-to-be Dilma, cinco, devido em parte às aposentadorias precoces de Francisco Rezek, Nelson Jobim, Ellen Gracie e Joaquim Barbosa ― um surto de debandadas que respingou desprestígio na mais alta corte do país, em princípio propiciadora do ápice do mais honroso posto de uma carreira jurídica (leia mais sobre as “virtudes” de alguns ministros da Corte nesta e nesta postagem).

Depois de proferir o voto que formou maioria no julgamento virtual do recurso que buscava libertar Lula da cadeia, concluído pela 2ª Turma do STF no último dia 10, Gilmar Mendes, com a avidez de um alcoólatra afastado da garrafa por dias a fio, deu vazão a seus instintos laxantes mandando soltar Paulo Preto, que estava preso desde 6 de abril em razão das suspeitas de desvios nas obras do Rodoanel Sul, Jacu Pêssego e Nova Marginal Tietê, realizadas nos governos dos tucanos José Serra, Alberto Goldman e Geraldo Alckmin. A defesa de Paulo Preto recorreu ao TRF-3 e ao STJ, mas não logrou êxito em soltá-lo. No Supremo, no entanto, Gilmar Mendes concedeu o habeas corpus por entender que é "patente o constrangimento ilegal", e que "a justificação processual da prisão preventiva não encontra amparo em fatos". 

Observação: Preto é amigo de Aloysio Nunes Ferreira há mais de 25 anos e foi durante pelo menos uma década o homem forte do tucanato. De engraxate em seus mais verdes anos, ele se tornou assessor especial da Presidência da República e, mais adiante, diretor da Dersa. Seu patrimônio deu um prodigioso salto de R$ 113 milhões (depositados em 4 contas na Suíça, segundo a promotoria daquele país).

Apontado como operador do dinheiro ilícito que irrigou as campanhas de candidatos do PSDB em 2006 e 2010, Preto vinha se queixando de desamparo. Enviou para fora do xadrez recados que soaram como o canto do carcará ― aquela ave que pega, mata e come. Foi como se quisesse renovar um aviso que emitira em 2010, quando tucanos “ingratos” fingiam que não o conheciam: “Não se deixa um líder ferido na estrada a troco de nada.”

Quem conhece Paulo Preto acredita que, se mantido preso, Paulo Preto não hesitaria em negociar um acordo de colaboração e, para valorizar sua delação, concentraria seu poder de fogo em Geraldo Alckmin ― ex-governador de São Paulo, candidato à presidência em 2006 (quando foi derrotado por Lula) e pré-candidato nas próximas eleições (quando será derrotado por si mesmo e pelo seu estúpido partido). Se o alvará de soltura expedido por Mendes revela alguma coisa, é que o operador do tucanato pode estar ferido, mas não foi largado à beira da estrada.

Solto, Preto tende a prender a língua. A hipótese de se tornar um delator continua viva no jogo, mas acaba de se tornar uma carta embaralhada. Sua delação poderia produzir efeitos deletérios na candidatura de Alckmin, que já não entusiasmava o eleitorado antes de ser investigado na Justiça Eleitoral por suspeitas de caixa-dois ― segundo as pesquisas, o tucano tem entre 5 e 7 por cento das intenções de voto).

Michel Temer, que é unha e carne com Gilmar Mendes, aventou a possibilidade de se candidatar à reeleição, certamente movido pela esperança de manter o foro privilegiado e adiar indefinidamente o julgamento dos processos oriundos das denúncias apresentadas por Janot, que foram bloqueadas pela Câmara até o final do mandato presidencial. No entanto, sua prodigiosa impopularidade e seus pífios 5% de intenções de voto levaram-no a considerar uma aliança com o ex-governador de São Paulo. Essa união renderia mais prejuízo do que lucro a Alckmin, mas traria uma montanha de minutos no horário eleitoral obrigatório. Por outro lado, alguns a veem como um “abraço de afogados” ― segundo a revista Veja, um dirigente tucano que pediu anonimato ponderou que “de nada adianta ter um tempo gigantesco na TV e só fruta podre para vender”.

Observação: A desistência de concorrer à reeleição não foi exatamente uma opção de Michel Temer, que, crivado de acusações de corrupção e reprovado por sete em cada dez brasileiros, não teria chance sequer de passar para o segundo turno. Falando no presidente, semana passada, durante uma palestra na Escola Superior de Propaganda e Marketing em São Paulo, ele tentou explicar por que, embora o desemprego tenha diminuído, o desemprego aumentou. A plateia saiu de lá com uma certeza: ninguém convive impunemente por tanto tempo com Dilma Rousseff.

Do lado do MDB, de seus 27 diretórios estaduais, 20 são contrários à aliança nacional com os tucanos ― o que deve levar Temer a tratar com menos desapreço a candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que trocou o PSD pelo MDB para disputar o Planalto. Mas o fato é que, a cinco meses da eleição, é impossível arriscar um palpite sobre o que vai acontecer. O PSDB, finalmente na mira da Lava-Jato, quer um aliado limpo, o que, em tese, excluiria Temer ou outro nome de destaque do MDB, já que o partido como um todo está imerso até os beiços no atoleiro da corrupção. Já os emedebistas querem um candidato viável que aceite defender o legado de Temer. Juntos ou separados, ambos buscam pela mercadoria que lhes é mais cara no feirão da política: o voto dos eleitores.

Voltaremos a conversar (com mais vagar) sobre Gilmar Mendes, talvez já na próxima postagem.

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sábado, 5 de maio de 2018

MARUN, JUCÁ E LULA LÁ



Antes de se sagrar escudeiro de Michel Temer, o deputado Carlos Marun se desmanchava em rapapés para o ex-todo poderoso Eduardo Cunha. Quando o ex-presidente da Câmara foi cassado ― não pelos crimes que cometeu, mas por ter mentido a seus pares ―, o hipopótamo dançarino não só votou contra, mas foi o único deputado no plenário a defender o correligionário. Depois que Cunha foi preso, Marun se tornou o pitbull do Temer e relator da CPI da JBS ― mesmo tendo recebido R$ 103 mil reais em doações do frigorífico e sendo alvo de um processo por improbidade administrativa (acusado de beneficiar uma empresa de software em contratos de R$ 16,6 milhões).

O gaúcho Carlos Eduardo Xavier Marun é descendente de imigrantes libaneses. Formou-se em Engenharia e, nos anos 1980, trocou Alegrete (RS) pelo Mato Grosso do Sul. Elegeu-se deputado federal em 2015 e teve uma ascensão meteórica: em menos de 3 anos, conquistou uma cadeira no 4ª andar do Palácio do Planalto.

No mês passado, Marun chegou a pedir o impeachment do ministro Barroso ― por “ter sido contaminado por suas preferências políticas”. Semanas atrás, quando a procuradora-geral mandou prender amigos íntimos de Temer, o pitbull palaciano rosnou que Raquel Dodge integrava “um complô para depor o presidente”. Mas a cereja do bolo foi a infeliz dancinha em plenário ― com direito a rebolado de quadril ― da marchinha “Tudo está em seu lugar”, de Benito Di Paula, para comemorar a rejeição da segunda denúncia oferecida contra o amigo Michel por Rodrigo Janot.

Até assumir a vaga de deputado, em 2015, o patrimônio declarado de Marun resumia-se a duas cadernetas de poupança e um Citroën Picasso. Mal chegava a R$ 100 mil. Já no primeiro ano de mandato, o emedebista comprou uma casa de mais de 200 metros quadrados num luxuoso condomínio em Campo Grande, que foi registrada por mais de R$ 1 milhão. Em 2016, os negócios continuaram a prosperar ― em meio à recessão que obrigou diversas empresas a fechar as portas, a família Marun lançou uma “assessoria empresarial” voltada para países árabes.

Segundo a jornalista Débora Bergamasco, Marun tornou-se o Silvio Costa ― deputado rouco e histriônico defensor de Dilma ― de Michel Temer, atribuindo-se espontaneamente o múnus de defender o presidente das duas denúncias da PGR. Como relator da CPI da JBS, utilizou a caneta, o microfone e os holofotes para fazer implacáveis críticas ao MPF, atirando mais precisamente contra Janot ― que se tornou persona non grata entre a maioria dos parlamentares. Em dezembro passado, pediu o indiciamento do ex-procurador-geral, do procurador Eduardo Pelella e do agora advogado Marcello Miller ― a repercussão foi péssima até mesmo entre governistas, levando o cão de guarda a retirar o tópico do texto em troca da aprovação de seu relatório.

Fato é que Michel Temer está muito mal assessorado. Nos últimos dias, cometeu erros crassos a pretexto de tentar reverter sua impopularidade, que ombreia com a de Collor e Dilma durante os respectivos impeachments. Um presidente que convoca uma rede nacional de rádio e TV para celebrar o Dia do Trabalhador e pede “esperança” aos mais de 13 milhões de desempregados não tem noção da tragédia que se espalha pelo país, pouco importando que o grosso do desemprego se deva a erros anteriores a sua gestão. E ainda que sua equipe econômica tenha conseguido reduzir a inflação e os juros e aprovar alguns projetos importantes, a recuperação não veio com a intensidade e a velocidade esperadas.

Na opinião de Merval Pereira, o anúncio do aumento do Bolsa Família ― que só entrará em vigor em julho ― não traz esperanças nem a quem vive do sustento governamental, e anunciá-lo agora foi outro equívoco de quem está ansioso para melhorar sua aceitação pública. Mas comparecer ao local do desmoronamento de um prédio ocupado por movimentos populares em São Paulo foi a quintessência da falta de noção (conforme eu mencionei no post anterior, Temer compareceu a um local minado politicamente e teve que sair de lá às pressas). Parece a piada onde o sujeito muda de calçada apenas para escorregar numa casca de banana.

Quanto a Lula, a tal “comoção nacional” com sua prisão ― preocupação do ministro Marco Aurélio Mello ― não foi observada sequer neste melancólico 1º de Maio. Mesmo sendo insuflados pelos irresponsáveis caciques petistas que sobraram fora da cadeia, as lideranças sindicais não se deixaram levar pelo radicalismo, deixando claro que o molusco indigesto perdeu grande parte de sua capacidade de mobilizar a população.

Ainda assim, Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias, Humberto Costas e outros petralhas ― cujos discursos, trocados por merda, ainda seriam caros ― insistem em confrontar a Justiça, na vã esperança de tentar tirar seu amado líder da cadeia e fortalecer uma campanha presidencial da qual o bandido de Garanhuns certamente não participará. As tentativas dos últimos dias, com chicanas e mais chicanas, vêm sendo derrubadas uma a uma. O showmício em Curitiba mostra bem o isolamento do PT: apenas Boulos e Manuela D’Ávila, candidatos de esquerda, compareceram. O suposto provável substituto de Lula na campanha, Jaques Wagner, defende a aliança com Ciro Gomes e fala em aproximação até mesmo com Joaquim Barbosa, que, durante o julgamento do mensalão, chamou o PT de organização criminosa.

Uma das maiores virtudes de Lula sempre foi a capacidade de enganar as pessoas mais humildes com argumentos populistas. Mas, para se aproveitar da boa-fé dos desassistidos e menos esclarecidos, o demiurgo ofendeu a inteligência de muita gente, que passou a vê-lo como cínico, oportunista, explorador e mentiroso. Apostar na ignorância eterna da maioria da sociedade talvez tenha sido seu maior erro. Embora jamais tivesse chegado onde chegou sem sua vocação inata para ludibriar os ignorantes num tempo em que não havia internet, o petralha subestimou o avanço dos meios de comunicação e o acesso a dispositivos conectados, que tornaram as pessoas menos "trouxas".

Com isso, seus admiradores foram aos poucos se familiarizando com o verdadeiro Lula, que não conseguiu se "reinventar" e prosseguiu com sua retórica demagógica e corrupção desenfreada, confiando na fidelidade de seus cúmplices, achando que eles jamais entregariam os podres do lulopetismo ― o que, em tese, lhe garantia sigilo sobre as falcatruas em que se envolveu. Mas aí vieram a Lava-Jato e a perseverança extraordinária dos procuradores e do juiz Sergio Moro.

Réu em sete ações penais, condenado na primeira delas por corrução e lavagem de dinheiro, o molusco eneadáctilo descobriu na prática qual é o fim de qualquer criminoso. O prodígio que alcançou notoriedade mundial se vê agora na condição de condenado pela justiça, com bens confiscados, preso e rejeitado pela sociedade ― menos pela patuleia incorrigível, que, por algum motivo insondável, continua acreditando no seu besteirol.

Por questões de espaço, vamos deixar Jucá para uma próxima vez.

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