Mostrando postagens com marcador alagamento. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador alagamento. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

TEMPESTADES DE VERÃO — TRANSPOSIÇÃO DE ALAGAMENTOS E O RISCO DO CALÇO HIDRÁULICO (PARTE FINAL)

A HORA DO SIM É UM DESCUIDO DO NÃO.
Vimos que o motor de quatro tempos aspira a mistura ar-combustível no ciclo de admissão, comprime-a no ciclo de compressão, gera potência no ciclo de explosão (ou combustão) e expele os gases resultantes no ciclo de exaustão (ou descarga).
A expulsão dos gases é fundamental, como você pode constatar entupindo com uma batata a saída do cano de descarga do seu carro (ou do carro de algum desafeto) e dando a partido no motor (que não vai “pegar). Daí ser importante manter o giro elevado (2.000 RPM, aproximadamente) ao atravessar um alagamento, já que a saída dos gases impede a entrada de água pelo cano de descarga, evitando que o motor “morra”.
O calço hidráulico é um fenômeno que decorre da entrada de água na câmara de combustão, ou seja, quando o motor aspira água juntamente com o ar (que, como vimos, forma a mistura que é comprimida e inflamada no interior dos cilindros para produzir a energia que move as rodas motrizes do veículo). Ao atingir o interior dos cilindros, a água não só impede a queima da mistura como submete os pistões a um esforço para o qual eles não foram dimensionados (ao contrário dos gases, os líquidos não são compressíveis), resultando no entortamento das bielas (hastes metálicas que ligam os êmbolos à árvore de manivelas, ou virabrequim) e consequente travamento do motor.
Observação: Para ter uma ideia da resistência da água à compressão, encha uma garrafa até o gargalo e tente fechá-la com uma rolha. Por mais que você force, a rolha não vai entrar; se você aumentar muito a pressão (batendo na rolha com um martelo, por exemplo), o vidro vai ceder, e a garrafa, quebrar.
No caso de o veículo ficar submerso e o motor morrer, ou se estiver estacionado e for apanhado pela inundação, também existe o risco de calço hidráulico por conta da água que entra pelo cano de descarga. Mas o mais comum ela é “sugada” pelo sistema de admissão (de novo: com o motor girando a cerca de 2.000 RPM, a expulsão dos gases impede que a água entre pelo escapamento).

É por isso que jipes, picapes e outros veículos projetados para uso off-road severo, além do cano de descarga posicionado verticalmente, têm o sistema de captação de ar elevado, próximo ao teto (o chamado snorkel, como no detalhe da figura que ilustra esta matéria). Isso lhes permite atravessar córregos, riachos e trechos alagados sem maiores problemas (dentro de certos limites, naturalmente).
Observação: Em motores de alto desempenho, como o M4 GTS, da alemã BMW, injeta-se uma determinada quantidade de água (vaporizada) no coletor de admissão, para reduzir a temperatura dos gases, prevenindo o superaquecimento, e permitir o avanço da ignição, aumentando a potência gerada pelo propulsor. Mas isso já é outra conversa.

Como regra geral, se o motor “apagar” no meio da travessia, não tente religá-lo, nem dando a partida, nem “no tranco”. Coloque a transmissão em ponto morto (ou na posição N, nos automáticos e automatizados) e empurre o veículo para fora da água. Quem tem um mínimo de habilidade manual — e dispõe das ferramentas necessárias — pode retirar as velas de ignição e dar a partida — sem as velas, não haverá compressão, mas o movimento dos pistões expulsará a água do interior dos cilindros.

Supondo que os componentes do sistema eletrônico de injeção (como a sonda lambda) não tenham sido afetados, basta recolocar as velas, reconectar os cabos e dar a partida para o motor voltar a funcionar. Mas o recomendável é chamar um guincho para rebocar o carro até uma oficina confiável, onde o mecânico fará um exame mais detalhado.

Boa sorte.