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terça-feira, 6 de novembro de 2018

SOBRE O PRESIDENTE ELEITO JAIR BOLSONARO (CONTINUAÇÃO)



Dono de uma extensa lista de declarações polêmicas e frequentemente criticado por exaltar a ditadura, Jair Messias Bolsonaro foi eleito Presidente da República com 55% dos votos válidos — espantosamente conseguidos com uma campanha espartana (que não usou o dinheiro do fundo partidário), feita por uma coligação raquítica e que dispunha de míseros 8 segundos de exposição diária no horário político obrigatório.

Trigésimo oitavo Presidente da República e o primeiro paulista eleito para o cargo desde a redemocratização (*), Bolsonaro cursou a Escola Preparatória de Cadetes do Exército e se formou na Academia Militar das Agulhas Negras (ambas no estado do Rio). Depois de 11 anos no exército — e de ter sido preso por 15 dias em 1986, depois de ter escrito um artigo publicado na revista Veja sob o título “O salário está baixo” —, o então capitão passou para reserva e ingressou na vida pública como vereador (na hipótese de não se eleger, pensou mesmo em trabalhar como limpador de casco de navio, aproveitando o curso de mergulho que fizera anos antes). Ficou dois anos na Câmara Municipal antes de vencer a primeira das 7 eleições para deputado federal que disputou. No Congresso, respondeu a sete processos por quebra do decoro parlamentar — as ações por injúria, apologia ao estupro e racismo repercutem até hoje (mais detalhes na postagem anterior).

(*) Quando se elegeram, FHC e Lula moravam em São Paulo e SBC, respectivamente, mas o tucano é carioca e o petista, pernambucano. Bolsonaro nasceu no município, Glicério, no noroeste paulista, foi registrado (dez meses depois) na cidade de Campinas e passou a maior parte da infância e adolescência em Eldorado Paulista — que fica no Vale do Ribeira — de onde saiu somente aos 18 anos.  

Em 27 anos como deputado federal, Bolsonaro apresentou 172 projetos e foi relator em 73 deles, mas conseguiu aprovar apenas dois. No plenário, estava sempre sozinho ou na companhia do filho — o também deputado Eduardo Bolsonaro. Nunca foi visto jantando no Piantella nem tomando uísque no Churchill (o restaurante e o bar de Brasília onde os parlamentares mais enturmados costumam confraternizar). Passou quase 3 décadas na Câmara como um membro do baixo-clero, sem destaque, sem poder e sem uma turma para chamar de sua. Em meados de 2014, então filiado ao fisiológico PP — cuja bancada de 40 deputados era adestrada para apoiar qualquer um com chance de vencer —, apresentou-se ao partido como opção para concorrer ao Planalto e foi solenemente ignorado. No da convenção partidária, lançou seu ultimato: “Ou o PP sai da latrina ou afunda de vez”. Graças à Lava-Jato, o PP afundou de vez; graças a sua pregação antipetista, o hoje presidente eleito se reelegeu como deputado mais votado do Rio de Janeiro (saltando de 120,6 mil votos em 2010 para 464,5 mil em 2014).

No fim de 2014, recém-eleito para o sétimo mandato consecutivo, Bolsonaro percorreu o país, realizou carreatas, estampou camisetas e adesivos, posou para “selfies” com eleitores e proferiu palestras. Ganhou um público jovem e ligado nas redes sociais, que o apelidou de  “mito” e distribuiu memes com frases do político. Ao se dar conta do enorme potencial das redes sociais, o deputado-capitão pavimentou o caminho para a popularidade com frases chocantes, inusitadas ou abertamente provocativas. Cada discurso que embutia uma ideia polêmica ou preconceituosa corria a internet, gerando milhares de comentários — contra ou a favor, tanto faz: “falem mal, mas falem de mim”. Em 2016, trocou o PP pelo PSC, depois namorou com o PEN (que virou Patriota para acolhê-lo), rompeu ao descobrir que a sigla havia patrocinado uma ação no STF questionando a prisão em segunda instância (tema que interessava sobretudo a Lula e ao PT e feria de morte seu discurso antipetista) e acabou se filiando ao então nanico PSL (que agora elegeu 52 deputados federais, 4 senadores e 3 governadores). 

De estatista, Bolsonaro passou a defensor da liberdade de mercado, selou pareceria com o economista liberal Paulo Guedes (seu Posto Ipiranga) e, para compor a chapa como, vice convidou o senador Magno Malta — que errou feio ao declinar, pois não conseguiu se reeleger; mesmo com a maior verba partidária da sigla em seu estado, obteve menos da metade dos 1.500 mil votos que esperava. A lista seguiu pelo general Augusto Heleno (que aceitou mas não obteve sinal verde do PRP), a advogada Janaína Paschoal (que recusou e acabou se elegendo a deputada estadual mais votada de São Paulo), o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança (que foi desconvidado quando se divulgou que teria sido filmado agredindo um morador de rua) e finalmente o general Mourão — aquele que defendeu numa loja maçônica em Brasília, em 2017, uma intervenção militar no caso de o Judiciário não conseguir expurgar os corruptos da política nacional.

Bolsonaro começou sua campanha liderando as pesquisas — atrás somente do ex-presidente presidiário, cuja candidatura nunca passou de uma quimera. Houve um consenso de que ele teria atingido o ápice da a popularidade e que a tendência natural era de desidratação, mas o cenário mudou com o atentado a faca durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG), que quase lhe custou a vida. No segundo turno, debilitado pelas duas cirurgias a que foi submetido, permaneceu recluso do no condomínio onde mora, na Barra (zona oeste do Rio de Janeiro), mas continuou subindo nas pesquisas. Mesmo liberado pelos médicos, preferiu não participar de debates (algo inédito no segundo turno das eleições presidenciais no Brasil). 

Entrincheirado em casa, com uma bolsa de colostomia presa ao abdome, defendendo-se e atacando através das redes sociais, Bolsonaro construiu a vitória mais improvável da história da democracia tupiniquim.

Para saber mais sobre sua trajetória política, siga este link.