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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

JULGAMENTO DO HC DE LULA - PALOCCI, “O SOMBRA” E O ASSASSINATO DE CELSO DANIEL



O enésimo pedido de habeas corpus impetrado pela defesa de Lula, desta feita com base na suposta parcialidade do ex-juiz federal Sérgio Moro, foi a julgamento na tarde de ontem. 

A impressão que a gente tem — sobretudo os 57,7 milhões de eleitores que votaram contra Haddad no segundo turno, sinalizando claramente que estão de saco cheio de Lula e do PT — é de que o Poder Judiciário nada mais tem a fazer senão julgar a miríade de apelos do criminoso de Garanhuns.

Enfim, iniciada a sessão, Cristiano Zanin tentou adiar o julgamento, ponderando que o HC deveria ser analisado em conjunto com outro recurso interposto pela defesa, mas teve o pedido negado por 3 votos a 2, vencidos os ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. Na sequência, depois que o relator, ministro Edson Fachin, votou contra o HC e a ministra Cármen Lúcia acompanhou seu voto, o laxante togado Gilmar Mendes pediu vistas e a sessão foi encerrada.

Volto com mais detalhes na próxima postagem. Passemos ao assunto do dia.

Sérgio Gomes da Silva — o Sombra — foi denunciado em 2003 como mentor intelectual da execução do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, mas o processo foi anulado em 2014, Sombra morreu de câncer em 2016 e o crime continua até hoje envolto em sombras (se o leitor me concede o trocadilho).

Em delação premiada, Palocci referendou a versão oficial desse episódio, descartando qualquer vínculo com a cúpula do PT. Pelo visto, ele não quer acabar como o ex-prefeito e coordenador da campanha de Lula em 2002, tanto assim que seu acordo de colaboração prevê garantia de vida para si e sua família.

Muita gente apostava que delação-bomba viria de Dirceu — e que por isso ele vem sendo mantido fora da prisão, a despeito dos quase 40 anos de reclusão a que foi condenado em duas ações criminais. Mas o guerrilheiro de araque nada tem a ganhar com uma delação; na condição de mentor intelectual das maracutaias petistas, tudo — ou quase tudo — que ele revelasse aumentaria sua pena. Destarte, o homem bomba é Palocci, cujas revelações podem, inclusive, pôr um fim a impunidade da ex-presidanta sacripanta, a quem o ex-PGR e o STF proporcionaram uma impressionante virgindade judicial.

Dilma finalmente se tornou ré no tal “quadrilhão do PT”, já que o cumpanhêro Janot, nas palavras do jornalista Guilherme Fiuza, “fez uma pirueta estratégica no melhor estilo engana trouxa, oferecendo uma denúncia carnavalesca que faz um ‘cozidão’ de delitos de Lula, Dilma, Palocci, Mantega, Dirceu, Vaccari e companhia, um trabalho porco feito por um personagem que meses depois estaria declarando publicamente seu voto em Haddad”. Segundo Fiuza, o status de ré ajuda a quebrar a redoma de hipocrisia em torno da “presidenta golpeada” — que continua passeando pelo mundo com dinheiro do contribuinte para cantar seus réquiens. Mas é a bomba — ou as bombas — de Palocci devem virar esse jogo, trazendo a lume detalhes sobre a negociata de Pasadena, a cobertura para o tráfico de influência de Erenice, as tentativas de obstruir a Justiça e a Lava-Jato tentando comprar o silêncio de Cerveró e blindar João Santana e Monica Moura, a operação criminosa para tentar salvar Lula da Justiça nomeando-o ministro, toda a condescendência explícita com o banditismo dos diretores da Petrobras prepostos do PT. Isso sem falar no crime das pedaladas, no qual acabaram de se tornar réus Mantega, Bendine e Augustin, entre outros que pintaram e bordaram com a bênção e sob a supervisão de Lula — a pobre vítima perseguida e injustiçada que os áulicos de sempre querem mandar para casa.

Palocci pode ajudar muito a elucidar as triangulações entre BNDES, ditaduras amigas e empreiteiras idem. Aliás, é interessante ver o ex-chanceler de Lula, Celso Amorim, preocupado com os rumos da política externa do novo governo. Diplomacia boa é a que dá cadeia — e a que faz espirrar sangue no quintal dos facínoras gente boa como Nicolás Maduro. O Brasil está entrando numa conjuntura em que, se Palocci não virar Celso Daniel, essa página infeliz da nossa história começará de fato a ser virada.

Voltando à execução do ex-prefeito de Santo André: Cesar Benjamin, um dos fundadores do PT, denunciou no Estadão, quase uma década antes de o escândalo do Petrolão vir a público, uma série de financiamentos de bancos e empreiteiras para a campanha do Lula de 1994. Perguntado pela revista Época se achava que esses episódios teriam gerado o cadáver de Celso Daniel, ele respondeu: “Eu não acho, tenho certeza. E houve muitos cadáveres morais. Este foi o físico.” (Não só aquele diga-se; outras sete pessoas ligadas ao caso morreram, entre elas o legista que atestou que o prefeito foi barbaramente torturado antes de ser assassinado).

Em 2015, já desfiliado do PT , Benjamin postou no Facebook, por ocasião da morte de outro co-fundador do partido:

Acabo de saber da morte de Antônio Neiva. Muito teria a dizer sobre ele: seu companheirismo, seu humor, sua lealdade, sua honestidade. Velho militante da época da ditadura, permaneceu no PT até o fim. Escolho apenas um momento das nossas vidas. Eu era da direção do PT quando percebi que o processo de corrupção se alastrava no partido. Tentei debater isso na direção, sem sucesso, pois àquela altura todos já temiam os dois comandantes da desagregação, Lula e José Dirceu.

Restou-me levar a questão ao Encontro Nacional do PT realizado em 1995 em Guarapari, no Espírito Santo. Fui à tribuna, que ficava numa quina do grande salão, de onde era possível ver, simultaneamente, o plenário e a mesa. Logo depois de começar meu pronunciamento, vi Dirceu se levantar, se colocar de frente para o plenário, de lado para mim, e fazer sinais na direção de um grupo que — depois eu soube — era a delegação de Santo André. Pelo tom da minha fala, Dirceu achou que eu trataria do esquema de corrupção nesse município, que ele e Lula comandavam e que resultaria depois no assassinato de Celso Daniel. Ele estava enganado. Eu não falaria disso, simplesmente porque desconhecia esse esquema. Minha crítica era à perda geral de referência ética e moral no partido, que nessa fala eu denominei de ‘ovo da serpente’.

Mobilizados por Dirceu, os bandidos de Santo André saltaram sobre mim, para interromper meu pronunciamento na base da porrada. Foi Antônio Neiva quem se interpôs entre mim e eles, distribuindo safanões e impedindo a continuidade do massacre. Foi minha última participação no PT, que agora agoniza, engolido pela serpente que cultivou. Descanse em paz Antônio Neiva, irmão, homem honrado.

No mês passado, em entrevista à Rádio Estadão, Bruno Daniel disse ter esperança que a Carbono 14 (27ª fase da Operação Lava-Jato) lance luz sobre as investigações do assassinato do irmão. Ele e outros familiares defendem a tese de que Celso Daniel teria sido morto para evitar denúncias sobre esquemas de corrupção em financiamento de campanhas do PT e de aliados, e acusam o partido de tentar dissuadi-los de pressionar pela apuração do caso.

Observação: A Carbono 14 investiga supostos repasses do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, a Ronan. Segundo as investigações, Bumlai tomou em 2004 um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões do Banco Schahin, dos quais R$ 6 milhões foram utilizados para quitar dívidas da campanha petista em Campinas, em 2002 e 2004, e os outros R$ 6 milhões, repassados a Ronan Maria Pinto. Os procuradores agora querem saber o porquê.

Bruno acredita que Ronan teria informações sobre a morte de Celso e que chantageou dirigentes petistas para manter o silêncio. Ele lembrou ainda que, três meses após a execução, foi encontrado no apartamento do morto um dossiê produzido pelo ex-ministro Gilberto Carvalho, a quem Bruno acusa de tentar convencê-lo a não insistir no caso. Ainda segundo ele, o então petista Donisete Braga, hoje filiado ao PROS, teve seu celular rastreado na região do cativeiro de Celso Daniel, e nunca foi esclarecido o que ele estaria fazendo lá.

Bruno cita também o caso do legista Carlos Delmonte Printes, que apareceu morto depois de apontar, em entrevista ao Programa do Jô, indícios de que a execução teria sido queima de arquivo (a polícia encerrou o caso dizendo tratar-se de suicídio), e questiona como o Sombra teria arranjado dinheiro para pagar o advogado Roberto Podval — o mesmo que defendeu José Dirceu quando este foi preso na Lava-Jato —, “que cobra o olho da cara por seus serviços”.

Saiba mais sobre o escândalo do mensalão e a execução de Celso Daniel no livro O CHEFE, do jornalista Ivo Patarra.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

A DELAÇÃO BOMBA DE PALOCCI E MAIS UM JULGAMENTO DE HABEAS CORPUS EM FAVOR DE LULA



Depois de 26 meses na cadeia, Antonio Palocci deixou a carceragem da PF em Curitiba. Por conta do acordo de colaboração firmado com a PF e homologado pelo presidente do TRF-4, o ex-superministro petista obteve a redução da pena de 12 anos, 2 meses e 20 dias para 9 anos e 10 dias e ganhou o direito de cumpri-la em regime semiaberto diferenciado (prisão domiciliar com monitoramento por tornozeleira eletrônica), além de ser incluído no programa federal de proteção à testemunhas — afinal, ele se tornou o primeiro membro do núcleo político do Petrolão a delatar o topo da pirâmide. 

Além de detalhar como o PT cooptou o cartel de empreiteiras que fatiou as obras de refinarias durante o primeiro ciclo de investimentos na Petrobrás nas gestões do PT, Palocci informou que tanto Lula quanto Dilma não só sabiam como participaram do esquema de propinas. Sua delação tem 18 termos de depoimento que fornecem dados para cinco frentes distintas de investigação da PF em Curitiba, escancarando a corrupção nas sondas de exploração do pré-sal, nas obras da Hidrelétrica de Belo Monte, em negócios petrolíferos na África e em tentativas de obstrução às investigações.

No ano passado, Palocci já havia revelado a Moro o “pacto de sangue” firmado entre o criminoso de Garanhuns e o empresário Emílio Odebrecht, que teria colocado R$ 300 milhões à disposição do PT e de políticos do alto-comando da seita do inferno, e dias depois, através de sua defesa, tornado pública a carta em que se desfiliava do partido e fazia a mais dura autocrítica jamais feita por um petista.

Até as pedras portuguesas de Copacabana sabem que os desgovernos da República entre 2002 e 2016 sugaram com sofreguidão todos os cofres disponíveis do Erário, mas as informações de Palocci são essenciais para esclarecer como a rapinagem foi realizada. Segundo o delator, o objetivo da Sete Brasil, empresa criada supostamente para contratar a construção dos navios-sonda de estaleiros, garantindo apoio à indústria nacional e à autonomia do País, era na verdade irrigar as campanhas políticas do PT com recursos desviados de contratos firmados entre a Petrobras — estatal inteiramente aparelhada pela “companheirada” — e empreiteiras dispostas a participar da maracutaia.

Palocci detalha como o PT infiltrou militantes nos fundos de previdência do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e da Petrobrás e, com a parceria de sindicatos dominantes nas estatais, da CUT e de militantes estrategicamente distribuídos em tais empresas, ficava com a faca e o queijo na mão; que Lula e Dilma determinaram a cinco ex-dirigentes desses fundos — indicados aos cargos pelo PT — que capitalizassem o “projeto sondas” (operação financeira que financiou a criação da Sete Brasil em 2010, visando à construção de navios-sonda para a Petrobras explorar o pré-sal; a estatal anunciara em 2008 que precisaria de 40 desses navios, embora existissem menos de 100 no mundo inteiro. Diz ainda que o PT ocupou os comandos dos fundos desde o início do governo Lula, em 2003; que o ex-ministro das Comunicações Luiz Gushiken (morto em 2013) era o principal responsável pela área; que foi padrinho político de Sérgio Rosa e Wagner Pinheiro, e que José Dirceu indicou Guilherme Lacerda, todos com o aval de Gushiken.

Observação: De acordo com O Antagonista, a delação descartou qualquer vínculo da cúpula do PT com o assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, referendando a versão oficial de que o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, teria planejado a execução daquele de quem Palocci herdou o posto de coordenador da campanha de Lula em 2002, após a morte do colega de legenda. O processo contra Sombra, denunciado em 2003, foi anulado pela 1ª turma do STF, em dezembro de 2014, com votos de Marco Aurélio Mello (relator) e Dias Toffoli — que três meses depois passaria para a Segunda Turma. Sombra, que sofria de câncer, morreu em setembro de 2016.

Dirceu — que foi condenado em segunda instância a 40 anos de reclusão, mas aguarda em liberdade o julgamento dos recursos graças ao terceto de laxantes togados da 2a turma do STF (reduzido a dueto depois que Toffoli assumiu a presidência da Corte e Cármen Lúcia ocupou seu lugar na turma) — argumenta que o antigo rival no comando do primeiro desgoverno Lula não tem como comprovar as acusações, mas Palocci indicou à PF o roteiro que leva às tais provas. Aliás, a simples menção do guerrilheiro de festim na delação já deveria bastar para o plenário do STF revogar a decisão que o dispensou até mesmo da tornozeleira eletrônica. Porém, como se viu no julgamento do insulto de Natal concedido pelo vampiro do Jaburu (detalhes nas duas postagens anteriores), uma ala do Supremo parece estar pouco se lixando para o combate à corrupção sistêmica que tomou conta deste país.

Falando na banda podre do STF, o ministro Ricardo Lewandowski — que atuou como revisor no processo do Mensalão e não só se empenhou pela absolvição post mortem do ex-sindicalista e ex-ministro petralha Luiz Gushiken, mas dedicou ao ex-cumpanhêro um tocante elogio fúnebre hagiográfico — pautou para amanhã o julgamento de mais um pedido de liberdade de Lula.

Nesse apelo, os advogados sustentam que Moro teria sido parcial na condução do processo sobre o tríplex no Guarujá e que teria havido motivação política na condenação, pois o magistrado ambicionava um ministério no governo de Jair Bolsonaro (isso quando a candidatura do ora presidente eleito não passava de uma quimera, como você pode ver nesta postagem). Assim, a defesa do petralha pleiteia o reconhecimento da suspeição de Moro e consequente anulação de todos os atos processuais que resultaram na condenação a 12 anos e 1 mês de prisão, pena que Lula vem cumprindo há quase oito meses.

Eu nem perderia tempo em mencionar essa bobagem se os ministros do STF fossem apolíticos e apartidários em suas decisões, mas, infelizmente, não é bem isso que acontece.

domingo, 29 de abril de 2018

ACORDO DE DELAÇÃO DE PALOCCI IMPLICA LULA E DILMA



O GLOBO publicou na última quinta-feira que o acordo de delação do ex-ministro petista Antonio Palocci, que vinha sendo negociado desde o ano passado, sem sucesso, com o MPF, foi aceito pela Polícia Federal, e que seu conteúdo envolve o esquema de arrecadação do PT com empreiteiras citadas na Lava-Jato e a atuação dos ex-presidentes Lula e Dilma nos crimes apurados pela operação. Por se tratar de uma colaboração negociada na primeira instância, os temas abordados dizem respeito a fatos investigados ― ou passíveis de investigação ― pela 13ª Vara Federal em Curitiba, e cabe ao juiz Sergio Moro a competente homologação (o que deve ocorrer já nas próximas semanas).

Ao detalhar o “pacto de sangue” entre Lula e a Odebrecht, em meados do ano passado, o ex-braço-direito de Lula jogou por terra a retórica do ex-chefe e cravou o penúltimo prego no caixão onde os projetos políticos do criminoso de Garanhuns dormirão seu sono eterno. Em contrapartida, o ora delator caiu em desgraça aos olhos da alta cúpula petista: o próprio Lula, em depoimento ao juiz Moro, rebaixou o ex-comparsa de “uma das mentes mais brilhantes do Brasil” a “pessoa dissimulada, fria, calculista e capaz de simular mentiras mais verdadeiras que a verdade”.

Diante da ameaça de ser expulso do partido que ajudou a fundar, Palocci pediu sua desfiliação através de uma carta enviada à presidente nacional da quadrilha, a senadora Gleisi Hoffmann, dizendo que “chegou a hora da verdade”, e, referindo-se a Lula, perguntando: "até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do 'homem mais honesto do País' enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!) são atribuídos à Dona Marisa?” (para ler o texto na íntegra, clique aqui).

Observação: Palocci foi co-fundador do PT e participou das decisões mais importantes do partido nas últimas duas décadas. Assumiu a coordenação da campanha de Lula à presidência em 2002, depois do (ainda mal explicado) assassinato de Celso Daniel. Foi dele a ideia de lançar a famosa Carta ao povo brasileiro”  manifesto público assegurando o compromisso do candidato petista com a estabilidade econômica. Também foi ele quem coordenou a equipe de transição e angariou o respeito do empresariado ao longo da campanha. Em 2003, foi nomeado ministro da Fazenda por Lula, mas deixou o governo em 2006, após ser envolvido em denúncias que culminaram na a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Mais adiante, foi chamado por Lula para ajudar a eleger Dilma, e operou para angariar fundos junto às empresas que se beneficiaram dos governos petistas. A pedido de Lula, foi nomeado ministro-chefe da Casa Civil em janeiro de 2011, mas deixou o cargo em junho do mesmo ano, quando vieram a público informações de que seu patrimônio havia aumentado 20 vezes entre 2006 e 2010. Foi preso preventivamente em setembro de 2016, durante a 35ª fase da Lava-Jato, e condenado pelo juiz Moro a 12 anos, 2 meses e 20 dias de prisão em junho de 2017. Sua defesa recorreu da sentença ao TRF-4, mas o apelo ainda não foi julgado, e seu pedido de habeas corpus foi negado pelo STF.

Ainda segundo O GLOBO, boa parte das histórias abordadas por Palocci ― que deverão ser detalhadas no curso das investigações ― reconstitui o esquema de corrupção na Petrobras, as relações das empreiteiras com políticos do PT e a forma como Lula e Dilma se envolveram nas tratativas que resultaram num prejuízo de R$ 42 bilhões aos cofres da estatal, de acordo como a estimativa da própria PF. Durante o processo de delação, o “petralha arrependido” também poderá apresentar anexos suplementares com novos casos considerados relevantes pelos investigadores.

Ao falar de Lula, o ex-ministro afirmou que foi pessoalmente levar pacotes de dinheiro vivo ao ex-presidente e relacionou datas e valores entregues por um de seus principais assessores, Branislav Kontic, na sede do Instituto Lula, e que o dinheiro seria usado para bancar despesas pessoais do chefe. Na ocasião das entregas, ele e Lula combinavam o local de encontro para o pagamento. Como Palocci não dirigia o próprio carro, o auxiliar que fazia as vezes de motorista (cuja identidade é mantida em sigilo) deverá ser chamado a testemunhar sobre o caso.

Palocci listou datas e horários das entregas de dinheiro a Lula como parte do conteúdo probatório. A partir dessas informações, os investigadores terão condições de confirmar os encontros, tanto por meio de ligações telefônicas entre Lula e Palocci quanto pela posição dos aparelhos celulares no mapa de antenas. Sobre a relação de Lula com empreiteiras, ele diz que parte do dinheiro entregue em mãos ao ex-presidente e na sede do instituto teria saído diretamente da “conta Amigo”, a reserva de propina atribuída ao petista no setor de operações estruturadas da Odebrecht (vulgo “departamento de propina”). Sobre Dilma, ele afirma que ela teria atuado para atrapalhar as investigações da Lava-Jato no episódio da nomeação de Lula para ministro da Casa Civil, em março de 2016, e narrou uma conversa com Lula no Palácio do Planalto, na qual teriam tratado do esquema envolvendo a construção de sondas para exploração de petróleo em águas profundas. O objetivo da negociação, feita na presença de Dilma, seria levantar dinheiro para bancar a eleição da ex-presidente, em 2010.

Para mais detalhes sobre o que Palocci deve dizer, acesse https://oglobo.globo.com/brasil/as-balas-na-agulha-de-palocci-22629123

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segunda-feira, 11 de setembro de 2017

MAIS MOTIVOS PARA SE TER ORGULHO DESTA REPÚBLICA DE BANANAS


O mais recente imbróglio envolvendo a delação da JBS foi causado pela conversa nada edificante que Joesley Batista e seu assecla Ricardo Saud mantiveram e gravaram “inadvertidamente”, e que acabou indo parar “acidentalmente” nas mãos do MPF.

O bate-papo descontraído, regado a uísque e ao som de Axé Music, durou longas quatro horas e suscitou quatro ministros do Supremo, dois governadores de Estado, dois senadores e dois ex-ministros. Sobrou até para a ex-presidanta e seu esbirro, José Eduardo Cardozo, entre outros que, como de praxe, negam qualquer participação e juram de pés juntos que são honestos, probos e acima de qualquer suspeita, ontem, hoje, amanhã e até o fim dos dias.

Na primeira parte do áudio, Joesley e Saud falam sobre como se aproximar de Rodrigo Janot por meio do então procurador Marcelo Miller e sobre a condição de não serem presos após fecharem os acordos de delação. Mas o “x” da questão ― que pode levar à revisão dos benefícios concedidos por Janot e avalizados pelo ministro Fachin a essa dupla de escroques ― foram os momentos em que os interlocutores sugerem que Miller ― que deixou a assessoria de Janot para atuar em escritório de advocacia que defende a JBS ― favorecia o grupo quando ainda integrava o MPF.

Em nota, os delatores boquirrotos pediram “sinceras desculpas” aos ministros do STF e ao PGR pelas citações indevidas, mas só depois que Janot determinou a abertura de investigação para apurar a omissão de informações nas negociações do acordo de colaboração.

A suspensão do acordo para apurar os fatos era de se espera, mas é lamentável que oportunistas de plantão se aproveitem do episódio para tentar (mais uma vez) barrar a Lava-Jato em seu esforço de reprimir e punir os esquemas de corrupção que conspurcam a política brasileira.

A defesa de Temer, por exemplo, tem se valido do ocorrido para desqualificar as acusações da PGR contra o presidente. A anulação de provas consistentes, se ocorrer, será um desserviço ao combate à corrupção, até porque o próprio acordo de colaboração tem cláusulas específicas para o caso: as de números 26 e 27 enquadram o que houve entre os motivos para a rescisão do acordo pela PGR, mas com a manutenção de todas as provas e depoimentos, além do pagamento de multas.

O senador Romero Jucá, integrante do grupo palaciano e alvo de inquéritos e processos no STF, diz que o ocorrido “projeta dúvidas sobre várias delações” ― notadamente a de Sérgio Machado, da Transpetro, em que ele, Jucá, é um dos protagonistas. E a maracutaia assume proporções pluripartidárias, já que, no Congresso, se alguém gritar “pega ladrão”, não ficam nem os faxineiros.

Omissões e manobras de Joesley podem ― e devem ― levar Janot a rever o acordo e estabelecer algum tipo de punição, mas contraria a sensatez e a própria lógica que os termos da delação ― que fazem dela um ato jurídico perfeito, assinado por meio de um rito sancionado pelo Supremo ― sejam descumpridos e que provas concretas desapareçam, como as cenas de Rodrigo Loures ― “homem da mala” de Temer e pessoa de sua mais estrita confiança, segundo o próprio Temer ― arrastando pela Rua Pamplona, em São Paulo, uma mala com R$ 500 mil de propina entregues pela JBS (mala essa que, depois da apreensão feita pela PF no “bunker” dos ex-ministro Geddel Vieira Lima, passou a ser considerada simples necessaire).

A conferir o resultado dessa merdeira toda.

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quinta-feira, 7 de setembro de 2017

7 DE SETEMBRO - DIA DA VERGONHA DE SER BRASILEIRO


Tempos atrás, durante o segundo reinado de Lula, eu disse que tinha vergonha de ser brasileiro. Mais adiante, já sob a égide da anta vermelha, disse que já não tinha mais vergonha, mas nojo. Agora, diante de mais esse imbróglio envolvendo a JBS, o presidente desta Banânia, a PGR e até ministros do Supremo, já nem sei o que dizer. São tantas informações contraditórias que fica difícil saber quem é quem e o quem fez o quê nesta merdeira toda. Mas parece inverossímil, para dizer o mínimo, que Joesley Batista e seu comparsa Ricardo Saud gravassem “acidentalmente” uma conversa tão comprometedora e entregassem o arquivo de mão-beijada à MPF, arriscando-se a perder as benesses obtidas com seu controverso acordo de colaboração, dentre as quais a própria liberdade.

Paralelamente, enquanto Geddel Vieira Lima ― ex-ministro e amigão do peito do vampiro do Planalto ― cumpre prisão domiciliar em seu luxuoso apartamento (sem tornozeleira eletrônica, que esse dispositivo está momentaneamente em falta), a PF apreende a bagatela de R$ 51 milhões, em dinheiro vivo, em outro apartamento do ex-ministro porcino, diante do que a famosa mala de Rocha Loures ― homem da mais estrita confiança do presidente, segundo o próprio presidente ― está mais para um reles porta-níqueis.
     
Enquanto isso, Lula ― réu em seis processos e sentenciado num deles a 9 anos e 6 meses de prisão em regime fechado ― continua escarnecendo da sociedade, posando de candidato a candidato a presidente da Banânia. Claro que somente petistas e alienados que lhes dão ouvidos ignoram que o projeto político desse sujeito é evitar ― ou procrastinar ao máximo ― seu acerto de contas com a Justiça Penal. Mas isso deve mudar com a confirmação da sentença do juiz Moro pelo TRF-4 ― dependendo, naturalmente, da decisão final do STF quanto ao início do cumprimento da pena por réus condenados. Vale lembrar que a Corte já interrompeu a votação por duas duas vezes; na última, o placar era a favor da prisão depois da condenação em segunda instância. Na próxima, Gilmar Mendes, o divino, deve rever sua posição, mas Rosa Weber parece propensa a votar pela manutenção da jurisprudência, de modo que se perde na foice e ganha-se no machado ― quanto aos demais ministros, melhor esperar para ver, porque até o passado é imprevisível neste país.

Mudando o foco para Dilma, a alienada, parece que o PT não sabe o que fazer com ela ― aliás, em entrevista a uma rádio de Salvador, Lula, num mea-culpa tardio, reconheceu que a calamidade em forma de gente cometeu erros (?!) na condução da política e da economia, e que ela “poderia ter tomado a decisão de não se candidatar à reeleição”. Pelo visto, ninguém ensinou ao sapo barbudo que de nada adianta chorar sobre leite derramado.

O impeachment da sacripanta encerrou um dos capítulos mais estapafúrdios da história deste país, protagonizado por incompetente se julgava exímia administradora, e que condenou o Brasil a um retrocesso econômico de duas décadas ― e serão necessárias outras duas para a plena recuperação, e que, como ressalta o jornalista Augusto Nunes, o eleitor tenha aprendido a lição e não se deixe levar por discursos irresponsáveis como os que elegeram e reelegeram a nefelibata da mandioca. Mas se o Brasil se livrou de Dilma antes que ela pudesse completar sua grande obra, o mesmo não se pode dizer de seu partido, o PT. Como se sabe, uma aberração legal urdida pelo então presidente do Senado, Renan Calheiros (investigado em 17 inquéritos no Supremo e réu em uma ação penal por crime de peculato), em dobradinha com os petistas e com o aval de Lula, permitiu ao então presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, manter os direitos políticos da impichada ao mesmo tempo em que a apeava da presidência. Isso permite que a estocadora de vento se candidate a qualquer cargo eletivo, mas sua obra a torna um ativo tóxico em qualquer palanque.

Os petistas nunca gostaram de Dilma, mas só porque, para eles, ela deveria ter se empenhado em obstruir a Lava-Jato e evitar que os escândalos de corrupção derivados das investigações atingissem em cheio o partido e seus principais dirigentes. Isso faz da criatura um problemão para a candidatura de seu criador: segundo o raciocínio da patuleia, como se não bastasse ter de provar que é a “viva alma mais honesta deste país”, o petralha ainda precisa convencer os brasileiros de que a profunda crise econômica legada pelo governo passado não é fruto da enorme incompetência de sua pupila ― uma tarefa hercúlea até mesmo para o inegável talento demagógico do repulsivo demiurgo de Garanhuns, especialmente depois do que seu ex-ministro Antonio Palocci trouxe a lume na tarde de ontem (6), em depoimento ao juiz Sérgio Moro.

Especulou-se que Dilma poderia se candidatar ao Senado pelo Rio Grande do Sul ou pelo Rio de Janeiro, mas uma ala do PT acha que isso seria prejudicial ao partido, não apenas porque as chances da alienada seriam remotas e atrapalhariam candidatos mais fortes, mas principalmente porque sua candidatura colocaria em evidência aquilo que o PT quer esconder, que é justamente o legado maldito da gestão a anta incompetenta.

Oficialmente, o partido mantém o discurso de apoio a mulher sapiens ― Gleisi Hoffmann, também ré na Lava-Jato e recém-empossada presidente da agremiação criminosa, diz que “Dilma é a grande liderança que encarna a injustiça contra o PT” e que, se decidir se candidatar em 2018, “vai ter muito voto”. Mas o próprio Lula tem dificuldades em lidar com sua criação. Na tal “caravana” que está empreendendo pelo Nordeste, em escancarada campanha eleitoral antecipada, o ele já teve de admitir que ela cometeu erros na condução da política econômica, ainda que atribua a crise a sabotagens do ex-presidente da Câmara e ora hóspede do complexo médico penal de Pinhais, em Curitiba.

Conforme reportagem do Estado, Dilma já disse a amigos que, no momento, está inclinada a não se candidatar a nada, pois prefere as viagens internacionais ― para denunciar o tal “golpe” de que se diz vítima ― e a convivência com artistas e intelectuais. Decerto Lula está torcendo para que ela se aposente de vez da política e se limite a andar de bicicleta. Afinal, se a sujeita resolver subir no palanque, os eleitores haverão de se lembrar do que ela fez ao País ― e seu criador e mentor terá dificuldade para esconder o fato, incontestável, de que pariu um monstro.

Bom feriadão a todos.

Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/

domingo, 28 de maio de 2017

ELEGÂNCIA

Nunca é demais lembrar que as consequências de corrupção revelada, no Brasil, nunca são muito radicais. Ninguém fica arruinado para sempre.

Um dos delatores da JBS comentou no seu depoimento que o presidente Temer não foi elegante ao pedir um milhão para si próprio, dos milhões que cruzavam à sua frente. Segundo o delator, só o Kassab fez o mesmo.

Notava-se uma certa decepção na voz do delator ao contar que Temer reivindicara uma beirada do propinato em trânsito para o seu bolso. De um Kassab não se esperava outra coisa. Mas de um presidente da República?

O corruptor lamentava o ocorrido. Uma certa etiqueta fora rompida. Uma certa presunção de elegância — presente até entre bandidos — fora frustrada.

A Presidência do Brasil parece um daqueles touros mecânicos sobre os quais poucos se equilibram, e o que varia é a maneira de cada um ser derrubado, com mais ou com menos elegância.
Nenhum presidente deposto caiu mais dramaticamente do que o Getúlio. Jânio caiu ridiculamente; Jango, pateticamente; Tancredo, surpreendentemente.

Os generais encontraram uma maneira prática de evitar a queda e o vexame: desligaram o touro e o mantiveram desligado por 20 anos.

Collor caiu sem perder a linha. Dilma idem (aqui eu, Fernando, acrescento“até porque a anta vermelha não tinha linha a perder”), com a desculpa adicional de ser a primeira mulher a montar no touro.

Como o Temer cairá do touro, se cair, ninguém sabe.

Pouco se falou do milhão por fora que ele pediu para o delator da JBS, talvez porque, em comparação com os bilhões que enchem os ares, um milhão pareça mais uma gorjeta do que uma propina. E há a possibilidade de o corruptor ter mentido.

Seja como for, o que Temer precisa antes de mais nada é recuperar a pose.

O conselho vale para todo mundo: elegância, gente.

Nunca é demais lembrar que as consequências de corrupção revelada, no Brasil, nunca são muito radicais. Ninguém fica arruinado para sempre, nenhuma carreira política se interrompe, o tempo reconstrói qualquer reputação abalada. Corruptos se desculpam, corruptores confessos deixam para trás uma república deflagrada e voam para Nova York, e tudo bem.

Se fosse no Japão, já teriam acontecido no mínimo 17 haraquiris.

Texto de Luiz Fernando Veríssimo, publicado no Blog do Noblat, em O GLOBO

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domingo, 21 de maio de 2017

UM POÇO DE INCERTEZAS

UM POÇO DE INCERTEZAS

O terremoto de magnitude 10 da última quarta-feira, que teve como epicentro o Palácio da Alvorada e se espalhou rapidamente Brasil afora, deixou no chinelo a “Delação do Fim do Mundo” e colocou o governo na antessala do Apocalipse. Tudo começou com o furo de reportagem publicado em O Globo por Lauro Jardim, cuja pronta repercussão na mídia levou ao esvaziamento do Congresso e sitiou no Palácio do Planalto o presidente da República. Quase 24 horas depois, em sua primeira fala à nação, Temer classificou de clandestina a gravação da conversa entre ele e o dono da JBS num encontro à sorrelfa, tarde da noite, no Palácio do Jaburu ― segundo Joesley, foi preciso apenas baixar o vidro do carro e dizer que era o Rodrigo para ter o acesso à garagem liberado ― daí se pode inferir que clandestina foi a reunião, não a gravação.

Observação: A J&F Investimentos é uma holding criada em 1953 pela família Batista e que controla empresas como a JBS, Eldorado Celulose e outras. J, B, e S são as iniciais de José Batista Sobrinho, pai de Joesley e Wesley Batista (e de mais quatro filhos), mais conhecido como Zé Mineiro. Nos anos 1950, o patriarca dos Batista fundou, em Anápolis (GO), a Casa de Carnes Mineira, que deu origem a uma rede de açougues que se virou uma rede de frigoríficos, e que, com os ventos de cauda soprados pelo BNDES durante os governos petistas, aumentou seu faturamento de R$ 4,3 bilhões em 2006 para R$ 170 bilhões em 2016.

Durante a tal conversa, Joesley fala de sua situação como investigado, diz que está “segurando” dois juízes, que vem pagando mesada de R$ 50 mil ao procurador da República Ângelo Goulart Villela em troca de informações sigilosas sobre as operações Sépsis, Greenfield e Cui Bono, nas quais a JBS é investigada, e R$ 400 mil por mês ao doleiro Lucio Funaro, operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (presos na Lava-Jato), para garantir que ambos fiquem de bico calado.

Ao “ser informado” dos crimes do bilionário, Temer deveria ter determinado a pronta abertura de uma investigação, mas agiu como alguém que, numa inconsequente conversa de botequim, ouvisse um amigo discorrer sobre suas aventuras extraconjugais. Só isso (“só” é força de expressão) basta para enquadrá-lo por crime responsabilidade e embasar um pedido de impeachment. À guisa de justificativa, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República divulgou nota afirmando o presidente não acreditou na veracidade das declarações de Joesley ― o empresário estava sendo objeto de inquérito e, portanto, parecia contar vantagem ―, que juízes e/ou membros do Ministério Público estivessem sendo cooptados, e que a gravação teria sido editada mais de 50 vezes. Mesmo assim, Janot determinou a prisão de Ângelo Villela e autorizou a abertura de um inquérito para investigar Michel Temer. Este último, por seu turno, diz que vai largar o osso, como deixou claro em seu segundo pronunciamento à nação. Se ele terá condições de continuar à frente do governo (boa parte da base aliada já começou a debandar, como ratos que abandonam o navio quando pressentem a iminência do naufrágio) ou se será expelido do cargo pelo TSE (que deve retomar o julgamento do pedido de cancelamento da chapa Dilma-Temer no próximo dia 6), aí são outros quinhentos.

Temer orientou sua tropa de choque a “partir para o enfrentamento”, a despeito de o STF ter autorizado a abertura de um inquérito para investigá-lo. A meu ver, isso deveria leva-lo a se afastar (ou ser afastado) do cargo até a conclusão das investigações ― como aconteceria em qualquer democracia que se preze. Mas não Temer, como não Dilma antes dele e nem Collor antes dela (é fato que o “caçador de marajás de araque” renunciou na véspera do julgamento do impeachment para preservar seus direitos políticos, o que não funcionou, pois ele acabou sendo cassado, mas isso já é outra história). Em vez disso, sua excelência resolveu atacar a credibilidade do depoimento de Joesley, mesmo não sendo capaz de apresentar argumentos que expliquem de maneira convincente sua conivência com os atos espúrios revelados durante a conversa clandestina no Jaburu. A julgar por sua retórica, falta pouco para o presidente cair no ridículo em que caíram antes dele a gerentona de araque ― que, além de incompetente, agora é acusada de saber da origem dos milhões que financiaram suas campanhas e de ter negociado pessoalmente parte das propinas ― e a alma viva mais honesta do Brasil ― que deve ser agraciada no mês que vem com sua primeira sentença no âmbito da Lava-Jato).

Temer disse na quinta-feira que a investigação pedida pelo Supremo será território onde surgirão todas as explicações, que não tem qualquer envolvimento com os fatos, que não renunciará à presidência e que exigirá investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro. “Esta situação de dubiedade ou de dúvida não pode persistir por muito tempo. Se foram rápidas nas gravações clandestinas, não podem tardar nas investigações e na solução respeitantemente a essas investigações”, arrematou o presidente. No sábado, porém, o discurso mudou: “A gravação clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos, e incluída no inquérito sem a devida e adequada averiguação, levou muitas pessoas ao engano induzido e trouxe grave crise ao Brasil.

Os especialistas que examinaram o arquivo de áudio não chegaram a um consenso sobre as supostas interrupções ou edições. Alguns atribuem a falha ao gravador, mas a maioria atesta que não há sinais de mudança na parte fundamental da gravação: quando Joesley diz que zerou suas pendências com Eduardo Cunha e ficou de bem com o ex-deputado preso em Curitiba, ouve-se a seguir o presidente incentivar, dizendo “isso tem que continuar, viu”.

Para o perito ouvido pelo Estadão, o mesmo ocorre na parte em que o Temer ouve Joesley dizer que está manipulando a Justiça. O presidente encaminhou a gravação para o serviço de inteligência da Presidência da República; a PGR informou que uma avaliação técnica concluiu que o áudio revela uma conversa lógica e coerente e que a gravação anexada ao inquérito do STF é exatamente a entregue pelo colaborador, e o ministro Edson Fachin determinou o encaminhamento do arquivo à perícia da Polícia Federal, que deverá apresentará a ele as respectivas conclusões. Sem embargo, diversos pontos da conversa que NÃO FORAM CONTESTADOS pelo presidente caracterizam crime de responsabilidade, o que já basta para embasar pedidos de impeachment contra ele. Até  tarde de sexta-feira, 8 pedidos já haviam sido protocolados na Câmara, e no sábado foi a vez da OAB, que aprovou por 25 votos a 1 o relatório que resultará no 9º pedido (isso se nenhum outro for protocolado antes). Resta saber o que fará o presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia, que mantém boas relações com Temer ― ou mantinha, pois não se sabe como elas ficarão daqui por diante.

Temer disse que o autor do grampo está livre e solto, passeando por Nova York, que o Brasil, que já tinha saído da mais grave crise econômica de sua história, vive agora dias de incerteza, que Joesley não passou nenhum dia na cadeia, não foi preso, não foi julgado, não foi punido e, pelo jeito, não será. De fato, diferentemente do que se viu em todos os acordos de colaboração firmados antes deste, os termos da delação dos Batista e outros seis executivos da JBS e J&F, já homologada pelo ministro Fachin, não só permitiram que eles deixassem o país como também os livraram de responder a inquéritos na esfera Penal ― o que é no mínimo estranho. Temer afirmou também que, prevendo os efeitos de sua delação na taxa de câmbio, Joesley comprou US$ 1 bilhão, e sabendo que a gravação também reduziria o valor das ações de sua empresa, vendeu-as antes da queda da bolsa. De fato, a JBS lucrou milhões e milhões de dólares em menos de 24 horas; nesse ponto o presidente está coberto de razão.

Peemedebistas, ministros e outros apoiadores afirmam que o presidente está tranquilo, que vai provar sua inocência, e blá, blá, blá. Mas não é isso que se vê nos raros momentos em que sua excelência dá o ar da graça ― ou da desgraça, melhor dizendo. Uma imagem exibida pela TV Globo durante o primeiro depoimento e reexibida exaustivamente nos telejornais mostra que a fisionomia do presidente denuncia um nervosismo que beira a dor física, e que ele só conseguiu disfarçar o tremor nas mãos entrelaçando firmemente os dedos. Outro detalhe digno de nota: na tarde de quinta-feira, Temer disse que a investigação pedida pelo Supremo Tribunal Federal será território onde surgirão todas as explicações. Se é assim, por que, então, apresentar àquela Corte um pedido de suspensão do inquérito?

O Brasil não precisa (e nem merece) de outro impeachment presidencial. Como dizem os americanos, BETTER THE DEVIL YE KEN, THAN THE DEVIL YE DON'T (numa tradução livre, “melhor ficar com o diabo que conhecemos do que com o que desconhecemos”). O afastamento de Temer levaria Rodrigo Maia ― mais um investigado na Lava-Jato ― a assumir interinamente a presidência e convocar eleições indiretas para o mandato tampão, e com o Congresso que aí está, recheado de réus, investigados ou parlamentares que estão em vias de sê-lo, isso seria uma temeridade. Mas é o que a Constituição determina e, portanto, o que terá de ser feito caso Temer renuncie ou seja cassado pelo TSE.

A propósito da interminável novela da cassação da chapa Dilma-Temer, até quinta-feira tinha-se como certo que um pedido de vistas resultaria em novo adiamento ― isso se os ministros não resolvessem deixar tudo como está, a pretexto de que ação perdeu o objeto quando Dilma foi penabundada. Nada do que veio à luz nos últimos dias ― e nem o que virá nos próximos ― deveria influenciar na decisão no TSE, mas, como bem disse o sempre eloquente presidente daquela Corte, os juízes não são de Marte. Para bom entendedor, meia palavra basta.

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domingo, 14 de maio de 2017

PETELÂNDIA, TREMEI! PALOCCI DISPENSA BATOCHIO E PARTE PARA DELAÇÃO

Depois de algumas idas e vindas, o ex-ministro petista da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci resolveu negociar um acordo de colaboração com Justiça ― e já comunicou sua decisão a José Roberto Batochio, que o vinha defendendo desde sua prisão e que desaprova acordos de delação (talvez porque não seja ele quem está preso).

O “pentito” ― termo que originalmente designa delatores da Máfia ― está detido na carceragem da Polícia Federal em Curitiba desde setembro de 2016, quando foi deflagrada a Omertà ― 35ª fase da Operação Lava-Jato. As negociações serão conduzidas pelo Escritório Bretas Advogados, que Palocci havia contratado no final de abril e dispensado uma semana depois, supostamente motivado pela soltura de Dirceu pelo trio calafrio do Supremo.

Batochio ― que também integra a estrelada equipe de defensores de Lula ― protocolou na tarde de ontem (sexta, 12) a renúncia à defesa de Palocci. Na petição encaminhada ao juiz Moro, a alegação é de que sua equipe deixa o patrocínio da causa devido à mudança de orientação da defesa técnica por parte do constituinte

Em seu depoimento na 13ª Vara Federal de Curitiba, Palocci disse a Moro que tem informações sobre datas, nomes, números de contas e que tais que dariam pelo menos mais um ano de trabalho para os procuradores do MPF. Sua delação deixa a situação capo di tutti i capi ainda mais nebulosa (para não dizer desesperadora).

Enfim, Lula disse que já estava mesmo disposto a se mudar para Curitiba...

Com informações de VEJA.com

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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

WINDOWS 10 ― VERSÃO 1507 DEIXA DE TER SUPORTE A PARTIR DE MARÇO

DIFÍCIL DIZER O QUE INCOMODA MAIS, SE A INTELIGÊNCIA OSTENSIVA OU A BURRICE EXTRAVASANTE. 

A primeira versão do Windows 10 (1507), lançada oficialmente em julho de 2015, deixará de ser suportada pela Microsoft a partir de 26 de março de 2017. Claro que seu PC não deixará de funcionar se você não atualizar o sistema para a versão 1511 e/ou não instalar o update de aniversário (versão 1607). Aliás, segundo o StatCounter Global Stats, 5% dos PCs do planeta ainda usam o XP, 8,5% têm o Eight.1 e 40,2% mantêm o Seven, embora o Ten venha ganhando espaço: embora esteja longe de atingir a ambiciosa meta de 1 bilhão de máquinas, ele começou 2016 com uma participação de 12% e fechou o ano com 27,15%. Mas manter a versão 1507 significa deixar de receber novas correções e atualizações críticas e de segurança, o que é preocupante, sobretudo porque, como eu venho dizendo há anos, a internet se tornou um ambiente bastante hostil.

Observação: No Windows 10, as versões são identificadas pelo ano e o mês de lançamento (1507 = ano de 2015 e mês 07). Para descobrir qual versão está instalada no seu computador, clique em Iniciar > Configurações > Sistema > Sobre.

Aliás, muita gente vem sendo pega de surpresa pela instalação automática do update de aniversário (versão 1607), que voltou a ser “empurrado” pela Microsoft no último dia 20. Isso porque, conforme comunicado no ano passado, a empresa vem investindo no modelo de software como serviço, que inclui um sistema de atualização semelhante ao da Apple, destinado a incentivar os usuários a rodar as versões mais recentes do sistema. Deixar de oferecer suporte à versão original do TEN faz parte dessa estratégia (para saber mais, clique aqui), e com a chegada do Windows 10 Creators, em abril, apenas as versões 1511 e 1607 continuarão sendo suportadas.

Felizmente, a empresa de Redmond resolveu os problemas que vinham impedindo um número significativo de usuários de instalar o bendito update de aniversário, pondo um fio ao calvário que eu abordei nesta, nesta, nesta, nesta e nesta postagem. Eu mesmo já estava perdendo as esperanças de um dia bater papo com a Cortana (assistente pessoal que permite interagir com o sistema operacional por meio de comandos de voz) quando resolvi tentar (mais uma vez) fazer a atualização e ― aleluia! ― o 1607 entrou liso feito quiabo.

Por último, mas não menos importante: Se o prazo para migrar gratuitamente para o Windows 10 expirou em julho do ano passado, como fica a situação de quem não fez o upgrade? (Vale lembrar que a mídia original do software não custa barato; nas lojas parceiras da Microsoft, a versão Home sai por R$469,99 e a Pro, por R$809,99). Se é seu caso, saiba que existem duas alternativas:

A primeira é instalar o TEN e ativá-lo usando a chave da versão original (Windows 7 ou 8.1) ― trata-se de uma solução “não oficial”, por assim dizer, mas que, à luz da meta ambiciosa da Microsoft, é compreensível que essa janela de oportunidade continue aberta, embora não se saiba até quando (portanto, é bom você se apressar). 

A segunda é clicar neste link e, na página de acessibilidade da Microsoft, clicar em Atualizar agora. Concluído o download do arquivo de instalação, dar duplo clique sobre ele fazer uma instalação limpa do Windows 10 (para mais detalhes, siga este tutorial do site de tecnologia Techtudo).

Boa sorte.

SOBRE EIKE BATISTA, O EMPREENDEDOR QUE SONHOU EM SER O HOMEM MAIS RICO DO MUNDO E ACORDOU EM BANGU 9.

Na última quinta-feira, 26, ao tentar cumprir um mandado de prisão contra Eike Batista ― acusado de pagar US$ 16,5 milhões de propina ao ex-governador fluminense Sérgio Cabral, que está preso desde novembro do ano passado ―, a PF descobriu que o empresário havia se mandado para Nova York. Na condição de foragido, o ex-bilionário entrou para a lista dos procurados da Interpol.

Eike voltou ao Brasil dias depois ― “para ajudar a passar as coisas a limpo”, segundo ele próprio ―, quando então foi encaminhado para o presídio de Bangu 9, unidade destinada a milicianos e ex-policiais militares, onde divide com outros 6 presos da Lava-Jato que, como ele, não têm curso superior, uma cela de 15 metros quadrados onde não há água quente e um “boi” serve de vaso sanitário. Lá, cada detento pode levar uma TV de 14 polegadas e um ventilador, e recebe 4 refeições por dia (bem mais frugais do que aquelas com que Eike estava acostumado, naturalmente).

O ex-bilionário deve ser ouvido pela PF na tarde desta terça-feira (31). Ontem, dois habeas corpus foram protocolados no TRF da 2ª Região, que decidirá seu futuro. Especula-se que, se for mantido preso por muito tempo, ele poderá negociar uma delação premiada. Além dele, seu antigo homem de confiança e hoje vice-presidente do Flamengo, Flávio Godinho, acusado de intermediar o pagamento da propina a Cabral, também entrou com pedido de habeas corpus. O empresário Francisco de Assis Neto, conhecido como Kiko ― que, segundo a PF, recebeu R$ 7,7 milhões do esquema de Sérgio Cabral apenas em 2014 ―, continua foragido.

Eike divide opiniões. Dilma chegou a afirmar que ele era “nosso padrão, nossa expectativa e orgulho do Brasil” (vindo de quem vem, essa bobagem não chega a surpreender, mas enfim...). Para a anta vermelha, ele “tinha capacidade de trabalho, buscava as melhores práticas, queria tecnologia de última geração, percebia os interesses do país e merecia nosso respeito”. Talvez agora ela reveja seus conceitos.

Uma provável delação desse exemplo de probidade pode complicar ainda mais a situação de Lula e colocar sua pupila em palpos de aranha, tamanha a quantidade de fatos espúrios que ele conhece sobre a dupla de petralhas. Segundo o Sensacionalista, o molusco já se matriculou num curso superior por correspondência ― mas teme que sua correspondência seja desviada por algum petista. Oficialmente, ele nega estar estudando e diz que quem está fazendo isso é um amigo, mas na verdade ficou alarmado com a situação de Eike, que acabou sendo separado de sua peruca ― já que essa tinha curso superior e ele, não.

Em tempo: Não deixe de dedicar uns minutinhos a este vídeo. Ele foi publicado por Rodrigo Constantino, acompanhada da introdução que eu reproduzo abaixo, com umas poucas alterações de minha lavra, mas que não chegam a comprometer a ideia original:

Muitos sentem saudades da “presidanta” fazendo seus discursos, especialmente de improviso. Não há programa de humor melhor, convenhamos. Conheço alguns que tiveram até crise de abstinência, e ficaram no YouTube babando, revendo os velhos discursos, com as mãos trêmulas e tudo. Pois bem: seus problemas acabaram! Não só vou trazer ao leitor saudosista (ou masoquista?) um trecho de um discurso fresquinho, como em espanhol! Isso mesmo! Dilma tentou, pois o que saiu foi o “portunhol” mais tosco que já vi na vida. E o conteúdo não fica atrás: o “neoliberalismo” é o grande culpado por todos os males do mundo! Gente, não tenho como descrever o quão hilário é esse vídeo. E digo mais: ele fica melhor ainda quando lembramos que, agora, podemos rir de Dilma sem chorar logo depois, já que a anta vermelha não é mais a presidanta da Banânia. 
Fabio Porchato e Marcelo Adnet podem competir com isso? É concorrência desleal, o que explica o “humor” cada vez mais apelativo dos dois. Do mesmo nível, só mesmo Greg escrevendo suas colunas na Falha de São Paulo…

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sábado, 17 de dezembro de 2016

COM AMIGOS COMO ESSES...

Vimos na última quarta-feira que a delação de Cláudio Melo Filho, o “homem da Odebrecht em Brasília”, atingiu a alta cúpula do governo, e que dentre os nomes suscitados está o do próprio presidente da República, cuja campanha de 2014, segundo o delator, foi patrocinada por um aporte de R$ 10 milhões, parte dos quais teria sido entregue no escritório de José Yunes, em dinheiro vivo, por um emissário da empreiteira.

Observação: Yunes é assessor especial da presidência da República e amigo pessoal de Temer. Ou era, melhor dizendo, já que pediu demissão após tomar conhecimento de que Marcelo Odebrecht avalizou, em sua própria delação, a acusação feita por Melo Filho (esta não é foi primeira vez que o nome de Yunes é associado a supostas movimentações financeiras de Temer; o ex-deputado Eduardo Cunha já havia levantado suspeitas sobre a relação entre eles e um suposto caixa dois).

O dinheiro, segundo o “Príncipe das Empreiteiras”, foi solicitado durante um jantar no Palácio do Jaburu, em maio de 2014, que contou com a presença de Temer, então vice-presidente, e do hoje ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. No entanto, Marcelo não deu detalhes sobre a operacionalização do dinheiro, que, de acordo com Melo Filho, foi feita por Padilha (segundo a Folha, os três negam qualquer tipo de irregularidade, e a empreiteira não se manifesta sobre o teor dos acordos). Em sua carta de demissão, Yunes afirmou que seu nome foi “jogado no “lamaçal de abjeta delação e enxovalhado por irresponsáveis denúncias” ― e, claro, negou enfaticamente qualquer participação ou mesmo conhecimento da história dos 10 milhões de reais.

Como se vê, cada presidente tem seu José Carlos Bumlai. Para quem não se lembra, o pecuarista era uma espécie de “consiglieri” da Famiglia Lula da Silva e tinha acesso irrestrito ao gabinete presidencial. Depois que foi preso e sentenciado pelo juiz Sérgio Moro a 9 anos e 10 meses de prisão por gestão fraudulenta de instituição financeira e corrupção, o amigão de Lula passou a “não ser tão amigo assim” ― segundo o próprio molusco abjeto, que até hoje nega ser o dono do famoso sítio Santa Bárbara, em Atibaia, e do não menos notório tríplex no Guarujá, a despeito da cachoeira de evidências que demonstram o contrário do que ele afirma. Mas isso já é outra história.

A que se aplaudir a iniciativa de Yunes, que minimiza o constrangimento imposto ao presidente pela suposta associação de mais um assessor e amigo pessoal a práticas nada republicanas. Seu exemplo deveria ser seguido por outros “amigões” de Temer, como o angorá e o primo ― leia-se Moreira Franco e Eliseu Padilha ―, até porque o governo já vai mal das pernas, e manter-se cercado de suspeitos (ainda que por enquanto sejam “apenas suspeitos”) não melhora em nada a credibilidade de quem, como a mulher de César, além de ser honesto, precisa parecer honesto. Será que já não bastava vermos o presidente se curvar ao todo-poderoso cangaceiro das Alagoas ― que, através de nefanda meia-sola constitucional urdida em conluio com o STF, foi afastado da linha sucessória, mas mantido Senador e presidente do Congresso Nacional “em prol da governabilidade” ―, a pretexto da uma eventual cassação pôr em risco a aprovação da PEC dos gastos e outras medidas caras ao governo?

Enfim, sua insolência se despediu nesta quinta-feira da presidência do Senado e do Congresso Nacional. Depois do recesso parlamentar de final de ano, haverá nova votação para a escolha do novo presidente. E Renan já vai tarde. E queira Deus que não tarde a ser devidamente despachado para a carceragem da PF em Curitiba. Até porque nada menos que 12 processos contra ele tramitam no STF,  num dos quais o dito-cujo já é réu. Isso sem falar numa nova denúncia apresentada contra por Janot na última segunda-feira, por crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva na contratação da empresa Serveng Civilsan pela Petrobras. De gente assim, o povo já está até os tampos!

Voltando a Temer, com amigos desse tipo, quem precisa de inimigos?

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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

A DELAÇÃO DO FIM DO MUNDO

A edição desta semana da revista VEJA dá conta de que as revelações de 75 executivos da ODEBRECHT, distribuídas em mais de 300 anexos, prometem implodir o mundo político. 

Do pouco que já veio a público, sabe-se que, no panteão presidencial, vai sobrar para os ex-presidentes Lula e Dilma, para o atual presidente, Michel Temer, para o senador tucano José Serra ― duas vezes candidato derrotado à presidência ― e para os tucanos Aécio Neves ― derrotado por Dilma no segundo turno da eleição passada ― e Geraldo Alckmin ― cogitado para concorrer à presidência em 2018.

Fora da galeria presidencial, o estrago é bem mais abrangente, indo do senador peemedebista Romero Jucá ao prefeito carioca Eduardo Paes, do ministro Geddel Vieira Lima ao ex-governador fluminense Sérgio Cabral. Segundo um dos advogados que participaram das negociações ― que tem por objetivo não só reduzir a pena dos executivos da ODEBRECHT, mas também salvar a empresa, que pagará uma multa milionária para continuar operando ―, o conteúdo dos anexos “é avassalador”. A propósito, em conversa com um interlocutor de Brasília, o sempre comedido Sergio Moro afirmou que, pela extensão da colaboração, a turbulência será grande. “Espero que o Brasil sobreviva”, teria dito o magistrado.

Por tudo isso, o acordo que deverá ser assinado dentro dos próximos dias é conhecido como “a delação do fim do mundo”, que atingirá partidos, parlamentares e as maiores lideranças políticas do país.

A aproximação da empreiteira com o PT se deu por obra e graça do todo poderoso Emílio Odebrecht, que se tornou amigo de Lula quando este ainda era aspirante ao Planalto. Com a chegada do partido ao poder, a empresa ampliou seus negócios com o setor público, foi irrigada com bilhões de reais do BNDES e se tornou sócia da Petrobras na petroquímica Braskem (os investigadores da Lava-Jato descobriram mais adiante que esse modelo de corrupção se reproduziu praticamente em todas as estatais, e que somente a ODEBRECHT distribuiu algo em torno de 7 bilhões de reais em propinas (o equivalente a 1% do seu faturamento em uma década).

Desde que assumiu o comando da empresa, em 2008, Marcelo Odebrecht ― engenheiro metódico e organizado ― promoveu uma revolução. O faturamento, que era de 30 bilhões em 2007, pulou para 125 bilhões em 2015, quando a construtora já tinha um Banco (Meinl Bank) em Antígua ― paraíso fiscal caribenho ― apenas para administrar o pagamento de propinas no Brasil e no exterior, além de um departamento secreto ― batizado com o pomposo nome de Setor de Operações Estruturadas ― para gerenciar a lista dos “clientes famosos”. O dinheiro clandestino movimentado em contas secretas ajudou a eleger presidentes da República, deputados, senadores, governadores e prefeitos. Os políticos eram convertidos em servidores da empresa, recompensando-a com novas obras, que resultavam em novas propinas, que elegiam e reelegiam políticos. Em junho do ano passado, todavia, com a prisão do “Príncipe das Empreiteiras” no âmbito da Operação Lava-Jato, o “círculo virtuoso” foi interrompido.

A matéria conclui ponderando que, sem bem explorada ― já que, por regra, delatores precisam contar tudo que sabem para se beneficiar da redução da pena ― a delação da ODEBRECHT também deve ajudar a esclarecer esquemas de corrupção em países como a Venezuela, onde a empresa ajudou clandestinamente o projeto político de Hugo Chávez, e em Angola, onde o Clã Lula da Silva colheu milhões em parceria com a empreiteira.
Quando a Lava-Jato começou, Marcelo Odebrecht deu ordens para que todos os registros das operações clandestinas fossem destruídos, mas os dados foram recuperados pelos investigadores e serão apresentados quando o acordo de delação for assinado. Céus e terras, tremei.

ATUALIZAÇÃO: Políticos já começam a pensar num cenário que antes parecia remoto: e se Temer não resistir à tormenta provocada pela mãe de todas as delações? Afinal, é quase impossível que essa novela rocambolesca chegue ao final antes do final do ano, quando ainda seria viável, por lei, a realização de novas eleições diretas. E se uma eventual queda de Temer ocorrer no ano que vem, o novo presidente da Banânia seria escolhido por votação indireta (no Congresso, com os votos dos 81 senadores e 513 deputados federais). Na semana passada, o jornal Folha de S. Paulo especulou que entre os nomes mais cogitados estão o do ex-presidente do STF Nelson Jobim e o do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Pesa a favor do primeiro o fato de ele ter sido ministro de FHC, de Lula e de Dilma, mas nem tudo são flores: Além de ter sido consultor da Odebrecht, Jobim tornou-se sócio do BTG (igualmente enrolado na Lava-Jato) e teria embolsado cerca de R$ 60 milhões! Já FHC, além da oposição ferrenha que viria do PT e associados, tem 85 anos de idade, e, ao que parece, pouca ou nenhuma vontade de voltar à ao Palácio do Planalto. Por enquanto, tudo isso não passa de mera especulação, mas é impressionante a velocidade com que possibilidades se tornam realidade no âmbito da política ― haja vista o impeachment da anta petralha, que patinou, patinou, mas depois deslanchou num estalar de dedos. 

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