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segunda-feira, 25 de novembro de 2019

LULA LÁ



Coerência é artigo em falta nas prateleiras do presidente Bolsonaro, que, entre outras falas paradoxais, negou o golpe militar de 64, mas reconheceu que a ditadura errou por torturar demais e matar de menos. Hipocrisia à parte, assiste alguma razão ao nosso indômito capitão, sobretudo porque a "abertura" deu azo à volta de personae non gratae e a criação de partidos "de esquerda", como o Partido dos Trabalhadores que não trabalham, dos estudantes que não estudam e dos intelectuais que não pensam e seus execráveis satélites.

Em 1988, sob efeito da formidável ressaca resultante de duas décadas de repressão, nossa nova Carta Magna foi recheada benefícios sem que a fonte dos recursos que os sustentariam fosse apontada, e trouxe a reboque uma política pública de produção de leis, regras e regulamentos divorciadas do mundo real e escritas para fomentar o crime e favorecer os criminosos. E como nada nunca é tão ruim que não passa piorar, o STF guindou esta banânia à condição de única democracia no mundo com 13 Poderes: O Executivo, o Legislativo e 11 ministros supremos que muito falam, pouco fazem e raramente se entendem.

Saliento que tenho o maior respeito pelo Supremo como instituição, mas não por seus membros, sobretudo na composição atual, que é a pior de todos os tempos, como comprovam a distribuição de habeas corpus em massa, a anulação de sentenças em processos onde réus delatados não apresentaram suas razões finais depois dos delatores (não existe absolutamente nada na legislação brasileira que dê suporte a esse entendimento absurdo), a reversão da jurisprudência sobre a prisão em segunda instância e, mais recentemente, a proibição liminar e monocrática do compartilhamento de informações pela UIF e Receita Federal com o MP e a PF sem prévia autorização judicial. Pelo menos esse jabuti deve cair da árvore, mas o julgamento vem se arrastando e só será concluído antes do recesso do Judiciário se os ministros que ainda não votaram deixarem de lado a poesia e se pronunciem de maneira clara e concisa — restam 8 sessões até o encerramento do ano judiciário ainda há 9 magistrados a votar.

Contribuiu para o Supremo se tornar um ninho de cobras a cizânia fomentada pelo maior câncer que já presidiu esta banânia e, ao deixar o posto, fez eleger a mãe de todas as calamidades, visando manter sua poltrona aquecida até que ele próprio pudesse voltar a ocupá-la, e foi graças à facção pró-crime dos togados que esse abjeto carcinoma retornou à atividade depois de passar 580 dias preso na sala VIP da Superintendência da PF em Curitiba, embora sua breve reclusão jamais o impediu de explorar politicamente sua situação, nem de transformar a cela em escritório político, sede de comitê de campanha, sala de entrevistas e por aí afora. Com a cara de pau que Deus lhe deu e demônio lustrou, a autodeclarada alma viva mais honesta do Brasil afirmou candidamente que a cadeia o transformou "numa pessoa melhor".

Horas depois do voto de minerva do eminente ministro Dias Toffoli, o sevandija vermelho subiu num palanque improvisado por apoiadores e, no melhor estilho "encantador de burros", destilou seu ódio contra Jair Bolsonaro, Sérgio Moro, a Lava-Jato; no dia seguinte, já em São Bernardo do Campo — para onde voou num luxuoso jatinho da empresa da empresa Brisair Serviços Técnicos Aeronáutica, pertencente ao casal de apresentadores globais Luciano Huck e Angélica —, repetiu a dose defronte ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e, na sequência, saiu em caravana Brasil afora para espalhar seu veneno.

Na capital de Pernambuco, seu estado de origem (num hotel de luxo da praia da Boa Viagem, o bairro mais chique da cidade, é claro), o cancro sifilítico petista levou ao delírio seus miquinhos amestrados com seguinte troçulho: “Eu não queria falar de política num festival cultural e eu queria assistir ao povo exaltar toda a sua ternura por esse país maravilhoso. Eu hoje sou um homem melhor do que aquele que entrou na cadeia, sou mais maduro, sou um homem que aprendi que nada derrota as pessoas que se amam nesse país. Nós não vendemos ódio, vendemos amor, paixão. É muito coração nessa história”.

Enfiado no fundo de um desses ônibus de luxo com vidro escuro para ninguém ver nada dentro, aprontava-se o morfético para partir rumo ao que, aparentemente, seria um compromisso de sua nova peregrinação pelo Brasil, com a qual imagina atrair as massas e voltar a ser o que foi um dia. Porém, em vez de ouvir o aplauso da multidão, ouviu o que tem ouvido sempre que sai à rua: “Lula, ladrão, teu lugar é na prisão”. Na verdade, não havia multidão nenhuma — só um grupo de gente vestida de verde e amarelo, mandando o ex-presidente para o raio que o parta. Sabe lá Deus — ou o Diabo? — onde estavam os milhares e milhões de “brasileiros do povo”, os “pobres”, os “desesperados” com o governo”, que deveriam ter aparecido para dar força ao ex-presidente. E isso no coração do Nordeste, onde Lula, com o apoio dos “institutos de pesquisa de opinião”, sempre diz que tem 120% de popularidade. Talvez seja melhor no interiorzão. Talvez não seja tão ruim da próxima vez. Quiçá o sofrido e inculto povo nordestino acorde e se dê conta de que precisa carregar Lula em triunfo. Mas ainda não rolou.

Pouco antes de ser preso, Lula teve uma das suas piores ideias — fazer uma “caravana” pelos estados do Sul. Acabou escorraçado de lá na base da pedrada. Precisa tomar cuidado para a história não começar de novo nas “caravanas” que tenciona fazer daqui por diante. Isso sem mencionar que, a caminho de novos e desconhecidos horizontes na política brasileira e mundial, pelo que se lê ou se ouve no noticiário, o safardana tem uma porção de obstáculos práticos pela frente. Há problemas com o Código Penal, com a lei eleitoral e com a não-capacidade do seu partido et caterva de aprovar leis no Congresso ou decidir votações na Câmara e no Senado. Será necessária uma assistência praticamente integral do STF para resolver encrencas que vão de seus próximos processos criminais à condição de político ficha suja — e, portanto, inelegível, pelo menos segundo o que está escrito hoje.

Como bem salientou J.R. GuzzoLula sabe que vai bombar nas próximas sondagens de “intenção de voto”, “popularidade”, “imagem”, etc. encomendadas aos Ibopes e Datafolhas por uma dessas confederações nacionais de alguma coisa que você encontra em qualquer esquina. Já deve saber, também, que os especialistas em algoritmos têm números imensos sobre a sua presença nas redes sociais. Nos últimos doze meses, apesar de todos os pesares a “tração” do presidente Jair Bolsonaro foi mais de 40 vezes maior que a dele. Nas 72 horas seguintes ao seu alvará de soltura, o chefe do quadrilhão vermelho teria passado à frente do inimigo, mas os números dos institutos são sempre uma revelação sobrenatural, e o próprio Lula já se acostumou há muito tempo a não colocar a mão no fogo, nem perto, em relação a eles. Quanto ao algoritmo que mede a capacidade de um agente digital propagar em ondas sua circulação na internet, o problema é o seguinte: estão falando muito de mim, mas estão falando bem ou mal? Essa vida é mesmo complicada.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

O BRASIL DO “NOVO RENAN”. E COM LULA LÁ.


Embora eu tenha tuitado e publicado no Face a notícia minutos após o acidente de helicóptero ocorrido no início da tarde de ontem ter resultado na morte de Ricardo Boechat, registro também aqui meu pesar pela perda de um dos maiores ícones (se não o maior) do jornalismo tupiniquim. Com quase 50 anos de carreira e uma coleção de prêmios no currículo, Boechat atuava como apresentador do Jornal da Band e âncora da BandNews FM e era tido pelos colegas como um grande sujeito. Lamento não o ter conhecido pessoalmente e, mais ainda, sua partida prematura. O carequinha era uma ilha de lucidez num oceano midiático que se divide basicamente em duas categorias: a dos que têm merda na cabeça e a dos que tomaram purgante.
E Lula lá...

Remover o entulho e se livrar de tralhas que drenam a energia boa e contaminam o ambiente é fundamental. Mas mesmo depois da reciclagem que os eleitores fizeram no Congresso, ainda há muita podridão encalacrada por lá. Um bom exemplo é o Cangaceiro das Alagoas, que mais uma vez se reelegeu senador — o que não chega a surpreender, visto que nesse mesmo estado o Caçador de Marajás de araque conseguiu a mesma proeza assim que seus direitos políticos, cassados juntamente com o mandato presidencial em dezembro de 1992, foram restabelecidos.

Renan Calheiros é um tipo de craca de difícil remoção. Ele ingressou na vida pública nos anos 1970; em 1989, já deputado federal, articulou articulou a eleição de Collor, mas rompeu com o governo e chegou a depor contra o marajá corrupto na CPI que investigou o esquema PC Farias. Em 2002, então promovido a senador da República, apostou em José Serra contra Lula, mas acabou apoiando a adesão do então PMDB ao governo petista, acumulando poder para se eleger presidente do Senado em 2005. Foi aliado do PT até a véspera do impeachment de Dilma, quando pulou para o barco de Michel Temer — com quem rompeu no ano seguinte para se aliar ao PT em prol de sua reeleição nas Alagoas, estado afinado com o lulismo. Abrilhanta seu currículo o fato de ter sido o primeiro presidente do Senado a se tornar réu no exercício do mandato, além de ser alvo de outros 11 inquéritos no STF — 8 dizem respeito à Lava-Jato, um à Zelotes, um a desvios em Belo Monte e outro sobre o caso Monica Veloso. Passada a campanha eleitoral, o camaleão alagoano reatou com Temer e se realinhou ao novo eixo de poder para se aproximar de Bolsonaro. Ao tentar reconquistar a presidência do Senado, porém, foi derrotado por Davi Alcolumbre numa eleição conturbada, eivada por tentativas de fraude e requintes de briga de cortiço.

Até duas semanas atrás, Renan Calheiros era tido como invencível por 10 entre 10 analistas políticos deste país, que pareciam não ver que o político vinha sendo mastigado e cuspido, dia sim, outro também, pelas redes sociais — as mesmas que calaram a pretensão do Congresso em “negociar pesado” na formação do ministério — os políticos, que iriam “dobrar o governo”, tiveram de engolir com casca e tudo o primeiro escalão que está aí, inclusive com uma dúzia de generais dentro —, e que anularam qualquer possibilidade de soltar Lula no tapetão, com jogadinhas de advogado “garantista”. Segundo mais de 100% dos doutores em ciência política deste país, a chance de qualquer outro senador a raposa alagoana era a mesma de alguém mudar os 90 graus do ângulo reto. A horrenda rejeição popular a seu nome era tratada, nos mesmos meios, como uma fantasia de amadores; “pressão de rua” não existe nesses casos, garantiam os entendidos. “Política de verdade”, em seu livro, não tem nada a ver com redes sociais, etc. Esse Bolsonaro, os vinte generais do seu primeiro escalão, o ministro Sergio Moro, etc., iriam aprender, enfim, que é impossível governar o Brasil sem “ceder aos políticos”, e o sinônimo de política no Brasil era Renan Calheiros. Só que deu zebra — mais uma vez ao contrário, aliás, como tem dado dia após dia.

O jornalista J.R. Guzzo, uma das poucas cabeças pensantes que restaram no elenco da revista Veja, escreveu recentemente em sua coluna que os ministros supremos deveriam começar a pensar nos seus próprios couros. Desde que acabou o regime militar, suas excelências se transformaram numa espécie de orixás que nenhuma força do mundo é capaz de tirar do emprego; dois presidentes da República já foram para o saco, mas os toffolis, e gilmares, lewandowskis e distinta companhia continuam agarrados ao osso, mais firmes que o Pico da Bandeira na Serra do Caparaó. Mas e daqui para frente, com esse temporal que está ficando cada vez mais bravo — vão continuar fora da lei?

Coisas que nunca aconteceram antes sempre podem acontecer uma primeira vez. As redes sociais, que estão construindo realidades brutalmente inéditas neste país, podem muito bem ir para cima de qualquer sultão do STF e cobrar o seu impeachment de um Congresso com pouca estamina para enfrentar o ronco da rua. Era impossível. Não é mais. A Receita Federal abriu um trabalho para identificar “focos de corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio ou tráfico de influência” do ministro Gilmar Mendes e de sua mulher, Guiomar — o relatório, de maio de 2018, aponta uma variação patrimonial sem explicação de R$ 696.396 do ministro em 2015 e conclui que Guiomar “possui indícios de lavagem de dinheiro”. O jurista Modesto Carvalhosa vai protocolar novamente os pedidos de impeachment de Gilmar e Lewandowski, que vão se juntar ao novo pedido de impeachment de Toffoli. Pelo visto, a Operação Lava-Toga vai começar.

Continuamos vivendo no Brasil, mas o país em que vivemos é cada vez menos o mesmo. O Brasil dos renans, dos “profissionais” da política e das “realidades de Brasília” está sumindo aos olhos de todo mundo; não existe mais como existia seis meses atrás, e menos ainda como há um, dois ou cinco anos. Não é isso que dizem para você, tanto que, vale reforçar, há pouco mais de uma semana a vitória de Renan para a presidência do Senado era dada como uma verdade científica. No mundo dos fatos, que é o único que conta, revelou-se uma raposa cega, surda e aleijada, com prazo de validade vencido e incapaz de notar que estava desfilando nua no meio da rua. Em vez de olhar para a realidade, ela preferiu acreditar nos especialistas, e acabou virando estopa.

É sempre mais fácil dizer o resultado do jogo depois que o juiz deu o último apito, claro. Mas no caso de Renan daria pelo menos para desconfiar, com trinta minutos corridos do segundo tempo e 3 a 0 no placar para o outro time, que a coisa tinha se complicado horrivelmente. Encantados em medir o tamanho do problema que iriam criar para o governo, Renan e os profissionais que sempre veem tudo, menos o que está acontecendo, não perceberam o tamanho descomunal da resistência ao seu nome. Esse erro de avaliação pode ser fatal hoje em dia: o político brasileiro padrão está gostando cada vez menos de ficar do lado contrário ao da opinião pública, tal como ela se manifesta na internet ou na rua. Está sendo assim desde o impeachment de Dilma, a partir de quando a palavra “rejeição” se tornou a preocupação número 1 de quem pretende sobreviver na política. O desfecho das eleições de outubro, com o massacre geral das candidaturas que caíram em desgraça na boca do povo, está aí para provar.

Diante de tudo isso, Renan nem deveria ter lançado sua candidatura. Tendo lançado, deveria tê-la retirado. Não tendo retirado, deveria ao menos deduzir que a maioria dos senadores lhe dera um aviso sério de que sua candidatura estava liquidada, na prática, quando decidiram que a eleição deveria ser feita com voto aberto. Mas não. A raposa agonizante resolveu pedir proteção ao Supremo e conseguiu, de fato, preservar o voto secreto — acreditava, junto com os ases da observação política nacional, que, podendo esconder seus votos, os senadores que não queriam votar nele passariam a querer. Não adiantou nada, é óbvio. Se os eleitores têm vergonha de votar em você, não há mais nada a fazer nos dias atuais: peça para sair, porque a sua candidatura foi para o saco. Mas a vida real anulou em dois minutos a decisão do STF. Os adversários anunciaram que iriam declarar em voz alta em quem votariam e, com isso, forçaram todos a fazer o mesmo. Fim do jogo. Renan acabou tendo uma soma de cinco votos, derrotado por um senador principiante do Amapá do qual ninguém jamais tinha ouvido falar.

O que interessa, uma vez terminada essa comédia, não são os finíssimos cálculos de engenharia política em torno da eleição, as desculpas miseráveis dos autores das previsões erradas ou os habituais atos de delinquência praticados nessas ocasiões, como o delito de furto cometido pela senadora dilmo-renanzista Katia Abreu, que achava que roubando um documento da mesa iria “virar o jogo” para Renan. O que interessa é que o Renan Calheiros que podia tudo não existe mais. Acabou-se para ele o conforto de ignorar dez anos de acusações de peculato, uso de notas frias, corrupção passiva, criação de boiadas mágicas e por aí afora, em uma dúzia de processos no STF — o melhor que pode lhe acontecer, agora, é não ir para a cadeia.

Sumiu do mapa, em suma, o Renan todo-poderoso de Fernando Henrique, de Lula e de Dilma. Continua aí, claro, e os mesmos que previam sua vitória profetizam agora que ele será um “problemaço” para o governo — revoltado com a derrota, vai se vingar melando “as reformas”. Mas é apenas outra ilusão. Renan nunca mais vai presidir coisa nenhuma. Não manda em nada. Não tem a caneta de presidente do Senado e, portanto, não pode distribuir verbas, empregos e outros negócios em troca de poder. Sem caneta, vira um eunuco político — e isso faz diferença, sim, para o país.

A derrocada de Renan Calheiros oferece mais uma oportunidade para entender outra realidade deste Brasil que está mudando — a agonia, morte e enterro, como força política, da esquerda nacional e do seu líder nos últimos trinta anos. É uma realidade normalmente ignorada, mas ignorar que 2 mais 2 são 4 não faz nenhuma diferença; a soma continua sendo 4. Nada combina tão bem essas duas decadências quanto a mais recente quimera cultivada pelo Complexo Lula-PT-PSOL-MST-etc. Acredite se quiser, eles achavam que Renan, hoje seu principal amigo de fé, irmão e camarada, iria formar ao redor de si um fortíssimo “polo de poder alternativo” no Brasil, e que esse prodígio seria capaz de enfrentar o “governo fascista” e dar, afinal, os músculos políticos de que a “resistência” tanto precisa.

Como Lula e seu sistema de apoio puderam acabar dando nisso? Resposta: pela obsessão por tomar decisões erradas, escolher companhias ruinosas, de Marcelo Odebrecht a Sérgio Cabral, e recusar-se a admitir o mínimo erro. Por culpa unicamente de suas decisões, e não de “golpes” imaginários, das “elites” ou da CIA, Lula virou uma espécie de rosca sem fim. Ele e o “campo progressista” se meteram num enrosco esquisito: quanto mais perdem, mais esforço fazem para perder de novo. Seu lema, hoje, parece ser: “Derrota ou morte”. Ficaram com as duas.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

ANO NOVO, PRESIDENTE NOVO



Como será o amanhã? Responda quem souber. Como ficará a nação sob a nova direção, isso só o tempo dirá.

Chegamos onde chegamos porque nosso “esclarecidíssimo eleitorado” dispensou impiedosamente os candidatos que representavam um ponto de equilíbrio e levou ao segundo turno os dois extremos do espectro político partidário — de um lado, um boneco de ventríloquo de um criminoso condenado, preso e sedento de vingança; do outro, um capitão do exército reformado, antipetista e antiesquerdista, tido como machista, truculento, homofóbico e saudosista da ditadura militar. Quem semeia ventos colhe tempestades, diz um velho ditado. Mas quando as alterativas são o desastre anunciado e um caminho para o desconhecido, o jeito é optar pela segunda — daí Bolsonaro ter derrotado Luladdad por uma vantagem de quase 11 milhões de votos.

Observação: Como salientou Roberto Pompeu de Toledo na edição impressa da revista Veja da semana passada, a Venezuela foi um dos fantasmas acionados contra o PT na campanha. E com razão: o partido de Lula entrincheirou-se na solidariedade para com o regime dito bolivariano, num estratagema de deliberada cegueira diante do desastre político, econômico e social ali em curso. Some-se a isso a falta de autocrítica aos desatinos da política econômica de Dilma e estava servido, farto e saboroso, o prato com que os adversários alimentaram o prognóstico de que, com a vitória do PT, o Brasil se tornaria uma nova Venezuela.

Ano novo, presidente novo, segue dividido o povo, tendo a raiva como combustível da polarização onde “os de direita” apoiam incondicionalmente o “mito”, e a patuleia, má perdedora, promete ampla, geral, irrestrita, intransigente, arrogante e exclusivista oposição — sobretudo o bando petista, que se enxerga como o único e legítimo dono da chave da história. Aliás, o PT informou que nenhum dos seus parlamentares participará da cerimônia de posse de Bolsonaro, no que foi prontamente seguido pelo PSOL (para mais detalhes, clique aqui).

A camarilha de Lula diz que “reconhece o resultado das eleições, mas defende que elas foram marcadas por falta de lisura por ter sido descaracterizada pelo golpe do impeachment, pela proibição ilegal da candidatura do ex-presidente Lula e pela manipulação criminosa das redes sociais para difundir mentiras contra o candidato Fernando Haddad". Já a caterva do candidato derrotado Guilherme Boulos, eterno líder MTST, classificou a efeméride como “um momento de festa em que, para o partido, não há nada a comemorar”.

O boicote, vindo de quem vem, não chega a surpreender. Aliás, dizer que o governo que ora se inicia tem como princípios o ódio, o preconceito, a intolerância e a violência é esquecer — de maneira muito conveniente e com toda a má intenção — que foi Lula quem, de sua primeira candidatura presidencial, em 1989, ao discurso que fez antes de ser levado para a prisão, em abril do ano passado, repisou sempre a retórica do “nós contra eles”, onde “nós seria o povo, que o PT e seu líder representariam, e “eles”, as elite econômicas interessadas apenas em manter seus privilégios.

Observação: O embate às vezes duro entre visões divergentes faz parte da vida democrática. Num debate polarizado, porém, cada um dos lados, convicto do acerto absoluto de suas ideias extremas, deseja não só a derrota, mas a aniquilação dos opositores, a quem vê como inimigos. 

Claro que houve polarização política em outras épocas — como em 1964, com as “marchas da família com Deus pela liberdade” contra o governo João Goulart, ou em 1968, com a Passeata dos Cem Mil contra a ditadura militar, e por aí vai —, mas jamais com a magnitude da que teve início em 2013 a pretexto do reajuste de R$ 0,20 nas passagens de ônibus e acabou promovendo uma substancial mudança de padrão da condução de seus conflitos políticos e resultando no (até então improvável) impeachment da gerenta incompetenta que por pouco não levou o país à bancarrota. De lá para cá, o maniqueísmo político cresceu exponencialmente e explodiu durante a campanha pela sucessão presidencial de 2018, que, em paralelo ao duelo entre Bolsonaro e Luladdad, magnificou o confronto entre petismo e antipetismo. O PT, que até então dominava o jogo da vilanização do adversário, perdeu o rumo; sustentando até o limite a ficção de que Lula era perseguido pelas elites, o partido da estrela apagada insistiu em sua candidatura, mesmo estando ele preso, e quando afinal o "plano B" foi acionado, a transferência de votos impulsionou a candidatura do fantoche, mas não o suficiente para derrotar "o mito". Resta saber se a jararaca — como Lula apelidou a si mesmo — desta vez foi ferida de morte ou se ainda terá forças para reconstituir-se num mito à altura do argentino Juan Domingo Perón, envolto num misto de saudade do passado e miragem de um futuro idílico.

Como dito, conflitos são inerentes à democracia, e a polarização, que é o enrijecimento das posições e seu aquartelamento em duas facções, sem muita coisa de relevante no meio, pode ser tolerável enquanto regulada por instituições fortes. É o que ocorre nos Estados Unidos. Por mais que Trump se rebele contra a imprensa e chame de fake news as notícias que lhe desagradem, não se concebe que vá fechar o The New York Times. É o que não ocorre na Venezuela, onde Nicolás Maduro fecha estações de TV inoportunas — sob aplausos entusiásticos do bando vermelho tupiniquim, nunca é demais lembrar. Ao fim e ao cabo, a polarização brasileira será julgada por seu desfecho, se desfecho houver. Se não houver, é porque foi contida nos quadros institucionais e seu andamento se dará na cadência desse benfazejo produto da ordem democrática que é a alternância no poder.

Voltando ao cenário local, há que dedicar mais algumas linhas ao “imbróglio Queiroz”. As “movimentações financeiras atípicas” e mal explicadas que o COAF identificou na conta do ex-assessor e motorista do então deputado e ora senador eleito Flávio Bolsonaro não implica diretamente o presidente, mas pegaram muito mal para quem baseou sua campanha no combate à corrupção. E uma parcela substancial da mídia tem feito o possível e o impossível para manter esse assunto em destaque.

Não é preciso ter olfato de perdigueiro para farejar a prática de pedágio no gabinete do “01” (como Bolsonaro se refere ao filho mais velho). Engordar os próprios salários garfando parte da remuneração dos assessores sempre foi tão comum entre parlamentares quanto o uso da gravata, e o número absurdo de funcionários que podem ser contratado a expensas do contribuinte assanha o apetite pantagruélico dessa corja: na Câmara Federal, cada gabinete pode ter entre 5 e 25 servidores comissionados, com salários que variam de aproximadamente R$ 1 mil a R$ 15 mil; no Senado, o número de funcionários dobra e a remuneração vai de R$ 4 mil a R$ 17 mil. Nada disso justifica ou isenta de culpa os envolvidos, naturalmente. Por outro lado, Lula foi poupado das investigações sobre o Mensalão e reeleito quando a roubalheira já era pública e notória, além de ter emplacado uma ilustre desconhecida e rematada incompetente como sucessora em 2010 e mantê-la no posto 2014, quando a Lava-Jato já estava em curso e os primeiros prenúncios do Petrolão já surgiam no horizonte. Não sei o leitor há de concordar, mas eu acho que toda essa indignação fede mais do que o caso em si.

Bolsonaro deu uma explicação plausível para os depósitos na conta de sua esposa, e o general Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo, disse que o caso “não é uma questão de governo”. Não obstante, o misterioso desaparecimento ex-assessor, motorista e amigo há décadas do clã Bolsonaro deu à oposição farta munição para disparar contra a credibilidade de um presidente que ainda nem começou a governar. Além disso, mesmo tendo reaparecido, depois de faltar a duas oitivas convocadas pelo Ministério Público (detalhes nesta postagem), Queiroz não explicou por que funcionários do gabinete de Flavio Bolsonaro depositavam dinheiro em sua conta todo início de mês, embora tenha afirmado que nunca foi laranja, que as transações de compra e venda de carros explicam as movimentações em sua conta e que complicações decorrentes de um câncer no intestino impediram-no de depor quanto foi convocado. “Eu sou um cara de negócios. Faço dinheiro. Compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro. Sempre fui assim. Gosto muito de comprar carro de seguradora. Na minha época lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar, revendia…”, disse Queiroz, cuja renda mensal, segundo ele, gira em torno de 23 mil reais (clique aqui para conferir a íntegra da entrevista concedida ao SBT).

Para encerrar, volto rapidamente à ex-presidanta incompetenta, não para detalhar as barbaridades que ela gestou e pariu durante os 5 anos, 4 meses e 12 dias em que desgovernou esta Banânia, mas apenas para relembrar que, a pretexto de combater a ditadura, Dilma participou de três organizações terroristas (Colina, VAR-Palmares e VPR), e seus “camaradas” — alguns saudados por ela em discursos de campanha, praticaram toda sorte de crimes, aí incluídos assaltos a banco, sequestros e assassinatos, e não para resistir à ditadura, mas sim para fazer a “luta revolucionária” e instaurar a ditadura do proletariado, como lembrou o jornalista Reinaldo Azevedo nesta postagem

Para bom entendedor...      

domingo, 16 de dezembro de 2018

A POLÍTICA NO BRASIL E O CEMITÉRIO DA MÍDIA TENDENCIOSA



O que aconteceria se uma empresa de ônibus passasse a vender bilhetes para Florianópolis (SC) e despejasse os passageiros em Curitiba (PR), por exemplo? Pois é. Guardadas as devidas proporções, foi mais ou menos isso que se deu com alguns órgãos de comunicação ao longo deste ano. Desde o momento em que os pré-candidatos fizeram seus primeiros movimentos no tabuleiro da sucessão presidencial, alguns jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão, em vez de se aterem aos fatos, preferiram publicar versões alternativas, porque o jornalista “a” ou o editor “b” é militante do partido “x” ou simpatizando do candidato “y”.

O que aconteceu nas últimas eleições foi o maior fiasco que os meios de comunicação brasileiros já viveram em sua história recente. Durante meses a fio, tentaram provar no noticiário que coisas trágicas aconteceriam se a campanha de Bolsonaro prosperasse (mas nunca pensaram na possibilidade de que milhões de brasileiros estivessem achando que essas coisas trágicas, justamente essas, eram as que consideravam as mais certas para o país). Convenceram a si mesmos de que não estavam numa cobertura jornalística, e sim numa luta do bem contra o mal. Em vez de reportar, passaram a torcer, a distorcer e a trabalhar por um lado na campanha, convencidos de ter a “superioridade moral”. Resultado: disputaram uma eleição contra Jair Bolsonaro e perderam por mais de 10 milhões de votos de diferença.

Não é função da imprensa disputar eleições (nem muito menos perdê-las), mas alguns órgãos de comunicação se arriscaram a fazê-lo e acabaram surrados pelo candidato que declararam “inimigo” e por seus quase 58 milhões de eleitores. Passaram meses fazendo uma operação contínua contra o candidato menos equipado materialmente e constataram, no dia da apuração, que todo esse esforço foi em vão, pois o público está pouco se lixando para o que a mídia lhe diz quando fica como arquibancada em jogo de futebol, xingando o juiz de ladrão e o técnico de burro, mas não alterando em nada o resultado do placar.

Inventou-se como estratégia, desde o começo, que o presidiário Lula era não só candidato, mas o candidato favorito para ganhar a eleição, embora nem sequer pudesse disputá-la, pois estava — e está — cumprindo a pena de prisão a que foi condenado em duas instâncias da Justiça. Mas os “institutos de pesquisa” garantiam que ele tinha “40% dos votos”, que havia “avançado mais X pontos”, que ganhava de todos os outros candidatos... E a imprensa, em peso, reproduzia essa fábula em suas manchetes, alimentando a ficção de que “a ONU” iria obrigar o Brasil a aceitar a candidatura. Chegaram mesmo a convocar o STF para julgar essa aberração.

Sai Lula, entra Haddad. Sete dias antes do pleito, uma das “pesquisas”” deu o fantoche do criminoso de Garanhuns com “22%”, numa “ascensão” que o levaria inexoravelmente à vitória. Para não deixar dúvidas, todos os meios de comunicação repetiram até o dia da eleição que Bolsonaro perderia de “todos os outros candidatos” no segundo turno, em “todas as pesquisas”. Pois deu-­se exatamente o contrário.

Às vésperas da eleição, a Folha denunciou uma suposta campanha de notícias falsas bancada por empresários apoiadores de Bolsonaro e, em cima disso, pediu-se a “anulação do primeiro turno”, inclusive com atrizes da Globo exigindo, num vídeo eleitoral especialmente irado, “uma atitude” do Supremo. Falsa, mesmo, só a reportagem — reproduzida maciçamente através da imprensa até morrer de inanição, por ausência de fatos, de pé e de cabeça. Em contra partida, o brutal atentado contra a vida de Bolsonaro foi tratado como uma notícia menor, fruto natural do “ódio” trazido à campanha em grande parte pelo próprio candidato. Até hoje, a maioria dos jornalistas se refere ao episódio como “a facada”; é jornalisticamente incorreto escrever que um criminoso quis assassinar Bolsonaro.

Desde o início da campanha, os mais potentes cérebros da análise política do Brasil deram como fato científico que a candidatura de Bolsonaro iria “desaparecer” assim que começasse o horário eleitoral obrigatório na TV, no qual ele contava com poucos segundos. Bolsonaro ganhou a eleição — e o candidato que tinha o maior tempo de TV não conseguiu nem 5% dos votos.

Mais do que tudo, talvez, a mídia não chegou nem perto de entender uma realidade evidente: a maioria do público brasileiro pensa basicamente o contrário do que pensam os jornalistas e os donos dos veículos de comunicação. Tem valores opostos aos dos comunicadores. Aprova o que a mídia condena. Condena o que a mídia aprova. É a favor da polícia, que a imprensa considera inimiga dos pobres, e contra os bandidos, que os jornalistas consideram vítimas da injustiça social. Os heróis da imprensa, como a vereadora Marielle, não são os heróis da população. E nem o que a imprensa divulga maciçamente como sendo problemas essenciais para o Brasil é percebido da mesma maneira pela massa — homofobia, racismo, fascismo, machismo, “agrotóxicos”, terras indígenas, torturas cometidas quarenta anos atrás são vistos mais com indiferença do que com indignação. Em questões como a conveniência de eliminar as diferenças entre os gêneros masculino e feminino, deixando em segundo plano as leis da biologia, mídia e maioria estão simplesmente em posições opostas.

Ninguém tem ouvido histórias de veículos que triplicaram seus leitores ou sua audiência nos últimos anos; pelo contrário: salta aos olhos que o método que vem sendo utilizado está dando errado. E como poderia dar certo se os resultados são um desastre? O aviso das eleições está aí.

Até quatro anos atrás, era no programa eleitoral obrigatório que tudo se decidia numa campanha; hoje, a televisão, em seu conjunto, deixou de existir como um fator de importância numa eleição brasileira. Os “institutos de pesquisa” tampouco são capazes de mudar coisa alguma, como se viu da derrota de Dilma Rousseff — vendida como aquela que seria “a senadora mais votada do Brasil”, mas que acabou em quarto lugar.

Os meios de comunicação travaram uma guerra sem descanso contra Bolsonaro, mas sua influência foi absolutamente nula no resultado da eleição. A internet, o Facebook, o Twitter e o restante do arsenal nuclear que a tecnologia eletrônica despeja a cada momento sobre o universo das comunicações mudaram a política no Brasil em 2018. Há muitos anos vêm transformando a imprensa num animal cada vez mais diferente de tudo o que possa ter sido — e não há sinais de que essa história venha a tomar um novo rumo.

Em momentos como este, é uma tragédia que a imprensa brasileira venha demonstrando, no conjunto daquilo que publica em seus veículos, uma inteligência inferior à inteligência média dos seus leitores, ouvintes e espectadores. Desse jeito, torna-se cada vez mais inútil para eles. Ninguém vai chegar a lugar nenhum por aí.

Inspirado em um artigo do jornalista J.R. Guzzo, publicado na edição impressa de VEJA desta semana.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A APROVAÇÃO DAS CONTAS DE BOLSONARO E O CONTO DO VIGÁRIO DO SENADO




Nas últimas eleições, coube a cada Estado da Federação eleger dois senadores. Das 54 cadeiras em disputa, os eleitores elegeram 46 novos nomes, o que representa uma taxa renovação de 85%, demonstrando claramente que o eleitor, mais do que cansado, está enojado das práticas políticas que se tornaram habituais no País.

Contrariando boa parte das projeções, que previam um pequeno nível de renovação dos membros do Congresso, os brasileiros foram às urnas no dia 7 de outubro mostrar que desejam algo muito diferente, do que vem prevalecendo nos últimos anos em Brasília. Mas o que ouve é que o nome que desponta para presidir o Senado (e o Congresso Nacional) no ano que vem é do alagoano Renan Calheiros, cabal personificação da velha política.

Com tantos novos senadores, não se conseguir pensar em nenhum outro nome para a presidência do Senado é uma coisa medonha, porque os hábitos e práticas políticas de Renan são públicos e notórios. Por exemplo, apesar de pertencer ao MDB, partido do presidente Michel Temer, o cangaceiro das Alagoas fez insistente oposição à reforma da Previdência, com discursos demagógicos e populistas. Em vez de apoiar as reformas de que o País tanto precisa, preferiu aliar-se ao ex-presidente Lula em negociações que selam o atraso de Alagoas (estado que teve o pior Índice de Desenvolvimento Humano nas edições de 2000, 2010 e 2014). Em vídeo publicado em junho nas redes sociais, declarou apoio à então pré-candidatura do presidiário petista. “Lula é candidato a voltar à Presidência da República, tem direito de fazer campanha porque não cometeu crime algum e foi condenado sem provas”, disse o estafermo que ora tenta assumir pela quarta vez a presidência do Senado (Renan já presidiu a Casa de 2005 até 2007, de 2013 a 2015 e de 2015 a 2017; em 2007, renunciou ao cargo após escândalo de corrupção).

Seus malabarismos político-partidários vêm de longa data. Se nos últimos anos tem sido um aliado habitual de Lula, o senador alagoano já esteve no lado oposto. Em 1989, filiado ao PRN, foi um dos principais assessores do então candidato à presidência da República Fernando Collor de Mello. Meses depois, como líder do governo no Congresso, defendeu o pacote de medidas econômicas de Collor, que incluía o famoso confisco da poupança.

Renan não é conhecido apenas pelos cargos que ocupou ao longo de quatro décadas de vida política. Fez-se notório por seu contumaz envolvimento com fatos definidos no Código Penal. Responde a mais de uma dezena de processos e inquéritos criminais. Diversas vezes foi citado em escândalos de corrupção relacionados à Operação Lava-Jato. Num dos casos, a PGR apresentou ao Supremo denúncia contra ele por corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a Transpetro, subsidiária da Petrobrás. Noutro caso, ele é investigado por um suposto esquema de desvio de recursos do Postalis, fundo de pensão dos Correios.

A ampla campanha habilmente desenvolvida por Renan para ocupar a presidência do Senado no próximo biênio submete o eleitor a um conto do vigário. As eleições mostraram que a população deseja que o país ande para a frente e renove suas práticas políticas. De volta à presidência do Senado, sua insolência representaria um total retrocesso e uma evidente quebra de expectativa. Seria como se o que ocorre no Congresso não tivesse nenhuma relação com a vontade da população.

É uma lástima que Alagoas tenha sido capaz de eleger mais uma vez o senador Renan Calheiros, mas isso de forma alguma é pretexto para ampliar o problema, alçando-o à presidência da Casa. A tolerância do brasileiro tem limites.

Baseado num texto publicado no Estadão

EM TEMPO: Em parecer concluído na última sexta-feira, a área técnica do TSE recomendou a aprovação, com ressalvas, das contas de campanha do presidente eleito. As ressalvas deveram-se à “identificação de irregularidades e impropriedades que, no conjunto, não comprometem a regularidade das contas” — como a utilização de financiamento coletivo sem que a empresa escolhida para tal finalidade tivesse registro no TSE, por meio da subcontratação, e o descumprimento do prazo para entrega do relatório financeiro. Trata-se de um procedimento padrão — o mesmo, aliás, que foi utilizado em 2014 em relação à chapa Dilma-Temer, que obteve aprovação, mas mantendo possíveis investigações. No caso de Bolsonaro, as campanhas do PT e do PDT ingressaram com ações para apurar eventual abuso de poder econômico na campanha. Ciro Gomes chegou a pedir a anulação da eleição liminarmente, o que foi negado. Dentro do TSE, a avaliação é a de que, no cenário atual, esses processos não devem prosperar.


ATUALIZAÇÕES:

1) Após os verborrágicos votos dos ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, a sessão de ontem no STF foi encerrada e o julgamento da ADI proposta pelo PGR contra o “insulto” de Natal assinado pelo presidente Michel Temer no ano passado — que estimula a impunidade e põe em risco o combate à corrupção — foi adiado para a tarde desta quinta-feira, 29. O placar está em 1 a 1, e tudo indica que o resultado será apertado. Logo antes do julgamento, o presidente eleito Jair Bolsonaro postou nas redes sociais que “se houver indulto neste ano, certamente será o último”. Ele afirma que foi escolhido presidente do Brasil para atender aos anseios do povo brasileiro, e que pegar pesado na questão da violência e criminalidade foi um de seus principais compromissos de campanha.  

2) Falando em Bolsonaro, sua defesa informou ao TSE que o presidente eleito devolverá aos cofres públicos R$ 8.275  para reparar supostas irregularidades apontadas pela área técnica do tribunal, e pediu que as contas da campanha sejam, portanto, aprovadas sem nenhuma ressalva. A expectativa é que isso ocorra na sessão do dia 4 de dezembro.

3) Por 2 votos a 1, a 8ª Turma do TRF-4 reduziu a pena de Antonio Palocci para nove anos e dez dias. Dada a efetividade de sua delação premiada, o ex-braço-direito de Lula — que está preso em Curitiba desde 2016 — deverá deixar a cadeia e cumprir a pena em regime semiaberto diferenciado (prisão domiciliar com monitoramento por tornozeleira eletrônica).

4) Enquanto eu atualizo esta postagem, a PF está nas ruas para cumprir um mandado de prisão contra o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão.

sábado, 10 de novembro de 2018

SÉRGIO MORO VERSÃO VIDRAÇA — E HAJA PEDRADA!



A enxurrada de críticas ao juiz Sérgio Moro — que teria “descumprido a promessa” de não ingressar na política ao aceitar o cargo de ministro oferecido pelo presidente eleito — me faz lembrar a fábula do velho, do menino e do burro, que publiquei na postagem do último dia 2. Em rápidas pinceladas, um sitiante queria vender seu burro e resolveu levá-lo à feira da cidade. Seguiu com o neto, ambos no lombo do burro, mas foram alvo de críticas pelo caminho, o que levou o menino a desmontar e seguir a pé; depois, o velho a trocar de lugar com o neto e, mais adiante, a seguirem ambos a pé, puxando o burro. Ao final, chegara à cidade carregando o muar nas costas, tornando-se motivo de chacota para os feirantes. Como bem disse JFK, “é impossível contentar todo mundo ao mesmo tempo”.

Prova disso é que o novo governo nem começou e já vem sendo alvo de críticas contundentes. No caso de Moro, parece óbvio que o regente dessa sinfonia é o PT, inconformado com a derrota de Haddad. O próprio Bolsonaro já disse, em tom de galhofa, que “se o PT não gostou [do convite feito a Moro], é porque a decisão foi acertada”. Fato é que o partido rachou com o resultado das urnas e não sabe se faz um “mea culpa”, como propõe Jaques Wagner, ou se segue caninamente seu eterno presidente de honra, como querem Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias, Paulo Pimenta, Wadih Damous e a ala do “quanto pior, melhor”. Para eles, somente o fracasso do próximo governo lhes permitiria recuperar o papel de liderança da esquerda — e mesmo assim seria preciso combinar com o clã dos Gomes (Ciro e Cid), que rompeu publicamente com o bando de Lula e ora se apresenta como sério candidato ao posto.

O pedido de anulação do processo sobre o tríplex no Guarujá, a pretexto de Moro ter condenado Lula porque ambicionava um cargo no futuro governo, é no mínimo absurdo (leia mais sobre essa falácia na postagem anterior). Mesmo assim, para evitar “controvérsias desnecessárias”, o juiz se afastou dos processos da Lava-Jato, mas vem sendo criticado por deixar para pedir sua exoneração em janeiro e usar suas férias (remuneradas) para preparar a transição de governo. A maioria dos brasileiros, no entanto, parece não pensar assim. Um levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas dá conta de que 82% dos entrevistados aplaudiram o convite feito a Moro por Bolsonaro e sua aceitação pelo juiz (somente 14% rejeitaram a mudança e 2,8% não souberam ou não quiseram opinar).

Quanto ao pedido de exoneração, há quem diga que Moro não quer queimar as caravelas antes da hora, já que, uma semana depois de lhe assegurar total liberdade para comandar o superministério da Justiça e da Segurança Pública, Bolsonaro declarou em entrevista à Band “que não tratou de todos os temas na conversa que tiveram na semana passada, e que em matéria de combate à corrupção e ao crime organizado a carta branca vale, mas em questões que suscitarem divergências os dois terão de encontrar um meio-termo.

É incontestável que o movimento antipetista contribuiu para o impeachment de Dilma, para a prisão de Lula e para a vitória de Bolsonaro. Na segunda-feira, o Jornal Nacional perguntou ao presidente eleito o que ele tem a dizer à quem o acusa de ser um risco à democracia. A resposta: “Primeiro, dizer que as eleições acabaram. Chega de mentira. Chega de fake news.” Sem dúvida, uma coisa é discurso de palanque, outra coisa é governar para quase 210 milhões de brasileiros. Aliás, a democracia é o governo da maioria que respeita as minorias. O problema é que há uma inversão de valores em curso no Brasil, a começar pelos “direitos humanos”, que privilegiam os bandidos em detrimento dos cidadãos de bem. Sem falar nesse “politicamente correto desbragado”, que chega às raias do absurdo. Mas isso é conversa para outra hora.

Salta aos olhos que existe um movimento de esquerda por trás das críticas, mas o próprio Bolsonaro contribui ao dizer tudo que lhe vem à cabeça (como fez várias vezes no Congresso, com declarações polêmicas sobre tortura e ditadura militar). Na atual conjuntura, tudo que ele faz ou diz repercute imediatamente, tanto aqui quanto no exterior. Seria bom que ele se empenhasse em demonstrar com ações que tudo isso é passado, bem como se conscientizar de que nem tudo que ele gostaria de fazer pode ser feito, seja porque carece de amparo legal, seja porque pode prejudicar o País.

Na visão de seus apoiadores, o presidente eleito não se pavoneia para macacas de auditório. Ele conhece seus limites e, modestamente, delega poderes. Seria uma espécie de Itamar Franco sem Lilian Ramos. Ele já provou esse desprendimento entregando a economia a Paulo Guedes e repetiu a dose com Sergio Moro. O primeiro promete salvar o Brasil da bancarrota, e o segundo salvou o Brasil da ORCRIM. O próximo passo é Bolsonaro fazer seu Plano Real, como fez Itamar Franco, mas contra a corrupção.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

CRÍTICA E AUTOCRÍTICA



Ainda convalescendo dos efeitos da “síndrome do macaco”, venho enfrentando alguma dificuldade para desenvolver postagens sobre o atual cenário político. Assim, ainda de ressaca da análise circunstanciada que apresentei nas duas últimas postagens sobre o presidente eleito e sobre o estapafúrdio pedido da defesa de Lula para anular o julgamento do processo em que o molusco foi condenado, resolvi, na postagem de hoje, apenas transcrever mais um texto brilhante de Dora Kramer e uma tirada do igualmente impagável Augusto Nunes. Começando pelo último:

Manuela d'Ávila corre o risco de levar um triplo puxão de orelhas de Haddad, de Gleisi e do chefão presidiário. A deputada do PCdoB — eterno satélite do PT —, vice do poste que Lula fabricou e Jair Bolsonaro pulverizou, saiu-se, numa entrevista à Globo, com a seguinte pérola:

“O Ciro teve uma participação brilhante no primeiro turno e ele foi quem viabilizou também, com seu elevado percentual de votos, o segundo turno. Ciro não contribuiu para nossa derrota. Ele contribuiu para a existência do segundo turno com a campanha que fez até o último dia em alta intensidade. Ele cometeu um equívoco em não se envolver no segundo turno”.

Agora o texto de Dora Kramer:

Ainda sob os efeitos do azedume geral, pode ser difícil pensar em produzir limonadas a partir da colossal quantidade de limões encruados nas almas e entalados nas gargantas país afora. Não falo de pacificações ao molde de conversões forçadas por um bom-mocismo de ocasião. Tampouco me refiro a pregações por união nacional mediante a interferência da figura de um pacificador, dada a semelhança com o anseio por um salvador.

Tudo isso é mito. Civilizatório, realista e institucionalmente pedagógico é o aprendizado do exercício do contraditório dentro das balizas do bom-senso. A eleição de Jair Bolsonaro, do jeito e pelas razões (ainda a ser completamente desvendadas e catalogadas) que ocorreu, põe o Brasil diante de uma preciosa oportunidade de subir de patamar na qualidade das relações entre governantes e governados.

Por paradoxal que soe, esse caminho foi aberto pelo ambiente de acirramento extremo que vem tomando conta do país já há algum tempo e que chegou aos píncaros durante a campanha eleitoral. Tivemos um processo inédito do qual resultou uma situação também sem precedentes. Nenhuma das eleições anteriores, desde a retomada do voto direto para presidente, produziu uma vitória que aborrecesse com tanta estridência tal volume de eleitores. O mesmo teria ocorrido caso o vencedor fosse o oponente, diga-se.

Somados os votos dados ao derrotado com a manifestação dos que preferiram não se posicionar (já expressando aí uma posição), grosso modo tivemos um contingente de praticamente metade do eleitorado habilitado. Isso significa que o eleito já inicia sua trajetória sob intenso mau humor social. Ruim? Depende da perspectiva. Se a ideia é que governos novos precisam ter aceitação unânime para se legitimar e conseguir trabalhar, a resposta é sim, bem ruim.

Podemos, contudo, adotar outro ponto de vista, aquele segundo o qual a existência de uma substanciosa massa crítica no país melhora a sociedade, aumenta o grau de consciência de cidadania e alimenta a noção de que governos existem para servir à coletividade, e não para servir-se dela com apropriação indevida do dinheiro de todos e da captura de consciências. Nesse caso, a existência de uma oposição social vigorosa é benéfica. Já vimos o que a subserviência a mitologias da propaganda oficial fez nos governos do PT.

Estabeleceu-se a lógica da criminalização da crítica, e, com isso, os então locatários do poder sentiram-se desobrigados de qualquer autocrítica. Quando tentaram voltar, depararam com uma força antagônica cujas fundações foram fincadas no pecado original do elogio à unanimidade. Não fosse isso, talvez as coisas tivessem tomado outro rumo em decorrência da vigilância e das exigências rigorosas da sociedade.

Jair Bolsonaro não terá a vida boa de Luiz Inácio da Silva no tocante à aceitação impune por longo período. E querem saber, senhoras e senhores? É ótimo que assim seja.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

SOBRE O PRESIDENTE ELEITO JAIR BOLSONARO (CONTINUAÇÃO)



Dono de uma extensa lista de declarações polêmicas e frequentemente criticado por exaltar a ditadura, Jair Messias Bolsonaro foi eleito Presidente da República com 55% dos votos válidos — espantosamente conseguidos com uma campanha espartana (que não usou o dinheiro do fundo partidário), feita por uma coligação raquítica e que dispunha de míseros 8 segundos de exposição diária no horário político obrigatório.

Trigésimo oitavo Presidente da República e o primeiro paulista eleito para o cargo desde a redemocratização (*), Bolsonaro cursou a Escola Preparatória de Cadetes do Exército e se formou na Academia Militar das Agulhas Negras (ambas no estado do Rio). Depois de 11 anos no exército — e de ter sido preso por 15 dias em 1986, depois de ter escrito um artigo publicado na revista Veja sob o título “O salário está baixo” —, o então capitão passou para reserva e ingressou na vida pública como vereador (na hipótese de não se eleger, pensou mesmo em trabalhar como limpador de casco de navio, aproveitando o curso de mergulho que fizera anos antes). Ficou dois anos na Câmara Municipal antes de vencer a primeira das 7 eleições para deputado federal que disputou. No Congresso, respondeu a sete processos por quebra do decoro parlamentar — as ações por injúria, apologia ao estupro e racismo repercutem até hoje (mais detalhes na postagem anterior).

(*) Quando se elegeram, FHC e Lula moravam em São Paulo e SBC, respectivamente, mas o tucano é carioca e o petista, pernambucano. Bolsonaro nasceu no município, Glicério, no noroeste paulista, foi registrado (dez meses depois) na cidade de Campinas e passou a maior parte da infância e adolescência em Eldorado Paulista — que fica no Vale do Ribeira — de onde saiu somente aos 18 anos.  

Em 27 anos como deputado federal, Bolsonaro apresentou 172 projetos e foi relator em 73 deles, mas conseguiu aprovar apenas dois. No plenário, estava sempre sozinho ou na companhia do filho — o também deputado Eduardo Bolsonaro. Nunca foi visto jantando no Piantella nem tomando uísque no Churchill (o restaurante e o bar de Brasília onde os parlamentares mais enturmados costumam confraternizar). Passou quase 3 décadas na Câmara como um membro do baixo-clero, sem destaque, sem poder e sem uma turma para chamar de sua. Em meados de 2014, então filiado ao fisiológico PP — cuja bancada de 40 deputados era adestrada para apoiar qualquer um com chance de vencer —, apresentou-se ao partido como opção para concorrer ao Planalto e foi solenemente ignorado. No da convenção partidária, lançou seu ultimato: “Ou o PP sai da latrina ou afunda de vez”. Graças à Lava-Jato, o PP afundou de vez; graças a sua pregação antipetista, o hoje presidente eleito se reelegeu como deputado mais votado do Rio de Janeiro (saltando de 120,6 mil votos em 2010 para 464,5 mil em 2014).

No fim de 2014, recém-eleito para o sétimo mandato consecutivo, Bolsonaro percorreu o país, realizou carreatas, estampou camisetas e adesivos, posou para “selfies” com eleitores e proferiu palestras. Ganhou um público jovem e ligado nas redes sociais, que o apelidou de  “mito” e distribuiu memes com frases do político. Ao se dar conta do enorme potencial das redes sociais, o deputado-capitão pavimentou o caminho para a popularidade com frases chocantes, inusitadas ou abertamente provocativas. Cada discurso que embutia uma ideia polêmica ou preconceituosa corria a internet, gerando milhares de comentários — contra ou a favor, tanto faz: “falem mal, mas falem de mim”. Em 2016, trocou o PP pelo PSC, depois namorou com o PEN (que virou Patriota para acolhê-lo), rompeu ao descobrir que a sigla havia patrocinado uma ação no STF questionando a prisão em segunda instância (tema que interessava sobretudo a Lula e ao PT e feria de morte seu discurso antipetista) e acabou se filiando ao então nanico PSL (que agora elegeu 52 deputados federais, 4 senadores e 3 governadores). 

De estatista, Bolsonaro passou a defensor da liberdade de mercado, selou pareceria com o economista liberal Paulo Guedes (seu Posto Ipiranga) e, para compor a chapa como, vice convidou o senador Magno Malta — que errou feio ao declinar, pois não conseguiu se reeleger; mesmo com a maior verba partidária da sigla em seu estado, obteve menos da metade dos 1.500 mil votos que esperava. A lista seguiu pelo general Augusto Heleno (que aceitou mas não obteve sinal verde do PRP), a advogada Janaína Paschoal (que recusou e acabou se elegendo a deputada estadual mais votada de São Paulo), o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança (que foi desconvidado quando se divulgou que teria sido filmado agredindo um morador de rua) e finalmente o general Mourão — aquele que defendeu numa loja maçônica em Brasília, em 2017, uma intervenção militar no caso de o Judiciário não conseguir expurgar os corruptos da política nacional.

Bolsonaro começou sua campanha liderando as pesquisas — atrás somente do ex-presidente presidiário, cuja candidatura nunca passou de uma quimera. Houve um consenso de que ele teria atingido o ápice da a popularidade e que a tendência natural era de desidratação, mas o cenário mudou com o atentado a faca durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG), que quase lhe custou a vida. No segundo turno, debilitado pelas duas cirurgias a que foi submetido, permaneceu recluso do no condomínio onde mora, na Barra (zona oeste do Rio de Janeiro), mas continuou subindo nas pesquisas. Mesmo liberado pelos médicos, preferiu não participar de debates (algo inédito no segundo turno das eleições presidenciais no Brasil). 

Entrincheirado em casa, com uma bolsa de colostomia presa ao abdome, defendendo-se e atacando através das redes sociais, Bolsonaro construiu a vitória mais improvável da história da democracia tupiniquim.

Para saber mais sobre sua trajetória política, siga este link.

sábado, 3 de novembro de 2018

O CAVALO DE TROIA PETISTA E O FUTURO GOVERNO BOLSONARO



Dizia eu na postagem anterior que com o afastamento do juiz Sérgio Moro da 13ª Vara Federal do Paraná, em Curitiba, os processos da Lava-Jato que estavam sob sua pena serão conduzidos pela juíza substituta Gabriele Hardt, pelo menos até que o TRF-4 defina quem assumirá definitivamente o posto. Assim, tanto o julgamento da ação envolvendo a cobertura vizinha à residência de Lula, em São Bernardo do Campo, e o terreno para a construção da nova sede do Instituto Lula, em São Paulo, quanto a instrução do processo sobre o folclórico Sítio Santa Bárbara, no município paulista de Atibaia, ficarão a cargo dessa magistrada, que tem 42 anos, é formada em Direito pela Universidade Federal do Paraná e juíza substituta na 13ª Vara Federal desde 2014.

O convite feito pelo presidente eleito ao juiz Moro, para comandar superpasta da Justiça, caiu como uma bomba no colo da petralhada. A folclórica Dilma Rousseff, por exemplo, do alto de sua parvoíce, relembrou que o magistrado autorizou a gravação e vazou sua conversa com Lula, alimentando o processo de impeachment; condenou e determinou a prisão do ex-presidente sem provas, inviabilizando sua candidatura; vazou a delação de Palocci a uma semana do 1º turno, com o propósito de prejudicar tanto sua candidatura (de Dilma) ao Senado quanto a de Haddad à Presidência, e agora anuncia que vai abandonar a magistratura para ser ministro daquele cuja eleição ele (Moro) viabilizou com suas decisões.

Rezam pela mesma cartilha a lunática presidente da ORCRIM e senadora rebaixada a deputada, Gleisi Hoffmann — para quem “Moro será ministro de Bolsonaro depois de ser decisivo pra sua eleição, ao impedir Lula de concorrer” — e outros “próceres” petistas, como o também senador derrotado Lindbergh Farias, o deputado reeleito Paulo Pimenta, o próprio candidato derrotado Fernando Haddad (que de prócer não tem nada, mas enfim...), e por aí segue a procissão, sempre entoando o cântico da vitimização, do golpe, e mais um sem-número de bobagens que tais. A propósito, o presidente eleito declarou (sobre Moro chefiar o Ministério da Justiça) que “se o PT reclamou é porque a decisão foi acertada”.

A irresignação dessa caterva é mais uma prova de que seus interesses estão anos-luz distantes dos interesses republicanos. Aliás, o PT e seus satélites vêm prometendo fazer a mais radical oposição ao próximo governo, além de cobrar urgência ao TSE na análise da ação que pede a inelegibilidade de Bolsonaro (respaldada numa matéria jornalística da Folha segundo a qual empresas apoiadoras do candidato do PSL teriam comparado pacotes de disparo de mensagens contra o PT por meio do aplicativo mensageiro WhatsApp). É lamentável, para dizer o mínimo, que o país seja obrigado a aturar tamanha desfaçatez desses maus perdedores.

Uma semana antes do segundo turno, a revista IstoÉ publicou uma matéria de capa em que comparava a campanha do "poste" de Lula a um “Cavalo de Troia”. Mas a pergunta é: como alguém poderia acreditar que um imenso cavalo de madeira recheado de soldados fosse um inocente presente para uma cidade?

Observação: No âmbito da informática, essa expressão remete a um programa malicioso, mas travestido em aplicativo útil para ludibriar os incautos. A origem remonta à lenda do Cavalo de Tróia contada por Homero em seu poema “Ilíada”, segundo a qual um grande cavalo de madeira, deixado pelos troianos às portas de Esparta, foi levado para dentro pelos gregos, que pensaram tratar-se de um presente. Mais tarde, na calada da noite, os soldados que estavam escondidos no interior do cavalo abriram os portões para o exército de Troia, que assim venceu a guerra.

 Em seu livro “A Marcha da Insensatez”, a escritora e historiadora americana Barbara W. Tuchman, duas vezes laureada com o Prêmio Pulitzer, aborda um dos maiores paradoxos humanos: a insistência dos governos em adotarem políticas contrárias aos próprios interesses. Em um texto fluido e envolvente, ela destaca quatro conflitos históricos em que ações equivocadas tiveram consequências desastrosas para milhares de pessoas: a Guerra de Troia, a reforma protestante, a independência dos Estados Unidos e a Guerra do Vietnã.

No Brasil dos nossos dias, às vésperas do segundo turno das eleições mais conturbadas da história tupiniquim, o PT tentou apresentar à sociedade sua versão do Cavalo de Troia. Por trás do verde e amarelo que substituíram o vermelho petista, o procurador do criminoso de Garanhuns tentou se dissociar da imagem do outorgante (que de início procurou assimilar, até mesmo comendo o “s” dos plurais em seus discursos) e se travestir num simpático ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo. Todavia, a sequência de erros administrativos e o envolvimento de Lula e seu partido nos escabrosos casos de corrupção que quase arruinaram o Brasil continuam vívidos na memória de uma parte expressiva da população, daí a fraude vermelha ter sido derrotada por uma diferença de quase 11 milhões de votos.

Contumaz em atribuir aos adversários os próprios erros e suas consequências, o PT acusa o presidente eleito de transformar o pleito em plebiscito, quando na verdade quem fez isso foi o próprio PT. A ideia de posar de democrata de última hora, apresentar-se como alguém capaz de aglutinar os partidos de esquerda e pacificar a nação não funcionou, como não funcionaram tantas outras estratégias petistas. 

Na farsa inicialmente encenada, o presidiário metido a candidato imaginava que a liderança nas pesquisas lhe outorgaria uma espécie de absolvição popular, coroando a tese de que “sua condenação não passou de uma injustiça”. Mas falhou, continua preso, e seu preposto foi derrotado por um candidato que, até não muito tempo atrás, não passava de um simples deputado do baixo clero, para não dizer um ilustre desconhecido.

Por esse mesmo fantasioso caminho da redenção pelas urnas seguiriam outros petistas enrolados com a Justiça, que também ganharam nas urnas idêntica resposta à que foi dada ao fantoche de Lula. O formato plebiscitário foi aceito, mas para derrotar o PT, como provaram os resultados das urnas no primeiro turno (quando faltou pouco para Bolsonaro sagrar-se presidente) e comprovaram no segundo. 

O PT apostava que prevaleceria na memória do eleitorado a lembrança do ascensão econômica havida durante a primeira gestão de Lula, mas que o que prevaleceu foram a corrupção das gestões petistas e crise gestada e parida pela imprestável gerentona de araque. O que se pretendia esconder na barriga do Cavalo de Tróia restou escancarado aos olhos da população (ou pelo menos da parcela pensante da população).

Preso há quase sete meses na carceragem da PF em Curitiba, Lula transformou sua cela em comitê de campanha e recebeu visitas frequentes de seu “poste” — numa sequência interrompida somente quando o próprio presidiário lhe ordenou que só voltasse lá depois da vitória no segundo turno. Na prática, pouco mudou, pois a ausência do contato pessoal entre o criador e a criatura foi suprida por emissários do PT, que continuaram indo a Curitiba, dia sim outro também, para receber instruções sobre os rumos da campanha. Aliás, se o resultado da eleição tivesse sido outro, a presença de Lula no governo Haddad seriam favas contadas: preso, Lula governaria o país da mesma maneira que dirige seu apodrecido partido; solto, certamente teria uma posição de destaque no Ministério de seu poste.

Também como parte da estratégia de transformar a eleição em plebiscito, Lula tentou emplacar Dilma como senadora, para que, com a legitimidade outorgada pelos eleitores mineiros, continuasse defendendo as “realizações” de seu governo e a narrativa de que seu impeachment foi um golpe — falou-se até que ela seria a nova presidente do Senado. Mais uma vez, porém, “faltou combinar com os russos”: a anta não foi eleita e o poste foi varrido pelo tsunami antipetista e antilulista representado pelos 57,8 milhões de votos obtidos por Jair Messias Bolsonaro.

Engana-se redondamente quem acha que o PT aprendeu a lição. Mesmo derrotado por um sentimento majoritário antilulista, a associação criminosa travestida de partido tenta manter a liderança da esquerda brasileira anunciando uma oposição sem trégua ao novo governo. Haddad, pasmem, continua insistindo no ramerrão da “prisão injusta” de Lula. A presidente nacional da legenda, Gleisi Hoffmann, chegou mesmo a dizer, na véspera do segundo turno, que o indulto seria o presente ideal para o criminoso de Garanhuns (que completava 73 anos naquele dia).

As urnas deixaram bem claro o que pensam do discurso petista 57.797.847 eleitores, a exemplo do que fizeram o senador Cid Gomes (“Lula tá preso, babaca, vai fazer o quê?”) e o rapper Mano Brown, que mijaram no chope dos petistas ao denunciar os “equívocos” cometidos pela ORCRIM e seu distanciamento do povo. Mas quem pôs a cereja no bolo foi Ciro Gomes, ao declarar seu rompimento com o PT — que muito provavelmente ficará isolado na condição de oposição radical a qualquer preço (detalhes nesta postagem). O ex-governador do Ceará sinaliza que fará uma oposição mais equilibrada — até onde isso lhe for possível, dado seu notório temperamento explosivo —, que pode render frutos para sua liderança. 

Em última análise, a única chance de o PT voltar a se colocar como grande esperança do povo brasileiro seria um retumbante fracasso do governo Bolsonaro, mas isso já é outra conversa. Por essa e outras, o partido jogará no “quanto pior, melhor”, como sempre fez ao não votar em Tancredo Neves para presidente, não apoiar o governo de transição de Itamar Franco, não assinar a Constituição de 1988, não apoiar o Plano Real, e por aí vai.

Agora, diante do convite (e respectiva aceitação) feito a Moro para comandar a pasta da Justiça, a seita maldita, temendo pelo próprio rabo, alardeia uma suposta parcialidade do juiz Moro contra Lula — o que também tem precedentes: em em 1989, depois de ter sido derrotado por Collor no segundo turno da primeira eleição direta pós redemocratização, o partido acusou o presidente eleito de estar pagando favores (depois que Collor convidou Francisco Rezek, ministro do STF que coordenara a eleição como Presidente do TSE, para a pasta das Relações Exteriores). Guardadas as devidas proporções, é isso que o PT faz agora, em mais uma lunática teoria conspiratória que vê na nomeação do magistrado a “prova cabal” de parcialidade na condução dos processos contra Lula. Mas basta ter olhos e isenção de ânimo para ver que é perfeitamente natural um candidato eleito em grande parte por defender a luta contra a corrupção e apoiar a Lava-Jato convidar o símbolo maior desse combate para integrar seu ministério .

Haveria muito mais a dizer, mas vejo agora que o texto já ficou longo demais. Para encerrar, relembro apenas que a partir de janeiro Moro deverá controlar a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Controladoria-Geral da União e parte do Coaf — hoje atrelado ao Ministério da Fazenda. Sua agenda será “anticorrupção” e “anticrime organizado”, segundo o presidente eleito, que prometeu ao escolhido “total liberdade” para indicar o primeiro escalão do que chamou de “superministério”, além de “caminho aberto” para ser indicado ao Supremo Tribunal Federal em 2020, na vaga que será aberta pelo atual ministro Celso de Mello.

Petralhada, tremei!