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quinta-feira, 26 de setembro de 2019

FRAUDES E MAIS FRAUDES — EM RIO QUE TEM PIRANHA, JACARÉ NADA DE COSTAS


AINDA HÁ TEMPO. CADA VEZ MENOS, PORÉM

Depois da popularização da computação doméstica, do acesso à Internet por usuários comuns e, principalmente, da disseminação do smartphone e outros dispositivos computacionais ultraportáteis, o número de malwares cresceu mais que a inflação da Venezuela, deixando-nos saudosos do tempo em que pragas digitais eram simples brincadeiras de programadores desocupados e que bastava reinstalar o Windows para tudo voltar aos eixos. 

Segundo relatório "Fast Facts" — da renomada empresa de segurança digital Trend Micro —, o Brasil é o 9° colocado no ranking de países com mais malware — 1,3 milhão de ameaças detectadas, um avanço de duas posições em relação ao estudo realizado no primeiro trimestre deste ano. O Japão lidera o ranking, com 8,7 milhões de ameaças, seguido por Estados Unidos (8,5 milhões) e Itália (com 2,3 milhões).

Os golpes digitais estão em constante evolução. Já não basta — se é que algum dia bastou — contar com uma suíte "Internet Security" para navegar despreocupado nas águas turvas da Web. Nenhum software, por mais rebuscado que seja, é "idiot proof" a ponto de nos proteger de nós mesmos. Afinal, de que adianta o antivírus alertar para possíveis problemas na execução de um arquivo ou na instalação de um app se simplesmente ignoramos a mensagem e damos sequência ao processo?

Os jovens tendem a ser mais inconsequentes, mas pesa em favor deles o fato de terem começado a usar smartphones e PCs antes mesmo de aprender a escrever. Já os idosos costumam ser mais fáceis de engabelar, talvez por não assimilar as novas tecnologias (cães velhos não aprendem truques novos) ou por pensar que ainda vivem nos tempos de D. João Charuto, quando acordos eram feitos no "fio do bigode" e sacramentados por um vigoroso aperto de mão.

Mais de 20 milhões de aposentados e pensionistas têm direito a empréstimos consignados, o que os torna atraentes aos olhos dos vigaristas, que só precisam obter o número do cartão de benefício para pedir tomar um empréstimo em nome do segurado e indicar a conta corrente de um laranja para o crédito do valor. Na maioria das vezes, a vítima só se dá conta da fraude quando a primeira parcela é descontada de seu pagamento.

Observação: Os golpistas costumam agir em municípios ou estados diferentes daquele onde a vítima é domiciliada, mas os funcionários, quase sempre mal remunerados e desmotivados, não se dão ao trabalho de cruzar a informações com o banco de dados do INSS.

Outras modalidades comuns de fraudes:

1) O estelionatário se posiciona junto aos caixas eletrônicos e observa a senha que o aposentado digita ao sacar o benefício (em muitos casos, familiares da vítima — filhos, netos, sobrinhos, genros e noras — se valem dos dados do aposentado para sacar dinheiro ou até comprar coisas em nome).

2) Os criminosos se apresentam às vítimas como vendedores e oferecem todo tipo de produto — quando a lábia é boa, e quase sempre é, os incautos lhes entregam de bandeja todo tipo de informação, cópias de documentos, cartão do benefício, e até assina documentos em branco.

3) No golpe do andamento processual, o idoso é procurado por falsos advogados que prometem apressar andamento do processo previdenciário na Justiça, liberar valores atrasados e até agilizar a concessão do benefício em agências do INSS.

4) No golpe do recadastramento, os vigaristas se passam por funcionários do INSS e, a pretexto de um falso recadastramento, apropriam-se de dados sigilosos, como número da conta bancária e da senha do aposentado.

— Em caso de dúvida na operação do caixa eletrônico, o segurado deve se dirigir a um funcionário do banco, ou seja, nunca aceitar ajuda de pessoas não autorizadas, por mais "distintas, gentis e bem-intencionadas" que elas pareçam ser.

— Em hipótese alguma o segurado de fornecer a terceiros o número do benefício e a senha do cartão, nem tampouco permitir que terceiros examinem seu cartão sob qualquer pretexto, já que os vigaristas são habilidosos e podem trocar a mídia sem que a vítima perceba.

— Ao escolher uma senha, deve-se fugir do previsível (data de nascimento, placa do carro, número do telefone, etc.); se for preciso anotá-la, deve-se fazê-lo longe das vistas de terceiros. O papel deve ser guardado separado do cartão, em local seguro (por incrível que pareça, tem gente que cola a senha com durex no verso do cartão).

— Em caso de perda do cartão magnético, o segurado deve comunicar o fato à central de atendimento do banco e solicitar o devido cancelamento. Em caso de furto ou roubo, é preciso registar a ocorrência na delegacia policial mais próxima de onde o fato ocorreu e enviar uma cópia à agência do INSS onde o benefício é mantido.

— Ao utilizar caixas eletrônicos, deve-se dar preferência às praças de autoatendimento das agências bancárias. Na impossibilidade, caixas eletrônicos em shoppings, lojas de conveniência e postos de gasolina também são uma opção, desde que utilizadas em horários em que haja grande movimentação de pessoas no entrono (dificultando a abordagem, após o saque, por um assaltante de plantão).

— Em caso de retenção do cartão no interior da máquina, deve-se pressionar a tecla a tecla "anula" e comunicar imediatamente o fato ao banco, utilizando o telefone instalado na própria cabine. Jamais se deve usar celulares de terceiros para fazer essa comunicação, pois a senha fica registrada na memória do aparelho, dando ao fraudador a possibilidade de agir.

— Aposentados e pensionistas não devem fornecer dados pessoais nem documentos a pessoas estranhas que os procurem para oferecer financiamentos, produtos, revisão de benefícios e liberação de pagamentos atrasados, bem como desconfiar sempre de quem se apresenta em nome de banco ou do INSS (funcionário).

— Qualquer suspeita deve ser denunciada imediatamente à Ouvidoria do INSS pelo telefone 135 (ou pelo site www.previdencia.gov.br), à polícia, ou diretamente na agência da Previdência Social da região. Convém anotar e guardar tudo que possa servir como prova (documentos, cartões de visita, papéis). Se confirmada a ocorrência de fraude, o INSS adota providências imediatas junto à instituição financeira, que tem 10 dias para solucionar o problema, interromper o desconto e devolver os valores (corrigidos) ao segurado.

De acordo com Banco Central, a verificação da identidade do segurado que solicita o empréstimo consignado é de responsabilidade de cada instituição bancária. O segurado que receber um empréstimo não solicitado deve contatar a instituição que o concedeu e solicitar os dados bancários para a devolução do valor recebido (é obrigação dos bancos receber o valor de volta e cancelar a operação imediatamente, sem qualquer custo).

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

CRISE? QUE CRISE?



Enquanto falta dinheiro para comprar giz para as escolas e gaze para os hospitais — e Bolsonaro sugere espaçar as idas ao banheiro para economizar papel higiênico —, nossos colossos togados confundem recursos protelatórios e chicanas com o pleno direito de defesa que assiste aos réus. Como se não bastasse, os doutos decisores decidem em flagrante desacordo com os interessas da sociedade e, entre uma sessão e outra, banqueteiam-se, a expensas do Erário, com lagosta na manteiga queimada, bacalhau à Gomes de Sá, frigideira de siri, moqueca, arroz de pato, carré de cordeiro, medalhões e “tournedos de filé”. Tudo regado a uísques e vinhos importados e premiados, naturalmente.

Escusado repetir (mais uma vez) por que considero a atual composição do STF a pior de toda a história. A quem interessar possa, esta postagem e a subsequente dão uma boa ideia da suprema agonia, e mais dois textos — igualmente ilustrativos — as complementam (tome uma dose cavalar de Plasil e clique aqui e aqui degustá-los). Mas não posso me furtar a relembrar que, graças ao folclórico "nós contra eles" de Lula e seu bando, a cizânia dividiu a sociedade e se espalhou como metástase pela alta cúpula do Judiciário, transformando o Brasil na única democracia do mundo formada por 13 poderes: o Executivo, o Legislativo e os 11 ministros supremos, que agem como se cada qual fosse dono da verdade e de seu próprio tribunal.

A divisão em alas "garantista" e "punitivista" azedou o relacionamento entre os togados supremos. Como se não bastassem os embates verbais (para não dizer bate-bocas) entre Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, dignos de cortiço de quinta categoria — num deles, Barroso acusou Mendes (e não se razão, mas isso já é outra conversa) de ser “uma pessoa horrível, uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia” —, agora o presidente e o vice-presidente da corte quase não se falam.

Toffoli integra a ala "garantista", que defende a impunidade a pretexto de resguardar o direito dos réus; Fux, a dos "punitivistas", favorável ao cumprimento antecipado da pena em nome do combate à impunidade. Segundo matéria publicada na revista Época, os membros desse grupo são chamados pejorativamente pelos do outro time de "iluministas". O relacionamento entre os dois está a tal ponto estremecido que não houve, durante o último recesso, a tradicional divisão do plantão: o presidente dos togados preferiu ficar ele próprio responsável por todas as decisões urgentes do período, inclusive aquela em que, a pretexto de proteger Flávio Bolsonaro, sobrestou todos os demais processos baseados em dados compartilhados pelos órgãos de fiscalização e controle sem autorização judicial.

Não se espera que um juiz — qualquer juiz — decida visando agradar a gregos e troianos, mas que julgue em conformidade com a legislação vigente. Por outro lado, a intenção do legislador nem sempre está expressa de forma clara e na letra fria da lei, daí os magistrados se valerem da "hermenêutica" termo que o jargão jurídico emprestou do religioso para definir a interpretação dos textos legais à luz do "espírito" da lei, ou seja, visando inferir o alcance das intenções do legislador.

Interpretar a lei não significa legislar, como deveriam saber os togados supremos — e muitos de seus pupilos nas instâncias inferiores — que parecem achar que, se limites existem, é para que sejam ultrapassados. Agem como se dirigissem em alta velocidade, imbuídos da certeza de que nenhum policial rodoviário se atreveria a multá-los; afinal, eles são supremos, inatingíveis, incontestáveis, irretorquíveis e incriticáveis.

Quiseram os constituintes de 1988 que coubesse ao supremo o direito de errar por último, e à plebe ignara, que paga os altos salários e banca suas escandalosas mordomias dos decisores, o papel de ovelha de presépio.

Como quase tudo mais neste mundo, a política funciona como uma via de mão dupla. Em junho, um pacto institucional celebrado entre os chefes dos Poderes impediu a queda do castelo de cartas tupiniquim. Bolsonaro correu risco real de ser apeado da Presidência, do que se pode inferir que nem todas as conspirações palacianas são fruto da paranoia e da imaginação fértil do capitão e seus pimpolhos.

Observação: Em entrevista a VEJA, o ministro Dias Toffoli confirmou que o Brasil esteve à beira de uma crise institucional entre os meses de abril e maio, e disse que sua atuação foi fundamental para pôr panos quentes numa insatisfação que se avolumava. A combinação explosiva envolvia setores político e empresarial e militares próximos a Bolsonaro. No Congresso, a reforma da Previdência não avançava, e o Executivo acusava os deputados de querer trocar votos por cargos e verbas públicas. O impasse aumentou quando um grupo de parlamentares resolveu desengavetar um projeto que previa a implantação do parlamentarismo — se aprovado, Bolsonaro se tornaria uma figura decorativa, um presidente sem poder (ou um "banana", nas palavras do próprio presidente).

Mas não existe almoço grátis: o pacto conteve a insurreição, mas tornou nosso indômito presidente refém da nova agenda política, cujo objetivo é travar a Lava-Jato e seus desdobramentos. Mutatis mutandis, o mesmo se deu quando Temer comprou o apoio das marafonas do Câmara para se escudar das "flechadas" do ex-PGR Rodrigo Janot. Por uma via, o vampiro do Jaburu se segurou no palácio; por outra, tornou-se um presidente "pato-manco" — ou "lame duck", que é como os americanos se referem a políticos terminam o mandato tão desgastados que os garçons palacianos demonstram seu desprezo servindo-lhes o café frio. E foi parar na cadeia poucos meses depois de descer a rampa do Planalto.

É, a vida tem dessas coisas.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

ACREDITE EM NADA DO QUE OUVE E EM METADE DO QUE LÊ. MESMO ASSIM...



Como costuma dizer o ministro Marco Aurélio, vivemos tempos estranhos (na verdade, essa frase é de Platão, mas isso não vem ao caso). Temos um presidente da república eleito porque era a única alternativa à volta do PT ao poder, mas que vem se mostrando tão despreparado para exercer o cargo quanto seu pimpolho para assumir a Embaixada do Brasil nos EUA. Havia alternativas menos extremistas no primeiro turno, mas agora não adianta chorar; o esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim achou por bem defenestrá-las e despachar justamente as duas piores para o embate final.

É certo que situações desesperadoras exigem medidas desesperadas, mas é igualmente certo que as consequências vêm depois. Colhemos o que plantamos, e quem semeia ventos colhe tempestades. E elas vêm em forma de disputa ideológica na política, produzindo paradoxos a torto e a direito.

Jair Bolsonaro era defensor incondicional da Lava-Jato, mas isso mudou quando as investigações chegaram ao gabinete de seu primogênito na Alerj, e entrou em choque branco com o ministro Sérgio Moro — um dos sustentáculos do seu governo — devido a críticas do presidente do Coaf à proibição de investigação sem autorização judicial (pedido da defesa de Flavio que foi acolhido pelo presidente do STF). Demais disso, quando Deltan Dallagnol tuitou um elogio às investigações sobre o ex-factótum do clã presidencial, Fabrício Queiroz, acusado de ser o operador do esquema, o capitão compartilhou em seu perfil oficial no Facebook um post chamando o procurador de "esquerdista estilo PSOL", como se fosse possível Deltan ser esquerdista e, ao mesmo tempo, o algoz de Lula.

Bolsonaro é apoiador incondicional de Mauricio Macri e contrário a Cristina Kirchner, a quem considera a versão portenha da ex-presidanta Dilma. À luz das primárias no país vizinho, porém, o capitão trombeteou que "não quer 'irmãos argentinos' fugindo para o Brasil se o resultado se confirmar em outubro", sem ter a sensibilidade de perceber que isso não ajuda Macri, que, diga-se de passagem, não é um radical de direita como nosso capitão-presidente.

Além de ser fã de metáforas envolvendo namoro, noivado e casamente, o presidente mostra que também tem um viés, digamos, escatológico: dias atrás, diante de uma pergunta que o incomodou, sobre como conciliar meio ambiente com desenvolvimento, respondeu: "É só você deixar de comer menos um pouquinho […] Você fala para mim em poluição ambiental. É só você fazer cocô dia sim, dia não, que melhora bastante a nossa vida também". Na última segunda-feira, voltou ao tema: "Há anos um terminal de contêiner no Paraná, se não me engano, não sai do papel porque precisa agora também de um laudo ambiental da Funai. O cara vai lá, e se encontrar — já que está na moda — um cocozinho petrificado de um índio, já era. Não pode fazer mais nada ali. Tem que acabar com isso no Brasil." Mas adiante, comentando sua primeira colocação, disse que apenas respondeu uma “pergunta idiota de um jornalista”. Litteris: "Respondi que é só você cagar menos que com certeza a questão ambiental vai ser resolvida."

Perguntado sobre o próximo procurador-geral da República, a ser indicado por ele a próxima sexta-feira, disse o capitão que o futuro PGR "não pode atrapalhar a agenda de desenvolvimento do país" e deve saber "tratar as minorias como minorias". Ao ser questionado sobre o nome de Deltan Dallagnol para o cargo, respondeu que ainda não foi procurado. “Mande-o me procurar, por que não me procurou até hoje? É muito simples. Todos querem ser procurados. Eu não procurei ninguém. A caneta BIC é minha".

Falando na PGR, a procuradora Raquel Dodge anunciou nesta segunda-feira que prorrogou por mais um ano os trabalhos da força-tarefa de procuradores que atuam na Operação Lava-Jato no Paraná. Será mantido o orçamento de aproximadamente R$ 800 mil para gastos com pagamentos de diárias e passagens para procuradores e servidores que estiverem no trabalho de investigação, bem como a estrutura do grupo, composto por 15 procuradores, entre eles os quais Deltan Dallagnol. Esta é a quinta prorrogação dos trabalhos desde 2014, quando as investigações começaram. Passados cinco anos e desencadeadas 61 fases, as investigações da força-tarefa no Paraná resultaram em 244 condenações de 159 pessoas em 50 processos, por acusações de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, fraude à licitação e organização criminosa, entre outros crimes.

Dallagnol é alvo de nove ações no CNMP. Na reunião marcada para a manhã desta terça-feira, estavam pautadas a análise de uma reclamação disciplinar apresentada pelo senador Renan Calheiros e de um processo administrativo disciplinar (PAD) instaurado a pedido do togado supremo Dias Toffoli, bem como a possibilidade de apreciação de um terceiro expediente, aberto pela corregedoria do órgão para investigar se ele lucrou de forma irregular com palestras ministradas sobre a Lava-Jato. Nos bastidores, havia uma movimento orquestrado para não puni-lo pela forma como atuou nos processos contra boa parte da elite política e empresarial do país, revelada por Verdevaldo das Couves e seus compinchas — FOLHA/UOL, BandNews e Veja — com base no vazamento de mensagens supostamente trocadas pelos integrantes da força-tarefa, material esse que, nunca é demais lembrar, foi obtido criminosamente por hackers a partir de invasões das contas que os envolvidos mantinham no aplicativo Telegram.

Observação: Por unanimidade, o Conselho negou o recurso negou o recurso mediante o qual Dallagnol buscava reverter a abertura do PAD (as sanções que podem resultar de um processo administrativo disciplinar vão desde uma pena de censura até a aposentadoria compulsória). Numa outra votação foi decidido, também por unanimidade, aprovar um pedido de dois conselheiros para que seja revisto o arquivamento de uma reclamação disciplinar contra o coordenador da Lava-Jato.

Falando em Dias ToffoliVeja publicou uma entrevista com o dito-cujo. À guisa de introdução, a reportagem traz um texto pra lá de preocupante. É certo que a prudência recomenda acreditar em nada do que se ouve e em metade do que se lê, mas mesmo assim eu achei por bem compartilhar com meus leitores um excerto dessa matéria:

Em entrevista a VEJA, o ministro confirmou que o Brasil esteve à beira de uma crise institucional entre os meses de abril e maio — e disse que sua atuação foi fundamental para pôr panos quentes numa insatisfação que se avolumava. Toffoli não deu muitos detalhes, mas a combinação explosiva envolvia uma rejeição dos setores político e empresarial e até de militares ao presidente Jair Bolsonaro. O cenário, de fato, era preocupante naquele momento. No Congresso, a reforma da Previdência, a principal e mais importante bandeira econômica da atual administração, não avançava. O governo, por sua vez, acusava os deputados de querer trocar votos por cargos e verbas públicas. O impasse aumentou quando um grupo de parlamentares resolveu tirar da gaveta um projeto que previa a implantação do parlamentarismo. Se aprovado, Bolsonaro seria transformado numa figura meramente decorativa, um presidente sem poder.

Em paralelo, vazamentos atribuídos ao MPF mostravam que a investigação sobre o senador Flávio Bolsonaro, o Zero Um, tinha potencial para gerar mais constrangimentos e desgastes do que se supunha no início. A família presidencial teria se beneficiado da chamada “rachadinha”, um artifício ilegal empregado por políticos para embolsar parte dos salários de seus funcionários. Simultaneamente, uma ala do Exército começou a discutir a incapacidade do presidente de governar, enquanto outra, mais radical e formada por militares de baixa patente, falava em uma sublevação contra as “instituições corruptas”. Um dos generais próximos ao presidente chegou a consultar um ministro do Supremo para saber se estaria correta a sua interpretação da Constituição segundo a qual o Exército, em caso de necessidade, poderia lançar mão das tropas para garantir “a lei e a ordem”. Em outras palavras, o general queria saber se, na hipótese de uma convulsão, teria autonomia para usar os soldados independentemente de autorização presidencial.

Longe de Brasília, a insatisfação também era grande. Empresários do setor industrial incomodados com a paralisia da pauta econômica discutiam a possibilidade de um impeachment de Bolsonaro. O ideal, diziam, era que houvesse uma brecha jurídica que permitisse a convocação de novas eleições. Foram informados de que não havia brecha. Em caso de impedimento, assumiria o vice-presidente, o general Hamilton Mourão. “Se é para trocar, melhor que seja logo”, pregavam. Na época, Carlos Bolsonaro, o filho Zero Dois, afirmou que estaria em andamento uma conspiração golpista, apontando o dedo em direção aos militares que despacham no Palácio do Planalto, mas sem citar nomes.

Nas redes sociais, a pregação radical contra o STF também se intensificou. Grupos defendiam desde ações violentas até o afastamento de magistrados que supostamente estariam impedindo o governo de implementar projetos. Os ministros tinham a convicção de que os ataques eram insuflados pelo governo. No Senado, com o aval de lideranças partidárias, foram colhidas assinaturas para a criação da chamada “CPI da Lava-Toga”, cujo objetivo seria averiguar suspeitas de corrupção no Judiciário. O clima entre os poderes era de conflagração. O ponto de ebulição da crise tinha até data para acontecer: 10 de abril, dia em que o STF julgaria a legalidade das prisões em segunda instância, o que poderia resultar na libertação do ex-presidente Lula.

Quando o caldo ameaçou transbordar, o presidente Bolsonaro, o ministro Dias Toffoli, o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara, e o senador Davi Alcolumbre, presidente do Senado, além de autoridades militares, se reuniram separadamente mais de três dezenas de vezes para resolver o problema. Convencidos de que a situação caminhava em uma direção muito perigosa, costuraram um pacto que foi negociado em vários encontros. Resultado: no Congresso, o projeto do parlamentarismo voltou à gaveta, a CPI da Lava-­Toga foi arquivada e a reforma da Previdência se destravou. No Planalto, o vice-­presidente Hamilton Mourão reduziu suas barulhentas aparições públicas, e o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo, um dos alvos das suspeitas de Carlos Bolsonaro, foi demitido. No Supremo, Dias Toffoli pôs a polícia nos calcanhares de grupos que pregavam ações violentas contra os ministros, adiou o julgamento que poderia soltar Lula e concedeu uma liminar que paralisava as investigações sobre o senador Flávio Bolsonaro. A Praça dos Três Poderes ficou, ao menos momentaneamente, pacificada.

Por tudo o que se viu nos primeiros seis meses de governo Bolsonaro, não é exagero dizer que os cerca de 300 metros que separam o Planalto, o Congresso e o Supremo ainda são um campo minado. Neste segundo semestre, o STF será protagonista de uma agenda capaz de elevar a temperatura política a níveis de alta octanagem. De acordo com o que decidirem os ministros, o ex-presidente Lula poderá ser solto, o ex-juiz Sergio Moro ser considerado suspeito e processos que envolvem corruptos de vários matizes acabar anulados. Isso para falar apenas de três casos relacionados à Operação Lava-­Jato. O STF também vai definir, entre outros assuntos delicados, o destino da investigação sobre o senador Flávio Bolsonaro e concluir o julgamento que pode resultar na descriminalização de drogas como a maconha.

Toffoli terá a responsabilidade de conduzir essa agenda inflamável. Como guardião da lei, cabe ao Supremo o juízo final sobre qualquer assunto — goste-se ou não do veredicto. Em tempos de radicalismo extremo, manter o equilíbrio é uma tarefa complicada.

Como disse José Nêumanne, assumindo definitivamente o papel de Conselheiro Acácio de Marília sem um voto sequer, o novo condestável da República, presidente de plantão do STF, fez questão de entrar no coro dos descontentes com a Lava-Jato, dizendo que a popularíssima operação de combate à corrupção não é uma instituição, mas um fruto da “institucionalidade”. Aproveitando-se da ignorância generalizada, comparável com a sua própria, o apadrinhado de Lula acha que a instituição que preside, por obra e graça de sua vassalagem ao picareta dos picaretas, exerce o poder moderador que o imperador se autoconcedeu para se impor a liberais e conservadores que se revezavam no comando do parlamento monárquico. É uma mistura de mentira com desconhecimento e uma formidável cara de pau. Sobrando um tempinho, não deixe de assistir ao vídeo a seguir, no qual Caio Coppola analisa esses devaneios megalômanos do magistrado:


Alea jacta est.   

sexta-feira, 31 de maio de 2019

GOLPE VIA WHATSAPP E VERIFICAÇÃO EM DUAS ETAPAS


A VIDA É UMA SOMBRA ERRANTE; UM POBRE COMEDIANTE QUE SE PAVONEIA NO BREVE INSTANTE QUE LHE RESERVA A CENA, PARA DEPOIS NÃO SER MAIS OUVIDO. É UM CONTO DE FADAS QUE NADA SIGNIFICA, NARRADO POR UM IDIOTA CHEIO DE VOZ E FÚRIA.

Quando lançou o iPhone, Steve Jobs inovou a maneira como os celulares vinham sendo usados. Hoje, os diligentes telefoninhos não só são verdadeiros computadores de bolso como substituem o desktop e do notebook na execução de um sem-número de tarefas. 

Há atualmente no Brasil mais celulares do que habitantes, e o Google Android  se faz presente em 75% dos smartphones e tablets. Como popularidade e segurança não andam de mãos dadas, os ataques a esses dispositivos vêm se intensificando a cada dia.

Observação: Embora o iOS — sistema proprietário desenvolvido pela Apple para operar iPhones e iPads — abocanhe uma fatia de “apenas” 23% do mercado, a turma da Maçã não está livre desse tipo de ameaça, embora o risco seja bem menor.

O WhatsApp, por ter presença garantida na esmagadora maioria dos smartphones — tanto com Android quanto com iOS —, é largamente utilizado por cibercriminosos e cibervigaristas como trampolim para seus golpes. E de algumas semanas para cá o número de registros de uma nova modalidade de phishing vem crescendo assustadoramente.

A maracutaia se vale de anúncios em plataformas como OLX, WebMotors, ZapImóveis e Mercado Livre, embora as vítimas possam ser fisgadas de outras maneiras, já que o número do celular vem sendo solicitado para quase tudo, tanto no mundo virtual quanto no físico. Segundo a empresa de segurança digital Kaspersky, o esquema é bem simples: os cibercriminosos monitoram as plataformas de venda pela internet para mirar usuários que criaram um anúncio de venda. Com as informações do anúncio, eles se passam pela plataforma de vendas e enviam uma mensagem no WhatsApp para o alvo — algo como: “verificamos um anúncio recém postado, e gostaríamos de atualizar para que continue disponível para visualização” ou “devido ao grande número de reclamações referente ao seu número de contato, estamos verificando”. Ao final, eles informam à vítima que ela receberá um código via SMS, e que deverá informá-lo, também por SMS, para solucionar a questão. Assim que recebe o código — que na verdade é código de ativação da conta —, o fraudador dá início ao processo de ativação do WhatsApp da vítima em um novo celular.

Com pleno acesso ao histórico das conversas e lista de contatos e grupos da vítima, o vigarista envia mensagens para as pessoas que lhe parecerem mais promissoras (normalmente as dos grupos "família", "amigos" e assemelhados), pedindo um empréstimo para uma despesa urgente. Se o destinatário se dispõe a ajudar, o vigarista só precisa perguntar “qual o banco mais fácil” e depois enviar os dados da conta bancária de um laranja. Até a vítima recuperar o acesso ao WhatsApp, o golpista terá tido tempo suficiente para jogar a isca para dezenas de contatos.

Nos casos analisados, o teor das conversas iniciadas pelos criminosos muda de acordo com a pessoa que está sendo abordada, e as desculpas para empréstimos variam, com os pedidos sendo feitos para os mais diversos fins. Portanto, desconfie de pedidos de empréstimos feitos via WhatsApp e jamais os atenda sem antes entrar em contato com o solicitante, pessoalmente ou por telefone, mesmo que ele seja parente, amigo ou colega de trabalho. Adicionalmente, habilite a dupla autenticação do aplicativo mediante uma senha de seis dígitos. Assim, mesmo que obtenha o código de ativação da sua conta, o estelionatário só conseguirá transferi-la se fornecer também essa senha — vale lembrar que os dados do WhatsApp são vinculados ao SIM Card (chip da operadora), e não ao aparelho (hardware).

No Android, abra o menu do WhatsApp tocando no ícone dos três pontinhos, no canto superior direito da tela, e toque em Configurações > Conta. No menu que será exibido em seguida, selecione a opção Verificação em duas etapas. Ative-a, digite uma senha (PIN) de seis dígitos e confirme na próxima tela. Por fim, adicione um endereço de email de segurança.

Observação: É importante que você utilize um endereço de e-mail vinculado à conta do WhatsApp para ter uma garantia a mais quando for registrar o número em outro aparelho. Além disso, se você esquecer os números que escolheu para o PIN, poderá utilizar o e-mail escolhido para receber um código, que lhe garantirá acesso ao aplicativo.

No iOS, abra o WhatsApp em seu iPhone e, na barra inferior, toque em Ajustes, vá em Conta, selecione Verificação em duas etapas, toque em Ativar, digite o PIN, confirme e informe o email de segurança.

Se as informações desta postagem não forem suficientes, sugiro assistir a este vídeo.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

GOLPE NO WHATSAPP USA BOLSONARO COMO ISCA


OS POLÍTICOS FAZEM CAMPANHA EM POESIA, MAS OS QUE SE ELEGEM GOVERNAM EM PROSA.

Interrompo a sequência que venho publicando sobre segurança no smartphone para alertar o leitor sobre um problema de... segurança. Vamos a ele.

Como sabemos, cibervigaristas valem de qualquer coisa que lhes possa servir para engabelar as vítimas. Um bom exemplo são as datas comemorativas (Natal, dia das Mães, Páscoa, etc.), mas acontecimentos episódicos, sobretudo aqueles que chamam muita atenção, também são largamente utilizados. E nada chama mais nossa atenção, no momento atual, do que as eleições presidências.

Se você receber mensagens sobre política pelo WhatsApp ou qualquer outro meio digital, não as repasse sem antes verificar a origem e a procedência das informações que elas trazem — quando nada, isso ajuda a coibir a proliferação das fake news. Mas convém ter em mente que, além de servirem para confundir os eleitores, notas chamativas sobre este ou aquele candidato podem ocultar armadilhas digitais, como é o caso de um golpe que vem sendo propagado através do WhatsApp.

De acordo com o laboratório de segurança da PSafe, os cibercriminosos enviam uma mensagem alardeando a morte do candidato Jair Bolsonaro (que continua internado no hospital Albert Einstein). Para agregar confiabilidade, o texto informa que a Globo teria confirmado o óbito do presidenciável junto à direção do hospital e — a cereja do bolo — oferece um link no qual o destinatário deverá clicar para obter mais informações. Esse link (veja na imagem que ilustra esta postagem) parece mesmo remeter ao site da emissora, mas basta clicar nele para disparar a instalação de um spyware (software espião) programado para capturar senhas bancárias, números de cartões de crédito, e por aí afora.

Faça como os jacarés, que nadam de costas quando tem piranha no rio: jamais clique em links recebidos por email, programas mensageiros e redes sociais — se não for possível resistir à curiosidade, cheque ao menos o título das supostas matérias utilizando o Google Search, o Bing ou outro buscador de sua preferência.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

CUIDADO COM APPS MALICIOSOS NO GOOGLE PLAY


NUNCA ENCONTREI UMA PESSOA TÃO IGNORANTE QUE NÃO PUDESSE TER APRENDIDO ALGO COM A SUA IGNORÂNCIA.

A ESET, empresa de cibersegurança de detecção proativa de ameaças, alerta que golpistas estão usando truques cada vez mais sofisticados para fazer com que seus aplicativos fraudulentos no Google Play pareçam confiáveis aos olhos dos usuários. Um dos truques com maior impacto na confiança do usuário consiste em modificar o nome do desenvolvedor dos apps e substituí-lo pela suposta quantidade de instalações.

O laboratório de pesquisa da empresa analisou centenas de aplicativos que enganavam os usuários sobre sua verdadeira funcionalidade, e verificou que o verdadeiro propósito da maioria deles era exibir publicidade.

A possibilidade de colocar a quantidade de downloads motivou alguns falsos desenvolvedores a inserirem números exorbitantes. Um desenvolvedor de jogos, por exemplo, simula que seu app foi instalado mais de cinco bilhões de vezes (no ranking de aplicativos com mais downloads, apps como do Google Play, Gmail, Facebook, Skype, WhatsApp, etc. se enquadram na categoria com mais de um bilhão de instalações).

A ESET identificou também que, depois de algum tempo, determinados desenvolvedores deixaram de colocar o falso número de downloads na descrição e voltaram a usar o nome de desenvolvedor. Isso pode indicar que o truque mencionado anteriormente foi uma medida temporária, com a intenção de aumentar a popularidade de um aplicativo novo no Google Play.

Além de manipular o nome do fabricante, alterando-o para supostos números de instalação, alguns autores também manipularam as descrições para transmitir legitimidade, com frases como "Apps legítimos", "aplicativos verificados" e "Desenvolvedores de aplicativos confiáveis". Há até quem incorpore símbolos para passar a impressão de veracidade, como aqueles usados nas contas de celebridades ou marcas conhecidas nas redes sociais. Esses símbolos foram incluídos de diversas maneiras, tanto nos ícones dos aplicativos quanto nos nomes dos desenvolvedores. E como o Google Play não oferece um serviço de verificação para a conta do desenvolvedor, qualquer aplicativo que apresente uma marca desse tipo deve ser considerado suspeito.

Os truques descritos podem parecer simples formas de enganar os usuários, mas eles ganham força à medida que os apps são escolhidos por sua popularidade. Embora nenhum desses programas fosse totalmente malicioso, essas técnicas fraudulentas podem ser facilmente utilizadas por desenvolvedores de malwares.

ESET recomenda aos usuários levar em consideração apenas o número de instalações de cada aplicativo que aparece na página do Google Play, pois esse é o número oficial. Ele é exibido na seção "informações adicionais", na parte inferior da página. Também é preciso ter em mente que o Google Play não usa a marca "Verificação" para indicar a legitimidade de um aplicativo (embora possua a categoria "Escolha do Editor").

Adicionalmente, convém ler as opiniões dos usuários antes de fazer o download de um aplicativo. Se ele tiver um número baixo de instalações reais e/ou tiver sido lançado nos últimos dias, é preferível deixar que outros usuários o experimentem, independentemente do quanto você deseja fazer o download.

Fonte: IDG NOW!

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domingo, 22 de julho de 2018

MAIS SOBRE POLÍTICA, CENÁRIO ELEITORAL E PROPAGANDA GRATUITA NO RÁDIO E NA TV



Mesmo em fim de mandato, com índices de popularidade abissais, sem credibilidade nem apoio parlamentar, o presidente Michel Temer resolveu ir à Ilha do Sal, na última terça-feira, para participar da Cúpula de Chefes de Estado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Como o país está sem vice e tanto Rodrigo Maia quanto Eunício de Oliveira planejam concorrer à reeleição, coube a ministra Cármen Lúcia assumir interinamente o timão da Nau dos Insensatos.

Observação: Os presidentes da Câmara e do Senado precedem a chefe do Supremo na linha sucessória, mas as regras do jogo eleitoral os impedem de disputar eleições se ocuparem a Presidência nos 180 dias que antecedem o pleito eleitoral — a menos que tencionem concorrer ao Planalto. Daí ambos terem inventado um compromisso oficial qualquer no exterior, o que, no caso específico de Rodrigo Maia, comprova que sua pré-candidatura à Presidência é uma falácia, servindo apenas para valorizar o apoio do DEM a um candidato com chances reais de vencer a eleição.

A ministra já substituiu o presidente em abril e junho deste ano, quando acumulou os cargos (como fez Lewandowski antes dela, durante o governo nada saudoso da anta vermelha). Desta vez o decano Celso de Mello assumiu o plantão no STF, já que o vice-presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, estava em férias na Europa. A questão é que ele retorna neste final de semana, e assim poderá assumir o plantão do STF durante a viagem de Temer, entre os dias 23 e 27. Daí o boato de que o PT aposta na passagem do ministro-cumpanhêro pela presidência da Corte para, mais uma vez, tentar soltar o demiurgo de Garanhuns.

Observação: Assim como o hábito não faz o monge, a toga presenteada não legitima o magistrado ou torna jurista que nunca passou de rábula. Costuma-se imaginar os ministros do Supremo como pessoas ilibadas, de passado imaculado, cuja retidão incontaminável é o sustentáculo do Judiciário. Agora, porém, qualquer filósofo de botequim sabe como funciona o Supremo e que os ministros são escolhidos de acordo com a preferência do presidente da República da vez ou de partidos que o apoiam, e não raro procuram retribuir o favor satisfazendo os desejos de seu patrocinador ou interesses outros que não os da Justiça. Quem comanda esse circo não é a lei inexorável, mas a vontade imutável do juiz.

O que leva Temer a essas viagens oficiais é uma história à parte, já que ele não passa de um pato-manco em fim de mandato, um presidente altamente impopular, sem apoio parlamentar e com uma penca de explicações a dar ao Judiciário quando deixar o cargo. Mas isso é conversa para outra hora.

Falando em viagens estapafúrdias, Gleisi HoffmannDilmanta e mais uma penca de militantes petistas viajaram a Cuba para participar do Foro de São Paulo — movimento que reúne partidos da esquerda de diversos países. Como sempre, o propósito é denunciar as “arbitrariedades e injustiças contra seu amado líder”. É claro que nem a Velhinha de Taubaté engoliria essa falácia de perseguido político condenado sem provas, mas a cegueira mental dos comunas reunidos em Cuba os leva a sorver cada palavra do discurso do bando com a sede de um beduíno, a despeito dos 125 recursos negados ao bandido de Garanhuns nas quatro instâncias do Judiciário. Enfim, parafraseando José Saramago"a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram; não há nada que se possa fazer a respeito".

Mas o circo de horrores não para por aí: somos você, eu e os demais “contribuintes” que patrocinamos a cerimônia do "beija-mão" dos parlamentares cumpanhêros que visitam Lula na cadeia. As despesas são pagas com dinheiro da Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar”, que deveria se limitar a reembolsar as passagens de ida e volta entre Brasília e os estados que os congressistas representam. Cito como exemplo os deputados Paulo Pimenta — um dos que articularam a mutreta para soltar o molusco durante o plantão do desembargador Favreto — e seu colega José Guimarães, que foram pedir a bênção ao titio petralha à expensas do Erário, malgrado seus estados de origem sejam o Grande do Sul e o Ceará, respectivamente.

E quem acha que já viu tudo em matéria de indecência na compra descarada de votos para barrar as denúncias contra Michel Temer no Congresso não pode deixar de acompanhar os próximos acontecimentos. Até o dia 5 de agosto os candidatos venderão a alma ao diabo em troca de apoio de outros partidos, visando aumentar o tempo no rádio e na TV. Às favas, portanto, com a ideologia e os programas de governo. Viva a hora da xepa, onde muita coisa podre será oferecida a peso de ouro.

Para encerrar esta conversa, engana-se quem imagina que famigerada propaganda eleitoral gratuita”, que nos aporrinha de dois em dois anos, é bancada pelas emissoras de rádio e televisão. Explicando melhor: existe uma tabela de preços pelo tempo de exposição utilizado pelos partido, mas eles não pagam por isso, de modo que seria de imaginar que o ônus recaísse sobre as próprias emissoras. Até porque o direito de transmissão tem caráter de serviço público e é explorado pela União, diretamente ou mediante concessão. Então, no momento em que recebessem a concessão, as emissoras já estariam comprometidas com os custos da propaganda partidária eleitoral, não havendo que falar em direito à remuneração pelo espaço cedido aos partidos políticos, certo? Errado: nossos sábios legisladores criaram uma lei segundo a qual “as emissoras de rádio e televisão terão direito à compensação fiscal pela cedência do horário gratuito previsto nesta lei”. 

Dados da Receita Federal dão conta de que a compensação fiscal concedida às emissoras pela transmissão da propaganda eleitoral custou aos cofres públicos, em 2010, a bagatela de R$ 850 milhões. Então, quando o programa a que você estiver assistindo for interrompido pelo horário político obrigatório, comemore. Você é que está pagando a conta.

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