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sábado, 25 de agosto de 2018

O NAUSEABUNDO CENÁRIO POLÍTICO — QUARTA PARTE



Menos da metade dos treze candidatos a presidente registrados no TSE têm chances reais de passar do primeiro turno, mas os partidos nanicos insistem em manter no pleito postulantes como Guilherme Boulos, Cabo Daciolo, João Amoedo, João Goulart Filho e Vera Lucia — sem falar em Eymael, que ressurge das cinzas a cada 4 anos para tentar a sorte nas urnas e nos aporrinhar com seu jingle-chiclete. E com os extremados de esquerda e direita definidos como franco-favoritos e o centro do espectro político sem um representante que cative o eleitorado, é quase impossível prever quem disputará o segundo turno.

O sentimento de revolta social fomenta os votos nulos, brancos e abstenções, quando o ideal seria que estimulasse os descontentes a optar pela renovação — que, como vimos no segundo capítulo desta novela, fica ainda mais difícil porque as regras do jogo político favorecem quem tem mandato e dificultam o ingresso de outsiders. 

Pelas sondagens de intenção de voto, se Lula não estivesse preso e inelegível, seu retorno ao Planalto seriam favas contadas (é doloroso admitir uma coisa dessas, pois equivale a dizer que a maioria da população brasileira é incapaz de encontrar o próprio rabo usando as duas mãos e uma lanterna). Mas há se levar em conta o fato de que o petralha domina o panorama político brasileiro há mais de duas décadas, e isso faz com que, quando ele não aparece, a indecisão do eleitorado aumente, levando dúvidas aos investidores sobre os rumos da economia.

A inelegibilidade do demiurgo de Garanhuns é chapada, como a classificou o ministro Luís Roberto Barroso. E o PT tem consciência disso, mas continue insistindo em sua aleivosia, mesmo que a cassação do registro do pulha já não seja uma questão de “se”, e sim de “quando”. Paralelamente, o bando trabalha para eleger a maior bancada possível no Congresso — fala-se que a orientação é no sentido de que nomes de ponta e destaque no partido não se aventurem em eleições que não tenham garantia de vitória, ou seja, que não troquem o certo pelo duvidoso —, e as chances de êxito são consideráveis, sobretudo no Nordeste, onde Lula é mais popular que o “Padim Padi Ciço”.

Em tese, a exposição das entranhas pútridas da política pela Lava-Jato deveria ter ceifado as pretensões eleitorais dos maus políticos. A questão é que muitos investigados estão ligados à máquina partidária, e os partidos brasileiros se tornaram oligarquias, ou seja, são dirigidos por poucos — e esses poucos controlam tudo com mão de ferro, impondo candidaturas e definindo alianças (como o próprio Lula vem fazendo de dentro da carceragem da PF). É certo que política e corrupção sempre andaram de mãos dadas, mas de uns tempos a esta parte a metástase se espalhou pelos Três Poderes.

Temer foi denunciado duas vezes por crimes comuns, e as investigações só não foram adiante graças à compra do apoio das marafonas da Câmara. Resultado: ele continua no poder, ainda que sem poder algum e cercado de ministros e assessores que são alvo de investigações. No Legislativo, sobram deputados e senadores com contas a acertar com a Justiça, enquanto que no próprio Judiciário — última esperança dos cidadãos de bem deste país — ministros supremos se digladiam como galos de rinha e põem em liberdade criminosos presos pela Lava-Jato e condenados por juízes e desembargadores que honram seus cargos.

O PT é uma choldra de imprestáveis a desserviço do estado democrático de direito, mas sempre tem quem diz política é assim mesmo, que nenhum partido presta, e blá, blá, blá. Do alto da minha insignificância, sempre achei que política e honestidade são conceitos mutuamente excludentes, mas, convenhamos: Lula e sua ORCRIM superaram todas as expectativas. Sua insistência em manter candidatura do criminoso, de transformar sua cela em comitê eleitoral, de berrar aos quatro ventos que impedi-lo de participar das eleições é “golpe” — como também o foi, na visão dessa caterva, o impeachment da anta vermelha — é cuspir na cara dos cidadãos de bem.

Pior ainda é a conivência de autoridades com o tratamento dispensado ao esmegma vermelho — a pretexto da dignidade do cargo que ele ocupou, mas que na verdade desonrou ao se tornar o primeiro ex-presidente do Brasil preso devido à prática de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Que dignidade, cara pálida?

A senadora Gleisi Hoffmann, atual presidente nacional da ORCRIM, vem incitando a militância a partir para o “tudo ou nada” e levar a candidatura de Lula “até o fim”, de modo a evitar que ele seja substituído na chapa quando o TSE o declarar inelegível. Para o PT, interessa que o molusco apareça nas urnas, a despeito do risco de a Justiça vetar a manobra ou não computar os votos (possibilidade remota, mas real). Em conversas com aliados, Gleisi estimula o “enfrentamento” e o acirramento do caos jurídico e político em torno do presidiário, e o pior é que todo mundo vê e ninguém faz nada.

Nem sei como ainda tenho estômago para escrever sobre política. A única explicação que me ocorre é que não quero ver o Brasil se transformar numa Venezuela, onde o salário mínimo corresponde a menos de US$ 1 e mal dá para comprar um frango (a inflação estimada para este ano é de 1.000.000%!) Dias atrás, li um desabafo parecido do jornalista Mário Sabino, que fazia referência a um chiste de Millôr Fernandes sobre a profissão: Se deixarmos, acaba como na Rússia. Lá toda a imprensa é comunista. Não raro, porém, onde se enxerga comunismo há somente patetice ou conveniências contábeis. O mesmo vale para ideologias antípodas.

Não escolhi ser jornalista de política — escreveu Sabino —, pelo menos não conscientemente. E nem eu. Aliás, ainda prefiro escrever sobre informática e culinária, mas vejo com preocupação a situação da Venezuela, e a possibilidade do “efeito Orloff” me faz respirar fundo e seguir adiante.

O futuro da candidatura de Lula está nas mãos do ministro Barroso, um dos mais contundentes defensores da aplicação da Lei da Ficha-Limpa — que na verdade é a Lei Complementar nº 135 de 2010, criada (vejam que ironia!) por iniciativa popular e sancionada pelo próprio Lula. A princípio, o projeto previa que uma condenação em qualquer instância do Judiciário tornaria o réu inelegível, mas o texto aprovado vinculou a inelegibilidade à condenação por um juízo colegiado. 

Lula foi condenado em segunda instância (por um juízo colegiado, portanto) e exauriu todos os recursos e apelações que a Justiça lhe facultava no âmbito do TRF-4. Por conseguinte, fica difícil entender o motivo de tanta celeuma, ao menos do ponto de vista jurídico, pois não há que se falar em decisão salomônica ou outra bobagem que tal; é fazer cumprir a lei e ponto final.

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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

ELEIÇÕES — RETROSPECTO E PREVISÕES



Em 2 de outubro de 2016, exatos 32 dias depois que Dilma foi definitivamente penabundada do Planalto, o PT perdeu mais da metade das prefeituras que tinha em 2012. Nas capitais, só conseguiu emplacar um comparsa em Rio Branco (AC) e levar outro ao segundo turno no Recife; nos 645 municípios paulistas, elegeu apenas 8 prefeitos — contra 72 que havia emplacado em 2012.

O cenário atual é bem diferente, mas ainda mais alarmante: a dois meses do primeiro turno, 35 partidos com pouca ou nenhuma representatividade popular fazem alianças baseadas na conveniência e no oportunismo, dê olho nos votos de um eleitorado apático, descrente da política e dos políticos. Para piorar, desde o ano passado que as pesquisas de intensão de voto apontam como “preferidos do eleitores” um esquerdista preso e um extremista de direita — e ambos, cada qual a sua maneira, regurgitam discursos que ameaçam nossa frágil democracia.

O PT desafia o Judiciário com a candidatura de um condenado que cumpre pena por corrupção e lavagem de dinheiro. No outro extremo do espectro político, o dublê de deputado e capitão reformado do Exército diz sentir saudades da ditadura e exibe um despreparo desconcertante para lidar com questões vitais para o país, como economia, educação e saúde. Ambos contam com milhões de seguidores — cuja fidelidade canina chega às raias do fanatismo religioso.

Lula precisa permanecer “candidato” para continuar ditando os rumos do partido e não acabar relegado ao esquecimento na cela em que se encontra. Daí sua insistência de negar o plano B, ora consubstanciado na bizarra chapa tríplice onde Haddad subirá de posto quando o TSE finalmente negar a candidatura do molusco, e Manuela d’Ávila, que abriu mão de sua improvável candidatura pelo PCdoB, passará a vice da chapa petista. Os mais maldosos garantem que o PT só descartou uma coligação com o PCC porque Marcola, a exemplo de Lula, está na cadeia e Gegê do Mangue foi morto no início do ano.

Em suma: Para ser candidato, Lula precisa continuar preso, tanto que sua defesa abriu mão da possibilidade de o petista ganhar liberdade diante da chance de o STF declará-lo inelegível desde já.

O prazo para a Justiça Eleitoral se pronunciar acerca da inelegibilidade dos candidatos termina em 17 de setembro. Segundo o presidente do TSE, Lula não é um candidato sub judice, mas sim um candidato inelegível: “não pode concorrer um candidato que não pode ser eleito; aqueles que já tiveram sua situação definida pela Justiça não são candidatos sub judice, são candidatos inelegíveis”, afirmou o ministro Luiz Fux.

Como se não bastasse todo esse imbróglio, 60% dos eleitores estão em dúvida sobre anular o voto, votar em branco ou simplesmente não comparecer às urnas. Mas não é só: no Brasil, 29% de jovens e adultos de 15 a 64 são considerados analfabetos funcionais — 8% são analfabetos absolutos e 21% estão no nível considerado rudimentar (os dados são do Datafolha).

Sempre que o brasileiro buscou um salvador da pátria, a vaca foi para o brejo. Basta relembrar as eleições de 1989, quando Collor foi eleito, e de 2002, quando Lula finalmente conseguiu se eleger. Em ambas ocasiões — como agora — o eleitorado estava frustrado com as experiências anteriores e buscava soluções fáceis, que se revelaram apenas ilusões. Em sua coluna do último sábado, Merval Pereira relembra que, na primeira eleição direta pós redemocratização, o país, que havia amargado a morte de Tancredo — outro que parecia o salvador da pátria, mas não teve tempo de ser testado —, levou para o segundo turno ninguém menos que o caçador de marajás de araque e o demiurgo de Garanhuns.

Collor venceu, e Lula reconheceu mais tarde (em 2010) que não estava preparado para presidir o país: “Hoje eu agradeço a Deus por não ter ganhado em 1989, porque eu era muito novo, muito mais radical do que eu era em 2002 e, portanto, eu poderia ter feito bobagem, não porque eu quisesse fazer, mas pela impetuosidade, pela pressa de fazer as coisas”. Mas o caçador de marajás de araque também não era boa bisca, tanto que renunciou para evitar a cassação (mas perdeu os direitos políticos mesmo assim). O hoje candidato ao governo de Alagoas não faz autocrítica, mas já lamentou não ter sabido lidar com o Congresso — ao contrário de Lula, como atestam o Mensalão e o Petrolão, e de Temer, como ilustra a ultrajante compra de votos para barrar as denúncias da PGR. Mas isso já é outra história.

Dos vinte e tantos pré-candidatos ao Planalto, restaram no páreo Álvaro Dia (Podemos); Cabo Daciolo (Patriotas); Ciro Gomes (PDT); Geraldo Alckmin (PSDB); Guilherme Boulos, (PSOL); Henrique Meirelles (MDB); Jair Bolsonaro (PSL); João Amoedo (Novo); João Goulart Filho (PPL) José Maria Eymael (DC); Marina Silva (Rede) e Vera Lucia (PSTU). Manuela d’Ávila, que concorreria à presidência pelo PCdoB, agora é “trice” de Haddad, que é vice de Lula, mas só até o TSE botar ordem nesse galinheiro.

A propósito: por que os partidos nanicos lançam desconhecidos que não têm a menor chance de passar para o segundo turno?  Eis uma boa pergunta. A resposta fica para amanhã.

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segunda-feira, 28 de maio de 2018

AINDA SOBRE A GREVE, A PUSILANIMIDADE DO GOVERNO E AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES



 Com o saco cheio dessa greve estúpida ― não por ela não fazer sentido, mas por colocar em risco o abastecimento de combustíveis, mercadorias, remédios etc. ―, junto minhas preces às de milhões de brasileiros, na esperança de que as medidas mais duras anunciadas pelo governo não sejam apenas bravatas, que os agentes ocultos do locaute sejam punidos exemplarmente e os piquetes, removidos o quanto antes ― se possível, sem violência ―, de modo que os brasileiros que precisam trabalhar consigam fazê-lo.

Dizer, agora, que o governo subestimou a capacidade de mobilização da categoria e que a paralisação poderia ter sido evitada ou minimizada é chorar sobre o leite derramado. Apurar responsabilidades e atribuir culpas, somente após o “incêndio” ser controlado ― por “incêndio”, entenda-se a maior paralisação de caminhoneiros desde 1999, quando a categoria cruzou os braços por quatro dias para pressionar o então presidente FHC a rever os reajustes do diesel e dos pedágios federais. 

Fato é que a paralisação atual representa um sério baque para uma economia cuja recuperação é frágil, além de desmoralizar ainda mais um governo mambembe, cuja pusilanimidade pode estimular outros a repetirem o feito em defesa de suas reivindicações. Afinal, hienas, abutres e tubarões farejam sangue a quilômetros. Com o governo nas cordas, há quem possa querer levar vantagem, e seria uma catástrofe se uma sucessão de movimentos paredistas anulasse os pífios avanços da Economia sob a gestão do presidente mais impopular da nossa história.      

Falando em Michel Temer, parece que ele desistiu de disputar a reeleição com outros vinte e tantos postulantes ao cargo ― que, com exceção do troglodita Jair Bolsonaro e da sonhática Marina Silva, não têm a menor chance de se eleger. Lula, o criminoso que, mesmo encarcerado, continua líder em intenções de votos (não me pergunte por que seu nome continua sendo incluído nas pesquisas), parece não se dar conta de sua situação, e o apoio da patuleia incorrigível só respalda a tese de que nasce um idiota a cada minuto neste mundo, e os que nascem no Brasil já vêm com título de eleitor.

Enquanto boçais de quatro costados apoiam a volta de corruptos ao poder (pesquisas dão conta de que, em Minas Gerais, os candidatos mais cotados para o Senado são Dilma e Aécio), debiloides almejam o retorno dos militares, alegando que a economia cresceu nos anos 70 e 80, e que não havia corrupção nas gestões dos generais. O fato é que, à exemplo de Lula, que surfou nas ondas de um cenário internacional benfazejo (mas que mudou da água para o vinho em 2008), os milicos fizeram o Brasil crescer mais de 10% ao ano entre 1968 e 1973, mas somente porque havia liquidez abundante, capitais externos para investimentos e empréstimos a juros baixos. Em 1985, quando eles finalmente largaram o osso, deixaram uma inflação na casa dos 200% ao ano, uma dívida pública equivalente a 30% do PIB e uma dívida externa 20 vezes maior que a de 1970, sem falar nas obras faraônicas inacabadas e nas estatais endividadas. 

E também houve corrupção nos anos de chumbo, tanto que ficou famosa a frase de Mario Henrique Simonsen, que foi ministro tanto no governo de Geisel quanto no de Figueiredo: “Às vezes é melhor pagar a comissão e não fazer a obra; sai mais barato”. Em tempos nos quais a censura campeava solta, não havia era jornalismo investigativo, e daí a crença de que o regime botava ordem no galinheiro. Na verdade, o que havia era um Judiciário acorrentado, eleições controladas e aniquilação sumária dos opositores (como revelado recentemente por um documento da CIA).

A tese de que uma ditadura militar é melhor do que uma ditadura comunista é inconsistente. A rigor, nenhuma das duas presta. A direita justificava sua ditadura como meio de evitar a instalação de um regime à cubana por aqui, e a esquerda revolucionária, que de fato treinava em Cuba, combatia o regime na esperança de que sua derrubada levasse não à democracia que chamavam de burguesa, mas ao socialismo da ilha, que também aniquilava seus opositores. 

E quando se achava que a lição fora aprendida, vêm os defensores do militarismo alardear que nossa democracia é fraca para conter as esquerdas e os corruptos, e as esquerdas a contestar a legitimidade desta democracia, que, segundo essa patuleia atávia, pune Lula e seus asseclas não por eles serem corruptos, mas por “serem do povo”.

A cinco meses das eleições, entre dezenas de partidos registrados no TSE ― e outros tantos aguardando registro, de olho no fundo partidário bilionário ―, não se encontra um que apresente sequer um arremedo de projeto de governo. São todos verdadeiras oligarquias dominadas por seus dirigentes, que controlam tudo, do cofre às eleições internas, e delas, às campanhas eleitorais, sujeitando os novos candidatos às suas ordens ditatoriais. E isso vem acontecendo há trinta anos, ou seja, desde a celebrada “democratização” do país.

Enquanto não houver regras que proíbam a reeleição na direção das siglas, que impeçam membros das mesmas famílias de se revezar no comando partidário, não haverá renovação de quadros, nem, consequentemente, formação de estadistas. Todos, aí incluídos os militares, foram levados ― ou levaram a si mesmos ― a determinados pactos políticos para se garantir no poder. O caso de Lula surpreendeu ainda mais porque o PT dizia defender a ética e combater a corrupção, mas isso não muda o fato de que todos que se sentam na cadeira presidencial continuam comprando apoio. Assim, a corrupção continuará em curso enquanto não houver autonomia dos poderes, aí incluído o Judiciário, que depende dos demais para manter privilégios, como auxílio-moradia e ganhos acima do teto constitucional.

Infelizmente, as próximas eleições não resolverão o problema, mesmo que, a duras penas, se eleja por margem mínima um candidato de centro. Se nada mudar, o próximo presidente ficará refém do Congresso, das maiores bancadas, do toma-lá-dá-cá e de todas as mazelas do nosso presidencialismo de cooptação. Em suma: eleições representam ou mudanças efetivas ou arranjos precários; no caso do Brasil, as de outubro certamente pertencerão ao segundo grupo.

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domingo, 13 de novembro de 2016

MARACUTAIS DE VEREADORES EM BUSCA DE SALÁRIOS MAIS POPUDOS.

Levantamento do GLOBO mostra que, se as recentes eleições municipais servissem de parâmetro
para o cumprimento da cláusula de desempenho dos partidos ― tema que está sendo discutido pelo Congresso no projeto de reforma política ―, 26 das 35 legendas existentes não atenderiam aos requisitos.

Apenas nove partidos cumpriram ambas as exigências (atingir 2% dos votos válidos em todo o território nacional e obter 2% dos votos válidos em, pelo menos, 14 unidades da Federação): PSDB, PDMB, PSB, PT, PDT, PP, DEM e PR. Outros quatro conseguiram superar apenas o percentual dos votos válidos em todo o país, mas não tiveram desempenho suficiente em 14 unidades da Federação. E o padrão se repetiu nos 92 municípios brasileiros com mais de 200 mil habitantes: ao todo, contando as capitais, 12 das 21 legendas que venceram o pleito não atingiram os 2% dos votos válidos no país e nas unidades da Federação.

Aqui entre nós, 35 partidos inscritos no TSE é uma piada. E dezenas de outras “agremiações” estão na fila, buscando garantir um lugar ao sol e um trocado no bolso. E a despeito de toda essa diversidade, os eleitores se veem obrigados a escolher os candidatos “menos piores” (até porque, salvo raríssimas e honrosas exceções, a qualidade dos nossos políticos fica abaixo da crítica), razão pela qual é imperativo e urgente fazer uma faxina em regra e colocar ordem nesse galinheiro.

A criatividade dessa corja de desqualificados parece não ter limites quando se trata de favorecer seus próprios interesses. Ontem mesmo eu ouvi pela CBN que 8 vereadores eleitos em certo município (infelizmente, não anotei o nome e já não me lembro mais qual era a tal cidade) já se articularam para ocupar cargos de staff no alto escalão da prefeitura, e assim embolsar uma remuneração superior ao salário de edil. Com isso, os respectivos suplentes ― que não disputaram diretamente as eleições ― assumem as cadeiras dos titulares, e todo mundo fica feliz (menos os munícipes, naturalmente, não só porque foram feitos de palhaço, mas principalmente porque é o suado dinheiro dos impostos que banca essa pouca vergonha. Pergunto a esses nobres vereadores: como ficam o compromisso com a cidade e a responsabilidade perante os eleitores que acreditaram em suas quiméricas promessas de campanha?

Mesmo não seja ilegal, essa maracutaia é, no mínimo, imoral. O lado bom da história ― por assim dizer ― é que isso revela (ou reafirma, melhor dizendo) os verdadeiros interesses dessa corja de mamadores das tetas do Estado. Mas se metade dos eleitores lhes der a devida resposta nas próximas eleições, nem tudo estará perdido.

Seja como for, é fundamental e urgente rever a legislação eleitoral e limitar o número de partidos (para meia dúzia, e olhe lá). O problema é que são as raposas que tomam conta desse galinheiro.


Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/

sábado, 1 de outubro de 2016

DE VOLTA AO CIRCO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS


Mesmo quem não se interessa por política ― ou não sabe diferenciar conversa de palanque do que realmente pode ser feito pela cidade ― desconfia do verborrágico blábláblá entoado pela seleta confraria de candidatos à prefeitura da maior metrópole latino-americana. A julgar pelas promessas vazias e eminentemente eleitoreiras que a gente ouve no lamentável horário obrigatório e nas demais inserções ao longo da programação das emissoras de rádio e TV, essa cáfila parece ter uma varinha de condão que lhe permitirá resolver tudo da noite para o dia, como num passe de mágica, mas, depois que consegue se eleger, sua carruagem vira abóbora, e o resultado é o de sempre: continuam as inundações, o trânsito caótico, as filas nas creches e postos de saúde, o desperdício de dinheiro público em obras inúteis ou faraônicas, e por aí vai.

Mas nem só do alcaide vive o município, e amanhã os 8.886.324 eleitores cadastrados em Sampa deverão escolher também os 55 vereadores que os representarão pelos próximos quatro anos. Seria uma excelente oportunidade de defenestrar os maus políticos e preencher as vagas com gente proba, competente e bem-intencionada, mas, lamentavelmente, o nível dos 1273 candidatos que disputam uma cadeira na Câmara parece ser ainda pior que o dos que postulam a prefeitura.

Num contexto onde 11 de cada 10 brasileiros minimamente esclarecidos repudiam a classe política como um todo e vêm demonstrando cada vez menos interesse em se filiar a partidos, a proporção entre o número de candidatos chegaria a surpreender, não fosse o fato de a mamata ser pra lá de boa: além do salário de 15 mil reais, cada vereador paulistano tem direito a mais 165 mil reais para bancar funcionários e demais custos do gabinete, além de carro oficial com motorista e combustível pago pelos contribuinte e outras mordomias.  

Observação: Uma desconexão generalizada entre políticos e cidadãos leva um número cada vez menor de pessoas a se filiar a partidos e a votar sem qualquer entusiasmo ― se vão às urnas, é apenas porque no Brasil ainda existe o anacronismo do voto obrigatório, do contrário, a maioria nem se daria a esse trabalho.

O fato é que os candidatos, salvo raríssimas exceções, estão mais focados na própria independência financeira do que em resolver os problemas da cidade ― que são muitos e de difícil solução. Para piorar, segundo matéria publicada na Vejinha da semana passada, mais da metade dos candidatos não tem nível superior, e entre os que têm, há apenas 7 economistas e 1 sociólogo. E para piorar ainda mais, 42% não concluíram nem mesmo o ensino médio, e 24 declararam só saber ler e escrever.    

Ainda segundo o levantamento feito pela reportagem, 3 dos 10 candidatos mais ricos (segundo dados do TRE) são vereadores que disputam a reeleição. Na outra ponta, 505 declararam não possuir bens ou revelaram quantias irrisórias, como a “Bia Taxista”, que sustenta ter juntado apenas 1 centavo em seus 31 anos de vida. Além dessas excrescências, há também a indefectível “bancada dos famosos”, como o ex-goleiro da Seleção Waldir Peres, o socialite Chiquinho Scarpa, o ex-craque Marcelinho Carioca, o ex-cantor da Jovem Guarda Ed Carlos e o filho da contara Gretchen (a rainha do bumbum) Thammy Miranda.  

Na atual campanha, da qual participam nada menos que 39 partidos, dos 55 vereadores que atualmente compõem a Câmara, apenas 6 não tentam a reeleição (2 por disputar a prefeitura, 1 por ter optado pelo cargo de secretário estadual do Turismo e 3 que simplesmente pularam fora, sem dar maiores explicações). Os outros 49 estão novamente nas ruas distribuindo santinhos e pedindo voto para emplacar mais quatro anos de mamata.

As funções de um vereador consistem em criar, discutir e votar projetos de lei, fiscalizar o executivo, acompanhar as atividades das secretarias, propor a convocação de audiências públicas para discutir projetos de grande relevância e analisar as contas do município para aprová-las (ou reprová-las), mas, entre 2013 e 2016, os edis paulistanos dedicaram seu valioso tempo (e desperdiçaram o ainda mais valioso dinheiro público) em projetos prosaicos, como alterar o nome de ruas e incluir no calendário datas como o “Dia do Farmacêutico”. Dos 10 821 projetos apresentados nos últimos 4 anos, 3 939 foram de votos de júbilo, 513 de pesar, 255 de outorga de títulos a cidadãos, 243 de inclusão de datas no calendário oficial, 159 de alteração de nomes de ruas, 115 de concessão de salva de prata e 105 de medalha Anchieta.

Enquanto isso, a cidade definha em abandono, com ruas esburacadas e mal iluminadas, bandos de drogados, sem-teto e outros indigentes acampados sob viadutos e achacando transeuntes, carência de leitos e médicos nos postos de saúde e hospitais públicos e de vagas em creches e escolas de primeiro grau (onde grassam professores mal remunerados, desestimulados e indiferentes ao aproveitamento dos alunos). Vez por outra, surge uma denúncia como a que envolve o vereador Marquito ― aquele do programa do Ratinho ―, que é acusado de embolsar parte do salário dos funcionários do seu gabinete. Ou um escândalo como o da compra de 22 aparelhos de TV por R$50 mil, às vésperas da Copa de 2015, ou o da criação de 660 novos cargos para os gabinetes oficiais. Isso sem mencionar tumultos como o promovido pelo MTST durante a discussão do Plano Diretor do município, ou o dos taxistas em protesto contra a concorrência do UBER.

Para encerrar, deixo no ar uma pergunta que não quer calar: dá gosto sair de casa, enfrentar trânsito, chafurdar em santinhos e ser obrigado a estacionar a quadras de distância do local de votação para votar nesse tipo de gente? Tô fora!

Voltando rapidamente à disputa pela prefeitura de Sampa: no debate realizado nos estúdios da TV Globo na noite da última quinta-feira, Marta, de olho em uma vaga no segundo-turno, evitou bater de frente com Doria, líder em intenções de voto. 
Segundo o IBOPE, o candidato tucano tem 28%;  Russomanno aparece em segundo lugar, com 22%, e a ex-petista e ora peemedebista disputa com Haddad a terceira colocação (ela com 16% e ele com 13%, o que o instituto de pesquisa entende como empate técnico). 
Por não ter estômago para suportar aquele deplorável folhetim que a Globo exibe depois do Jornal Nacional ― e que deve terminar hoje ―, eu mudei de canal para ver um filme, acabei cochilando e só acordei quando o troço já havia acabado. No entanto, a julgar pelas sinopses que vi na Web, acho que não perdi grande coisa. Só lamento que não existam perspectivas de tudo se resolver amanhã, o que nos obrigará a aturar mais uma dose de propaganda eleitoral na segunda quinzena do mês. 
A propósito: nas simulações de segundo turno, Doria venceria Russomanno por 42% a 37%, e ganharia de Marta por 45% a 36%. A conferir.