quarta-feira, 10 de outubro de 2018

FALTAM 18 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO — PONTOS A PONDERAR




Há dias que venho ensaiando uma postagem sobre a colcha de retalhos utópica e entumecida que atende por “Constituição Cidadã”, mas a efervescência no cenário político me levou a adiar o projeto. Agora, a 18 dias do segundo turno, parece-me mais importante acompanhar os novos e emocionantes capítulos da novela sucessória, sobretudo as negociatas de Bolsonaro e Luladdad em busca do apoio dos postulantes defenestrados. 

Colho o ensejo para adiantar que desde a proclamação da independência o Brasil já teve sete constituições (ou oito, já que muitos consideram a Emenda nº 1, outorgada pela junta militar em 1969, como a “Constituição de 1969”). A mais recente, que acaba de completar 30 anos, não só é o obelisco da prolixidade, mas também uma colcha de retalhos, na medida em que foi remendada mais de uma centena de vezes. A título de comparação, a constituição norte-americana, promulgada em 1787, tem apenas 7 artigos e recebeu 27 emendas nos últimos 220 anos.

Observação: A palavra “direito” é mencionada 76 vezes em nossa carta magna, enquanto “dever” surge em míseras quatro oportunidades. “Produtividade” e “eficiência” aparecem duas e uma vez, respectivamente, o que nos leva à seguinte pergunta: O que esperar de um país que tem 76 direitos, quatro deveres, duas produtividades e uma eficiência? A resposta terá de ficar para uma das próximas postagens. 

Antes de transcrever mais um artigo magistral de J.R. Guzzo, publicado originalmente no Blog Fatos sob o título O PARTIDO ANTI-LULA, achei por bem tecer algumas considerações sobre o resultado das urnas no último domingo.

Mesmo considerando o segundo turno como uma “nova eleição”, o fato de Bolsonaro ter obtido quase o dobro dos votos de Luladdad é significativo, quando mais não seja porque nenhum candidato que passou para o segundo turno na dianteira da disputa presidencial deixou de se eleger. Foi assim com o presidiário de Curitiba em 2006 — que obteve 49% dos votos válidos no primeiro turno e derrotou Alckmin no segundo (por 60,3% a 39,2%) — e com a ex-grande-chefa-toura-sentada — que em 2014 venceu o mineirinho safado no primeiro turno por 41,6% a 33,6% e se reelegeu no segundo por 51,6% a 48,4%. 

No último dia 7, o preposto-fantoche do demiurgo de Garanhuns teve menos votos do que Aécio no primeiro turno das eleições de 2014 — aliás, faltou bem pouco para Bolsonaro liquidar a fatura já no primeiro turno, uma vez que obteve 46% dos votos válidos (contra 29% de Luladdad). 

Volto a frisar que o capitão caverna jamais seria minha escolha se houvesse alternativa — e votar no PT não é alternativa, até porque acho inconcebível o Brasil ser governado de dentro da carceragem da PF em Curitiba (ou do Complexo Médico-Penal de Pinhais, da Papuda ou da ponte que partiu esse molusco abjeto). O fato de seu alter ego ir toda semana pedir-lhe a benção é um indicativo claríssimo da impostura de sua candidatura, que é tão falsa quanto uma nota de 3 reais. Lula disse que não é mais uma pessoa, e sim uma ideia, mas a história recente nos mostra tratar-se de uma péssima ideia, e o número de votos obtidos por Bolsonaro no último domingo deixa claro que uma parte da população já se deu conta disso. Portanto, torçamos para que o pulha vermelho apodreça na cadeia até o final de sua imprestável existência.

Resta saber como se posicionarão as demais legendas e respectivos caciques. O petralha-aprendiz é capaz de atrair para si boa parte dos votos dos eleitores de Ciro, Marina e Alckmin, mas não o bastante para se contrapor a Bolsonaro, já que, até por falta de opções, o eleitorado de centro-direita, pulverizado entre candidaturas nanicas como a de Álvaro Dias, Meirelles, Amoedo, além da parte minoritária que votou em Alckmin e Ciro, podem escolher o deputado-capitão. Isso sem mencionar que essa “falta de opção” pode gerar um índice maior de abstenções e votos brancos e nulos — no primeiro turno, dos 147 milhões de eleitores aptos a votar, cerca de 40 milhões não compareceram ou votaram em branco/anularam o voto —, o que favorece Bolsonaro, na medida em que ele precisará conquistar menos votos derrotar seu adversário.

Fato é que as revelações da Lava-Jato sepultaram as pretensões eleitorais de notórios medalhões petistas. Foi o caso de Dilma, a penabundada, que concorreu a uma vaga para o Senado por Minas gerais e cuja vitória os institutos de pesquisas davam como certa. Mas faltou combinar com o eleitorado: focada em denunciar o “golpe” — como a ex-presidanta e seus comparsas se referem ao impeachment —, a campanha da petista custou quase R$ 4 milhões, superando até mesmo os gastos de presidenciáveis como Marina, Ciro e o próprio Bolsonaro. Em contrapartida, a advogada Janaína Pascoal, uma das signatárias do pedido de impeachment que defenestrou a nefelibata da mandioca, elegeu-se deputada estadual com mais de 2 milhões de votos, embora sua campanha tenha custado módicos R$ 44 mil.

Outro exemplo: entre os 70 parlamentares eleitos para compor a bancada paulista na Câmara Federal, a jornalista, youtuber e antipetista Joice Hasselmann, que apoiou Bolsonaro para presidente e conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa Paulista com invejáveis 1.064.047 votos, ficando atrás apenas de Eduardo Bolsonaro, que obteve 1.814,443 votos.

Passemos ao texto de Guzzo:

Durante as próximas três semanas você vai ler, ver e ouvir um oceano de explicações perfeitas sobre o que aconteceu nas eleições deste domingo – e em todas elas, naturalmente, os cérebros da análise política nacional dirão ao público o quanto acertaram nos seus pronunciamentos durante a campanha eleitoral, embora tenha acontecido em geral o contrário de quase tudo que disseram. A mesma cantoria, com alguns retoques, deve ser feita daqui para frente para lhe instruir em relação ao desfecho do segundo turno, no próximo dia 28 de outubro. Em favor da economia de tempo, assim, pode ser útil anotar algumas realidades básicas que o primeiro turno deixou demonstradas.

1 – A grande força política que existe no Brasil de hoje se chama antipetismo. É isso que deu ao primeiro colocado, Jair Bolsonaro, 18 milhões de votos a mais que o total obtido pelo “poste” do ex-presidente Lula. Esqueça a “onda conservadora”, o avanço do “fascismo”, as ameaças de “retrocesso” – bem como toda essa discussão sobre homofobia, racismo, machismo, defesa da ditadura e mais do mesmo. Esqueça, obviamente, a força do PSL, que é nenhuma, ou o esquema político do candidato, que não existe. O que há na vida real é uma rejeição tamanho gigante contra Lula e tudo o que cheira a Lula. Quem melhor soube representar essa repulsa foi Bolsonaro. Por isso, e só por isso, ficou com o primeiro lugar.

2 – O PT, como já havia acontecido nas eleições municipais de 2016, foi triturado pela massa dos eleitores brasileiros. Seu candidato a presidente não conseguiu mais que um quarto dos votos. Os candidatos do partido a governador nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul tiveram votações ridículas. Todos os seus candidatos “ícone” ao Senado, como Dilma Rousseff em Minas Gerais, Eduardo Suplicy em São Paulo e Lindbergh Farias no Rio de Janeiro foram transformados em paçoca, deixando o PT sem um único senador nos três maiores colégios eleitorais do Brasil. Mais uma vez, o partido só tem a festejar a votação no Nordeste – e mais uma vez, ali, aparece aliado com tudo que existe de mais atrasado na política brasileira.

3 – A força política de Lula, que continua sendo descrito como um gênio incomparável no “jogo do poder”, é do exato tamanho dos resultados obtidos nas urnas pelo seu “poste”. As mais extraordinárias profecias vêm sendo repetidas, há meses, sobre a sua capacidade de “transferir votos” e a sua inteligência praticamente sobre-humana em tudo o que se refere à política. Encerrada a apuração, Lula continua exatamente onde estava – trancado num xadrez em Curitiba e com muito cartaz do “New York Times”, mas sem força para mandar em nada.

4 – Os institutos de “pesquisa de intenção de voto”, mais uma vez, fizeram previsões calamitosamente erradas. Dilma, segundo garantiam, ia ser a “senadora mais votada do Brasil”. Ficou num quarto lugar humilhante. Suplicy, uma espécie de Tiririca-2 de São Paulo, também era dado como “eleito”. Foi varrido do mapa. Os primeiros colocados para governador de Minas e Rio de Janeiro foram ignorados pelas pesquisas praticamente até a véspera da eleição. Tinham 1% dos votos, ou coisa que o valha. Deu no que deu.

5 – O tempo de televisão e rádio no horário eleitoral obrigatório, sempre tido como uma vantagem monumental — e sempre vendido a peso de ouro pelas gangues partidárias — está valendo zero em termos nacionais. Geraldo Alckmin tinha o maior espaço nos meios eletrônicos. Acabou com menos de 5% dos votos. Bolsonaro não tinha nem 1 minuto. Foi o primeiro colocado. Parece não valer mais nada, igualmente, a propaganda fabricada por gênios do “marketing eleitoral” da modalidade Duda Mendonça-João Santana – caríssima, paga com dinheiro roubado e criada numa usina central de produção. A votação de Bolsonaro foi construída nas redes sociais, sem comando único e sem verbas milionárias.

Daqui até 28 de outubro o público será apresentado a outras previsões, teoremas e choques de sabedoria. É bom não perder de vista o que acaba de acontecer antes de acreditar no que lhe anunciam para o futuro.

SMARTPHONE — WHATSAPP — O RISCO DA TRANSFERÊNCIA DE ARQUIVOS


NUMA TEMPESTADE, QUALQUER PORTO.

O número de incidentes de segurança no WhatsApp aumentou consideravelmente depois que o Facebook (dono do mensageiro) liberou a transferência de arquivos dos mais diversos formatos (até mesmo compactados) e aumentou de 16 para 100 MB o tamanho permitido (para quem não se lembra, até meados do ano passado, além de fotos e vídeos, só era possível transferir documentos nos formatos .pdf, .doc e .gif).

Segundo o especialista em segurança Camillo Di Jorge, da ESET, as infeções ocorrem mais comumente quando o usuário descarrega um arquivo malicioso no computador, mas há risco de acontecer no próprio smartphone, daí ser importante que, ao receber um documento via WhatsApp, você confirme com o remetente a origem e a natureza do arquivo.

A insegurança de um sistema, aplicativo, plataforma, ou seja lá o que for é diretamente proporcional à sua popularidade. O Windows sempre foi tachado de “´peneira” pelos tradicionais defensores do software livre de código aberto e pelo turma da Maçã, mas basta cotejar a participação da Microsoft no mercado sistemas operacionais com as dos concorrentes para descobrir a razão — afinal, é muito mais produtivo desenvolver malwares ou exploits para um produto que abocanha 90% do seu segmento do que para outro que mal chegue a 10%, como o Mac OS, ou a míseros 1,7%, como as distribuições Linux.

O WhatsApp contabiliza mais de 1,5 bilhão de usuários — 120 milhões só no Brasil, onde, aliás, existem mais celulares do que CPFs. Eu, particularmente, não conheço ninguém (além de mim) que não seja fã desse mensageiro, mas isso é outra conversa. Importa mesmo é dizer que, depois de conduzir experimentos em ambiente controlado, a ESET constatou ser possível o encaminhamento de documentos infectados para usuários do “Zap”, mas, como os números referentes à adesão ao WhatsApp Web e WhatsApp Desktop não são públicos, é difícil calcular o potencial de contaminação quando o ataque se dá através deles.

Aos que usam o WhatsApp no PC, Di Jorge recomenda checar com o antivírus todo e qualquer documento recebido através do mensageiro, bem como instalar um aplicativo de “caixa de areia” (recomendo o Sandboxie, que permite rodar aplicativos e abrir documentos numa área isolada, evitando a disseminação de códigos maliciosos). 

Quem tem o Zap somente no smartphone pode ficar mais tranquilo, pois os sistemas móveis do Google e da Apple oferecem camadas adicionais de segurança (a maneira como as plataformas lidam com arquivos anexos impede que um documento infectado contamine o smartphone por completo, tanto que o aplicativo baixa os anexos automaticamente, de maneira diversa à do PC, onde o usuário precisa confirmar manualmente o download).  No entanto, é preciso redobrar os cuidados com arquivos APK — extensão usada para distribuir aplicativos compatíveis com o sistema Android

Ao receber um anexo APK e executá-lo, o usuário assume o risco de instalar um programa que pode conter códigos maliciosos, como cavalos de troia e assemelhados. Di Jorge explica que o Android possui uma “trava de segurança” que impede a instalação de arquivos APK e recomenda sua ativação (já vimos como fazer isso na postagem anterior, mas não custa relembrar: em Configurações, toque em Segurança e desmarque a opção Fontes desconhecidas, limitando a instalação de aplicativos à loja oficial do Google). 

Usuários de iPhone (ainda) não têm com que se preocupar.

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terça-feira, 9 de outubro de 2018

FALTAM 19 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO — E AGORA, JOSÉ?



Devido à morte de Tancredo Neves, o maranhense José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, mais conhecido como José Sarney, presidiu o Brasil de 22 de abril de 1985 a 15 de março de 1990, tornando-se o primeiro presidente civil pós-ditadura. 

Sarney foi sucedido pelo Caçador de Marajás de araque, que venceu o demiurgo de Garanhuns no segundo turno do pleito de 1989 e sagrou-se o primeiro presidente eleito pelo voto popular desde Jânio Quadros (em 1960). Foi durante seu governo — de Sarney, não de Collor — que a “Constituição Cidadã” (sobre a qual falarei mais adiante) foi promulgada. 

Foi somente em 1997, com as bênçãos do então presidente Fernando Henrique, que nossa Carta Magna deixou de proibir o chefe do Executivo e respectivo vice de disputar a reeleição para mandatos consecutivos (mandatos não consecutivos não são considerados como reeleição, daí porque Lula, de olho nas eleições de 2014, fez Dilma sua sucessora em 2010, mas a anta pegou gosto pelo poder e a mula caiu do jegue). Aprovada a emenda da reeleição, FHC tornou a vencer Lula no primeiro turno, em 1998, e conquistou seu ambicionado segundo mandato (durante o qual fez um governo de merda, mas isso é outra conversa). 

Importa dizer é que devemos ao grão-tucano a situação em que nos encontramos atualmente. Se a ideia era copiar a Constituição norte-americana, que copiassem direito: segundo a 22ª Emenda (Amendment XXII, no original em inglês), aprovada pelo Congresso dos EUA em 1947 e ratificada em 1951, nenhuma pessoa poderá ser eleita mais de duas vezes para o cargo de presidente. Nesses termos, Lula, que esgoto os dois mandatos a que tinha direito, poderia gozar alegremente sua estada na carceragem da PF em Curitiba (ou no Complexo Médico-Penal de Pinhais, ou em outro presídio qualquer) sem se preocupar com questões inerentes à sucessão presidencial.

Costuma haver diferenças entre como as coisas são e como deveriam ser. É por isso que teremos de amargar mais três longas semanas — com direito à volta dos debates e do horário político obrigatório — até que, se não houver surpresas e Bolsonaro mantiver a liderança, o esbirro do criminoso de Garanhuns seja devidamente despachado para o buraco de onde jamais deveria ter saído. 

Entrementes, divirtamo-nos com as pesquisas. Aliás, chegou a ser hilária (para não dizer irritante) a insistência dos âncoras da Globo (e de outras emissoras que acompanharam em tempo real a apuração dos votos) em exibir o percentual de votos de Amoedo, Boulos, Daciolo, Eymael, Vera Lucia e companhia, quando o que interessava mesmo era a possibilidade de o candidato do PSL liquidar a fatura já no primeiro turno (e faltou bem pouco!).

Sobre Bolsonaro, segue trecho de uma postagem publicada ontem no Blog do Gabeira:

Não é uma simples segunda-feira de primavera. Neste momento, já se sabe quem venceu o primeiro turno das eleições e mais ainda: como se compõe o novo Congresso. [...] Imagino que comece hoje uma discussão sobre as causas que levaram Bolsonaro a vencer o primeiro turno. E também a ampla distribuição de culpa entre seus adversários. [...] Bolsonaro foi o deputado mais votado no Rio, em 2014. Ele teve 464 mil votos, cerca de 6% do total, um feito extraordinário em eleições proporcionais. Naquele momento, ele já estava em ascensão batendo, principalmente, em duas teclas: corrupção e segurança pública. Sua proposta em segurança tem uma vantagem sobre todas as outras. Reconhece a limitação do Estado e envolve o indivíduo, que teria sua própria arma. [...] Ainda vou escrever muito sobre Bolsonaro, inclusive sobre os 16 anos em que estivemos juntos em algumas comissões da Câmara, divergindo nos costumes e concordando na denúncia da corrupção. A grande dificuldade com Bolsonaro é que, essencialmente, é anticomunista e tende a combater todas as lutas lideradas pela esquerda, como se tivessem sido inventadas por ela. Ele tem dificuldade em distinguir direitos humanos e exploração ideológica, movimento das mulheres das visões radicais, meio ambiente e ameaça à propriedade privada e, no caso amazônico, cobiça internacional. [...] Pessoalmente, sempre conversei com Bolsonaro ao longo de 16 anos. Nos seus primeiros discursos na Câmara, ele pedia minha prisão porque eu era um sequestrador do embaixador americano. Ele queria reproduzir o debate sobre a luta armada. Os tempos eram outros, tínhamos um novo país para construir. A esquerda me considera um traidor que ocupa um espaço na lata de lixo da história. Sou aquele jogador que já foi do time e a torcida vaia sempre que toca na bola. Mas esquerda e direita são forças missionárias que tentam universalizar seu conceito de boa vida. Numa sociedade complexa como a nossa, precisamos reconhecer as diferenças e navegar com cuidado, administrando os problemas recorrentes. A ideia de um país dominado pela Bíblia ou pelo “Capital” de Marx não deixa de ser legítima. Apesar da importância que ambos dão aos seus textos, eles são apenas um modesto guia. O mundo ultrapassa os velhos esquemas mentais. Ou, em linguagem bem brasileira: o buraco é mais embaixo.

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SOBRE O WINDOWS PHONE


O HOMEM SÁBIO EVITA DIZER A VERDADE SEMPRE QUE ELA POSSA PARECER MENTIRA, A FIM DE NÃO SER TACHADO DE MENTIROSO.

Quando a pareceria entre a Nokia e a Microsoft parecia ter tudo para oferecer smartphones de qualidade e com boa relação custo/benefício, o Windows Phone ocupava o segundo lugar no ranking dos sistemas operacionais para dispositivos móveis, atrás apenas para o imbatível Android. Aí o Google e a Motorola lançaram a linha Moto G, que vendeu horrores em 2014, tanto no Brasil quanto nos demais países latino-americanos, e jogou uma pá de cal sobre Blackberry OS, Ubuntu Phone OS, Sailfish OS e Firefox OS e, por que não dizer, o próprio Windows Phone, embora a mãe da criança só tenha reconhecido a derrota no ano passado, mesmo tendo descontinuado o Lumia 950 em 2015.

O Android é líder absoluto em seu segmento de mercado, com 45% da preferência dos usuários em todo o mundo. A despeito da excelência dos produtos da Apple, o iOS fica num modesto segundo lugar, com 13% (dados da Statcounter Global Stats), talvez devido ao preço — que é alto até para os padrões norte-americanos, mas assustador para os brasileiros, já que a carga tributária incidente sobre smartphones é de quase 40%. Curiosamente, não faltam “applemaníacos” prontos a desembolsar alegremente mais de R$ 11 mil para ter um iPhone Xs Max, mas isso já é outra conversa.

O Windows Phone não era um sistema ruim (pelo contrário, era leve e muito rápido). O problema foi a Microsoft demorar a se dar conta de que o mundo digital estava se tornando móvel, e que essa mobilidade ia além dos notebooks — ou seja, enquanto a concorrência apostava no Android, ela continuava focada na plataforma PC

Também contribuiu para o fracasso do Windows Mobile a demora no lançamento, que ocorreu em 2010, quando o Android já soprara sua terceira velinha (além de ser uma plataforma “gratuita” e de código aberto). E fato de a Microsoft ter comprado a Nokia em 2013, quando viu que empurrar o Windows Phone para fabricantes de smartphones que já utilizavam o Android era malhar em ferro frio, também colaborou para a morte da plataforma.

Some-se a tudo isso o desinteresse dos desenvolvedores em criar aplicativos — não há nada mais frustrante para o usuário do que ter um smartphone e não ter como baixar aquele app do momento —, mesmo com a Microsoft tendo trabalhado para encorajá-los e desenvolvido os seus próprios softwares. Assim, considerando que nenhum produto sobrevive sem consumidores, a empresa finalmente declarou o óbito do Windows 10 Mobile, embora venha investindo na criação de uma miniplataforma dentro do ecossistema Android. Mas isso é conversa para um a outra vez.

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segunda-feira, 8 de outubro de 2018

PRIMEIRO TURNO DAS ELEIÇÕES 2018 — THE DAY AFTER



Rabisquei estas linhas quando faltavam duas horas para o encerramento da votação e sabe Deus quanto tempo mais para o final das apurações. Àquela altura seria temerário — sem poderes mediúnicos ou uma bola de cristal confiável — arriscar um palpite sobre se haveria um segundo turno e, caso afirmativo, quem disputaria com quem o gabinete mais cobiçado do Palácio do Planalto.

O que se podia dizer sem medo de errar é que nunca antes na história deste país houve uma eleição para presidente em que um dublê de fanático religioso e bombeiro terminou a campanha empatado com um banqueiro milionário e ex-ministro de Estado (tanto de Lula quanto de Temer) — detalhe: o primeiro investiu menos de R$ 1 mil em sua campanha, ao passo que o segundo torrou mais de R$ 40 milhões.

Naquele cenário surreal, os postulantes mais bem colocados nas pesquisas eram justamente os que apresentavam as maiores taxas de rejeição, e o percentual de intenções de voto do candidato da maior coligação de partidos não superava sequer o dos votos brancos e nulos.

Isso sem mencionar a aberração das aberrações, qual seja o virtual pré-candidato que mais se destacou nas pesquisas ter seu registro negado por ser ficha-suja (mais exatamente por ter sido denunciado, julgado e condenado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro e estar cumprindo a pena de 12 anos e 1 mês que lhe foi imposta em segunda instância), transformar sua cela em comitê de campanha e, qual zumbi mal despachado, "encarnar" num almofadinha metido a intelectual que não só não se reelegeu prefeito de Sampa como foi fragorosamente derrotado no primeiro turno por um outsider (fato inédito desde que as eleições municipais passaram a ter dois turnos). 

Coisas do Brasil.

ATUALIZAÇÃO:

Deu-se o esperado, conquanto eu alimentasse esperanças de a fatura ser quitada ainda no primeiro turno, o que nos pouparia de mais três semanas de agonia, com direito à volta do horário político obrigatório e o receito de uma eventual reviravolta — possibilidade remota, mas existente e, portanto, preocupante.

Torno a dizer que, da minha ótica, Bolsonaro representa a antítese do candidato ideal, mas o fato é que ele se tornou a única alternativa à volta do lulopetismo, e situações desesperadoras requerem medidas desesperadas. Retomarei esse assunto oportunamente (afinal, 20 dias nos separam do segundo turno), mas não posso encerrar este breve aditamento sem comemorar a derrota acachapante dos petistas DILMA VANA ROUSSEFF em Minas Gerais e EDUARDO MATARAZZO SUPLICY aqui em São Paulo, que já contavam com seus rabos sujos no Senado Federal. Aliás, falando nesse covil, o emedebista cearense e atual presidente do Congresso EUNÍCIO OLIVEIRA e seus correligionários ROMERO JUCÁ, ROBERTO REQUIÃO, SARNEY FILHO, JORGE VIANA e EDISON LOBÃO não conseguiram se reeleger senadores (por Roraima, Paraná, Maranhão, Acre e Ceará, respectivamente), a exemplo do petista paraibano LINDBERGH FARIAS e da pecedebista amazonense VANESSA GRAZZIOTIN

Igualmente digna de comemoração foram as derrotas dos petistas MIGUEL ROSSETTO e FERNANDO PIMENTEL e da emedebista ROSEANA SARNEY, que postulavam o governo dos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Maranhão, respectivamente. Lamentavelmente, o palhaço Tiririca se reelegeu (pela segunda vez) deputado federal por São Paulo — ele havia desistido da candidatura no fim de 2017 por se dizer decepcionado com a Câmara, mas desistiu da desistência, laçou-se oficialmente na disputa e conseguiu quase meio milhão de votos (menos que os 1,5 milhão da primeira vez e do 1 milhão da reeleição anterior, mas ainda assim...). 

Para não ficar só nisso, segue um excerto da coluna de Dora Kramer desta semana:

[...] Se confirmada a hipótese levantada pelas pesquisas de intenção de voto, o país vai eleger um presidente que já assume rejeitado por um contingente enorme de brasileiros. Algo inédito. Por mais acirradas e polarizadas que tenham sido eleições como as de 1989 e 2014, os partidários de lado a lado fizeram majoritariamente suas escolhas “a favor” e não quase que totalmente sob a égide do repúdio como agora. Desde que começaram a ser medidos os índices de rejeição, em 1994, nunca os candidatos favoritos haviam registrado números tão altos no quesito “repúdio eleitoral”.

Mantido o quadro uma vez conferidas as urnas, a que essa situação nos levará? A bom termo certamente não será. Nenhuma das facções em embate tem perfil pacificador. Obviamente a vencedora gostaria de receber um refresco por parte dos adeptos da derrotada, mas, a julgar pelos meios e modos (na forma e no conteúdo) de ambas, espera que tal se dê pela via da rendição, pois adversários são vistos e tratados como inimigos nas duas searas. São muito mais afeitas a tripudiar que a conciliar.

Presidentes normalmente tomam posse cheios de força política, independentemente do porcentual de votos com que tenham sido eleitos. Pois não seria assim com Bolsonaro ou com Haddad. Maiorias habitualmente se formam por gravidade em torno do poder, por breve ou longo tempo, a depender da habilidade do eleito, bem como a tendência da parcela do eleitorado que votou no perdedor é render-se ao fato.

Não é o que se projeta na hipótese de vitória de candidatos amplamente rejeitados. Eles terão muita dificuldade na negociação com o Congresso não por resistência dos parlamentares, mas devido à temperatura alta dos ânimos na sociedade, que criaria obstáculos à aprovação das pautas consideradas prioritárias pelo novo governo e tornaria o ambiente permeável a crises. Ou melhor, ao aprofundamento daquelas já em curso.

Tanto um quanto outro têm agenda inexequível do ponto de vista da parte contrária e, por que não dizer, até na perspectiva da realidade. [...] Semeiam o devaneio, deixando aos que os apoiam a colheita da decepção. Um atalho para governos de curta duração. Nada disso, no entanto, parece entrar no radar dos eleitores dos favoritos. Nada contra, caso fossem os únicos a pagar o preço do prolongado e contínuo flerte de boa parte do Brasil com o erro, e que nos retira a chance de firmar um compromisso com o acerto semelhante às raríssimas vezes (1994 e 1998) em que se disse não aos engodos do populismo.

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SMARTPHONE — O VERDADEIRO MICROCOMPUTADOR


O ESTADO DE PAIXÃO É MONOGÂMICO POR NATUREZA. DEPOIS, FICA DIFÍCIL CONTENTAR-SE COM A MESMA PESSOA DURANTE ANOS A FIO.

Embora o Windows seja o sistema operacional mais bem-sucedido da história da computação pessoal — só o Ten contabiliza 700 milhões de usuários —, as pessoas vêm preferindo cada vez mais navegar na Web, gerenciar emails e acessar redes sociais a partir de seus smartphones, relegando o PC convencional para outras atividades (geralmente de trabalho).

Inicialmente chamados de “celulares”, os telefones móveis desembarcaram no Brasil no final do século passado, mas só se popularizaram depois que encolher de tamanho, crescer em recursos e se tornar “inteligentes” (daí o smart). Segundo dados da Anatel, existem hoje no Brasil 220 milhões de linhas móveis (o que dá mais de um celular por pessoa, considerado que o país tem 208,5 milhões de habitantes).

A despeito de uma linha fixa ser instalada em não mais que 48 horas e o consumidor pagar somente pelo serviço (um cenário bem diferente do que nos tempos do famigerado Sistema Telebras, conforme a gente viu no post do último dia 4), a procura anda em queda livre: também segundo a ANATEL, há no Brasil 40.459.554 telefones fixos em operação, e a redução nos últimos 12 meses foi de consideráveis 1.208.833 unidades.

Por essas e outras, não é de estranhar que o Android supere o Windows em número de usuários. Segundo estimativa da Statcounter Global Stats, o sistema do Google abocanha 41,66% do mercado, enquanto o da Microsoft fica com 35,93% (aí somados as versões 10, 8.1, 7, Vista e XP do Windows). Trata-se de uma comparação “indireta”, naturalmente, já que o Android só opera smartphones e tablets, enquanto o Windows comanda PCs tradicionais (sua versão móvel descontinuada em 2015, depois do fiasco do Lumia 950, mas a Microsoft só reconheceu a derrota oficialmente em meados do ano passado).

Fato é que as ameaças digitais continuam crescendo, tanto para usuários de smartphones e tablets quanto de desktops e notebooks. No primeiro segmento, o Android é o alvo preferido pela ciberbandidagem; no segundo, o Windows é o sistema mais visado, até porque costuma ser mais rentável escrever códigos maliciosos que afetem bilhões de usuários em vez de “meia dúzia de gatos pingados”. 

Observação: A participação do iOS no mercado de sistemas móveis é de 13,5%; o OS X, que é concorrente direto do Windows, abocanha míseros 5,47% dos computadores “tradicionais”, ao passo que as distribuições Linux, somadas, não chegam a 1%, e sistemas móveis como Windows Phone, Blackberry OS, Ubuntu Phone OS, Sailfish OS e Firefox OS são coisa do passado.

Smartphones são computadores em miniatura. Claro que eles perdem para seus “irmãos maiores” em capacidade de processamento, quantidade de memória e espaço para armazenamento de dados, e que digitar textos longos em seus minúsculos teclados virtuais é tão chato quanto assistir a vídeos nas telinhas de 5”. Por outro lado, eles podem ser levados a toda parte, e o número crescente de aplicativos desenvolvidos para Android e iOS ampliam ad infinitum a gama de recursos e funções dos diligentes telefoninhos.

Voltando ao Windows Phone, é curioso que o festejado sistema operacional da Microsoft tenha dado tão certo nos PCs e tão errado nos smartphones. Mas isso já é conversa para a próxima postagem.

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sábado, 6 de outubro de 2018

FALTANDO 17 HORAS PARA O INÍCIO DO PRIMEIRO TURNO...



Amanhã, por motivos óbvios, não postarei sobre política aqui no Blog, mas resolvi publicar uma segunda postagem neste sábado, véspera do primeiro turno das eleições 2018.

Falando em obviedades, George Orwell — cujo verdadeiro nome era Eric Arthur Blair (clique aqui para saber mais sobre esse prócer da literatura inglesa) — disse que “algumas vezes o primeiro dever dos homens inteligentes é reafirmar o óbvio”. E o óbvio a ser reafirmado é que o perigo autoritário está na eleição do poste lulista, por mais improvável que ela pareça neste momento.

A operação para abafar o autoritarismo de Lula, PT et caterva, afirma Mario Sabino em mais um brilhante artigo publicado na revista digital Crusoé, sustenta-se na gritar sobre um elogio de Jair Bolsonaro ao regime militar de 1964 (ou “movimento”, como prefere o petista Dias Toffoli) e suas declarações idiotas ou abjetas a respeito de minorias.

Discutir 1964, hoje, faz tanto sentido quando discutir 1910 em 1964 ou 2018 em 2072. Quanto às minorias, vale lembrar que Lula foi acusado de ser racista pela mãe de sua filha, em 1989, exibe comportamentos sexistas e, até que o politicamente correto se impusesse, fazia piadas sobre “veados” em público. Presidentes com compostura e desprovidos de preconceitos são recomendáveis, mas a falta de tais atributos não implica que tenham poder para perseguir minorias no Brasil, porque isso atentaria contra a Constituição e o ordenamento jurídico e causaria a repulsa imediata da sociedade.

É a mais rematada estupidez acreditar que Bolsonaro vá criar milícias para bater em gays e humilhar negros, ou que venha a legalizar a tortura de presos ou diminuir ainda mais os salários das mulheres. A obviedade é que, sob a batuta dos governos corruptos e incompetentes do PT, a criminalidade explodiu — e se continuou a bater em gays, humilhar negros, torturar presos e a pagar salários menores a mulheres.

Outra obviedade é que, em matéria de política pública, a prioridade para maioria e minorias é diminuir drasticamente o número de homicídios, assaltos e furtos no país — e não vitimizar os criminosos e criminalizar as vítimas. Alguém precisa calcular o valor do que é roubado de pobres a cada dia — estimo que seja, ao longo de um ano, o equivalente a um terço do PIB do Paraguai. Essa, sim, é uma abordagem social do problema. A proteção da vida e do patrimônio de todos os cidadãos está na base dos direitos adquiridos e daqueles a serem conquistados em quaisquer campos.

Ditas essas obviedades, passemos ao autoritarismo do plano de governo do PT. O texto está disponível na internet, mas pouca gente o leu, e nunca a falta do hábito de leitura dos brasileiros foi tão perigosa. Portanto, leia. O condenado José Dirceu causou espanto ao afirmar que se deveria tirar o poder de investigação do Ministério Público e todos os poderes do Supremo Tribunal Federal, mas consta do plano de governo “impedir abusos” do Judiciário.

Os petistas também explicitam a intenção de amordaçar a imprensa por meio do que chamam de “novo marco regulatório” nas comunicações. Na economia, o projeto é destruir qualquer possibilidade de diminuir o tamanho do Estado sustentado pelos pagadores de impostos. Pelo contrário, desejam aumentá-lo com “desprivatizações” e, assim, gastar mais o nosso dinheiro. Até o tabelamento de juros está previsto, de forma oblíqua, dentro da proposta geral de repetir tudo aquilo que já mostrou dar muito errado.

O general Mourão, vice de Bolsonaro, sugeriu uma nova Constituição sem Assembleia Constituinte, feita por “notáveis” e aprovada por plebiscito. Foi massacrado com razão. Lula e seu bando de seguidores querem, no papel, fragilizar as instituições com plebiscitos, assembleísmos e a criação de mais conselhos ideológicos. O plano de governo do PT fala “em reforma política com participação popular” e a “elaboração de um amplo roteiro de debates sobre os grandes temas nacionais e sobre o formato da Constituinte”. Ou seja, o PT quer uma nova Constituição. Eu também, mas não a deles, que pretende promover a apropriação indébita e completa das estruturas institucionais. O autoritarismo petista só não foi adiante entre 2003 e 2016 porque houve resistência de parte da imprensa e dos cidadãos — e, não menos importante, a roubalheira da tigrada revolucionária foi descoberta a tempo de impedir a concretização do projeto de o partido perpetuar-se no poder, fraudando eleições com dinheiro sujo. Mas, se o poste Haddad for eleito, Lula se sentirá legitimado a tentar colocá-lo em prática de novo. Solto, na condição de ministro ou eminência parda, o seu primeiro objetivo será vingar-se de todos os que investigaram, denunciaram e condenaram os crimes que cometeu — e tratar de anular a possibilidade de que a Justiça volte a funcionar contra ele e a sua turma.

No plano de governo, o PT não tem vergonha de mentir que o impeachment de Dilma, autora de uma gigantesca fraude fiscal para maquiar contas públicas, foi “o golpe de 2016”, seguido da “perseguição judicial” a Lula, daí a necessidade de “refundação democrática”. Mostra de que a organização assumiu abertamente a vigarice de que a democracia é um valor estratégico, como sempre pensou a esquerda da esquerda petista, e não um valor universal. José Dirceu foi didático nesse sentido, ao afirmar que, reinstalados no Planalto, eles tomarão o poder. Esqueçam, portanto, o “Lulinha Paz e Amor”. Se os eleitores colocarem seu fantoche no Planalto, os petistas virão com força contra quem se opuser, já que a única forma de sobreviverem é matando a democracia. Para isso, terão a cumplicidade de oportunistas que a eles se aliaram na gatunagem dos mandatos passados. A vanguarda e a retaguarda do atraso se unirão, com consequências imprevisíveis.

Karl Marx, o sapo barbudo alemão que continua a ser usado para doutrinação nas escolas e universidades nacionais, escreveu que “a história se repete primeiro como tragédia e, depois, como farsa”. A tentativa de Lula fugir para a presidência da República por interposta pessoa inverte a frase. Ele é uma farsa que poderá se repetir como tragédia. Ulule-se, pois, a obviedade.

Votem com sabedoria. Se isso for pedir demais, façam-no, ao menos, de forma consciente. Tenham em mente que situações desesperadoras pedem medidas extremas, e que é preciso primeiro apagar o incêndio para depois cuidar do rescaldo.

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ELEIÇÕES 2018 NA RETA FINAL — QUE DEUS NOS ACUDA!



Da campanha presidencial de 2018 sobrará, como dado mais revelante e toque de surrealismo, que o duelo decisivo se travou entre uma cela de prisioneiro e um quarto de hospital, cujos ocupantes compartilham a bizarria de ao mesmo tempo terem dominado o centro da trama e permanecido desaparecidos da vista pública.”

Assim Roberto Pompeu de Toledo inicia sua coluna na edição nº 2602 da revista Veja. Antes de conferir o restante do texto (magistral, como de costume), leia o que escreveu J.R. Guzzo  em sua coluna desta semana:

As eleições para eleger o novo presidente colocam o eleitor brasileiro numa situação que nunca aconteceu antes. Eleições, normalmente, são uma das ferramentas mais importantes da democracia — mas, na eleição deste fim de semana, um dos lados tem como objetivo, caso vença o pleito, acabar com o regime democrático no Brasil.

É uma droga de democracia, como todo mundo está cansado de saber, mas, por pior que seja, ainda é menos ruim que uma droga de ditadura — e é justamente isso que o consórcio formado pelo ex-presidente Lula, o PT e sua vizinhança quer fazer no país. Não falam assim, é claro. Mas os atos concretos que prometem praticar depois de assumir o governo vão deformar de tal maneira o poder público, os direitos individuais e a máquina do Estado que o resultado prático vai ser a construção de um regime de força no Brasil.

Não se trata apenas, como já aconteceu tantas outras vezes, de eleger um presidente ruim. O problema, agora, é que um dos possíveis finalistas, pelo que dizem há meses as “pesquisas de opinião”, tem um projeto público de ditadura para o país.

Acabar com o Poder Judiciário, por exemplo, anulando o seu tribunal mais elevado e interferindo nas decisões dos juízes e desembargadores — isso é ou não é uma providência básica que toda ditadura, sem exceção, julga indispensável tomar? Sim, é. Então: o candidato a presidente do PT promete que se for eleito vai criar um negócio chamado “controle social na administração da Justiça”. Isso quer dizer que as sentenças dos magistrados estarão sujeitas, no mundo real, a comitês externos ao Poder Judiciário, com membros nomeados pelo governo.

Promete-se, também, “repensar” os conselhos nacionais da Justiça e do Ministério Público. Todo mundo sabe muito bem o que significa “repensar” alguma coisa neste país — é virar a mesa. No caso, querem criar “ouvidorias”, compostas por pessoas que representem a “sociedade”, para vigiar juízes e MP. Querem, também, criar algum sistema de cotas para a escolha de juízes, de forma a “favorecer o ingresso e ascensão” de “todos os segmentos da população” nas carreiras do Judiciário, sobretudo as “vítimas históricas de desigualdades”. A coisa vai por aí afora, de mal a pior, mas o ex-deputado José Dirceu achou uma boa ideia acrescentar um plus a mais: segundo disse, deveriam ser tirados “todos os poderes do Supremo Tribunal Federal”. Segundo o pensador-chefe do PT, o “Judiciário não é um poder da República”. Quem manda, diz ele, é o povo, através do voto. Além do mais, afirmou, o que interessa é “tomar o poder”. Eleição é outra coisa.

O futuro governo Lula também promete criar oficialmente a censura à imprensa no Brasil. (Isso mesmo, governo Lula: o ex-presidente está na cadeia, condenado como ladrão em primeira e segunda instâncias, mas toda a estratégia do PT é provar que quem vai mandar de verdade no país é ele, e não seu preposto nas eleições.) Como acontece em relação à democracia, não se utiliza a palavra “censura”, assim abertamente; o que anunciam é o “controle social dos meios de comunicação”. É exatamente a mesma coisa. Esse “controle” não vai ser exercido pelo Espírito Santo. Quem vai “controlar” são pessoas de carne e osso nomeadas pelo governo, e “controlar” significa decidir o que a mídia pode ou não pode publicar. Isso é censura — e o resto é conversa, sobretudo os desmentidos de que haverá censura. A partir daí, só fica pior. Falam em “fortalecer” a prodigiosa TV Brasil, que eles mesmos inventaram, consegue gastar 1 bilhão de reais por ano de dinheiro público e até hoje tem audiência próxima ao zero. Falam em dar concessões de tevês e de rádios para sindicatos, “coletivos” e “movimentos sociais” — e mais do mesmo.

O projeto do PT inclui também uma “Assembleia Constituinte” paralela ao Congresso, como se fez na Venezuela, para criar um novo regime político e social no país. O que será isso? Nada fica dito em português claro, mas nem é preciso — basta ouvir o que dizem todos os dias as lideranças do partido. Propõe-se orientação “política” para o ensino básico, a parceria com governos criminosos, como os da Venezuela e Nicarágua, e com ditaduras africanas, e um governo dos “povos do campo, das águas e das florestas”, seja lá isso o que for. Mais que tudo, a candidatura do PT quer a volta dos governos Lula-Dilma — que acabam de ser acusados pelo ex-ministro Antonio Palocci de gastar 800 milhões de reais em dinheiro basicamente sujo para se manter no poder na última campanha presidencial. Francamente, não é preciso mais nada.

Voltando ao texto de Pompeu:

O roteiro tem um tanto de drama e outro de comédia. De seguro, pode-se avançar que, vença Jair Bolsonaro, o enfermo de São Paulo, vença Fernando Haddad, preposto e alter ego do prisioneiro de Curitiba, conforme indicam as pesquisas, no dia seguinte o Brasil não terá sossego. Quis a desditosa trama que a disputa se estreitasse entre representantes de tribos irredutíveis. Para uma ou para a outra, a luta continuará.

Estamos, Deus nos acuda, diante de dois projetos de salvação da pátria. Bolsonaro é o "mito", para os seguidores. Lula, depois da prisão, virou um pouco mais que humano. É o demiurgo que de sua cela de prisioneiro, transubstanciada em caverna de anacoreta, ou santuário de oráculo, transmite a mensagem divina.

Como sói acontecer quando a disputa é entre duas partes irredutíveis, a democracia treme nas bases. Da parte de Bolsonaro a ameaça é explícita, e vem embalada para os dois casos — o de derrota e o de vitória. "O PT descobriu o caminho para o poder: o voto eletrônico", disse ele, numa de suas falas no hospital. Se vencido, denunciará o sistema eleitoral. Em caso de vitória, os últimos ataques à democracia têm ficado por conta do candidato a vice, general Hamilton Mourão, autor da hipótese de "autogolpe" - aquele em que o presidente derruba as instituições em proveito próprio. Getúlio desferiu-o ao proclamar o Estado Novo, em 1937. Costa e Silva o repetiu em 1968, ao baixar o AI-5. Alberto Fujimori o perpetrou no Peru, em 1992.

Estamos, Deus nos acuda, diante de dois projetos de salvação da pátria

A ameaça do PT à democracia não é explícita, nem vem de seu candidato. Haddad é um intelectual com visão aberta e afeito ao diálogo. Mesmo Lula tem credenciais de democrata; governou em parceria com diferentes correntes e não se deixou levar pela tentação do terceiro mandato. A questão é o resíduo bolchevista que habita o núcleo duro do PT. Entre suas crenças permanece, herdada dos antigos partidos comunistas, a de que é detentor da chave da história. Ora, quem detém a chave da história não entra em eleição para cumprir mandato; entra para fazer a história andar, tarefa de sua exclusiva competência. Acresce que o duplo castigo do impeachment e da prisão aguçou no PT a sede de vingança.

A campanha impôs encargos opostos aos dois candidatos. Ao tosco Bolsonaro, impôs mostrar-se mais preparado do que é. Ele foi parcialmente salvo pelo recolhimento que o poupou dos debates e entrevistas. Ao preparado Haddad, impôs mostrar-se o tosco intérprete do impedido Lula. A ignorância de Bolsonaro teve seu espelho nos gravames que sufocam a inteligência de Haddad.

"Il peggio non è mai morto", o pior nunca está morto, dizem os italianos. Quem se aflige com a campanha, imagine o dia seguinte à vitória de um e outro candidato. Não será fácil para Haddad desfazer-se da máscara de Lula, tão afivelada lhe ficou no rosto. Haverá visitas comemorativas à cela em Curitiba e consultas para a formação do ministério. O candidato foi apenas o bastante procurador do verdadeiro vencedor, essa é a realidade dos fatos. Haddad enfrentará o desafio de recuperar a identidade em meio a um frenesi de atenções ao prisioneiro e pressões por sua libertação. De quebra, terá a amarrar-lhe os passos a bola de ferro da militância e da estrutura do PT.

Enquanto Haddad terá amparo de mais, Bolsonaro o terá de menos. Nem com o Posto Ipiranga, como ele chama o economista Paulo Guedes, é certo que poderá contar. "Em todas as nossas conversas, ameaçou abandonar o barco", escreveu a jornalista Malu Gaspar, no revelador perfil de Guedes que publicou na revista Piauí. Numa dessas ocasiões, o economista disse que vê-lo abandonar a campanha é "o sonho de todos" que querem a desgraça de Bolsonaro, mas que "esse prazer" não lhes dará. E acrescentou: "Só depois que ele for eleito". Tradução: no dia seguinte, o candidato poderá encontrar o Posto Ipiranga fechado.

Nas poucas horas que faltam para a eleição, ainda haverá chance para um candidato de centro? O problema do centro é sua invencível falta de charme. E o colunista nem está se referindo a Alckmin. É o centro mesmo, em si.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018 — ÀS VÉSPERAS DO PRIMEIRO TURNO




CARPE DIEMQUAM MINIMUM CREDULA POSTERO


Sobre o debate promovido pela Globo na noite de ontem, prefiro não comentar. Debate envolve projetos, e o que os “presidenciáveis” discutiram não passou nem perto disso. A quem interessar possa, a Lupa acompanhou o encontro, conferindo em tempo real as frases ditas pelos participantes. Os resultados foram publicadas no Twitter, em @agencialupa.

Quando eu assumir a Presidência, a primeira semana será de cara a semana da adoração. Vamos adorar a Deus. No oitavo dia vai ter uma auditoria pública, e os mais de 14 milhões de desempregados da nação vão ser abraçados pelo presidente da República. Assim como outras nações, nós temos problemas na nossa, com saúde, educação, segurança, infraestrutura, transporte. Mas isso tudo é simples de ser resolvido”. Palavras do candidato Cabo Daciolo, que deveria aparecer em público vestindo uma elegante camisa-de-força verde-amarela, para mostrar que, além dos presidiários, também há doidos de pedra disputando a presidência da Banânia.

Imaginava-se a princípio que o processo eleitoral solucionaria a mais grave crise política da história republicana do país, mas tudo indica que as mudanças no Legislativo serão meramente nominais, e os parlamentares continuarão priorizando seus interesses nada republicanos em detrimento dos interesses nacionais.

No âmbito do Executivo, o cenário é ainda mais desolador. Por incompetência (ou conivência) da Justiça, Lula transformou sua cela em comitê de campanha, onde recebe emissários dia sim outro também e de onde manipula a sucessão presidencial e comanda o PT — nada muito diferente do que fazem os chefões do PCC, Comando Vermelho e outras fações do crime organizado, de suas celas nos presídios de segurança máxima. Já a direita liberal, sem um candidato para chamar de seu, orbita a extrema direita, cuja proposta de governo se resume ao tal Posto Ipiranga.

No Judiciário, ministros supremos se dividem em garantistas e punitivistas e desautorizam-se uns aos outros, desrespeitando a jurisprudência nas decisões monocráticas e promovendo bate-bocas e guerras de liminares. Veja o caso do guerrilheiro de araque José Dirceu, que perambula pelo país a pretexto de divulgar o livro de memórias que escreveu na prisão — de onde saiu pela porta da frente graças a um habeas corpus concedido pela 2ª Turma do Supremo, do qual fazia parte o atual presidente da Corte.

Como bem salientou José Nêumanne em artigo publicado no Estadão, além de votar a favor da soltura do guerrilheiro de festim, Toffoli passou um “pito” no juiz Sérgio Moro, que quis impor o uso de uma tornozeleira ao condenado. Em qualquer vara mequetrefe da zona do baixo meretrício, o habeas corpus não poderia ter sido assinado, pois à Justiça deveria importar a “suspeição” pelo fato de o ministro supremo ter sido funcionário do réu na época em que advogou para o PT. Mas no Brasil o Direito Romano e suas filigranas, tais como a igualdade de todos perante a lei, só têm valor quando exercidos contra desafetos e inimigos jurados.

O fato é que a soltura de Dirceu foi orquestrada por Toffoli e apoiada automática e entusiasticamente por seus companheiros do “trio Solta Gatuno”. Assim, o criminoso que fundou, dirigiu, comandou e unificou o PT em torno do presidiário de Curitiba vem gozando das delícias do sol da zona cacaueira e outros locais aprazíveis. Recentemente, em entrevista concedida ao jornal espanhol El País, perguntado sobre a possibilidade de o PT ganhar as eleições e “não levar” por causa da oposição da direita, o Dirceu saiu-se com a seguinte pérola: “Acho improvável que o Brasil caminhe para um desastre total. Na comunidade internacional isso não vai ser aceito. E dentro do país é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”.

Ainda em seu périplo pelo país para lançar lembranças de atos heroicos e amantes inesquecíveis, o petralha disparou contra os procuradores federais que o denunciaram. Disse, literalmente, que “o Supremo, em 2016, deu poder de investigação ao Ministério Público. Qual é o resultado? Agora há investigações sigilosas. Inclusive o ministro Gilmar Mendes tem criticado isso. Tem que tirar o poder de investigação do MPF, que é só para acusar, mas virou uma polícia política sem controle nenhum. E mais: uma corporação com os maiores privilégios do Brasil”.

Tal mistura de alhos com bugalhos não pode ser tratada apenas como queixa de um réu pilhado em delito na tentativa de desqualificar seus acusadores. Ela representa os lamentos comuns de outros chefões de organizações criminosas que dilapidaram e dilapidam o Erário em nome de benemerências a desassistidos e de justiça social, enriquecendo pessoal e ilicitamente e enchendo as burras de suas legendas com dinheiro furtado do povo. E não flagra apenas o exercício do célebre jus sperniandi — expressão jocosa, em falso latim vulgar, que significa “direito de espernear” —, mas traduz a disposição de poderosos mandatários nos três Poderes de garantir a impunidade a si mesmos e à própria grei, além de prejudicar e, se possível, apenar os agentes do Estado que tenham investigado e processado seus delitos contra o patrimônio do cidadão.

Quando a entrevista ao El País foi publicada, a primeira lembrança que veio à mente de qualquer brasileiro com mais de 60 anos foi a da frase atribuída a Luiz Carlos Prestes, em 1963, época em que era secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro. Sob João Goulart, os comunistas ocupavam cargos importantes no governo federal, mas não se consideravam ainda suficientemente poderosos. A constatação foi expressa pelo “cavaleiro da esperança” (apud Jorge Amado) na sentença: “Estamos no governo, mas ainda não estamos no poder”. O uso da expressão autoritária “tomar o poder” aproxima a frase de Dirceu da de Prestes, que, como os livros de história registram, deu com os burros n’água: um ano depois, os militares derrubaram o governo constitucional de Jango e o PCB, com Prestes, teve de se esconder na clandestinidade.

Hoje, as condições para uma ruptura institucional desse gênero parecem distantes. E o próprio pretendente a profeta o reconhece na entrevista. No entanto, na crítica feita ao MPF, Dirceu foi menos candidato a Cassandra do apocalipse e mais cronista de uma situação que ele, como factótum de Lula no partido e no governo, domina como participante do “acordão” que, sem dúvida, está sendo urdido para influenciar de forma direta a disputa eleitoral de vários cargos poderosos na política, principalmente o mais alto de todos.

Ao site piauiense AZ, Dirceu misturou o trabalho de investigação da polícia e de denúncia do MPF e o comparou aos processos de perseguição aos adversários de Estado e do regime executados pelos órgãos repressivos de ditaduras como as de Adolf Hitler, seu herói Josef Stalin e seu ídolo Fidel Castro. No site 180, também do Piauí governado por um petista, Wellington Dias, ele acionou sua metralhadora giratória contra o STF, do qual disse que um governo petista reduzirá os poderes, mudando até o nome, que passaria de Supremo para “Corte de Justiça”. Nem os amigos protetores escaparam de suas rajadas erráticas.

Na verdade, o Supremo jamais deu permissão ao MPF para conduzir investigações criminais. Os procuradores até pressionam a Corte a reconhecer que quem pode o mais pode o menos, mas a pressão tem sido rechaçada pela PF, e nada de novo foi dado. A militância de Dirceu é contra a delação premiada, incorporada à Justiça brasileira por leis assinadas por FHC e, mais adiante, por Dilma Rousseff. Sem esse instrumento, dificilmente a Lava-Jato e seus filhotes teriam produzido os feitos de que se orgulham e que tanto agradam à sociedade cansada da impunidade.

As críticas tornam-se confissões e o hábil perito dos lances magistrais do PT é equiparado a sua sucessora na chefia da Casa Civil, cuja inabilidade é notória. Como a nota oficial em que Dilma, tentando se defender, confessou sua participação na decisão que levou à compra da onerosa da refinaria da Astra Oil, em Pasadena, que foi considerada sincericídio de rara estultice, as declarações de Dirceu revelam que ele está trilhando a mesma vereda. Seu “sincericídio” preocupa muito a “companheirada”, conforme publicou Vera Magalhães no BR18, pois o PT acha que seu “bucho furado” pode tirar votos de quem não quer Bolsonaro, mas hesita em votar em Luladdad. Aliás, quem, na situação descrita, cair nas torpes fantasias do “guerrilheiro” da Odebrecht não poderá mais dizer que não foi avisado.

Pesquisas de intenção de voto divulgadas nesta semana apontaram claramente que o ritmo de crescimento do alter ego do demiurgo de Garanhuns decaiu, enquanto o de seu oponente de extrema direita subiu, até mesmo no nordeste (tradicional reduto eleitoral do lulopetismo) e entre o eleitorado feminino (onde a rejeição ao capitão é maior). Vejamos o que Merval Pereira tem a nos dizer sobre essa questão:

Há muitas explicações para a subida de Bolsonaro nas pesquisas de opinião, reafirmada ontem pelo Ibope, e são tão variadas que o PT não sabe para onde atirar. O fogo amigo certamente é um deles. O ex-ministro José Dirceu assustou muita gente anunciando que o PT não apenas ganharia a eleição, mas tomaria o poder. Outro ex-ministro poderoso, Antonio Palocci, teve sua delação premiada divulgada, incriminando diretamente os ex-presidentes Lula e Dilma nas falcatruas em que o partido se meteu nos quase 13 anos em que esteve no poder. A confirmação de que Lula era quem organizava a quadrilha, com a participação direta de Dilma, que seria beneficiada pelo financiamento ilegal das campanhas de 2010 e 2014, reforça a imagem de um partido mergulhado na corrupção e aumenta a rejeição de seu principal líder, encarcerado em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro.

A passeata #Elenão acabou se transformando em uma manifestação política de esquerdistas, e não uma crítica suprapartidária ao candidato Bolsonaro. Tanto que a aprovação dele cresceu entre as mulheres, e nas redes sociais, está explorando situações que aconteceram nas passeatas, como protestos de topless, para criticar as “mulheres esquerdistas” e exaltar as “de direita”, que seriam mais educadas e respeitadoras.

Como o candidato oficial do PT, Luladdad, não existe por si só — e ele mesmo faz questão de demonstrar que quem manda é Lula ao consultá-lo pessoalmente toda semana —, não tem culpa nem pela subida vertiginosa nas pesquisas, nem pelo aumento da rejeição, que o está fazendo empacar neste momento por volta dos 20%. Tanto os votos quanto a rejeição em alta são transferências de Lula, que dá com uma mão e toma com a outra, levando o candidato do PT a estacionar na média histórica que o partido sempre teve quando perdeu as quatro eleições presidenciais. O marco de 25% a 30%, insuficiente para vencer, só ampliado quando Lula foi para o centro, abandonando os radicalismos das propostas partidárias.

Disputas internas no PT sempre existiram, mas eram abafadas pela popularidade de Lula, que controla o partido e dita as linhas mestras das campanhas. Hoje, mais uma vez as diversas correntes estão em confronto (...) e à medida que a fragilidade da estratégia traçada pelo ex-presidente vai sendo revelada e a transferência de votos esbarra na transferência da rejeição, alguns líderes sentem-se em condição de confrontar as orientações de Lula, ou, dizendo obedecê-las, criam situações de constrangimento para Haddad. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, diz que fazer acordos para o segundo turno e amenizar o tom na campanha seria trair o ex-presidente. A cada pesquisa que indica a dianteira de Bolsonaro, o PT se desentende internamente e dá margem ao crescimento dos adversários.

O fato é que os números do Ibope e do Datafolha botaram água no chope da petralhada, a despeito de a revista Veja ter publicado uma extensa matéria de capa sobre o divórcio litigioso de Bolsonaro, e das manifestações com o mote #Elenão ocorridas no domingo passado. Enquanto isso, a transferência de votos do prisioneiro de Curitiba para sua marionete pode ter chegado ao limite.

Bolsonaro declarou que “falta muito pouco” para ele vencer a disputa já no primeiro turno. Conforme os últimos números do Ibope, ele tem 32% do total das intenções de voto na disputa, que passa a 38% considerando apenas os votos válidos — para ganhar no primeiro turno, um candidato deve receber mais da metade dos votos válidos, isto é, descontados os votos brancos e nulos. O segundo colocado é Luladdad, que aparece com 23% da preferência total e 28% dos votos válidos.

A grande dúvida é como os adversários que estão virtualmente fora do páreo vão se comportar. Ciro Gomes vem sendo cada vez mais crítico ao PT e, vez por outra, se despe da estratégia de paz e amor. Marina, que já bebeu do mesmo pote do PT, também vem tentando desconstruir seus ex-aliados e igualá-los à campanha de Bolsonaro. O Centrão, antes trunfo de Alckmin, caminha célere para a dispersão, e a história mostra que, mesmo dispersos, os políticos desse bloco tendem a ser atraídos pelo polo em crescimento maior. A conferir.

E FALANDO EM PESQUISAS:



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