O PREGO MAIS SALIENTE É O QUE LEVA A MARTELADA.
De acordo com uma teoria publicada na revista Physical Review, o Big Bang, tradicionalmente considerado o início de tudo, pode ter ocorrido dentro de um buraco negro.
Em vez de começar com o Universo em expansão e tentar voltar no tempo, os autores especulam sobre o que acontece quando uma imensa quantidade de matéria colapsa — como as estrelas supermassivas que dão origem a buracos negros. Mas que ocorre dentro do horizonte de eventos desses corpos celestes ainda é um mistério.
Essa hipótese desafia o modelo cosmológico padrão (Lambda CDM), segundo o qual Universo surgiu de uma singularidade — um ponto de densidade infinita — e passou por uma expansão tão rápida (a chamada inflação cósmica) que não houve tempo para que regiões distantes tivessem interagido termicamente.
No entanto, esse pressuposto conflita com a radiação cósmica de fundo — que apresenta uma uniformidade surpreendente em todas as direções — e nos leva ao chamado Problema do Horizonte.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
O voto divergente de Luiz Fux pela absolvição de Bolsonaro animou a turba da anistia, entusiasmada com a possibilidade de futura revisão criminal e a chance de utilização imediata dos argumentos jurídicos na disputa ideológica. No que concerne aos advogados, o regozijo se justifica, dado o vaivém da Justiça. Na política, porém, o buraco é mais embaixo.
É no mínimo implausível a tese de que Mauro Cid e Braga Netto, respectivamente ajudante de ordens e vice na chapa do ex-presidente golpista — ambos condenados por Fux —, tenham urdido um golpe em causa própria. Tal ideia não ocorreu nem ao mais fanático dos bolsonaristas, e o fato de ter sido defendida por um dos magistrados (por motivos que não vou discutir neste momento) não muda o destino dos réus. Enquanto tiver validade, permanece a decisão da maioria ampla no universo de cinco votos. O que acontecerá depois fica para depois. Agora o que se tem é a condenação dada por um tribunal onde a divergência desmentiu a versão do jogo combinado entre os magistrados em ambiente de ditadura judicial.
O poder da divergência é transitório, pois vale o escrito nas sentenças finais. A grita não muda a realidade. Aos que se animam com o efeito político do voto de Fux, cumpre lembrar a atuação de Ricardo Lewandowski, juiz revisor no julgamento do mensalão, que discordou do relator Joaquim Barbosa. Mas a divergência ficou perdida na história, cujo registro foram as condenações marcadas a ferro na pele do PT, bem como as anulações da Lava-Jato não fizeram de ninguém inocente.
Fux marcou posição, mas o fato permanente será a conclusão do STF sobre uma tentativa de golpe que não pode se repetir.
Embora robusto, o modelo do Big Bang não oferece respostas para todas as questões fundamentais — especialmente sobre o que antecedeu a grande expansão — indagação que o saudoso Stephen Hawking comparava a questionar o que existe além do Polo Norte. Mas outras tensões teóricas persistem, até porque, nas proximidades da singularidade, as equações da relatividade geral simplesmente se tornam inválidas. Compreender esses limites extremos requer uma teoria quântica da gravidade que unifique relatividade e mecânica quântica. A isso se acrescenta o enigma da energia escura — possivelmente responsável pela inflação primordial do Universo, mas de natureza ainda completamente desconhecida.
Muitos astrofísicos acreditam que o surgimento do Universo não foi o início do espaço-tempo, mas uma transição a partir de uma fase anterior que permanece envolta em mistério. O astrofísico Ethan Siegel afirma que a inflação cósmica é a melhor extensão do modelo do Big Bang. Já Roger Penrose, idealizador da cosmologia cíclica conforme, sustenta que "universo anterior" teria se expandido, colapsado (num Big Crunch) e dado origem a um novo cosmos.
Sob certas condições, o colapso gravitacional leva inevitavelmente a uma singularidade, mas uma nova teoria propõe que a singularidade pode ser evitada e que o colapso pode se reverter. Essa reversão estaria ligada ao princípio de exclusão de Pauli, segundo o qual duas partículas idênticas (os férmions) não podem ocupar o mesmo estado quântico ao mesmo tempo. Isso impediria que a matéria fosse comprimida indefinidamente, interrompendo o colapso e desencadeando uma nova inflação cósmica semelhante à que teria dado origem ao nosso Universo.
Se essa hipótese estiver correta, o Big Bang não foi o início de tudo, mas o “rebote” interno de um buraco negro formado no colapso de uma estrela em um universo anterior. Em outras palavras: o Universo observável pode estar dentro de um buraco negro pertencente a um "universo-pai" maior, e não ser perfeitamente plano, como supõe o modelo atual.
Talvez não estejamos diante da criação de algo a partir do nada, mas da continuidade de um ciclo cósmico moldado pela gravidade e pela mecânica quântica — um passo importante na direção da tão sonhada teoria de tudo. A missão espacial Euclid, que observará bilhões de galáxias, poderá trazer pistas valiosas e contribuir para esclarecer a origem dos buracos negros supermassivos, a natureza da matéria escura e a evolução das galáxias.
A conferir.