NO BRASIL, MEDE-SE COM PAQUÍMETRO, MARCA-SE COM GIZ E CORTA-SE COM MACHADO.
Quando comecei a me entender por gente, no início dos anos 60, as crianças perdiam os dentes-de-leite bem antes de deixar de acreditar em Papai Noel. O “Espírito do Natal” surgia timidamente no começo de dezembro, crescia como o apito de um trem que se aproxima da estação e depois baixava com força total, feito orixá em terreiro — e só cantava pra subir lá pelo Dia de Reis, quando a gente desmontava a árvore.
Detesto essa conversa de que “no meu tempo era melhor”, mas é difícil não ver que uma festa essencialmente religiosa vem se tornando cada vez mais comercial. Vivemos num mundo capitalista, é verdade, porém a pergunta é: onde foi parar aquele clima festivo, aquela camaradagem que tomava conta das pessoas, independentemente de fé ou crença?
O Natal celebra o nascimento de Jesus — que, curiosamente, era judeu — e marca o início da Era Cristã. Ele foi fixado em 25 de dezembro lá pelo século IV (talvez por coincidir com o solstício de inverno no hemisfério norte), mas há controvérsias sobre a data, a idade e até sobre Cristo ter realmente existido
Voltando aos tempos de antanho, os votos de boas festas soavam mais sinceros. Durante todo dezembro, desejava-se um feliz Natal — e depois um feliz ano novo — ao padeiro, ao balconista, ao frentista, ao faxineiro do prédio e até mesmo a completos desconhecidos no ônibus ou na rua, e montar a árvore, o presépio, e pendurar a guirlanda faziam parte do ritual.
A tradição da árvore de Natal remonta ao século XVI, quando Martinho Lutero tentou reproduzir, com galhos, velas e enfeites, a visão de pinheiros cobertos de neve sob um céu estrelado. O presépio é atribuído a São Francisco de Assis. Já Papai Noel foi inspirado num bispo chamado Nicolau, conhecido por ajudar os pobres deixando moedas nas chaminés.
Embora o Natal chegue cada vez mais cedo — especialmente nos shoppings, onde outubro mal acaba e os enfeites já brotam —, tudo ficou impessoal, sem graça. Mesmo com árvores montadas e luzinhas piscando nas janelas, o clima é artificial e os votos carecem de calor humano (apesar do calor da estação).
Originalmente, Papai Noel vestia marrom. O figurino vermelho, com detalhes brancos e cinto preto, veio com o cartunista Thomas Nast e foi eternizado nos anos 1930 por uma campanha da Coca-Cola — coincidência cromática, claro.
Boas festas.
