domingo, 12 de fevereiro de 2023

FÁBRICA DE CRISES SOB NOVA DIREÇÃO

  

Até o último dia quatro, 653 suspeitos de envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro foram denunciados por associação criminosa e incitação à animosidade entre as Forças Armadas e os Poderes Constitucionais, mas a instalação de uma CPI ainda patina. Na avaliação do senador Rodrigo Pacheco, a viabilidade regimental existe, mas falta definir o "momento" e a "conveniência". 

Fabiano Contarato e outros 47 senadores assinaram o requerimento apresentado por Soraya Thronicke, mas o líder do PT na Câmara acha que a comissão "pouco poderia avançar" além do que já foi investigado, e teria potencial destrutivo não para o governo, mas para a população brasileira, ao desviar o foco de pautas que o Congresso precisa discutir. Entendeu? Nem eu. Mas convenhamos: quem tem rabo de palha não fica de costas para fogueira.
 
O ministro corregedor do TSE decidiu manter a cópia da minuta golpista num processo que pede a cassação dos direitos políticos de Bolsonaro, o que torna ainda menos improvável a hipótese de a Justiça Eleitoral torná-lo inelegível em 2026. O TSE cogita julgar o ex-presidente até o final de maio. Se demorar muito, o "turista" da Flórida talvez não se credencie nem para o papel de guia de cego.
 
No final de janeiro, em reunião com governadores, Lula declarou: "Nós vamos mostrar ao povo brasileiro que o ódio acabou". Ele assegurou: "O Brasil vai voltar à normalidade." Decorras duas semana, o presidente se acorrentou a uma agenda bélica, estruturada sobre uma tríade que faz lembrar a anormalidade da gestão Bolsonaro: tiro, porrada e bomba. A pauta de Lula é a seguinte:
 
1 — Tiro no próprio pé: o governo de frente ampla perde o nexo quando nem o pedaço petista da equipe consegue falar a língua do chefe. Na Fazenda e no BNDES, Fernando Haddad e Aloizio Mercadante se desentendem com Lula expressando-se no mesmo idioma. Eles falam uma coisa. Lula diz o oposto.
 
2 — Porrada no Banco Central: Mimetizando o comportamento do antecessor, Lula transfere responsabilidades. "A culpa é do Banco do Central", ele diz. "Agora é o Senado que pode trocar o presidente do Banco Central." Até outro dia, Haddad precisava convencer o mercado de que conseguiria colocar as contas nacionais em ordem e reativar a economia. Agora, só precisa convencer Lula.
 
3 — Bomba na Eletrobras: Lula declarou que a privatização da Eletrobras foi "quase uma bandidagem". Anunciou que a Advocacia-Geral da União ralará na Justiça para rever o "contrato leonino" contra o governo.
 
Lula não deve propor ao Congresso o fim da autonomia do Banco Central, até porque seria derrotado, e tampouco planeja recomprar ações da Eletrobras. "Minha prioridade neste momento é acabar com a fome", ele próprio admite, numa concessão ao óbvio. 

O mundo em volta deixa de ter importância quando o presidente briga por brigar. Fica entendido que o petista também tem a sua realidade paralela. Desmontou todas as armadilhas de Bolsonaro, mas a fábrica de crises do Planalto continua em pleno funcionamento. 

Triste Brasil.