POLÍTICA É A ARTE DE ENGOLIR SAPOS, PEDIR VOTOS AOS POBRES, RECURSOS FINANCEIROS AOS RICOS, E DEPOIS MENTIR PARA AMBOS.
Em junho de 2021, a Microsoft anunciou o lançamento do Windows 11 e informou que o suporte ao Windows 10 seria encerrado em 14 de outubro de 2025.
A expectativa era de que todos os computadores compatíveis estivessem rodando o Windows 11 em meados de 2022, mas faltou "combinar com os russos": a menos de três meses do prazo final, a versão anterior continua abocanhando 68% do mercado mundial de PCs — contra 27% da atual e 4,5% das versões 8.1, 7, Vista e XP somadas.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
A morte, em 2009, do advogado russo Sergei Magnitsky nos porões do regime de Vladimir Putin deu início a uma campanha mundial que resultou, três anos depois, na criação da lei que leva seu nome. Concebida como um mecanismo internacional para isolar financeiramente ditadores, violadores graves dos direitos humanos e corruptos em larga escala, a Magnitsky Act foi sancionada pelo então presidente Barack Obama — e transformada em arma política por Donald Trump, que a usou contra o ministro Alexandre de Moraes em retaliação ao processo contra Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Os discursos de desagravo em resposta à ofensiva deram à sessão de reabertura do Supremo, após o recesso de julho, um ar de reprise do day after da Festa da Selma. A diferença é que, desta vez, o mecânico Fábio Alexandre de Oliveira — que se sentou na cadeira de Xandão e gritou “é o povo que manda nessa porra” — disse à PF, depois do quebra-quebra, que era tudo “brincadeira”. Mas a Magnitsky é coisa séria.
A família Bolsonaro, em aliança com Trump, tenta novamente virar a página da história para trás — num novo surto da psicose do que ainda pode acontecer. Os fatos que levaram ao 8 de janeiro deram ao Brasil a oportunidade de um novo começo. O dilúvio de irracionalidades poderia ser interpretado como uma intervenção divina para punir o país por seus erros e forçá-lo a se repensar. O diabo é que alguns brasileiros não querem se reinventar. No caso do clã Bolsonaro, não se esperava por exames de consciência ou atos de contrição, mas ao menos se imaginava que o instinto de sobrevivência os levaria à autocontenção.
O bolsotrumpismo — cruzamento do arcaísmo de Bolsonaro com o instinto imperial de Trump — restaurou momentaneamente a atmosfera de anormalidade, transformando o 8 de janeiro num dia interminável, um prólogo eterno. Para evitar novos dilúvios, o Supremo se equipa para condenar, já em setembro, o ex-presidente golpista e os cúmplices mais próximos do núcleo crucial.
É imperativo virar rapidamente essa página — só que para a frente.
O Windows "nasceu" em 1985 como uma interface gráfica que rodava sobre o MS-DOS e se tornou o sistema operacional para PCs mais popular do planeta — não sem amargar fiascos monumentais (Windows ME, Vista e 8/8.1) em contraste com sucessos retumbantes (Windows 95, 98/SE, XP, 7 e 10). Nenhuma versão, no entanto, teve o ciclo de vida encerrado antes que sua sucessora se consolidasse no mercado.
O Windows 7 levou apenas um ano para superar o Vista. Já o Windows 10, lançado como serviço em 2015, foi incumbido da missão de alcançar 1 bilhão de instalações em três anos, mas demorou cinco, e nada indica que será superado pelo Windows 11 no curto prazo, a despeito do fim da sua vida útil obrigar mais de 200 milhões de usuários a decidir se continuam usando um PC que não recebe novas atualizações de segurança, contratam um plano de suporte adicional ou trocam de sistema operacional.
Embora seja possível forçar a instalação do Windows 11 em máquinas que não atendem às exigências impostas pela Microsoft, nada garante que o upgrade será bem-sucedido — e que o computador não se tornará uma "carroça", o que invariavelmente ocorre com aparelhos que utilizam jurássicos drives de disco rígido.
Diante da perspectiva (nada alvissareira) de centenas de milhões de PCs se tornarem toneladas de lixo eletrônico, a empresa criou programas de suporte estendido e ofereceu como alternativa adotar uma versão do Win10 Enterprise — como a LTSC 2021, baseada na versão 21H2 e com suporte até janeiro de 2027 —, mas ambas as opções custam dinheiro e apenas empurram o problema com a barriga.
Observação: Vale frisar que essa celeuma poderia ter sido evitada se a empresa desvinculasse o upgrade da exigência do TPM 2.0 — processador de criptografia destinado a robustecer a segurança durante a inicialização do sistema —, mas ela insiste que ele é necessário para manter o Windows 11 seguro.
No início deste ano, a Microsoft removeu um método oficial que permitia a instalação do Windows 11 em PCs sem TPM 2.0. Dias atrás, uma notificação via Windows Update passou a oferecer o upgrade para PCs sem TPM 2.0. A gigante do software disse que não fez mudanças nos pré-requisitos e que a exigência do TPM 2.0 continua valendo. Assim, mesmo que a atualização seja oferecida, a instalação pode falhar.
Há várias maneiras extraoficiais de fazer a migração, mas convém ter em mente que elas podem deixar seu computador instável. Como seguro morreu de velho, quem não quer comprar um PC novo nem mudar de sistema operacional pode contratar um plano de suporte estendido (ESU, na sigla em inglês), que custa US$ 30 por ano (renovável por mais um ano). De acordo com a Microsoft, essa liberação está acontecendo de modo progressivo, e os usuários receberão notificações via Windows Update ou na área de configurações do Windows 10.
Resumo da ópera: o que era para ser um fim de suporte virou novela — e, como toda boa novela, ainda deve render alguns capítulos extras antes do "último episódio". Enquanto isso, só me resta desejar boa sorte a quem ainda não resolveu se casa ou se compra uma escada.