NA PRAIA, À NOITE, PREFIRA CONTAR ESTRELAS A GRÃOS DE AREIA.
Albert Einstein foi o maior físico de todos os tempos, e Stephen Hawking, o maior astrofísico do século XX.
Em 1963, aos 21 anos, Hawking foi diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica. Os médicos previram uma sobrevida de apenas dois anos, mas ele morreu em 2018, dez dias após submeter ao Journal of High-Energy Physics a Teoria dos Universos Paralelos, segundo a qual o Big Bang não teria sido um evento único, mas a origem de incontáveis universos, onde as leis da física poderiam ser completamente diferentes.
Sua carreira foi marcada por contribuições que revolucionaram a física teórica e a astronomia. Uma das descobertas mais notáveis foi a de que os buracos negros não são eternos: ao emitirem uma forma de radiação — posteriormente batizada de Radiação de Hawking —, eles perdem massa e acabam desaparecendo após milhões ou bilhões de anos. Quanto às informações sobre o que cai nos buracos negros, Hawking teorizou que as perturbações quânticas poderiam preservá-las, oferecendo uma possível solução para o célebre paradoxo da informação — que ainda é objeto de debate na comunidade científica.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Fica mais difícil a cada dia escrever sobre política nesta banânia. O cenário muda — quase sempre para pior — como imagens de caleidoscópio, e manter-se atualizado é como trocar pneu com o carro andando. Enfim, tomemos uma para rebater o empache, e bola pra frente.
Revitalizado pelo crime de lesa-pátria cometido por Bobi Filho em prol da anistia de Bibo Pai, Lula percorre tênue linha que separa "ir bem" de "ir longe demais". Acerta ao dizer que Trump "não foi eleito para ser imperador do mundo", mas escorrega ao afirmar que a calopsita alaranjada "poderia ser presa" se a invasão ao Capitólio tivesse ocorrido no Brasil (todos sabemos como a Justiça brasileira funciona), e joga para a plateia ao vociferar que o governo não aceita "ordem de gringo" e que vai taxar "as big techs americanas". O diabo é que falta quase um ano e meio para a eleição. Se nada for feito, o tarifaço de 50% entrará em vigor em pouco mais de uma semana. Nada em Trump cheira bem, mas quem confronta um gambá corre o risco de sair fedendo mesmo se ganhar a briga.
Mudando do desgostante para o vomitativo, Bolsonaro demora a entender que sua única saída é a porta (de entrada) de uma cela de cadeia, e age como se preferisse ir em cana antes da (cada vez mais) provável condenação definitiva.
Na segunda-feira, o ex-aspirante a golpista foi à Câmara para mobilizar sua facção e fornecer às redes sociais de terceiros imagens de sua tornozeleira e o blábláblá da "humilhação". Xandão enxergou na coreografia uma violação à ordem de abstinência digital, e deu 24 horas para a defesa se manifestar. Os advogados ponderaram que o cliente não tinha conhecimento da proibição de conceder entrevistas e asseguraram que ele seguirá sem se manifestar.
Bolsonaro tencionava levar sua pose de vítima para passear em duas comissões da Câmara, mas Hugo Motta levou o pé à porta, e o capetão deu meia-volta.
A caminho da cadeia, Bolsonaro roda um filme repetido. Por um lado, cobra de sua facção na Câmara mobilização para aprovar sua anistia e o impeachment de seu algoz. Por outro, convoca o pedaço troglodita do agronegócio a entoar o hino nacional por ele e financiar o ronco de caminhões nas ruas. Alguém deveria alertá-lo de que roleta-russa também é suicídio, mesmo que na modalidade recreativa de um desafio constante à própria sorte.
Mas e daí? Eu não sou coveiro...
A obra de Hawking teve como ponto de partida a Relatividade Geral, da qual decorre uma solução específica para a estrutura do cosmos, que ficou conhecida como modelo de Friedmann-Lemaître-Robertson-Walker. Com os teoremas da singularidade Hawking-Penrose e com os estudos sobre a entropia Bekenstein-Hawking, o astrofísico demonstrou que o universo teve um começo associado a uma singularidade que deu origem ao Big Bang.
A princípio, acreditava-se que essa singularidade explicaria a origem do universo, mas a ideia perdeu força ao esbarrar nas limitações impostas pela mecânica quântica. Essa conclusão foi alcançada ao se "voltar no tempo" através das equações relativísticas e das condições do universo primordial. Mas há um ponto a partir do qual o espaço e o tempo desaparecem, tornando impossível retroceder ainda mais. Segundo Hawking, especular sobre o que havia antes do Big Bang é como perguntar o que existe ao norte do Polo Norte.
Durante séculos, achava-se que que o universo era eterno, infinito no tempo e no espaço. Hawking mostrou que houve um começo e que pode haver um fim — não apenas um fim cósmico, mas vários, representados por cada buraco negro, que funciona como um sumidouro onde espaço e tempo deixam de existir. Mais adiante, ele propôs uma ideia ainda mais radical: se o tempo fosse imaginário no início — um conceito matemático inspirado nos números complexos —, o universo seria finito em extensão, mas sem fronteiras, como a superfície de uma esfera. Nesse cenário, não haveria uma singularidade inicial e a origem do cosmos estaria inteiramente determinada pelas leis da física.
Em 1962, Hawking ingressou na Universidade de Cambridge como estudante de PhD. Já em 1979, tornou-se Professor Lucasiano de Matemática (cargo que foi ocupado por alguns dos maiores físicos da Inglaterra, como Isaac Newton). Em 2009, tornou-se Diretor de Pesquisa no Departamento de Matemática Aplicada e Física Teórica (cargo que ocupou até sua morte), e foi membro do Centro de Cosmologia Teórica da Universidade de Cambridge, fundado por ele em 2007.
Preferindo mirar o infinito do cosmos a olhar para as limitações do próprio corpo, Hawking se notabilizou por tornar conceitos científicos complexos acessíveis ao publico leigo em astrofísica. Em 1995, em um desafio promovido pelo Tomorrow’s World, fez previsões para os 30 anos seguintes — como os avanços na exploração espacial, a mineração de asteroides, o aumento do lixo orbital, as transformações digitais e o crescimento da robótica, a disseminação de assistentes virtuais e dispositivos inteligentes — hoje presentes nos smartphones, eletrodomésticos e assistentes de voz baseados em inteligência artificial.
A despeito de sua genialidade, ele era humano e, portanto, falível. Em 1975, apostou com o físico Kip Thorne que o objeto Cygnus X-1 não era um buraco negro. Mais adiante, apostou que a informação é perdida nos buracos negros, e que ninguém jamais descobriria o Bóson de Higgs. Perdeu todas elas.
Hawking dedicou anos de sua vida à busca por uma "teoria de tudo" — que combinasse a mecânica quântica com a física clássica para explicar as leis fundamentais do universo. Para muitos, ele foi a mente mais brilhante de todos os tempos, mas nunca revelou seu QI — questionado sobre isso por um repórter do New York Times, respondeu: "Pessoas que se gabam de seu QI são fracassadas." Pouco antes de morrer, destacou questões como o aquecimento global e o aumento populacional como fatores que dariam origem a uma crise ambiental severa, e previu que, sem a devida atenção, esses problemas poderiam transformar o planeta em um lugar inóspito para a vida humana, possivelmente até ao final do século XXVI.
Embora tenha ficado quase totalmente paralisado pela doença, Hawking foi uma das personagens mais influentes da ciência no século XX. Até que o universo — ou a humanidade — desapareça, suas descobertas continuarão gerando conhecimentos, inspirando gerações a olhar para as estrelas e a perguntar o que mais o tempo ainda esconde.