SE A VIDA É UM BURACO, SÃO PAULO É CHEIO DE VIDA
O PT não tem candidato próprio à Prefeitura de São Paulo; apoia Guilherme Boulos, do PSOL, que, em poucos dias, foi nomeado coordenador de um programa do Ministério dos Direitos Humanos (dirigido a moradores de rua, com verba de R$ 1 bilhão), viu-se no centro de um ato com a presença de presidente para a construção de casas populares e ganhou dele a promessa de levar Marta Suplicy de volta ao PT para compor a chapa.
A promessa é ousada e de difícil execução. Problemão para Ricardo Nunes e demais candidatos — à exceção, talvez, de Ricardo Salles, que tende a crescer caso Bolsonaro abrace de vez sua candidatura e o incentivo de Lula à polarização seja atendido pelo eleitorado. Lula sabe o que faz. Na pesquisa, o eleitor privilegia os problemas das cidades, mas na hora do vamos ver mostra predileção pelo jogo de torcidas que joga no lixo a palavra dita da pacificação.
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Há muita coisa irritante hoje em dia, como sabe quem acompanha os noticiários. Mas a buraqueira que tomou conta da maior metrópole do país também incomoda. As crateras brotam da noite para o dia, como que por geração espontânea. Os consertos, por malfeitos, resultam em saliências ou rebaixos, e círculo vicioso se repete logo na primeira chuva. Mas isso é outra conversa. Os protagonistas desta postagem são os buracos negros, previstos por Albert Einstein em 1916 e batizados como tal pelo astrônomo norte-americano John Wheeler.
Buracos negros podem resultar de colisões entre estrelas de nêutrons ou buracos negros menores, mas é mais comum eles se formarem quando uma estrela supermassiva (com pelo menos 10 vezes a massa do Sol) morre numa explosão conhecida como "supernova", dando origem a uma região cósmica densa, compacta, onde a atração gravitacional é tão grande que nem a própria luz consegue escapar,
Um buraco negro é como um "ninja do universo": invisível, misterioso, capaz de engolir qualquer coisa que esteja a seu redor e comprimi-la até ela se tornar um pontinho infinitesimal com a mesma massa original. Mas o que acontece em seu horizonte de eventos — ou "ponto de não-retorno" — é mais difícil de explicar.
Einstein não foi o primeiro a propor a existência dos buracos negros, embora sua Teoria da Relatividade Geral tenha popularizado o tema e o levado à ficção científica. Em 2019, o telescópio Event Horizon capturou a imagem real de uma singularidade existente no centro da galáxia Messier 87 (ou M87), a 53 milhões de anos-luz da Terra (cerca de 503,5 quatrilhões de quilômetros), comprovando de uma vez por todas a existência desses fenômenos.
Observação: Embora seja usado como sinônimo de buraco negro, o termo singularidade remete a um ponto no espaço onde massa com densidade infinita cria uma curva infinita no espaço-tempo. Em última análise, os buracos negros são o melhor exemplo de lugares onde a singularidade pode existir.
Convém não confundir buracos negros com buracos de minhoca — também chamados de Pontes Einstein-Rosen —, que os astrofísicos descrevem como "túneis" ou "atalhos" que interligam dois pontos no espaço-tempo. Supõe-se que através deles uma hipotética espaçonave poderia percorrer milhares de anos-luz em poucos segundos e alcançar galáxias diferentes, neste ou em outro universo, no presente ou em outro ponto da linha do tempo.
Observação: O nome "buraco de minhoca" (ou "buraco de verme", na tradução literal de "wormhole") surgiu de uma analogia usada para explicar o fenômeno: da mesma forma que um verme que perambula pela casca da maçã poderia pegar um atalho para o lado oposto abrindo caminho através do miolo da fruta, um viajante que passasse por um buraco de minhoca poderia chegar ao lado oposto do universo através de um túnel topologicamente incomum.
Ao contrário dos buracos negros — que, como dito, já foram fotografados e tiveram seus efeitos na passagem do tempo comprovados cientificamente —, os buracos de minhoca que surgem nas imediações (ou dentro) dos buracos negros permanecem no campo das especulações. Ainda não foi possível vê-los ao vivo e em cores, até porque o buraco negro mais próximo da Terra fica a quase 1,6 mil anos-luz de distância. No entanto, supondo que eles possuam entradas com raios entre 100 e 10 milhões de quilômetros e sejam tão comuns quanto as estrelas, detectá-los pode ser apenas uma questão de reavaliar informações antigas.
Tampouco se conseguiu explicar como os buracos de minhoca poderiam existir — ou como civilizações alienígenas conseguiriam usá-los como atalho em viagens espaciais intergaláticas —, mas sabe-se que sua criação demanda uma quantidade de energia "n" vezes superior àquela que é possível gerar com a tecnologia disponível atualmente.
Continua...