domingo, 21 de setembro de 2025

SOBRE CHORIPÁN, VINAGRETE, MOLHO À CAMPANHA E CHIMICHURRI

NEM TUDO É O QUE PARECE, NEM TUDO QUE PARECE É.

Nascido às margens do Rio da Prata e apreciado tanto por argentinos quanto por uruguaios, o choripán é feito com linguiça fresca (chorizo) assada na churrasqueira e servida no pão (pan), com molho vinagrete "tropicalizado", molho à campanha ou chimichurri

 

O molho vinagrete é uma emulsão composta por 1 parte de ácido (vinagre e/ou limão) para 3 partes de óleo (azeite) e temperada com sal e mostarda de Dijon, ao passo que o molho à campanha, conhecido em alguns países como "brazilian sauce", leva tomate, cebola e pimentão picados e marinados em vinagre e azeite — o que o torna semelhante ao pico-de-gallo mexicano e ao pebre chileno.


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Em todas as manifestações pró-anistia, o que se ouve é o apelo à clemência por atos que teriam sido de mera cogitação, com adoção de retórica agressiva e acusações fantasiosas sobre a existência de uma ditadura no Brasil. Tese encampada pelos EUA, que prometem retaliação.

Ademais, há admissão do crime no pedido de perdão. Não se contesta o pretendido. Apenas argumenta-se que, não tendo sido alcançado o intento, seus autores estão aptos a pedir ao país que esqueça o ocorrido. 

Isso, note-se de novo, sem alusão a arrependimentos. Donde se depreende que se acham autorizados a repetir aquelas elucubrações quando se sentirem contrariados e quantas vezes forem necessárias até obterem o êxito que os levaria ao poder e, com ele, à impunidade garantida pela imposição da nova ordem fundada na ilegalidade.

Tal contexto já tornaria inaceitável que a normalidade institucional abraçasse a ideia da anistia, mas há também a enganação sobre o apaziguamento de ânimos.

A falsidade do argumento está descrita na violência política que toma conta dos EUA a despeito da anistia dada por Trump aos invasores do Capitólio de 6 de janeiro de 2021. Evidência de que, no caso de atritos em aberto, a indulgência não resulta necessariamente em conciliação. Há risco do inverso.

Na ausência de consenso no Legislativo, da reprovação no Executivo, do repúdio na maioria das pesquisas e da imposição de obstáculo no Judiciário, a anistia só aprofundaria divisões na sociedade e criaria mais atritos entre os Poderes desafiados pela conspirata agora condenada.

Para preparar o molho do choripán, corte 2 cebolas grandes em cubinhos, pique 2 tomates sem sementes e ½ pimentão verde. Adicione ½ xícara (chá) de vinagre, 1 ½ xícara (chá) de azeite, tempere com sal e pimenta, misture bem e deixe descansar na geladeira por 30 minutos antes de servir.
 
Você pode incrementar a receita com cheiro verde, pimenta dedo de moça e alho bem picadinhos, uma colher de chá de mostarda e outra de ketchup, bem como aumentar a acidez acrescentando suco de limão na emulsão de azeite e vinagre. Se o sabor intenso do pimentão não lhe agradar, substitua a fruta (pois é, biologicamente, pimentão é fruta) por tomate verde, e se quiser deixar o molho ainda mais colorido, troque uma das cebolas brancas pela roxa. 
 
Para quem tem estômago sensível, minha sugestão é misturar ½ xícara (chá) de vinagre com o mesmo tanto de água, adicionar uma pitada generosa de açúcar e uma colher (sopa) de ketchup, aferventar rapidamente, deixar amornar e despejar sobre os ingredientes picados. Para deixar o molho ainda mais suave, a dica é reduzir a quantidade de vinagre e aumentar proporcionalmente a de água. Substituir o vinagre por vinho branco também ajuda, mas o açúcar e o ketchup costumam dar conta do recado. Em último caso, recorra ao bom e velho sal de frutas.
 
molho à campanha leva os mesmos ingredientes do vinagrete tropicalizado, mas usa menos azeite (apenas duas colheres de sopa), menos vinagre (apenas quatro colheres de sopa), menos salsinha picada (apenas duas colheres de sopa). Além disso, ele inclui ¼ de xícara de água, duas colheres (sopa) de mostarda amarela, duas de ketchup e duas colheres de molho inglês (há quem acrescente azeitona, palmito e champignon picados). 
 
O chimichurri tradicional é um molho argentino feito com ervas frescas picadinhas regadas a azeite extravirgem, vinagre de vinho (tinto ou branco) e temperadas com pimenta calabresa e sal. Versões industrializadas são vendidas nos supermercados, mas eu sugiro preparar um mix seco com 2 colheres (sopa) de salsinha desidratada e 2 de alho seco, uma de orégano, cebolinha, cebola e pimenta calabresa desidratadas (1 colher de chá de cada). 

Basta colocar tudo num pote com tampa, agitar bem para misturar e guarde em local seco, e para transformar esse mix em molho, adicionar ½ xícara (chá) de azeite e ¼ de xícara de vinagre de vinho, tornar a chacoalhar e deixar descansar por 30 minutos antes de servir.

Para preparar o choripán (ou hot-dog argentino):

1) Corte os pãezinhos em "canoas", coloque numa assadeira, leve ao forno médio (180°C) por um minuto. 

2) Aqueça em fogo alto um fio de óleo numa chapa ou frigideira de fundo grosso e frite a linguiça por 8 minutos, virando na metade do tempo. 

3) Corte as linguiças ao meio no sentido de comprimento, vire a parte cortada para a chapa e deixe fritar por mais 2 minutos (ou até dourar). 

4) Remova a pele das linguiças, acomode-as sobre metade das canoas, coloque o molho nas outras metades, junte e sirva os lanches ainda quentes.

Bom proveito.

sábado, 20 de setembro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 47ª PARTE — QUANDO A VIDA IMITA A ARTE

NUNCA ACENDA UM FOGUEIRA QUE VOCÊ NÃO SEJA CAPAZ DE APAGAR.

Os romances futurísticos de Júlio Verne anteciparam em mais de um século a alunissagem da Apollo 11 e os submarinos movidos a energia nuclear, sugerindo que a ficção de hoje pode ser a ciência de amanhã.

Em meados dos anos 1980, em seu único romance de ficção — Contato —, o cientista planetário e autônomo Carl Sagan narra a saga da personagem interpretada por Jodie Foster, que recebe instruções de uma civilização extraterrestre para a construção de uma nave capaz de viajar pelo hiperespaço através de um buraco de minhoca


Sagan pediu a seu colega Kip Thorne que investigasse se sua ideia do atalho no espaço-tempo estava cientificamente correta, e a conversa deu origem a um artigo que detalha o formalismo matemático da Relatividade Geral tendo como solução a geometria de um túnel no espaço-tempo ligando duas regiões remotas do Universo. 

 

Observação: Thorne concluiu que a "garganta" do buraco de minhoca deveria ser preenchida com matéria exótica — um tipo hipotético de matéria com massa negativa ou densidade de energia negativa — para permanecer aberta, o que, à luz das leis conhecidas, contraria o princípio da conservação de energia. Mas Einstein ensinou que o impossível só é impossível até alguém provar o contrário, e Arthur C. Clarke, que a única maneira de descobrir os limites do possível é ir além deles rumo ao impossível.


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Ao transformarem sua obsessão pela autoproteção num processo de deformação das estruturas arquitetônicas de Niemeyer, nossos caríssimos deputados fizeram do Congresso um bunker que o crime organizado jamais imaginou obter. 

Essa imoralidade havia sido extinta em 2001, sob pressão social, porque resultava em impunidade. Mas, como o escorpião da fábula, suas insolências são incapazes de agir contra a própria natureza, e escolheram um momento estratégico para matar futuras ações penais, beneficiando desde assaltantes das verbas federais das emendas até Eduardo Bolsonaro, indiciado por tramar contra o Judiciário e o interesse nacional nos Estados Unidos.

Noutros tempos, o crime organizado financiava a eleição de seus representes. Confirmando-se a blindagem, os criminosos comprarão seus próprios mandatos. O bunker congressual é tão extraordinário que estimula o PCC a ocupar o Congresso sem intermediários.

Se esse acinte não for barrado no Senado, as cuias dos plenários do Congresso — a da Câmara com as bordas viradas para o céu, e a do Senado, emborcada para baixo— serão abrigos fortificados para proteger criminosos.

  

Desde o artigo proposto por Sagan, cientistas vêm buscando soluções para criar um buraco de minhoca atravessável sem recorrer a algum tipo de matéria exótica — cuja existência ainda não foi comprovada. Especula-se que exista uma ligação com a matéria escura, que representaria cerca de 27% da composição do Universo, mas não se sabe se ela possui as propriedades necessárias para manter um túnel estável. 


Observação: Se a gravidade é uma força exclusivamente atrativa e diretamente proporcional à massa dos corpos, como formulou Isaac Newton em 1687, então a matéria exótica produz o efeito inverso, ou seja, tem caráter "repulsivo". O problema é que criar um buraco de minhoca que não contrarie as leis da natureza exige uma reformulação da Relatividade Geral.


O Universo observável se estende em todas as direções por 42 bilhões de anos-luz (cerca de 397 quatrilhões de quilômetros), e a estrela mais próxima do nosso sistema solar — Proxima Centauri — fica a 4,26 anos-luz de distância (cerca de 40 trilhões de quilômetros). Isso significa que, com a velocidade da luz, uma viagem até lá levaria mais de 4 anos para chegar até lá, e a sonda mais veloz lançada pela NASA até agora atingiu "modestos" 692 mil km/h (0,064% da velocidade da luz).


Resumo da ópera: Quando se trata de viagens interestelares (ou mesmo no tempo), os buracos de minhoca são nossa melhor chance, já que supostamente interligam sistemas e estrelas muito distantes. A questão é que ainda não se descobriu uma maneira de criar buracos de minhoca atravessáveis. E mesmo mantido aberto com matéria exótica, o túnel cósmico poderia sofrer instabilidades que fariam sua garganta se fechar rapidamente — sem falar que a presença de observadores em seu interior poderia amplificar as flutuações quânticas, levando ao colapso da estrutura. 

 

Enfim, quem viver verá. 

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

MAIS SOBRE SMARTPHONES — DE VOLTA AO MALWARE

ERRAR É HUMANO; CULPAR OUTRA PESSOA É POLÍTICA.

Depois que foram promovidos a smartphones, os celulares se tornaram verdadeiros computadores de bolso. No entanto, a exemplo dos desktops e notebooks, eles são suscetíveis a malwares e à ação de cibercriminosos.


Ainda não surgiu uma ferramenta de segurança idiot proof o bastante para proteger o usuário de si mesmo, e ele é o elo mais fraco da corrente nos golpes baseados em engenharia social.

 

Por ser um sistema de código aberto, o Android conta com um enorme ecossistema de apps. Baixá-los da Google Play Store ou da loja oficial do fabricante do celular reduz os riscos, mas não garante 100% de segurança. E o mesmo se aplica às guias anônimas e às VPN.  


Os cibercriminosos travestem seus apps nefastos de jogos, lanternas, filtros de câmera e outros programas aparentemente inocentes para coletar dados bancários e informações pessoais de forma praticamente imperceptível. Para não levar gato por lebre, só instale aplicativos depois de checar a idoneidade do desenvolvedor, conferir as avaliações de outros usuários e as permissões solicitadas (uma lanterna, por exemplo, não precisa ter acesso a sua lista de contatos para funcionar). 


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Ao transformarem a obsessão pela autoproteção num processo de deformação das estruturas arquitetônicas de Niemeyer, nossos caríssimos deputados fizeram do Congresso um bunker que o crime organizado jamais imaginou obter. Essa imoralidade havia sido extinta em 2001, sob pressão social, porque resultava em impunidade. Mas, como o escorpião da fábula, suas insolências são incapazes de agir contra a própria natureza, e escolheram um momento estratégico para matar futuras ações penais, beneficiando desde assaltantes das verbas federais das emendas até Eduardo Bolsonaro, indiciado por tramar contra o Judiciário e o interesse nacional nos Estados Unidos.

Noutros tempos, o crime organizado financiava a eleição de seus representes. Confirmando-se a blindagem, os criminosos comprarão seus próprios mandatos. O bunker congressual é tão extraordinário que estimula o PCC a ocupar o Congresso sem intermediários. Se esse acinte não for barrado no Senado, as cuias dos plenários do Congresso — a da Câmara com as bordas viradas para o céu, e a do Senado, emborcada para baixo— serão abrigos fortificados para proteger criminosos.

Mas não é só: um dia depois de aprovar a PEC da Blindagem, a camarilha dos deputados aprovou de maneira folgada o requerimento de urgência para o PL que prevê anistia a todos os envolvidos nos atos golpistas após a eleição de 2022, acelerando a tramitação do projeto, que não precisará mais passar pelas comissões da Câmara antes de ir ao plenário. 

O pedido de urgência recebeu 311 votos a favor e 163 contra. Ao anunciar a decisão, Hugo Marmota disse que nomeará um relator que conte com o apoio da maioria da Casa. A expectativa é de que o texto original, de autoria do deputado-bispo Marcelo Crivella — que prevê anistia a todos os que participaram de manifestações de caráter político ou eleitoral entre 30 de outubro de 2022 e a entrada em vigor da lei, incluindo pessoas que apoiaram os atos por meio de contribuições financeiras, doações, apoio logístico, prestação de serviços ou publicações em redes sociais — seja modificado pelo relator e apresente uma proposta mais próxima de uma redução das penas do que de uma anistia propriamente dita.

Veja como cada deputado votou na sessão e faça um favor ao Brasil não reelegendo esses fidumas em 2026. Aliás, está na hora de votarmos nas putas, pois votar nos filhos delas não deu certo.

 

Manter o software atualizado é fundamental, não só do ponto de vista da segurança, mas também para evitar que determinados aplicativos deixem de funcionar — como o WhatsApp, que deixou de suportar versões do Android anteriores à Lollipop (5.0) e do iOS anteriores à 12.0 em maio deste ano. 


Observação: O Google atualiza o Android a cada 12 meses, em média, mas os fabricantes de celulares decidem quando e como liberar os updates. Alguns modelos premium prometem até 7 anos de atualizações do sistema, enquanto outros — sobretudo os de entrada — contam com apenas uma ou duas. Portanto, só saque seu poderoso cartão de crédito depois de consultar a página de suporte do dispositivo que você tem em vista.

 

Malwares costumam agir discretamente, mas aquecimento anormal do aparelho, reinicializações aleatórias, travamentos e redução da autonomia bateria são sinais de infecção. A Google Play Store conta com centenas (senão milhares) de apps que se propõem a oferecer algum tipo de segurança. Isso inclui desde soluções robustas de empresas conhecidas (como Avast, AVG, Bitdefender, Kaspersky, McAfee, Norton) até opções menos conhecidas, que podem ser menos eficazes, ou mesmo maliciosas. 


Prefira instalar aplicativos conceituados, que ofereçam proteção em tempo real, varredura automática e por demanda, atualizações regulares e funções adicionais importantes — como VPN e bloqueio de spyware — e faça varreduras com o Play Protect  acessando a Play Store, tocando em sua foto de perfil, selecionando Play Protect e pressionando o botão Verificar.

 

"Rootear" o aparelho (mais detalhes nesta sequência) para ter poderes de "superusuário" é uma faca de dois gumes, pois aumenta o risco de infecção por malwares. No âmbito do software, quase tudo é reversível, de modo que restaurar o dispositivo às definições de fábrica é uma maneira eficiente de eliminar malwares, pois apaga a partição de dados do usuário e reverte a partição do sistema operacional para o estado original. No entanto, alguns malwares — notadamente os rootkits — se valem do acesso privilegiado (root) para modificar áreas do firmware ou da partição de sistema que não são apagadas por um reset comum. 


Se um backup contiver arquivos infectados, eles serão reinstalados após o reset. Nesse caso, faça um novo reset, ignore o backup e configure o telefone como fez quando o adquiriu. Baixe os aplicativos essenciais diretamente da Google Play Store e verifique se o problema foi resolvido. Se não foi, o jeito será reinstalar o firmware ou recorrer às ferramentas de segurança disponibilizadas pelo fabricante do celular.


Observação: Reinstalar o firmware completo (ROM de fábrica) apaga tudo, incluindo as partições do sistema onde rootkits e outras pragas persistentes podem se alojar. O processo varia conforme o fabricante e o modelo do aparelho, mas geralmente consiste em baixar o firmware oficial do site do fabricante (ou de fontes confiáveis), utilizar uma ferramenta de flash específica para o seu dispositivo e seguir as instruções cuidadosamente, pois um flash incorreto pode danificar o celular. Caso não se sinta confortável, procure assistência profissional.

 

Segurança é um hábito, e batalha contra malwares requer um conjunto de ações que vão desde evitar instalar aplicativos fora das lojas oficiais a manter o sistema atualizado com os patches de segurança mais recentes, utilizar um bom antivírus e uma VPN confiável, revisar cuidadosamente as permissões concedidas aos aplicativos e ficar atento a sinais de atividades suspeitas no dispositivo.

 

Boa sorte — você vai precisar

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O TEMPO, A CAUSALIDADE E A CIGANA

O TEMPO PERGUNTOU AO TEMPO QUANTO TEMPO O TEMPO TEM, E O TEMPO RESPONDEU AO TEMPO QUE NÃO TEM TEMPO PRA DIZER AO TEMPO QUE O TEMPO DO TEMPO É O TEMPO QUE O TEMPO TEM.

 

O fruto mais cobiçado — e ainda inalcançado — da “árvore Relatividade” são as viagens no tempo, e um dos aspectos mais intrigantes do tempo é a diferença com que ele passa para observadores que se deslocam a velocidades distintas. Quando observarmos o relógio, vemos o ponteiro dos segundos avançar num ritmo constante, como um rio que corre para o mar, mas a velocidade desse "rio do tempo" é inversamente proporcional à nossa. 

 

Se não nos demos conta disso, é porque as velocidades que vivenciamos no dia a dia são ínfimas. Num carro a 180 km/h, por exemplo, 1 minuto corresponde a 59,999999999999904 segundos. Por outro lado, os relógios atômicos dos satélites que orbitam a Terra adiantam 0,00447 segundos por dia — devido à velocidade de 28 mil km/h e à gravidade, que é menor a  20 mil km de altitude. Sem as devidas correções, os sistemas de GPS apresentariam erros de até 10 km por dia. 


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Sujos e mal lavados se uniram para organizar uma fila de votações onde a sem-vergonhice, encabeçada pela PEC da blindagem, foi acomodada adiante do interesse público. O texto realiza os sonhos de parlamentares encrencados condicionando prisões em flagrante e abertura de ações penais no STF ao aval da Câmara e do Senado. Se forem presos em flagrante por algum crime inafiançável, poderão ser soltos pelo próprio Congresso em 24 horas, e seus benfeitores ficarão protegidos da opinião pública, já que a votação é secreta. 

No melhor estilo uma mão suja a outra, a facção bolsonarista do Legislativo concordou com a prioridade do Centrão mediante o compromisso de que, na sequência, seja votado um pedido de urgência para uma vergonhosa PEC da anistia que inclua o ex-presidente golpista. Para fechar o ciclo de desfaçatez, o PL indicou o lesa-pátria filho do pai como líder da minoria na Câmara. Homiziado na cueca de Trump desde fevereiro, Dudu Bananinha simularia o exercício da liderança à distância, livrando-se da cassação do mandato por excesso de faltas. 

De acinte em acinte, suas insolências transformam a política num outro ramo do crime organizado. Mas é importante lembrar que a culpa é de quem repete nas urnas a cada dois anos, por ignorância, o que Pandora fez uma única vez por curiosidade. A quem tem ao menos dois neurônicos funcionais, fica a recomendação: Vote nas putas; votar nos filhos delas não funcionou.

 

Consideramos o tempo como o pano de fundo de uma sucessão de eventos que fluem numa direção preferencial. Segundo o princípio da causalidade (não confundir com “casualidade”), as causas sempre precedem as consequências. O que aconteceu ontem impõe restrições ao que acontece hoje, e o que acontece hoje influencia o que acontecerá amanhã. Ainda assim, nossa percepção da passagem do tempo depende de diversas variáveis. Para quem está a ponto de borrar as calças e ouve de quem está no banheiro o tradicional “só um minuto!”, esse minuto parecerá a antessala da eternidade.

 

À medida em que envelhecemos, nossas experiências se tornam mais previsíveis. Isso nos dá a sensação de que o tempo está passado cada vez mais depressa, a despeito de os ponteiros do relógio avançar com a mesma velocidade com que avançava na nossa infância. No entanto, mesmo que os dias e as noites se sucedem a cada doze horas, o tempo não é o mesmo em todos os lugares.

 

Numa hipotética espaçonave a 99,9999999% da velocidade da luz, a dilatação temporal reduziria milhares de anos terrestres a poucos segundos. Já a dilatação gravitacional do tempo faz com que o tempo passe mais devagar ao nível do mar do que no topo do Everest (fato comprovado por relógios atômicos posicionados a alturas diferentes, mesmo quando diferença é de apenas alguns milímetros).

 

Para entender como os ciclos de sono, alimentação e produtividade são afetados pela referência das horas, o pesquisador francês Michel Siffre passou dois meses numa caverna escura, sem relógio nem qualquer outra maneira de saber o tempo. A única fonte de luz disponível era uma lâmpada de mineração, que ele usava para cozinhar, ler e escrever em um diário pessoal. 


No livro Beyond Time, lançado em 1964, ele relatou que tomava o próprio pulso e contava os segundos até 120 sempre que se comunicava por rádio com a equipe de apoio, mas o tempo real cronometrado por seu staff era de quase 5 minutos. Sem os indicadores naturais (como nascer e pôr-do-sol), seu ciclo circadiano  passou de 24 para 48 horas, e o tempo psicológico foi reduzido à metade do cronológico. O experimento se estendeu por dois meses, que para ele pareceram menos de um.

 

Estudos recentes apontam que até o idioma e o sistema de escrita (da esquerda para a direita ou vice-versa) fazem diferença. Na maioria das línguas, o passado é descrito como algo que ficou para trás, e o futuro, como algo que está sempre mais adiante, mas no idioma falado pelos índios Aimarás ocorre o contrário. No inglês, as distâncias percorridas são usadas para explicar a duração dos eventos; no grego, o fluxo temporal é percebido como um volume crescente, não como distância física. 
 

Uma vez que o idioma pode se infiltrar em nossas emoções e percepção visual, aprender uma nova língua nos "sintoniza" com dimensões sensoriais até então desconhecidas. De acordo com um estudo publicado pela Nature Reviews Neuroscience, o hipotálamo dos "atrasados crônicos" funciona de modo a fazê-los subestimar o tempo necessário para chegar ao local do compromisso, uma vez que as estimativas são baseadas no tempo gasto para realizar a mesma tarefa no passado, e essas memórias nem sempre são precisas. 


O estado emocional também contribui: o negativo nos dá a sensação de que o tempo está passando mais devagar, e o positivo, a sensação oposta. No auge da pandemia da Covid, muitas pessoas queriam "acelerar o tempo" para retomarem a "vida normal". Como emoção e motivação estão interligadas, o tempo pareceu passar ainda mais devagar. Quanto maior a motivação, mais acentuada a mudança na percepção de tempo, e tanto a percepção de aceleração quanto de desaceleração temporal atuam sobre a maneira como alcançamos determinados objetivos.

 

Enquanto a sensação de aceleração tende a facilitar as conquistas, a desaceleração costuma evitar que demoremos muito em situações potencialmente prejudiciais — quanto mais o tempo "demora a passar" numa situação de medo, por exemplo, mais rapidamente agimos para nos livrarmos do perigo. Mas vale destacar que “ganhar tempo” ou “perder tempo” é um erro de perspectiva: o tempo não é uma moeda que podemos guardar ou desperdiçar, ele simplesmente passa, e tentar “economizá-lo” fazendo várias coisas simultaneamente (multitasking) nos leva a “perder” mais tempo do que se realizarmos uma atividade por vez. 

 

Observação: Traçar um paralelo entre o cérebro humano e a CPU (sigla de Central Processing Unity, que designa o processador principal do computador, embora muita gente a utilize equivocadamente para se referir ao “case” — ou gabinete — dos desktops) faz sentido, mas os computadores são “multitarefa” e nós, não. Dizem que as mulheres até conseguem, mas eu acho que isso não passa de folclore.

 

Pensamos no tempo como algo externo, mas ele é um conceito profundamente enraizado em nossa mente. Todos temos um "relógio interno" que regula o sono, a fome e a energia ao longo do dia. Ou seja, nosso relógio biológico é regulado pelo tempo, e alterá-lo — trabalhando à noite ou dormindo em horários irregulares — afeta nossa saúde e compromete nosso bem-estar.

 

Até a invenção da escrita, o tempo era medido com base em fenômenos naturais sazonais. Mais adiante, os sumérios dividiram o ano em 12 meses de 30 dias e os egípcios criaram um calendário lunar baseado na estrela Sirius. No final do século XVI, o calendário Juliano foi substituído pelo modelo Gregoriano, que atualmente é adotado pela maioria dos países. Mas não é o tempo que passa; nós é que passamos por ele como areia entre as câmaras de uma ampulheta. 

 

Atribuir um número de série a cada ano é como tentar aprisionar o tempo num calendário de parede, e sempre haverá um ministro do STF disposto a soltá-lo. Por falar nisso, consta que Bolsonaro consultou uma cartomante para saber se sua tentativa de golpe daria certo, e foi instruído a cortar o baralho, dividir em cinco montes e virar uma carta de cada. O resultado foi uma sequência de reis: KKKKK (para entender melhor, observe a figurinha que ilustra esta postagem).  

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

WINDOWS 10 — ACABOU-SE O QUE ERA DOCE?

NÃO HÁ MAL QUE SEMPRE DURE NEM BEM QUE NUNCA TERMINE.

Quando lançou o Windows 10 como parte da ideia "Windows as a Service", a Microsoft deu a entender que seu mais novo rebento seria a versão "definitiva" do sistema. Mas não há nada como o tempo para passar.


Além de lançar o Windows 11 com exigências de hardware que frustraram milhões de usuários, a empresa estabeleceu o dia 14 de outubro de 2025 como "date de validade" do Windows 10. Isso significa que qualquer vulnerabilidade descoberta no kernel do sistema após essa data não será corrigida, o que tornará o computador potencialmente vulnerável a ataques e exploits. Com o tempo, aplicativos e drivers também deixarão de oferecer suporte à plataforma.


Em outras palavras, 44% dos "Windows PCs" ativos no mundo podem virar 2 milhões de toneladas de lixo eletrônico daqui a menos de um mês (clique aqui para saber como salvar o seu), e contratar um ano adicional de patches de segurança por US$ 30 ou 1.000 pontos Microsoft Rewards— sem novos recursos, correções de bugs nem suporte técnico — apenas empurra a decisão inevitável para o ano que vem.  


Observação: Se você continuar usando o Windows 10 e não fizer nada para garantir que seu PC permaneça protegido após 14 de outubro, ficará vulnerável a potenciais falhas de segurança descobertas no sistema, já que o Windows Update não baixará nem instalará atualizações de segurança a menos que você se inscreva manualmente no programa ESU.


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A pressa da banda pró-anistia do Congresso sugere que, se a facção parlamentar que trama perdoar Bolsonaro fosse submetida a um exame neurológico, o resultado seria Alzheimer coletivo. A doença produz demência, desorientação espacial, perda de memória e, nos casos mais graves, o derretimento das funções cognitivas e mentais acompanhado de perturbações de humor, delírios e alucinações.

A demência se manifesta na dificuldade de responder a perguntas simples, como o prazo de vencimento de uma culpa histórica. Para quem confunde amnésia com consciência limpa, a melhor hora para o perdão é uma semana atrás, e o segundo melhor momento, agora, poucos dias depois do anúncio das penas.

A degeneração neurológica faz do cenário do quebra-quebra um palco para a negação da barbárie. Movidos por delírios e tomados por alucinações, os partidários da anistia fomentam a crendice de que o Congresso mereceu que golpistas o invadissem, depredassem suas instalações e urinassem sobre suas poltronas e bancadas.

Datafolha revela que a maioria dos brasileiros (54%) não tolera a ideia de passar uma borracha sobre os crimes que renderam a Bolsonaro 27 anos de tranca, e uma maioria ainda mais expressiva (61%) é contra anistiar a turba do 8 de janeiro.

Alzheimer não tem cura, mas a parcela da sociedade que conserva a sanidade felizmente não perdeu a capacidade de meditar sobre a estupidez humana, que infelizmente nunca prescreve.

 

Windows nasceu em 1985 como uma simples interface gráfica, foi promovido a sistema operacional (quase autônomo) dez anos depois, alternou entre sucessos (Win98/SE, XP, 7 e 10) e fiascos retumbantes (ME, Vista, 8/8.1), mas nenhuma versão teve o ciclo de vida encerrado antes da sucessora se consolidar no mercado. Além disso, o Seven levou um ano para superar a o Vista, e o Ten — lançado em 2015 com a missão de atingir 1 bilhão de instalações em três anos —, cinco anos para cumprir essa ambiciosa missão, mas nada indica que ele será superado no curto prazo, mesmo com o fim de sua vida útil. 

A tensão entre a Microsoft e os usuários cresce à medida que o "Dia D" se aproxima. Consumidores acusam a empresa de praticar obsolescência programada — lembrando que os requisitos do Windows 11 obrigam a substituição de componentes de computadores mais antigos. Bastaria desvincular o upgrade do suporte ao TPM 2.0 para que os usuários atualizassem suas máquinas, mas Redmond insiste que o TPM 2.0 é necessário para manter o Windows 11 seguro. Miríades de usuários recorreram a ferramentas como Rufus ou Flyby11 para burlar essa restrição, mas muitos que o fizeram perceberam que embarcara numa canoa furada e fizeram o downgrade para o Windows 10, que é muito superior. 

Microsoft explica em sua página de suporte que diversos fatores — como incompatibilidade de drivers, hardware antigo, aplicativos não suportados e recursos do próprio sistema operacional — impedem o upgrade, avisa que a verificação de elegibilidade com o app PC Health Check pode demorar até 24 horas, que disponibilizou uma nova página de suporte orientações específicas para cada tipo de erro e — agora a cereja do bolo — recomenda a aquisição de um Copilot+ PC (categoria com no mínimo 40 TOPS em desempenho de IA via NPU), já que a versão 24H2 do Windows 11 e os recursos mais recentes do sistema dependem fortemente da inteligência artificial. 

Sites como o Restart Project ajudam usuários a instalar sistemas operacionais gratuitos e de código aberto, e os organizadores do Dia Internacional do Reparo — marcado para 18 de outubro com vistas a conscientizar as pessoas de que, mesmo sem o Windows 11, seus computadores não são lixo — esperam que a data ganhe mais destaque neste ano do que em 2024, quando "apenas" 40 países participaram do evento.


A conferir.