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domingo, 25 de agosto de 2019

SOBRE AS QUEIMADAS NA AMAZÔNIA E SUAS REPERCUSSÕES MUNDO AFORA



Assim como ocorre na Amazônia, pega fogo e produz muita fumaça o debate internacional a respeito das queimadas na floresta. Na última sexta-feira, Emmanuel Jean-Michel Frédéric Macron disse que Bolsonaro mentiu ao assumir compromissos em defesa do ambiente na cúpula do G20, em junho, e que isso inviabiliza a ratificação do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, concluído no mesmo mês. 

Para ilustrar suas postagens, o presidente francês usou uma foto de 1989 e outra de um fotógrafo morto em 2013 (poderia ao menos ter escrito "fotos meramente ilustrativas"), demonstrando que há nesse caldeirão mais ideologia, preconceito, colonialismo e má-fé do que qualquer outra coisa. Além disso, a exemplo de outros desinformados, ele se referiu à floresta amazônica como "pulmão do mundo", além de dizer algo como "nossa casa está em chamas", dando a entender que considera a região como mero quintal do país que governa. 

Mas a coisa não se limita à França: a Irlanda também ameaçou bloquear a implantação do pacto caso o Brasil não atue para combater os incêndios, e outras nações já estudam impor ao Brasil sanções comerciais — a Finlândia, que está na presidência rotativa da UE, pediu ao bloco que avalie a possibilidade de banir a carne bovina brasileira.

Em épocas secas do ano, como é o caso desta no Hemisfério Sul, é comum vermos notícias de queimadas na Europa, na Ásia e na América do Norte. Bolsonaro colaborou para o incêndio retórico atribuindo a autoria do crime a ONGs financiadas pelos países ricos — mais uma bobagem das muitas que a "usina de crises" vem externando dia sim, outro também. Na noite da última sexta-feira, pressionado pelo agravamento da situação, o capitão fez um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão — pontuado por panelaços aqui e acolá — para anunciar medidas de combate aos incêndios e ao desmatamento na Amazônia Legal, formada por 8 estados e parte do Maranhão, que totaliza 5 milhões de quilômetros quadrados. A pergunta é: o que há de verdade em tudo isso?

Segundo Leandro Narloch, autor do "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" a chamada do G1, segundo a qual "a fumaça das queimadas já é visível de satélite da NASA" — de fato, a agencia aeroespacial americana captura imagens das queimadas de inverno da Amazônia há décadas e compara ano a ano o início da temporada de fogo e o tamanho das manchas de fumaça —, dá a entender que as queimadas deste ano foram tão intensas que foram vistas pelos satélites.

Em 2019, segundo o relatório que motivou a reportagem do portal de notícias Globo, “as observações de satélite indicaram que o total de queimadas na Amazônia foi levemente abaixo na comparação com os últimos 15 anos. Apesar da atividade ter sido acima da média no Amazonas e em menor grau em Rondônia, ficou abaixo da média no Mato Grosso e no Pará”. Por algum motivo, o G1 simplesmente omitiu essa informação central do curto relatório da NASA. Preferiu reproduzir dados do INPE, segundo os quais as queimadas aumentaram 190% em Rondônia.

Em maio, o Ibama publicou em seu site que fiscais atuariam no sudoeste do Pará para combater focos de desmatamento. Não especificou o dia nem as cidades (de uma região maior que Portugal) onde as ações ocorreriam. Foi um caso único — nenhuma linha informava que esse procedimento se tornaria um padrão. Apesar disso, grandes jornais informaram que o Ibama passaria a partir de então a avisar os locais das batidas dos fiscais.

A Forbes publicou: “Amazônia está queimando e a fumaça transformou o dia em noite em São Paulo”. A escuridão repentina que passou por São Paulo na tarde da última segunda-feira foi
obviamente causada por uma frente fria. Também contribuiu para ela a fumaça vinda de incêndios da Bolívia, não da Amazônia. A onda de queimadas deste ano não é exclusividade da Amazônia — também vem também vem acontecendo na Bolívia, Paraguai e Paraná. Como o repórter Duda Teixeira afirmou na Crusoé, “a Bolívia está registrando o maior desastre ambiental de sua história,
com cerca de 500 mil hectares consumidos pelo fogo”. É uma área equivalente à desmatada na Amazônia nos últimos doze meses. Só no Parque Nacional de Ilha Grande, entre o Paraná e o Mato Grosso do Sul, o fogo levou, nos últimos dias, cerca de 45 mil hectares.

Em cem anos, Europa ficou mais verde mesmo após duas guerras mundiais”, noticiou o Jornal Nacional em 19 de agosto. Nenhum erro na reportagem, mas faltou esclarecer um detalhe: o que permitiu a Europa se reflorestar e proteger espécies foi a riqueza. A maior produtividade, causa número 0001 da prosperidade, torna as pessoas menos dependentes da natureza. Gente pobre, por outro lado, não costuma se preocupar com sustentabilidade: se você está há três dias sem comer, vai abater sem culpa um animal em extinção. Se estiver de barriga cheia, se dará ao luxo de ligar para a dor dos animais. Em todo mundo, animais em extinção de países ricos estão se recuperando — é o caso de lobos, ursos, alces e veados. Já os de países pobres da África, elefantes, girafas e leões seguem ameaçados. No Brasil, é difícil acreditar que população amazônica vai se preocupar com a floresta antes de deixar a miséria.

Diversos jornais publicaram: “Para cuidar do meio ambiente, Bolsonaro sugere fazer cocô dia sim, dia não”. Aqui não há nenhuma interpretação enviesada. O presidente realmente disse essa bobagem.