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segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

RETROSPECTIVA 2019 — PONTOS A PONDERAR


Pensei que duas semanas sem postar sobre política bastariam para recarregar as baterias e mitigar os efeitos nocivos da Síndrome do Macaco. Só que não. E o pior é que, por mais vontade que eu tenha de mandar tudo à merda, é-me impossível deixar de assistir aos telejornais, ainda que as notícias sejam as piores possíveis — e não apenas no âmbito da política.

Eis aí uma das razões que me impediram de fazer a até então tradicional retrospectiva de final de ano, que eu publico desde a reeleição da malsinada anta sacripanta, primeiro na comunidade de política que havia criado no agregador de links .Link; depois, também aqui no Blog, e agora somente no Blog, já que a .Link foi desativada sem prévio aviso nem ulterior explicação do webmaster (ir)responsável, embora constantes interrupções no serviço (por falta de pagamento da hospedagem, a julgar pela mensagem que surgia quando se tentava acessar o site) levassem a supor que havia algo de podre no reino da Dinamarca.

Para resumir em poucas linhas o que poderia ser uma longa conversa, 2019 foi o ano dos desvarios, das manifestações nas ruas da Bolívia até Hong Kong, das inequívocas demonstrações de impaciência, da intolerância e das derrocadas cômicas. No Brasil, segundo Roberto Pompeu de Toledo publicou na última edição do ano da revista Veja, foram quatro as principais tragédias: Brumadinho, a devastação na Amazônia, o óleo nas praias e o governo Bolsonaro.

Sem adentrar esse mérito — até porque pior seria se o bonifrate de Lula tivesse vencido o pleito —, tomo a liberdade de acrescentar à lista do eminente jornalista o fato de que foi a primeira vez, desde que o PT assumiu o poder, em 2003, que se passaram 365 dias sem que se ouvisse falar em corrupção no âmbito do Executivo Federal. Claro que não podemos (nem devemos) relativizar o "laranjal" do PSL e as "suspeitas" de rachadinha no gabinete do Zero Um na Alerj, mas isso é outra conversa, até porque não há ligação direta com o presidente.

Claro que é difícil de engolir que ele não tivesse conhecimento de ambas as coisas, até porque ninguém sobreviveria por quase 30 anos na Câmara Federal sem praticar ou, no mínimo, ser conivente com a prática de atos pouco republicanos; acho até que nem a finada Velhinha de Taubaté acreditaria em tamanha potoca, mas, repito, isso é outra conversa.

Enfim, outras "tragédias" que Pompeu poderia ter mencionado foram o STF sob a presidência de Dias Toffoli, o Congresso Nacional sob a batuta de Davi Alcolumbre — que derrotou o Cangaceiro das Alagoas na disputa pela presidência do Senado, mas acabou se revelando um dublê de Renan Calheiros, só que com algumas arrobas a mais — e a eternização da ignorância, da desinformação e do despreparo dos eleitores tupiniquins. E isso só para mencionar as mais relevantes.

Claro que as coisas têm conotações distintas conforme o ponto de vista de quem as observa. A prisão de Lula, p. ex., foi uma tragédia para os petistas, ao passo que para outros, entre os quais eu me incluo, tragédia foi esse bandido ter deixado a prisão depois de míseros 580 dias — se é que se pode considerar como prisão a sala VIP prenhe de mordomias que foi destinada ao salafrário "em razão da dignidade do cargo". Que dignidade, cara pálida? O sujeito cagou na Presidência e limpou a bunda com a faixa presidencial... mas isso também é outra conversa.

Quanto a Jair Bolsonaro, uma coisa é certa: não se pode acusá-lo de falta de coerência. Contrariando as expectativas de que suavizaria seu estilo troglodita quando vestisse a faixa presidencial, o Capitão Caverna encerrou seu primeiro ano de governo sendo o que sempre foi: um obscuro político do baixo-clero, com talento para enxergar conspirações em toda parte, que só chegou onde chegou porque o povo, polarizado como nunca antes na história desta Banânia, jogou fora a criança com a água da banho ao descartar no primeiro turno, juntamente com excrescências como Vera Lúcia, Cabo Daciolo, Guilherme Boulos, Ciro Gomes, Eymael e outros membros do circo de horrores da política nacional, nomes como  João Amoedo, Álvaro Dias e Henrique Meirelles, que distam anos-luz do estereótipo do candidato perfeito, mas que não perderíamos nada em experimentar.

A patente inadequação de Bolsonaro ao exercício da presidência, seu notório desprezo pela liturgia do cargo e sua submissão às opiniões nem sempre lúcidas de sua prole, que acontece de ser subserviente de certo dublê de ex-astrólogo e guru radicado na Virgínia, surpreendeu até quem tinha as mais baixas expectativas sobre o capitão nessas questões. A publicação do vídeo do Golden Shower durante o Carnaval de 2019 e a subsequente proliferação de polêmicas inúteis no Twitter ocuparam boa parte do tempo daquele que se vendeu como o candidato que prometia tirar o país do atoleiro e ser implacável no combate à corrupção e aos corruptos, mas que sucumbiu aos desafios da política e se revelou um chefe de Estado tão útil quanto um par de sapatos para uma minhoca.

Mas o Prêmio Óleo de Peroba Edição 2019 vai mesmo para Michel Miguel Elias Temer Luria — outro ex-presidente colecionador de ações penais e preso duas vezes ao longo do ano passado, mas solto logo em seguida graças à pronta intervenção de um desembargador que ficou afastado do cargo durante sete anos por suspeita de venda de sentenças. Dias atrás, em entrevista ao Estadão, o ex-Vampiro do Jaburu — que jamais se mudou para a residência oficial da presidência da República porque, segundo ele, o Palácio do Planalto é assombrado — declarou seu voto em Bolsonaro e atribuiu o sucesso do atual governo aos feitos da sua própria gestão:

O governo vai indo bem porque está dando sequência ao que eu fiz. Peguei uma estrada esburacada. O PIB estava negativo 4%. Um ano e sete meses depois o PIB estava positivo 1,1%, além da queda da inflação e da recuperação das estatais. Entreguei uma estrada asfaltadaO governo Bolsonaro, diferente do que é comum em outros governos que invalidam anterior, deu sequência. Bolsonaro está dando sequência ao que eu fiz, afirmou o emedebista, sem sequer ter a decência de enrubescer.


Na avaliação de Rodrigo Constantino — e de outras pessoas de bom senso entre as quais eu modestamente me incluo —, Temer não é o “pai da criança”, embora tenha sido durante seu governo-tampão que o Brasil iniciou o processo de reformas e a ponte para o futuro — um senso de sobrevivência para salvar a galinha dos ovos de ouro após a desgraça petista, da qual, vale lembrar, Temer e seu MDB foram cúmplices. Também é fato que uma reforma previdenciária mais tímida, conquanto razoável, só não foi aprovada durante seu governo devido ao escândalo resultante da gravação feita por Joesley Batista — o moedor de carne que se tronou biliardário durante as gestões petistas — com a conivência do então procurador-geral Rodrigo Janot. O escândalo interrompeu a agenda reformista, e o Vampiro do Jaburu seguiu como pato manco até o final do jogo. 

Se podemos atribuir a Temer algum mérito nas mudanças ocorridas, também devemos reconhecer que foi no governo Bolsonaro que a coisa começou a mudar em ritmo mais veloz. Não só a reforma previdenciária foi finalmente aprovada — e com uma economia que representará o dobro daquela prevista pela reforma do emedebista —, como tivemos várias outras iniciativas de cunho liberal realizadas pela equipe de Paulo Guedes. Por essas e outras, Temer não é o "pai da criança", conquanto tenha seus méritos. Mas não podemos deixar de lhe atribuir a culpa por ter apoiado incondicionalmente, como vice-presidente, o pior governo da história do Brasil.

Gostemos ou não de Bolsonaro, foi durante seu governo que as mudanças mais importantes aconteceram. A Deus o que é de Deus e a César o que é de César, diz o velho ditado, pouco importa o quanto deve doer em alguns "analistas" reconhecer esse fato, que continua sendo verdade em tempos de pós-verdade, quando vale mais a narrativa do que o episódio que lhe deu origem.

Por hoje é só. Em tempos de convalescença, é preciso ir devagar com o andor, pois o santo é de barro.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

RECESSO


Considerando que tanto o Congresso quanto o Judiciário já entraram em recesso  e assim deverão permanecer até o início de fevereiro, a despeito de tantos assuntos importantes e urgentes que requerem sua atenção  resolvi não só não fazer minha tradicional retrospectiva de final de ano, mas dar um pausa e sobrestar as postagens de política pelo menos até dia 6 de janeiro p.f. A menos, naturalmente, que algo relevante aconteça nesse entretempo. Afinal, no Brasil, se até o passado é imprevisível, o que dizer do futuro?

Obervação: Os posts de informática não deverão sofrer qualquer alteração.

Boas Festas a todos.

domingo, 22 de dezembro de 2019

BOLSONARO — FALTA DE COMPOSTURA QUE BEIRA A INSANIDADE


Jair Bolsonaro vem numa escalada de falta de compostura que beira a insanidade. O episódio da última sexta-feira, em que ele destratou jornalistas, demonstrando falta de educação e preconceitos, é próprio de quem se sente acuado, e de fato o presidente está acuado, tanto pela queda de sua popularidade quanto pelas limitações que as instituições democráticas lhe impõem, sem mencionar as denúncias contra seu primogênito, que envolvem toda uma família ampliada que, pelas acusações do MP-RJ, vivia às custas do Erário público.

Bolsonaro anda também cercado de fantasmas, desde as alucinações de que querem vê-lo morto para tomarem-lhe a presidência, até o impeachment político. O delírio persecutório que revela assiduamente pode fazer parte de uma personalidade paranoica, agravado pelo atentado contra sua vida, bastante real.

Mas o impeachment já está colocado e, como é um instrumento sobretudo político, será acionado, ou não, quando as forças políticas no Congresso desejarem. Motivos, o capitão já deu de sobra, e a falta de decoro é apenas mais um — e não será o último. A despeito de todos os aspectos negativos, talvez não fosse uma má ideia restabelecer a hierarquia nesta Banânia: sai o capitão, entra o general.

A investigação contra Zero Dois certamente está abalando a já desequilibrada personalidade do presidente, embora a punição dificilmente venha a acontecer em razão direta das denúncias do Ministério Público. Mas podem atingir Bolsonaro no correr das investigações.

O próprio Bolsonaro, demonstrando o quanto o assunto o incomoda, já disse que surgirão diálogos que sugerirão que ele tem ligações com milicianos do Rio de Janeiro. O ex-ministro Bebianno, acusado indiretamente de desejar ser seu vice para substituí-lo em caso de morte, disse claramente que as ligações do presidente com milicianos serão demonstradas nas investigações.

A punição ao senador Flávio Bolsonaro, se houver, não virá através do Congresso. David Alcolumbre já disse que nenhuma denúncia poderá ser analisada no Conselho de Ética porque, se algo aconteceu, foi quando Flávio era deputado estadual.

Uma possível condenação vai depender de denúncia do Ministério Público, com argumentos fortes o bastante para convencer o Senado a permitir a punição, mas acho que essa autorização não será dada. No entanto, politicamente a situação é muito ruim para a família Bolsonaro, e essa investigação ainda vai bater em situações delicadas, apesar de, concretamente, ser difícil condenar o senador — a não ser que a coisa evolua de tal maneira que se chegue a uma situação de impeachment.

Rodrigo Maia, disse que Bolsonaro não tem motivos para se preocupar com um processo de impeachment, mas sobre outro assunto. O presidente passou dias sugerindo que vetará a proposta de fundo eleitoral de R$ 2 bilhões aprovado pelo Congresso para a campanha municipal do próximo ano. Fez até uma enquete populista com apoiadores, na porta do Alvorada, perguntando, como se fosse um animador de auditório, quem achava que devia vetar o projeto. Foi aplaudido quando disse que não aprovaria dinheiro para fazerem campanha eleitoral. 

Bolsonaro jogou o Congresso contra a opinião pública dizendo que, numa comparação absurda, com uma verba dessas o ministro da Infraestrutura faria várias obras necessárias para o país. Em uma live nas redes sociais, afirmou ainda que aguardava parecer jurídico para saber se poderia vetar o Fundão Eleitoral, com receio de sofrer um impeachment como retaliação política. Mais uma tentativa de jogar seus seguidores contra o Congresso. Sua relação com os parlamentares, que havia entrado em módulo de pacificação, voltou a ficar conturbada. A simples ameaça de vetar o Fundo Eleitoral acirrou os ânimos no Congresso, que promete derrubar o veto — inclusive porque a proposta de R$ 2 bilhões veio no Orçamento enviado pelo Palácio do Planalto.

Os problemas da família Bolsonaro com a Justiça, porém, servirão certamente de instrumento para tentativas de constranger o Palácio do Planalto. E isso não é paranoia do presidente, é apenas a baixa política, que sempre foi o terreno das manobras de Bolsonaro.

Com Merval Pereira

sábado, 21 de dezembro de 2019

SOBRE O FURDUNÇO QUEIROZ/FLÁVIO BOLSONARO



As suspeitas de rachadinha no gabinete do então deputador Flávio Bolsonaro já causavam preocupação no ano passado, antes mesmo das eleições. Prova disso é que seu ex-motorista e ex-assessor, Fabrício Queiroz, disse a um amigo através de um vídeo no WhatsApp: "O MP está com uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na gente". Noutro trecho, ele afirmou: "Não vejo ninguém mover nada para tentar me ajudar".

Observação: Vale lembrar que a rachadinha — retenção, em benefício do parlamentar, de parte dos salários dos assessores e funcionários do gabinete — é uma prática tão enraizada na política tupiniquim quanto o caixa dois de campanha, mas isso não a torna legal ou menos imoral.

Em meio ao turbilhão, o advogado Paulo Klein, alegando "questões de foro íntimo", abandonou a defesa de Queiroz no momento mais delicado da investigação que fecha o cerco ao ex-assessor e o ex-assessorado. Foi Klein quem ajudou a articular a entrevista concedida ao SBT em dezembro de 2018, na qual Queiroz tentou explicar as movimentações atípicas em sua conta. Com a investigação cada vez mais próxima de Zero Um, o mal-estar no governo ganhou outra dimensão. “Venham para cima, não vão me pegar”, desafiou o presidente. Será que não?

A julgar pela fumaça, o incêndio é grande. O primogênito do presidente frequenta a investigação como suspeito da prática de dois crimes: lavagem de dinheiro e peculato. Os promotores poderiam ter enviado a polícia às ruas depois das festas de final de ano, mas parecem dispostos a recuperar o atraso provocado pela blindagem que Dias Toffoli ofereceu ao "Ronaldinho dos Imóveis" — e estendeu oportunisticamente às advogadas Roberta Rangel e Guiomar Mendes, mulheres do próprio Toffoli e de seu amigo e parceiro de maracutaias.

O inquérito permaneceu suspenso por quase 5 meses. Ironicamente, Queiroz voltou às manchetes horas depois de o Congresso ter aprovado a medida provisória editada por Bolsonaro para desossar o Coaf. Os parlamentares enterraram o novo nome proposto pelo presidente (UIF), mas mantiveram a decisão de enfiar o órgão de controle nos fundões do organograma do Banco Central. Foi graças a descobertas do Coaf que Queiroz estilhaçou o discurso da família Bolsonaro, aproximando a dinastia presidencial da turma do PT.

Queiroz nunca prestou depoimento. Entregou ao MP-RJ uma manifestação por escrito. Não conseguiu explicar a movimentação de R$ 1,2 milhão em sua conta nem os R$ 24 mil repassadas para a conta da hoje primeira-dama. Reconheceu que se apropriava de parte dos salários de assessores de Flávio, mas alegou que fazia isso para pagar "colaboradores informais" do então deputado e jamais exibiu recibos. Mesmo assim, o Ministério Público ainda não promoveu — como deveria — a condução coercitiva do ex-assessor, embora Veja tenha revelado que ele é vizinho de Marcelo Odebrecht no bairro do Morumbi.

A defesa de Flávio Bolsonaro impetrou um habeas corpus no STF para tentar suspender novamente as investigações. O caso tramita sob sigilo sob a relatoria da Maritaca de Diamantino. Na última quinta-feira, o semideus togado pediu ao MP-RJ, "com urgência", informações sobre a investigação. Seria muita safadeza se... enfim, vindo de quem vem, nada surpreende.

A semana que termina foi considerada a mais turbulenta para a família Bolsonaro desde a posse. Tanto que na noite da operação do GAECO, Flávio foi ao encontro do pai, no Palácio da Alvorada. A reunião, que contou com a presença de Zero Três, durou quase duas horas. Questionado sobre esse salseiro, o presidente, sempre grandiloquente, disse apenas não ter “nada a ver” com as suspeitas levantadas pelo MP e que “o Brasil é muito maior do que pequenos problemas”. Ato contínuo, fechou-se em copas. Aos repórteres mais insistentes, disse apenas: "Perguntem aos advogados".

Somente Flávio e o papai presidente sabem o tamanho real do buraco em que se meteram. Toda crise tem um custo. O capitão precisa decidir quanto deseja pagar. A fatura vai aumentando com o tempo, e ainda lhe restam três anos de governo. A pressa do MP recomenda ao inquilino do Planalto que acenda a luz.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

MAIS DESPAUTÉRIOS TOFFOLIANOS



Entre os diversos fatos estarrecedores dos últimos dias, resolvi focar a entrevista concedida por Dias Toffoli ao jornal O Estado e deixar a monumental camisa de onze varas em que se meteu o senador Flávio Bolsonaro para uma próxima oportunidade. Passando ao que interessa, é sempre bom lembrar que o atual presidente do STF, um verdadeiro obelisco do saber jurídico, foi guindado ao mais alto cargo da magistratura pelo ex-presidente petista ladrão, que nunca leu um livro na vida e, portanto, não se incomodou com o fato de seu então auxiliar ter levado bomba em dois concursos para juiz de primeira instância.

Na entrevista ao Estado, entre outras asnices o ministro afirmou que a Lava-Jato destruiu empresas, que o MP é pouco transparente e que isso jamais aconteceria nos Estados Unidos. Marcelo Odebrecht — que mais do que ninguém fala com absoluto conhecimento de causa —, porém, vê a coisa de outra maneira. Segundo ele declarou em entrevista ao Globo, a Lava-Jato foi o gatilho, mas a Odebrecht poderia ter saído dessa mais bem preparada para um novo ciclo de crescimento sobre bases até mais sustentáveis. "Nós não soubemos conduzir o processo da Lava-Jato; a Odebrecht quebrou por manipulações internas, não apenas pela Lava-Jato”. A informação que me davam [na cadeia] era que a empresa não estava pronta para um acordo [com a Justiça] (...) depois descobri que a informação que levavam para a empresa era que quem não estava disposto a colaborar era eu".

O comentário de Toffoli escancarou mais uma vez a cizânia que divide os togados supremos, com Marco Aurélio divergindo de seu eminente presidente: “De forma alguma [a Lava-Jato destrói empresas], ao contrário. Fortalece. E gera confiança. Gera segurança. Não deixa de ser um marco civilizatório. O ruim é quando se varre [a suspeita] para debaixo do tapete, aí é péssimo.” Como se vê, até um relógio quebrado marca a hora certa duas vezes por dia (para não dizer que até um burro velho e cego consegue eventualmente encontrar a cenoura).

Toffoli, instado comentar sobre a Lava-Jato, começou com os farisaicos elogios de praxe e, tão previsível quanto a chegada da primavera, disse que a operação colocou o combate à corrupção num patamar mais elevado, sobretudo por ter instalado na cadeia gente que parecia condenada à perpétua impunidade. Em seguida, estacionou na vírgula, sacou do coldre a adversativa e disparou a maluquice: “Mas a Lava-Jato destruiu empresas. Isso nunca aconteceu nos Estados Unidos ou na Alemanha”.

A cada novo pronunciamento, o Maquiavel de Marília mostra que mereceu a reprovação com louvor nas duas tentativas de ingresso na magistratura paulista. Pela sua ótica, o problema não está na roubalheira institucionalizada, mas no fato de a ladroagem ter sido descoberta. É como culpar pela internação de um paciente na UTI não a gravidade da doença, mas a competência do médico que a diagnosticou.

O palavrório permite deduzir que o ministro acompanha os escândalos protagonizados por corruptos no resto do mundo com a mesma atenção que dispensa à língua portuguesa. Ele ignora, por exemplo, que a condenação de executivos pilantras não livra da falência as empresas que controlam. Morreram de safadeza, por exemplo, os gigantes americanos Enron em 2001, WorldCom no ano seguinte e Lehman Brothers em 2008. Para escapar da bancarrota, a alemã Siemens pagou multas de dimensões amazônicas e disseminou pelo mundo inteiro o termo compliance — uma espécie de auditoria permanecente concentrada na prevenção de irregularidades.

Pelo jeito, Toffoli não sabe disso.  Mas o que é mesmo que Toffoli sabe?

Com Augusto Nunes

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

VIVA EU, VIVA TU, VIVA O RABO DO TATU!


Lula, o grande responsável pela nefanda polarização político-ideológica, cuspiu na cara dos brasileiros ao se autopromover de migrante nordestino a presidente da República e, ato contínuo, tornar-se um punguista categorizado. Já a banda podre da nossa mais alta corte, capitaneada por seu atual presidente e pela Maritaca de Diamantino, fez o mesmo ao reverter o entendimento que autorizava a prisão após decisão em segunda instância e ao tirar da cartola uma regra absurda, sobre a ordem de apresentação de memoriais nos processos em que há réus delatores e delatados, que vem anulando condenações da Lava-Jato a torto e a direito (como Ademir Bendine e Paulo Preto, para citar os casos mais emblemáticos). 

Salta aos olhos de quem os tem que o propósito dessas barbaridades sempre foram beneficiar o ex-presidente decarréu, já condenado em dois processos — no do tríplex, ele foi considerado culpado por corrupção e lavagem de dinheiro por 9 magistrados em 3 instâncias; no do sítio, a decisão condenatória da 13ª Vara Federal do Paraná grau foi confirmada pelo TRF-4.

O mais curioso em toda essa história é que a autodeclarada alma viva mais honesta da galáxia já havia conquistado o direito à progressão de pena — excrescência prevista numa legislação escrita por corruptos para favorecer criminosos —, mas, mesmo assim, seus esbirros no STF resolveram pecar por ação, permitindo que o demiurgo pernambucano e cerca de outros 4.000 condenados que, como ele, aguardavam na cadeia o julgamento de seus recursos pelos tribunais superiores, permanecessem em liberdade até o julgado da decisão condenatória (o que no Brasil equivale a dizer "no dia de São Nunca").

Foi também graças a essa maldita polarização, combinada com a absoluta desinformação de boa parte do eleitorado, que foram limadas, juntamente com um arrepiante elenco de circo de horrores, as poucas opções que poderíamos ter experimentado. Assim, diante da perspectiva de ver a marionete do presidiário se aboletar no Palácio do Planalto, só nos restou apoiar um deputado do baixo-clero populista, boquirroto e despreparado. Felizmente, o Brasil tende a avançar apesar de seus governantes Mas isso não muda o fato de que uma usina de crises no comando da Nau dos Insensatos está longe de ser o melhor dos cenários.  

Depois de chamar de "pirralha" a ativista-mirim escandinava Greta Thunberg — que se tornou conhecida mundialmente, da noite para o dia, pela defesa ao meio ambiente —, Jair Bolsonaro chamou de "energúmeno" o educador e filósofo Paulo Freire, morto em 1997.

Na visão do presidente, a antiga programação da TV Escola era "totalmente de esquerda" e promovia a ideologia de gênero, razão pela qual o contrato com a associação responsável por geri-lo desde 1995 não foi renovado. “Você conhece a programação da TV Escola? Deseduca”. Queriam que assinasse agora um contrato de R$ 350 milhões? Quem assiste a TV Escola? Ninguém assiste. Dinheiro jogado fora”, disse o capitão durante uma de suas tradicionais conversa com apoiadores defronte ao Palácio da Alvorada. “Olha a prova do Pisa. Estamos em último lugar no mundo, se eu não me engano, matemática, ciências e português. Acho que em um ou dois itens somos os últimos da América do Sul. Vamos esperar o que desse Brasil com esse tipo de educação?”, completou o presidente.

Observação: Paulo Freire foi declarado patrono da educação brasileira em 2012. O educador desenvolveu uma estratégia de ensino baseada nas experiências de vida das pessoas, em especial na alfabetização de adultos. Uma de suas obras, "Pedagogia do Oprimido", é o único livro brasileiro a aparecer na lista dos 100 títulos mais pedidos pelas universidades de língua inglesa consideradas pelo projeto Open Syllabus.

Quanto à semideusa escandinava que a imprensa tem na conta de envida por Odin, pelo pai de todos os deuses nórdicos, para salvar o mundo do aquecimento global, faço minhas as palavras de Adrilles Jorge: Greta Thunberg é uma fedelha que espalha catastrofismo ecológico falso, e a mídia e os próprios pais da garota autista exploram sordidamente seu fanatismo na defesa de uma causa ideopata. Greta é uma pirralha inocente dos monstros que a manipulam.

Mudando de pato para ganso, ou melhor, de Jair Bolsonaro para Dias Toffoli (repare que ambos têm em comum a total inadequação para o cargo que exercem), o togado disse em recente entrevista ao Estado que a Lava-Jato destruiu empresas, que o MP é pouco transparente e que isso jamais aconteceria nos Estados Unidos.

Não se trata de uma ideia nova ou original, mas de uma ladainha que vem sido cantada em prosa e verso por proprietários e executivos de diversas companhias privadas, envolvidas ou não em processos abertos a partir das investigações empreendidas pela Lava-Jato, e por um sem-número de parlamentares de esquerda temerosos de amanhecer com uma equipe de agentes federais na sua porta — como é caso de Gleisi Hoffmann, atual presidente nacional do PT, e seu ídolo e mentor corrupto e lavador de dinheiro, que não se casa de repeti-la sem parar.

O notório saber jurídico exigido pela Constituição de um ministro do Supremo passa longe do currículo de Toffoli, que só recebeu a toga graças aos "bons serviços" prestados os Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ao PT, às campanhas de Lula e ao guerrilheiro de araque José Dirceu, de quem foi assessor na Casa Civil durante a primeira gestão petista. A exemplo de Ricardo Lewandowski, que também recebeu a sua das mãos de Lula por sugestão da então primeira dama e indicação da família Demarchi, influente em SBC, o atual presidente da Corte vestiu a toga, mas não despiu a farda de militante petista. E suas recentes decisões e artimanhas urdidas nos bastidores não deixam dúvida quanto a imorredoura gratidão desse ministro àqueles que o conduziram ao cargo mais ambicionado no âmbito da magistratura.

Não é do conhecimento dos seres humanos não submetidos à lavagem de creolina no cérebro que a nossa Carta Magna tenha adotado o desvario de exigir do MPF o dever cívico de salvar da derrocada financeira chefões e quadrilhas do crime organizado, das altas direções de partidos e empresas. Portanto, não é cabível que o ocupante ocasional do mais alto posto do poder judicante invista o total capital de credibilidade da instituição que preside no uso de álcool gel nas mãos sujas dos gestores de empresas que usaram dinheiro público para enriquecimento pessoal. Ou dos agentes públicos que disso se aproveitaram, mesmo que fosse apenas para aumentar o poderio financeiro das organizações partidárias em que militam e que dirigem. Seja qual for a causa, esse disparate infame desqualifica o ocupante do poderoso cargo e exige prontas providências para que não contamine os outros dez membros e a instituição como um todo.

A entrevista de Toffoli traz outras pérolas porcinas menos relevantes, mas reveladoras da escassa inteligência de quem as produziu. No país em que a carência de saneamento básico faz de milhões de miseráveis vítimas das doenças pulmonares dos esgotos a céu aberto das “comunidades” pobres da periferia, uma tosse intrometida o levou a se queixar do caríssimo aparelho de ar-condicionado daquele que hoje no Brasil só seus membros chamam de “excelso pretório”. Ou suas recorrentes reclamações de excesso de trabalho numa instituição que evoca para si mesma deveres de outros Poderes da República como formas de adquirir mais poderio. 

Em seu afã de se transformar em Maquiavel de Marília, o ex-garçom petista da Academia da Pizza já teve a pachorra de misturar delito fiscal (da alçada da Receita Federal) com crime financeiro (fiscalizado pelo Coaf, que voltou a ser Coaf) na decisão monocrática que perdeu por 9 a 2 no plenário do STF. A liminar blindava, ao mesmo tempo, o primogênito do presidente da República, a advogada Roberta Rangel, mulher de Toffoli, a também advogada Guiomar Mendes, esposa da Maritaca de Diamantino, e mais um sem-número de investigados. E se a decisão monocrática do ministro teve início ridículo, atingiu as raias do trágico quando o próprio autor votou contra o próprio relatório, levando o citado cúmplice a fazer o mesmo para manter a relatoria da dita ação.

Voltando agora a Bolsonaro e suas estultices:

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

A INDECÊNCIA QUE POSA DE INOCÊNCIA



Legislativo e Judiciário já estão em clima de recesso de final de ano — o que é no mínimo imoral: considerando a situação que o país atravessa, deixar para fevereiro assuntos de grande relevância, como as reformas pós-Previdência e a autorização para a prisão de condenados em segunda instância, é uma irresponsabilidade. Mas incluir no Orçamento a proposta aprovada pela Comissão Mista do Congresso, que aumenta consideravelmente o valor do fundão eleitoral em relação ao ano passado, é cuspir na cara do contribuinte tupiniquim, que é obrigado a sustentar calado essa verdadeira farra do boi.

Chegou-se a cogitar um valor de quase R$ 4 bilhões para financiar as campanhas eleitorais no ano que vem, mas, diante da indignação popular, suas insolências valeram-se do velho truque do bode, reduzindo a mordida R$ 2,5 bilhões. Assim, lucrariam meio bilhão de reais e confirmariam que enxergam no povo brasileiro um bando de idiotas. Ao final, o texto que foi aprovado noite de ontem destina R$ 2 bilhões para o fundo eleitoral, prevê R$ 1.031 para o salário mínimo e estima em até R$ 124 bilhões o déficit das contas públicas.

Nunca é demais lembrar que uma coisa é viabilizar eleições e outra, bem diferente, é sustentar partidos e respectivos candidatos.

***
O cangaceiro das Alagoas sonha em ver na cadeia o procurador federal Deltan Dallagnol. Renan, um prontuário ambulante disfarçado de parlamentar, é estimulado pela simpatia dissimulada de um bando de colegas de Dallagnol, pela omissão covarde de cardeais do MPF e pelo apoio ostensivo da bancada suprapartidária dos cafajestes. Mas a prisão do coordenador da Lava-Jato no Paraná é tão viável quanto a substituição do Exército por tropas de cangaceiros chefiados por Fernando Collor.

***
Sobre a investigação de Lulinha pela Lava-Jato, disse Lulão: “O espetáculo produzido pela Força Tarefa da Lava Jato é mais uma demonstração da pirotecnia de procuradores viciados em holofotes que, sem responsabilidade, recorrem a malabarismos no esforço de me atingir, perseguindo, ilegalmente, meus filhos e minha família”. Na versão do picareta dos picaretas, foi por coincidência que a Oi, amparada no critério da meritocracia, doou mais de 130 milhões de reais ao "Ronaldinho dos Negócios" pouco antes de seu papai presidente ter assinado o decreto que permitia à empresa fazer exatamente o que queria.

Um e-mail de 13 de novembro de 2007, incluído pela Lava-Jato na representação que fundamentou as buscas da operação da semana passada, revela muito sobre como funcionava a rede de proteção que mantinha — não com muito sucesso, diga-se — a vida de luxos de Fábio Luís Lula da Silva no anonimato. Em mensagem batizada de “Mocó dos Pica-Pau”, endereçada a Kalil Bittar e Jonas Suassuna, o "menino de ouro", preocupado com o apartamento que estava prestes a alugar em São Paulo por R$ 7 mil reais, pede que todas as contas relacionadas ao imóvel sejam registradas no nome da Gol, empresa de Jonas Suassuna

Para justificar o repasse, Lulinha usa os porteiros do prédio: “Como eu disse ao Jonas, na semana passada, acho ruim tudo relacionado ao apartamento ficar em meu nome. Não é nada demais, mesmo porque eu atualmente tenho condições de arcar com os custos do mesmo, mas quando as contas começam a chegar em meu nome, em menos de uma semana os porteiros se comunicam, que contam para as empregadas, que contam para os vizinhos, que estudam em frente, que contam para deus e o mundo, ou seja, vai ser um inferno”. Na mesma mensagem, o ex-catador de bosta de elefante deixa claro que “o Jonas concordou comigo que podemos fazer tudo em nome da Gol”.

A Lava-Jato separa um capítulo da investigação para detalhar quantas mordomias semelhantes ao apartamento foram bancadas pelo sócio de Lulinha. Compras de toda natureza estão listadas na investigação. “A percepção de benefícios por Fábio Luís, assumidos e pagos por Jonas Suassuna, remonta o ano 2007. E-mails apreendidos comprovam que desde esta época Jonas, com o auxílio de Kalil Bittar, foi responsável por custear despesas de locação em imóvel ocupado por Fábio Luís, da ordem de 7.000 reais por mês”, registram os investigadores. A mensagem, por reveladora, mostra que Lulinha só conseguiu dinheiro depois do milagre da Gamecorp. Mostra também que não era só Lula que usava amigos para esconder a vida de bacana em São Paulo.

Observação: A PF chegou a pedir, em representação que culminou na Operação Mapa da Mina, fase 69 da Lava Jato, a prisão temporária de Lulinha e dos empresários Kalil Bittar e Jonas Suassuna, sócios do grupo Gamecorp/Gol. O documento foi apresentado à 13.ª Vara Federal do Paraná em junho de 2018, mas só foi analisado pela juíza substituta Gabriela Hardt em setembro passado, após manifestação do MPF. Hardt negou o pedido, levando em consideração o tempo decorrido desde a representação e também acolhendo o parecer da força-tarefa no Paraná, de que não havia necessidade de decretação de reclusão dos investigados. Curiosamente, a mídia "cumpanhêra" não fez alarde dessa decisão, ao contrário do que fez quando o TRF-4 anulou uma sentença em que a magistrada reproduziu, como se fossem seus, argumentos do MPF, copiando peça processual sem indicação da fonte (note que essa decisão não remete a processo da Lava-Jato).
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Por último, mas não menos afrontoso: Felipe Santa Cruz — que também parece ter especial predileção por menosprezar a inteligência alheia — saiu-se com a seguinte pérola: “Estou convencido e vou falar uma coisa dura: quem segue apoiando o governo é porque tem algum desvio de caráter”. Na valiosa opinião do presidente da OAB, só não tem desvio de caráter quem, como ele próprio, segue apoiando Lula, Dilma e o resto da quadrilha que saqueou o país por 13 anos consecutivos.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

SOBRE O PAU DE ARARA E OS FILHOS DO PAI, DA MÃE E DO CAPETA



Após um hiato de 26 dias sem postar, o pitbull presidencial voltou às redes sociais no domingo 8, quando publicou um meme do chefe de cozinha turco Salt Bae, e na terça subsequente, para compartilhar um vídeo do grupo Os Mateadores cantando a música "Cadela de baia". Mas o mais intrigante foi uma frase em código Morse que não fazia o menor sentido (vide figura ilustração).

Entrementes, Bolsonaro pai, de passagem pelo Tocantins, afirma  que colocará no pau de arara ministros de seu governo que se envolverem em casos de corrupção. Como é de praxe, a mídia logo classificou a frase de efeito do capitão como "uma declaração polêmica", e os teóricos da conspiração entraram em polvorosa, pois o dislate foi proferido às vésperas do 51.º aniversário do AI-5.

Observação: Para quem não sabe, no pau de arara os pulsos do torturado eram amarrados aos tornozelos. Antes do início da sessão de suplícios, a vítima é pendurada pelos joelhos, de cabeça para baixo, num pau roliço, e ficava à mercê dos algozes.

Ao longo de todo este ano, a mídia enalteceu um ex-presidente corrupto, decarréu e duplamente condenado, e perseguiu implacavelmente o "mito" dos bolsomínions. Diante dessa caça à bruxas, não espanta que capitão destile sua hostilidade contra jornalistas e veículos que publicam críticas a ele, seu governo, sua prole e seus ministros. A Folha, que se tornou sua inimiga figadal ao noticiar a suspeita de uso de disparos em massa de mensagens de WhatsApp contra Haddad e, mais adiante, ao publicar as primeiras denúncias sobre o uso de candidaturas laranjas pelo PSL, chegou a ser excluída de uma licitação do governo.

Na outra margem desse caudaloso rio de merda, o ex-presidiário de Curitiba nem bem deixou a cadeia e subiu num palanque improvisado para vituperar acusações irresponsáveis contra a Rede Globo e despejar toda sorte de ameaças vazias contra "os inimigos do povo", levado ao delírio a chusma de esquerdopatas que se reuniu defronte à sede da PF em Curitiba e, no sia seguinte, diante do Sindicato dos Metalúrgicos de ABC para beber seus ensinamentos. Mais adiante, já na capital do seu estado de origem (num hotel de luxo da praia da Boa Viagem, o bairro mais chique da cidade, é claro), o criminoso de Garanhuns acrescentou ao bolo fecal que serviu à patuleia ignara de adoradores o seguinte troçulho: "(...) Nós não vendemos ódio, vendemos amor, paixão. É muito coração nessa história”.

Observação: Na edição revista e atualizada de sua "caravana pelo Brasil", só bateram os cascos para o petralha os integrantes da tropa asinina mortadeleira. Do restante dos populares, o que mais se ouviu foi: “Lula, ladrão, teu lugar é na prisão”. E isso no coração do Nordeste, onde,  dos “institutos de pesquisa de opinião”, o enganador vermelho sempre diz que tem 120% de popularidade.

Para não espichar demais esse assunto na penúltima semana de 2019, acrescento apenas que, para mim, o que Lula fala e merda são a mesma coisa. Mas Bolsonaro discursa como se não enxergasse corrupção em seu entorno, mesmo havendo na Esplanada dos Ministérios três denunciados, dois investigados e até um condenado. Esses ministros estão pendurados na folha de pagamento da União, não no pau de arara, e desfilam pelos gabinetes de Brasília como se nada pesasse contra eles. Durma-se com um barulho desses!

Sobre a nova novela cujo primeiro capítulo foi ao ar na última semana com a fase 69 da Lava-Jato focando Lulinha, o notável ex-catador de bosta de elefante que, graças ao papai presidente, tornou-se da noite para o dia o "Ronaldinho dos negócios", falarei numa próxima oportunidade.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

SURGE PETISTA QUE PREFERE SAIR DA ÁGUA A SE AFOGAR


Quando Lula deixou a cadeia, em 8 de novembro, o PT lidava com dois problemas: o excesso de lama e a carência de rumo. Decorridos 36 dias desde a abertura da cela de Curitiba, o PT continua imerso em lodo. Mas já dispõe de um rumo. Sob os efeitos da raiva que Lula injetou na conjuntura, o partido tomou a direção do brejo.

Em entrevista à Folha, o governador petista da Bahia, Rui Costa, sugeriu caminhos diferentes: Lula e o PT precisam "pregar a pacificação do país", declarou. É necessário "aproximar as posições gerais do partido de desafios concretos da economia e da sociedade". Falou em "ajuste fino", em "refinamento" de posições.

Instado a comentar a aversão da bancada do PT na Câmara ao projeto que regula a participação da iniciativa privada no setor de saneamento básico, o governador tomou as dores dos cerca de 100 milhões de brasileiros que não dispõem de uma privada em casa.

"Onde vamos buscar recursos para tirar o pobre de viver sem esgoto, em lugares alagados ou ficar sem água? O governo e os estados não têm como ofertar. É evidente que precisamos usar o instrumento da parceria público-privada, do capital privado, para levar água e esgoto à população".

Rui Costa proclama o óbvio. Mas o óbvio e o PT são coisas inconciliáveis. O mesmo Lula que beijou a cruz da Carta aos Brasileiros para virar presidente em 2002 agora afugenta a classe média com sua ficha suja e seu discurso radical. Numa conjuntura que pede moderação, a divindade petista operou para reconduzir a incendiária Gleise Hoffmann ao comando partidário.

Ninguém se afoga por cair na água, mas por permanecer lá. Rui Costa soou como se preferisse sair da água. O diabo é que, para chegar à margem, teria de se livrar do abraço de afogados.

Texto de Josias de Souza.

domingo, 15 de dezembro de 2019

AO VENCEDOR, AS BATATAS!


A polarização política fomentada por Lula com o proselitismo do "nós contra eles" vem produzindo efeitos tão nefastos quanto os que Dilma causou na Economia ao longo de seus 5 anos, 4 meses e 12 dias no poder governo.

Entre outras consequências funestas, a "guerra entre o Bem e o Mal" exterminou no primeiro turno das eleições passadas, juntamente com o circo de horrores (Vera Lúcia, Cabo Daciolo, Eymael e outras bizarrices), os poucos candidatos que valiam dois tostões de mel coado, levando ao embate final os extremistas mais extremados do espectro político. E com o timão da Nau dos Insensatos nas mãos de um marujo que, em outras circunstâncias, estaria empunhando um esfregão, nosso consolo é que a coisa teria seria ainda pior se o títere da jararaca tivesse derrotado o capitão caverna.

Eleito graças ao discurso anti-Lula e anti-PT, a versão tupiniquim do Goofy beneficia-se desse cenário inflamado, notadamente num momento em que sua capacidade de produzir crises começava a decepcionar quem acreditou que ele adquiriria maturidade no cargo ou seria domado pelos assessores. E os ganhos são ainda maiores com o presidiário de Curitiba (que também se capitaliza com esse confronto permanente) em ritmo de palanque nacional. A questão é que o Brasil e o povo brasileiro só têm a perder, pois ficam reféns de duas posições: petista ou antipetista.

Observação: Talvez seja injusto atribuir esse descalabro apenas a Lula. Como bem lembrou o próprio Bolsonaro numa de suas "frases polêmicas" — aquelas que a mídia adora tirar do contexto para fazer tempestade em copo d'água —, o grande erro da ditadura foi torturar e não matar. Aliás, Lula disse mais ou menos a mesma coisa em 2016, após ser conduzido coercitivamente à PF do Aeroporto de Congonhas. Depois de prestar depoimento, a jararaca da caatinga ensinou que para matar a serpente é preciso bater na cabeça, não na cauda. Como ninguém aprendeu a lição, é possível que se repita no pleito de 2022 o que aconteceu no de 2018.

Ao longo dos últimos 11 meses e lá vai fumaça, Bolsonaro nomeou um bando de incompetentes para o primeiro escalão, indispôs-se com Deus e o mundo, ungiu-se primeiro-vassalo de Donald Duck, digo, Donald Trump, moveu mundos e fundos para emplacar o filho fritador de hambúrgueres (numa rede americana de lanchonetes que só trabalha com frango frito) no cargo de embaixador no EUA e vendeu a alma ao diabo, digo, à banda podre do STF, em troca da blindagem de seu primogênito no "Caso Queiroz". Como se não bastasse, em vez de ajudar na tramitação da PEC da Previdência, fez o possível para atrapalhar, criando uma crise aqui, outra acolá, falando mal deste, debochando daquele.   

É complicado fazer previsão com quase 3 anos de antecedência, sobretudo num país onde nem o passado é previsível. As últimas pesquisas sugerem que a popularidade do capitão parou de cair e segue firme no patamar de 33%, podendo, inclusive, melhorar se as boas perspectivas da economia se confirmem. Lula, mesmo solto, já não consegue mobilizar a esquerda como antigamente, mas mantém respeitáveis 29%

Lidos nas entrelinhas, esses resultados revelam que 60% do eleitorado tupiniquim é manipulável e altamente susceptível a discursos demagógicos, embora as castas já estejam formadas, sendo muito difícil membros da patuleia mortadeleira serem convertidos em bolsomínions. E vice-versa. Mas é bom ter em mente que, como as nuvens no céu e o cenário político, os índices podem mudar a cada nova pesquisa (sem mencionar que muitos entrevistados não só são semianalfabetos ou analfabetos funcionais, como também incapazes de encontrar o próprio rabo usando as duas mãos e uma lanterna).

Enfim, resta saber como ficará o "meio de campo". Se não surgir um candidato "de centro" com envergadura para mudar esse jogo de cartas marcadas, estaremos ferrados e mal pagos. E anular, o voto, votar em branco ou se abster de votar, embora sejam opções válidas, não ajudam em numa eleição polarizada como tende ser a de 2022.

Para concluir, ainda falando em pesquisas, dados coletados pelo Datafolha indicam que a avaliação do governo piorou no quesito combate à corrupção. Moro a culpa ao STF, mas é sempre mais fácil escolher culpados do que assumir culpas. Hoje, lembra o impagável Josias de Souza, quando a corrupção domina a conversa numa rodinha, é impossível mudar de assunto; pode-se, no máximo, mudar de suspeito. E Bolsonaro está cercado de suspeitos: o filho investigado, o ministro denunciado no escândalo do laranjal, um líder enrolado na Lava-Jato, o diabo.

Moro disse que "o governo está trabalhando com afinco para o restabelecimento da prisão em segunda instância". Não é bem assim. O ministro até frequenta o debate do lado certo, mas o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, coleta assinaturas para barrar a votação do PL que altera o CPP, enquanto Bolsonaro faz cara de paisagem ou, no máximo, declarações flácidas. Num cenário em que a memória fraca se confunde com a consciência limpa, o brasileiro tem dificuldade para enxergar inocentes no palco. Consolida-se a sensação de que os corruptos são encontrados em várias partes do mundo — quase todas no Brasil. E a leniência do Supremo não explica tudo. Eleito como parte da solução, Bolsonaro oferece material para que seus próprios eleitores comecem a enxergá-lo como parte do problema.

Valei-nos Deus!

sábado, 14 de dezembro de 2019

UM NOVO BRASILEIRO PARA UM NOVO BRASIL


Uma revolução está em curso no País. Trata-se de uma mudança na Educação feita de maneira sutil, inteligente e sistemática desde que Bolsonaro assumiu. Porque educar não é apenas colocar generais aposentados nas escolas, como qualquer verdadeiro patriota poderia pensar. O presidente, com sua alma professoral, atua para iluminar os mais velhos. Gente que, como eu, foi doutrinada pela esquerda. Com o auxílio de um seleto grupo de intelectuais, nosso indômito capitão vem colocando por terra ideias equivocadas que pareciam sedimentadas.

Em minha ignorância, por exemplo, eu lamentava não ter nascido antes. Poderia até ter sido até preso em movimentos estudantis na luta quixotesca contra uma ditadura que, como o presidente ensinou, nem existiu. Poderia ter apoiado os primeiros movimentos feministas, pensava eu, cego para a verdade. Não fosse a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, talvez ainda vivesse nas trevas. 

Quando Damares Alves saiu de uma de suas primeiras reuniões com o presidente e afirmou que “a mulher nasceu para ser mãe”, meu queixo caiu. Depois, ela emendou: “A gravidez é um problema que dura só nove meses”. Que coragem. Eu passei a anotar todos os seus ensinamentos. Nascia ali um novo eu, sedento por me libertar da ignorância ideológica. Com Damares aprendi que ninguém nasce gay e que não é a política que vai mudar o Brasil, mas sim, a igreja (se for neopentecostal).

E quando achava que tinha aprendido tudo e enterrado meus sonhos adolescentes, o presidente apareceu com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Não fosse ele, eu ainda estaria alimentando a ideia de entrar para o Greenpeace, aqueles comunistas assassinos capazes de jogar óleo no mar, ou ajudar o WWF, que financia a queima da floresta amazônica (bato três vezes no tampo da minha mesa de mogno).

Não satisfeito, o presidente me deu outro mestre, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Com ele, aprendi que esse pessoal de revistas e jornais é safado e que a mídia vive para espalhar fake news. Notícias, agora, só pelo WhatsApp ou pelo Twitter dos filhos do presidente.
A gana do chefe do Executivo em difundir conhecimento parece não ter fim. Escolhida a dedo, a cada semana sua equipe de governo derruba mais uma dessas lendas que alimentei por décadas, influenciado pela mídia e pela esquerda. Mesmo assim, vejo zumbis ao meu redor. Gente que não assimila esses aprendizados.

Falando em zumbi, lembrei de mais um grande brasileiro que conheci. É esclarecedor ouvir o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo, novo presidente da Fundação Palmares, afirmar que o Dia da Consciência Negra causa perdas irreparáveis à economia do País em nome do falso herói histórico Zumbi dos Palmares, que escravizava africanos e seus descendentes, e de uma agenda política oculta que só serve para alimentar o revanchismo, doutrinando o povo negro para o vitimismo.

Pensei: “Meu Deus do céu! Não terá fim minha ignorância?”. Justo eu, que sempre achei que os negros mereciam mais oportunidades em nome de seu passado de sofrimento e lutas? Burro! Burro! Burro! sem contar que aprender, às vezes, dói. Como doeu quebrar todos os discos dos Beatles que colecionei na juventude. Não fosse o presidente da Funarte, Dante Mantoviani, explicar que Lennon e McCartney queriam implantar o comunismo, eu ainda estaria cantarolando “Help!”. Como não percebi as mensagens cifradas quando curtia “Back to USSR”?

Se você ainda não abriu os olhos, se ainda continua vivendo no passado, fica aqui o alerta de que um novo brasileiro está surgindo. Insista na ignorância e, talvez, você mereça mesmo continuar sendo nada mais do que um terrabolista alienado e oprimido.

Texto de Mentor Neto