Entre os diversos fatos estarrecedores dos últimos
dias, resolvi focar a entrevista concedida por DiasToffoli ao jornal OEstado e deixar a monumental camisa de onze varas em que se meteu o senador Flávio Bolsonaro para uma próxima oportunidade. Passando ao que interessa, é sempre bom lembrar que o atual presidente do STF, um verdadeiro obelisco do saber jurídico, foi guindado ao mais alto cargo da magistratura pelo ex-presidente petista ladrão, que nunca leu um livro na vida e, portanto, não se incomodou com o fato de seu então auxiliar ter levado bomba em dois
concursos para juiz de primeira instância.
Na entrevista ao Estado, entre outras asnices o ministro afirmouque a Lava-Jato destruiu empresas, que o MP é pouco transparente e que isso jamais aconteceria nos
Estados Unidos. Marcelo Odebrecht — que mais do que ninguém fala com absoluto conhecimento
de causa —, porém, vê a coisa de outra maneira. Segundo ele declarou em entrevista ao Globo, a Lava-Jato
foi o gatilho, mas a Odebrecht poderia ter saído dessa mais bem
preparada para um novo ciclo de crescimento sobre bases até mais sustentáveis. "Nós não soubemos conduzir o processo da
Lava-Jato; a Odebrecht quebrou por manipulações internas, não apenas pela
Lava-Jato”. A informação que me davam [na cadeia] era
que a empresa não estava pronta para um acordo [com a Justiça] (...) depois descobri
que a informação que levavam para a empresa era que quem não estava disposto a
colaborar era eu".
O comentário de Toffoli escancarou mais uma vez a cizânia que divide os togados supremos, com Marco Aurélio divergindo
de seu eminente presidente: “De forma
alguma [a Lava-Jato destrói empresas], ao contrário. Fortalece. E gera
confiança. Gera segurança. Não deixa de ser um marco civilizatório. O ruim é
quando se varre [a suspeita] para debaixo do tapete, aí é péssimo.” Como se
vê, até um relógio quebrado marca a hora certa duas vezes por dia (para não
dizer que até um burro velho e cego consegue eventualmente encontrar a cenoura).
Toffoli, instado comentar sobre a Lava-Jato, começou com os farisaicos elogios de praxe e, tão previsível quanto a
chegada da primavera, disse que a operação colocou o combate à corrupção num
patamar mais elevado, sobretudo por ter instalado na cadeia gente que parecia
condenada à perpétua impunidade. Em seguida, estacionou na vírgula, sacou do
coldre a adversativa e disparou a maluquice: “Mas a Lava-Jato destruiu
empresas. Isso nunca aconteceu nos Estados Unidos ou na Alemanha”.
A cada novo pronunciamento, o Maquiavel de Marília mostra que mereceu a reprovação com louvor nas duas
tentativas de ingresso na magistratura paulista. Pela sua ótica, o
problema não está na roubalheira institucionalizada, mas no fato de a ladroagem
ter sido descoberta. É como culpar pela internação de um paciente na UTI não a gravidade da doença, mas a
competência do médico que a diagnosticou.
O palavrório permite deduzir que o ministro acompanha os
escândalos protagonizados por corruptos no resto do mundo com a mesma atenção
que dispensa à língua portuguesa. Ele ignora, por exemplo, que a condenação de
executivos pilantras não livra da falência as empresas que controlam. Morreram
de safadeza, por exemplo, os gigantes americanos Enron em 2001, WorldCom
no ano seguinte e Lehman Brothers em
2008. Para escapar da bancarrota, a alemã Siemens
pagou multas de dimensões amazônicas e disseminou pelo mundo inteiro o termo
compliance — uma espécie de auditoria permanecente concentrada na prevenção de
irregularidades.
Pelo jeito, Toffoli
não sabe disso. Mas o que é mesmo que Toffoli sabe?
Lula, o grande
responsável pela nefanda polarização político-ideológica, cuspiu na
cara dos brasileiros ao se autopromover de migrante nordestino a presidente da
República e, ato contínuo, tornar-se um punguista categorizado. Já a banda
podre da nossa mais alta corte, capitaneada por seu atual presidente e pela Maritaca de Diamantino, fez o mesmo ao reverter o entendimento que
autorizava a prisão após decisão em segunda instância e ao tirar da cartola uma regra absurda, sobre a ordem de apresentação de memoriais nos processos em que há réus delatores e delatados, que vem anulando condenações da Lava-Jato a torto e a direito (como Ademir Bendine e Paulo Preto, para citar os casos mais emblemáticos).
Salta aos olhos de quem os tem que o propósito dessas barbaridades sempre foram beneficiar o ex-presidente decarréu, já condenado em dois processos —
no do tríplex, ele foi considerado culpado por corrupção e lavagem de dinheiro
por 9 magistrados em 3 instâncias; no do sítio, a decisão condenatória da 13ª Vara Federal do Paraná grau foi confirmada pelo TRF-4.
O mais curioso em toda essa história é que a autodeclarada alma viva mais honesta da
galáxia já havia conquistado o direito à progressão de pena — excrescência
prevista numa legislação escrita por corruptos para favorecer criminosos —,
mas, mesmo assim, seus esbirros no STF resolveram pecar por ação, permitindo que o
demiurgo pernambucano e cerca de outros 4.000 condenados que, como ele, aguardavam na
cadeia o julgamento de seus recursos pelos tribunais superiores, permanecessem em liberdade até o julgado da decisão condenatória (o que no Brasil
equivale a dizer "no dia de São Nunca").
Foi também graças a essa maldita polarização,
combinada com a absoluta desinformação de boa parte do eleitorado, que foram limadas, juntamente com um arrepiante elenco de circo de horrores, as poucas
opções que poderíamos ter experimentado. Assim, diante da perspectiva de ver a
marionete do presidiário se aboletar no Palácio do Planalto, só nos restou apoiar um deputado do baixo-clero populista, boquirroto e despreparado. Felizmente,
o Brasil tende a avançar apesar de seus
governantes Mas isso não muda o fato de que uma usina
de crises no comando da Nau dos Insensatos está longe de ser o melhor dos
cenários.
Depois de chamar de "pirralha" a ativista-mirim
escandinava Greta Thunberg — que se tornou conhecida mundialmente, da noite
para o dia, pela defesa ao meio ambiente —, JairBolsonaro chamou de
"energúmeno" o educador e filósofo Paulo Freire, morto em 1997.
Na visão do presidente,a antiga programação da TV Escola era "totalmente de esquerda" e promovia a
ideologia de gênero, razão pela qual o contrato com a associação responsável por
geri-lo desde 1995 não foi renovado. “Você conhece a programação da TV Escola? Deseduca”. Queriam que assinasse agora um contrato de
R$ 350 milhões? Quem assiste a TV Escola? Ninguém assiste. Dinheiro jogado
fora”, disse o capitão durante uma de suas tradicionais conversa com apoiadores
defronte ao Palácio da Alvorada. “Olha a
prova do Pisa. Estamos em último lugar no mundo, se eu não me engano,
matemática, ciências e português. Acho que em um ou dois itens somos os últimos
da América do Sul. Vamos esperar o que desse Brasil com esse tipo de educação?”,
completou o presidente.
Quanto à semideusa
escandinava que a imprensa tem na conta de envida por Odin, pelo pai de todos os
deuses nórdicos, para salvar o mundo do aquecimento global, faço minhas as
palavras de Adrilles Jorge: Greta Thunberg é uma
fedelha que espalha catastrofismo ecológico falso, e a mídia e os próprios pais
da garota autista exploram sordidamente seu fanatismo na defesa de uma causa
ideopata. Greta é uma pirralha
inocente dos monstros que a manipulam.
Mudando de pato para ganso, ou melhor,
de Jair Bolsonaro para Dias Toffoli (repare que ambos têm em comum a total
inadequação para o cargo que exercem), o togado disse em recente entrevista ao Estadoque a Lava-Jato destruiu empresas, que o MP é pouco transparente e que isso
jamais aconteceria nos Estados Unidos.
Não se trata de uma ideia nova ou original,
mas de uma ladainha que vem sido cantada em prosa e verso por proprietários e
executivos de diversas companhias privadas, envolvidas ou não em processos
abertos a partir das investigações empreendidas pela Lava-Jato, e por um sem-número de parlamentares de esquerda
temerosos de amanhecer com uma equipe de agentes federais na sua porta — como é
caso de Gleisi Hoffmann, atual
presidente nacional do PT, e seu
ídolo e mentor corrupto e lavador de dinheiro, que não se casa de repeti-la sem
parar.
O notório saber jurídico exigido pela Constituição de um
ministro do Supremo passa longe do
currículo de Toffoli, que só recebeu
a toga graças aos "bons serviços" prestados os Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ao PT, às campanhas de Lula
e ao guerrilheiro de araque José Dirceu,
de quem foi assessor na Casa Civil durante a primeira gestão petista. A exemplo
de RicardoLewandowski, que também recebeu a sua das mãos de Lula por sugestão da então primeira
dama e indicação da família Demarchi,
influente em SBC, o atual presidente
da Corte vestiu a toga, mas não despiu a farda de militante petista. E suas recentes
decisões e artimanhas urdidas nos bastidores não deixam dúvida quanto a imorredoura gratidão desse ministro àqueles que o conduziram ao cargo
mais ambicionado no âmbito da magistratura.
Não é do conhecimento dos seres
humanos não submetidos à lavagem de creolina no cérebro que a nossa Carta Magna
tenha adotado o desvario de exigir do MPF
o dever cívico de salvar da derrocada financeira chefões e quadrilhas do crime
organizado, das altas direções de partidos e empresas. Portanto, não é
cabível que o ocupante ocasional do mais alto posto do poder judicante invista
o total capital de credibilidade da instituição que preside no uso de álcool
gel nas mãos sujas dos gestores de empresas que usaram dinheiro público para
enriquecimento pessoal. Ou dos agentes públicos que disso se aproveitaram,
mesmo que fosse apenas para aumentar o poderio financeiro das organizações
partidárias em que militam e que dirigem. Seja qual for a causa, esse
disparate infame desqualifica o ocupante do poderoso cargo e exige prontas
providências para que não contamine os outros dez membros e a instituição como
um todo.
A entrevista de Toffoli traz outras pérolas porcinas menos relevantes, mas reveladoras da
escassa inteligência de quem as produziu. No país em que a carência de saneamento
básico faz de milhões de miseráveis vítimas das doenças pulmonares dos esgotos
a céu aberto das “comunidades” pobres da periferia, uma tosse intrometida o
levou a se queixar do caríssimo aparelho de ar-condicionado daquele que hoje no
Brasil só seus membros chamam de “excelso pretório”. Ou suas recorrentes
reclamações de excesso de trabalho numa instituição que evoca para si mesma
deveres de outros Poderes da República como formas de adquirir mais poderio.
Em
seu afã de se transformar em Maquiavel de Marília, o ex-garçom petista da
Academia da Pizza já teve a pachorra de misturar delito fiscal (da alçada da
Receita Federal) com crime financeiro (fiscalizado pelo Coaf, que
voltou a ser Coaf) na decisão monocrática que perdeu por 9 a 2 no
plenário do STF. A liminar blindava,
ao mesmo tempo, o primogênito do presidente da República, a advogada Roberta Rangel, mulher de Toffoli, a também advogada Guiomar Mendes, esposa da Maritaca de
Diamantino, e mais um
sem-número de investigados. E se a decisão monocrática do ministro teve
início ridículo, atingiu as raias do trágico quando o próprio autor votou
contra o próprio relatório, levando o citado cúmplice a fazer o mesmo para
manter a relatoria da dita ação.
Jair Bolsonaro,
por um fenômeno até agora não esclarecido pelos nossos esclarecedores de
questões nacionais, foi o único político de primeira grandeza no Brasil a
entender que, para a maioria dos brasileiros, a polícia é uma coisa boa e bandido é uma coisa ruim. Noves
fora os rematados idiotas de sempre, todo mundo sabe que policiais erram, que podem
tratar mal o público e não investigar nem reprimir como deveriam os crimes
cometidos, além de eles próprios cometerem uma série intolerável de atos criminosos.
Mas também é sabido que não existe um único caso de bandido que esteja a favor
do cidadão — e que qualquer policial, no fim das contas, é melhor que qualquer
criminoso. Daí a “oposição”, parte da mídia, “movimentos sociais” e
"defensores dos direitos humanos" tomarem partido contra as forças da
ordem e a favor das forças do crime. E se mostrarem indignados, depois, quando
a população prefere o capitão caverna a assassinos, ladrões e estupradores.
Segundo
J.R. Guzzo, a grande questão da
política brasileira, hoje, é a perspectiva real de Bolsonaro ficar no seu cargo não só pelos três anos de mandato
a que ainda tem direito por conta da eleição de 2018, mas até 31 de dezembro de
2026. E não adianta fazer de conta que não é isso. É precisamente
isso. Fala-se de tudo — da descomunal importância do presidente da
Câmara para o futuro do Brasil e do Sistema Solar, do que se passa a cada
minuto do dia na cabeça do presidente do Senado, dos entreveros de Bolsonaro com o sistema de pontos nas multas
de trânsito. Discutem-se novos partidos, velhos partidos, centrão, centrinho,
os filhos do presidente e o futuro de Lula:
o que mais o STF pode
fazer por ele?
Há, todos os dias, a crise da manhã, a crise da tarde e a
crise da noite, com ameaça real, direta e imediata à sobrevivência do governo.
Há de tudo — menos a discussão aberta da única coisa que de fato interessa: até
quando Bolsonaro vai ficar? O resto
é o resto.
Não se trata de um “Quiz” de adivinhação. Se o presidente
ficar ”X” tempo, a sociedade brasileira terá uma cara; se ficar “X” + “Y”, terá
outra. Não é mudança de governo. É mudança de vida. Daqui a três anos, se as
coisas continuarem a andar do jeito que estão andando, o Brasil será um país
tão diferente do que é hoje, mas tão diferente, que praticamente nada do que se
discute no momento terá qualquer significado prático para o dia a dia dos
brasileiros.
Se a história for ainda além, e Bolsonaro receber um segundo mandato — bom, aí estaremos entrando
em território absolutamente virgem. É uma perspectiva que assusta até o fundo
da alma toda a ordem política, econômica e social que manda hoje no Brasil,
como tem mandado há décadas, ou mais do que isso. Assusta porque traz o insustentável
peso da mudança para os que não querem que nada mude — ou que só mude aquilo
que lhes interessa mudar. Mudam o sistema psicológico, a “ideologia”, os
hábitos intelectuais, os valores, os usos e costumes.
Quem está contente com o Brasil como ele foi até hoje não
pode estar contente com o Brasil desconhecido que talvez esteja vindo aí pela
frente. Qual poderia ser ele? É uma perda de tempo, como se sabe, ficar
preocupado em excesso com o futuro, porque ele virá de qualquer maneira. O que
dá para fazer é uma lista de realidades — e ir checando, uma por uma, se elas
estão mudando para melhor ou para pior. A economia, por exemplo. Pelos fatos
que podem ser vistos hoje — e não pelos sentimentos que você tem a respeito
deles — a situação tende a melhorar ou piorar?
O país, no futuro próximo, vai
ter um outro STF e uma outra
Justiça. A máquina pública deixará de crescer como cresceu nos últimos 50 anos.
O Brasil, forçosamente, vai estar mais integrado às cadeias mundiais de
produção. O “investimento público” deixará de ter o tratamento sagrado
que tem hoje. Não haverá novas empresas estatais. As pressões da maioria sobre
os donos da vida pública vão aumentar — entre outras coisas, não há nenhuma
hipótese de que as redes sociais se tornem menores e mais silenciosas do que
são hoje.
Todas essas coisas somadas, e uma infinidade de outras, são
positivas ou não? Faça suas contas. O fato é que ninguém pode esperar uma vida
melhor se não houver mudança nenhuma no lugar onde ela se tornou ruim.
“TEMPOS ESTRANHOS SÃO ESSES EM QUE VIVEMOS, QUANDO VELHOS E JOVENS SÃO
ENSINADOS NA ESCOLA DA FALSIDADE. E O ÚNICO HOMEM QUE SE ATREVE A DIZER A
VERDADE É CHAMADO DE UMA SÓ VEZ UM LOUCO E INSENSATO.”
O epigrama acima, atribuído a Platão, tem servido de inspiração para o vice-decano do STF demonstrar sua insatisfação com
tudo e todos, mostrando-se, inclusive, irritado com uma advogada que, durante
sustentação oral, dirigiu-se aos supremos togados usando o "desrespeitoso"
pronome "vocês" — que na verdade é a forma sincopada de "vossas
mercês": "Presidente",
disse o primo de Fernando Collor e luminar do saber jurídico, "novamente um advogado se dirige aos
integrantes do tribunal como 'vocês'! Há de se observar a liturgia". Faltam
apenas 18 meses para a aposentadoria compulsória de sua excelência, que talvez
ainda aproveite o tempo que lhe resta para propor a adoção daquelas ridículas
perucas brancas, de crina de cavalo, que os juízes do Reino Unido usavam aboliram
há mais de 10 anos por achá-las antiquadas e inadequadas ao tempos atuais
(estranhos ou não).
Atribui-se a Aristóteles
a divisão do Estado em três poderes independentes, e a Montesquieu a tripartição e as devidas atribuições do modelo mais
aceito atualmente. A ideia era não deixar em uma única mão as tarefas de legislar, administrar e julgar, já que a concentração de poder
tende a gerar abusos, e um poder que se serve em vez de servir é um poder que
não serve. No Brasil contemporâneo, no entanto, nem o quarto poder escapa, já
que parte da imprensa foi aparelhada pelos petralhas esquerdopatas, que não
veem — ou fingem não ver — que o comunismo e o socialismo não produziram bons
resultados em nenhum país do mundo, como comprovam a desgraça que se abateu
sobre a Pérola do Caribe sob o jugo da Dinastia
Castro, a calamidade que tomou conta da Venezuela sob a égide do Maduro que não cai do galho, as
diferenças gritantes entre a Coreia do Sul e a do Norte.
Em Hong Kong, a ilha-problema onde os jovens tomaram as ruas e há meses exigem, em última instância, voz ativa sobre seu destino, a única eleição mais ou menos livre permitida à população resultou em fragorosa — e aparentemente inesperada — derrota de Pequim. No mesmo dia, um consórcio de jornais publicou um relatório devastador sobre os campos de detenção na província de Xinjiang, no noroeste do país, onde 1 milhão de chineses da minoria muçulmana uigur foram internados a pretexto de combater o extremismo religioso. E por aí segue a
procissão de exemplos.
Talvez por isso o PT
seja o partido dos trabalhadores que não trabalham, dos estudantes que não
estudam e dos intelectuais que não pensam e do ex-presidente ladrão que se ufanava
(quiçá ainda se orgulhe) de ter chegado onde chegou sem jamais ter lido um
livro na vida.
Falando em ex-presidentes, dos que foram eleitos
pelo voto popular desde a democratização — ou que assumiram o cargo devido a
impedimento do titular da vez —, somente Fernando
Henrique não foi processado. Collor e Dilma não só foram penabundados do cargo (por
corrupção e incompetência, respectivamente) como são réus na Justiça Penal, e ainda
continuam soltos graças à morosidade e a leniência do Judiciário. Lula e Temer colecionam processos e já foram presos, mas aguardam em liberdade a tramitação das ações/julgamento dos recursos. É
surreal!
No caso de Lula,
a coisa é ainda pior. Embora tenha sido condenado em dois processos — por três
instâncias no caso do tríplex no Guarujá e por duas no do sítio em Atibaia —, o
picareta foi agraciado por uma decisão sob medida da banda podre do STF, que, por 6 votos a 5, restabeleceu
o império da impunidade ao proibir que criminosos condenados em segunda
instância aguardassem presos o julgamento de seus recursos nas Cortes superiores.
Assim, o troçulho de Garanhuns assomou do esgoto a céu aberto em que se
transformou o cenário político nacional e brinca de palanque ambulante, com
total complacência do TSE, que parece
achar natural candidatos a candidatos ao Palácio do Planalto fazerem comícios três
anos antes das próximas eleições. Com a bênção do Judiciário, o sacripanta
vermelho está liberado para mostrar ao mundo que, no País do Carnaval, um
corrupto juramentado pode ofender impunemente autoridades que não têm contas a
acertar com a Justiça. Mas não vai escapar da lei da Ficha Limpa. Para o dono
da alma viva mais honesta do Brasil, as chances de disputar uma eleição são
menores que as de ser canonizado pelo Vaticano.
Tempos estranhos, diz o ministro Marco Aurélio. Bota estranho nisso!
O óbvio ululou na tarde de ontem, quando a montanha suprema
pariu o rato da vez, incluindo a Unidade
de Inteligência Financeira (UIF), antigo Coaf, e a Receita Federal
na tese sobre o compartilhamento de dados fiscais sigilosos, para fins penais,
com o Ministério Público e a Polícia Federal, dispensando prévio
aval judicial. O único voto dissonante foi o do ministro Marco Aurélio — coberto com a suprema toga pelo então presidente Fernando Collor, seu primo, que foi
impichado do Planalto e teve os direitos políticos cassados, mas elegeu-se
senador graças ao esclarecidíssimo povo das Alagoas, terra de Renan Calheiros, de Arthur Lira e de muitas gentes boas (ficou estranho, mas rimou).
O apaniguado de Collor sempre
teve predileção especial por ser voto vencido e foi a encarnação do “espírito
de porco” até a ex-presidanta Dilma nomear
desembargadora sua filha Letícia,
em mais uma demonstração de como o nepotismo se perpetua. A partir daí, o
campeão das causas perdidas abraçou cruzadas que atendem aos interesses
petistas e aos de nababos da advocacia de Brasília, que, de olho no filão
milionário que os corruptos representam, defendem incondicionalmente a mudança
da jurisprudência que autoriza a prisão de condenados em segunda instância.
Enfim, o Supremo precisou
de seis sessões para concluir que órgãos de investigação servem para
investigar, que a liminar absurda do presidente da Corte era absurda e que tudo
fica como antes no Quartel de Abrantes. Daí a morosidade da Justiça tupiniquim,
maior responsável pela sensação de impunidade (bom seria se fosse só sensação)
que fomenta a corrupção endêmica da classe política neste arremedo de república,
onde processos movidos contra acusados que têm cacife para contratar
criminalistas estrelados levam décadas para ser concluídos — isso quando a
prescrição não frustra a pretensão punitiva do Estado. Mas isso já é outra
conversa.
Enquanto isso, Senado e Câmara Federal se mobilizam para
agilizar o rito das Casas e aprovar o mais rapidamente possível a prisão após
segunda instância, corrigindo o supremo erro crasso que restituiu aos
condenados a possibilidade de aguardar soltos a decisão de seus recursos aos
tribunais superiores, como foi durante míseros (mas nefastos) sete anos das últimas
oito décadas. A Câmara instalou uma comissão que visa tratar do assunto por
meio de uma emenda à Constituição; no Senado, Simone Tebet, presidente da CCJ,
agendou para a próxima terça-feira a votação de um projeto de lei que modifica
o Código de Processo Penal, cuja
tramitação é mais simples e rápida de aprovar do que a emenda constitucional
que tramita na Câmara. Entretanto, ainda que os senadores o aprovem, é preciso pressão
da sociedade para que o projeto não seja engavetado quando chegar à Câmara.
Enquanto isso, na Assembleia Legislativa de São Paulo, cenas
de baixaria, com direito a pugilato explicito, chocam (ou divertem, dependendo
do ponto de vista) os paulistas e os demais brasileiros. Confira no vídeo:
Antes de encerrar, um texto do impagável J.R. Guzzo sobre as supremas barbaridades
que conspurcam este arremedo de banânia:
O planeta Terra seria
um lugar perfeitamente insuportável se todo o mundo, sem nenhuma exceção,
dissesse sempre a verdade, o tempo todo, para todas as outras pessoas que
conhecesse. Já imaginou? É melhor não imaginar. O fato é que esta vida precisa
ter os seus momentos de hipocrisia, para funcionar com um mínimo de paz — mas
também é fato que as autoridades da nossa vida pública não precisavam exagerar.
É a velha história: gente que manda não perde praticamente nenhuma oportunidade
de ficar cega para os seus próprios desastres, mas nunca é surda, nem por um
minuto, para qualquer erro que possa ser cometido pelos outros.
O hipócrita,
felizmente, é um bicho que só morde de verdade quando consegue esconder que
está sendo hipócrita — quando a sua hipocrisia fica na cara de todo mundo, como
vive acontecendo, o mal que faz não leva a lugar nenhum. É o caso, neste
preciso momento, do ministro Dias
Toffoli, que acaba de compartilhar com o resto da nação suas preocupações
com a má imagem que os investidores estrangeiros fariam do Brasil depois de uma
declaração do ministro Paulo Guedes
sobre o AI-5. Teria o ministro
sugerido a ressurreição do “Ato”, que está morto há 40 anos — quatro vezes
mais, aliás, que o tempo durante o qual esteve vivo? Não. Ele disse o seguinte:
“Não se assustem se alguém pedir o AI-5”,
no caso de haver baderna na rua, em vez de oposição na política.
É livre, obviamente, o
julgamento de cada um sobre o que disse Guedes.
O que não tem cabimento é imaginar que Toffoli
está sendo aquilo que ele finge que é — um cidadão aflito com o futuro do
investimento externo no Brasil. Se há alguém nesse País que assusta o
investidor, de qualquer nacionalidade, é ele mesmo, em pessoa — junto com os
seus parceiros de STF que proibiram a prisão de criminosos condenados em
segunda instância. Isso sim é construir a imagem de uma nação sem lei.
Para encerrar: nos tempos de antanho, quando não havia essa
absurda patrulha do "politicamente correto" e podia-se contar piadas
de papagaio sem o risco de ser processado pela ave, uma anedota dizia que, numa
entrevista de emprego, o entrevistador perguntou ao candidato se ele era
casado. "Sim", foi a resposta. "Com quem?", perguntou o
entrevistador. "Com uma mulher", respondeu o candidato. E o
entrevistador, já irritado: "O senhor conhece alguém que seja casado com
um homem?". "Sim", respondeu o sujeito. "Quem?",
insistiu o entrevistador. "A minha mulher", disse, candidamente, o
candidato.
Quem dá asas a cobra assume o risco de vê-la voar. E é
exatamente isso que a mídia vem fazendo com o picareta dos picaretas, ao conceder exagerada importância a seu retorno ao cenário político, por assim dizer — até porque, dele, o fiduma jamais se afastou, nem mesmo durante os 560 dias que amargou na sede da PF em Curitiba.
Melhor seria focar os holofotes em quem puxou a
descarga, permitindo que o cagalhão vermelho assomasse no esgoto a céu aberto em que se transformou o cenário político tupiniquim, e espalhasse seu fedor para a patuleia ignara, que parece se alimentar disso como urubus de carniça.
Falando no que não presta, torno a frisar que tenho o maior
respeito pelo Supremo Tribunal Federal
como instituição, mas não pela maioria de seus membros, que, noves fora
dois ou três togados, formam a pior composição de toda a
história da Corte. A começar pelos que vestiram a toga sem despir a
farda de militante petista — um dos quais, inclusive, preside atualmente o Tribunal.
Observação: Coberto pela suprema toga por Lula, em 2009, como retribuição pelos "bons serviços" prestados
ao PT, a despeito de ter bombado
duas vezes em concursos para juiz de primeira instância em São Paulo, ambas na fase
preliminar, que testa conhecimentos gerais e noções elementares de Direito dos
candidatos, Dias Toffoli é a prova provada da cabal
da falta de noção do sacripanta de Garanhuns sobre a dimensão do cargo de
ministro do STF, embora possa constituir (mais uma) prova cabal da conduta maquiavélica e velhaca do dito cujo, que visava aparelhar a mais alta Corte com a indicação
de esbirros e apaniguados e lhes cobrar mais adiante pelo obséquio.
Fato é que a suprema ala pró-crime
vem desconstruindo tijolo a tijolo a imagem de último bastião das nossas esperanças,
diante de um Legislativo eivado pela
corrupção endêmica — institucionalizada e tornada suprapartidária por Lula e seu Partido dos Trabalhadores que não trabalham, dos estudantes que não
estudam e dos intelectuais que não pensam — e de um Executivo comandado, durante 13 anos e fumaça, por esse mesmo picareta
(a gerentona de araque não passou de uma deplorável testa-de-ferro, ainda que
tenha se rebelado e ensaiado um voo solo que pôs a perder o projeto de poder de
seu abominável criador e mentor). E novas decepções nos trouxeram a versão
tupiniquim de Vlad Drakul, o (ex) vampiro do Jaburu, e, mais recentemente,
o Capitão Caverna, cujo lema "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos" recebeu o oportuno (e oportunista) adendo: "e Jair Bolsonaro e seus filhos acima de tudo isso".
Voltando ao STF, Dora Kramer resumiu de maneira irreprochável o que eu exporia com bem menos elegância e bem mais adjetivos. Confira o que a jornalista escreveu em sua coluna (na revista Veja) desta semana:
O Brasil abandonou a cerimônia em
relação ao Supremo Tribunal Federal.
É um fato que está nas ruas, nas mentes, nas bocas, em toda parte. Não
aconteceu de graça ou de repente. A nossa Corte maior de Justiça vem abdicando
de sua majestade há tempos, desde que começou a se dar ao desfrute de
engajamentos e comportamentos outros para além dos restritos à interpretação
fria, coerente e consistente da Constituição.
A ausência de reverência tem duas
mãos. Se de um lado se derrubou na prática o lema de que decisão judicial não
se discute para se estabelecer país afora um ambiente de amplo debate em
relação a sentenças proferidas no âmbito do STF, de outro os ministros (salvo uma ou duas exceções) abriram
espaço para contestações ao optar por exercer protagonismo na vida nacional nem
sempre de modo educado e/ou apropriado.
Embora os magistrados se
considerem intocáveis, não são mais invioláveis no crivo da opinião pública.
Não falo aqui só dos questionamentos de especialistas publicados na imprensa.
Basta sintonizar estações de rádio no dia seguinte a um julgamento polêmico no Supremo para ouvir, mesmo nos programas
populares, críticas pesadas ou defesas apaixonadas da conduta dos magistrados.
Nunca se viu nada igual. Havia um
certo acanhamento em comentar os votos, hoje substituído por absoluto
desembaraço no julgamento dos julgadores. A questão não é a crítica, mas os
termos em que é feita. Verdade seja dita, suas excelências é que abriram a
temporada de contenciosos. Baixaram e continuam baixando a guarda.
Isso ocorreu, por exemplo, quando
um juiz se aliou ao presidente do Senado para fazer um gol de mão no processo
de impeachment de uma presidente da República. A dupla Ricardo Lewandowski-Renan Calheiros preservou os direitos políticos
de Dilma Rousseff e foi
desmoralizada pelo eleitorado de Minas Gerais, que lhe negou o mandato de
senadora.
Nessa saraivada de tiros no pé,
incluem-se as ironias e os insultos trocados entre os pares com transmissão ao
vivo, as diatribes provocativas de Gilmar
Mendes contra a Lava-Jato em
votos que nada têm a ver com a operação, as mudanças de entendimento da
Constituição sem justificativas a não ser uma circunstância política. Sem
esquecer a censura a publicações, a abertura de inquérito à margem da lei e,
para culminar, mais recentemente a atuação desastrosa de Dias Toffoli no caso do compartilhamento de dados dos órgãos de
inteligência financeira com instâncias de investigações criminais.
O conjunto dessa obra já desperta
no Congresso e no próprio STF uma
preocupação com a imagem negativa, refletida em protestos públicos e na pressão
para que andem os pedidos de impeachment (dezessete até agora) de ministros.
Tanto que há pontes de diálogo nos dois ambientes para que se reduzam a
temperatura e a intensidade das polêmicas produzidas no Supremo.
A ordem de baixar a poeira está
sinalizada no adiamento do exame do pedido de suspeição de Sergio Moro nos processos de Lula
para, se não às calendas gregas, ao menos até o Parlamento tomar uma decisão
sobre a volta ou não da prisão em segunda instância.
Lula não inventou a corrupção nem a polarização
político-partidária, mas ampliou e institucionalizou a primeira — em prol de
seu projeto de perpetuação no poder — e disseminou a segunda — com seu nefasto
"nós contra eles". Assim, o que já não vinha bem — falo da
"qualidade" dos políticos que governaram este país desde a
redemocratização — ficou ainda pior. Não se pode negar que a primeira gestão petista, mesmo eivada pelo Mensalão, produziu alguns resultados positivos, mas somente porque Lula soube administrar a herança nada maldita deixada pelos tucanos e foi ajudado pelos ventos benfazejos que sopravam da economia mundial. Mas aí veio a crise de 2008,
que não desembarcou no Brasil imediatamente, mas acabou chegando, e não
como uma "marolinha".
Potencializada pela acachapante
incapacidade administrativa da mulher
sapiens — que seu criador e mentor fez eleger para manter quente a poltrona
presidencial até dali a quatro anos, quando ele pretendia voltar a ocupá-la —,
combinada com a roubalheira institucionalizada (já com bandeira suprapartidária),
a conjuntura mundial adversa levou nossa Economia à debacle que se vem tentando
reverter desde o impeachment da anta e a promoção da curiosa reencarnação tupiniquim de Vlad Drakul a comandante da Nau dos Insensatos. Num primeiro momento, as perspectivas foram alvissareiras,
mas as denúncias do carniceiro promovido a dono de uma das maiores indústrias de alimentos do mundo (graças às
benesses do BNDES) reduziram o poderoso vampiro do Jaburu a um tímido morcego, que
precisou vender a alma aos demônios da Câmara em troca de blindagem contra as
denúncias de Rodrigo Janot (aquele que
disse ter ido armado ao STF para matar
vocês sabem quem e se suicidar em seguida, mas não fez nem uma coisa, nem outra;
apenas divulgou esse factoide para impulsionar as vendas de seu livro de memórias).
Mesmo tendo sobrevivido às flechadas do ex-procurador-geral, Temer terminou seu
mandato-tampão como um presidente pato-manco
(ou lame
duck, que é como os americanos se referem a políticos que
chegam ao fim mandato desgastados a ponto de os garçons palacianos demonstrarem
seu desprezo servindo-lhes o café frio). Depois de passar a faixa ao capitão-caverna, já sem a blindagem do
foro privilegiado, o emedebista tornou-se mais um colecionar ações penais. Chegou mesmo a ser preso
preventivamente em duas ocasiões, mas sua estada na cadeia foi abreviada pela pronta intervenção do desembargador Antonio
Ivan Athié (não confundir com Ivanhoé),
presidente da 1ª Turma do TRF-2 — vale salientar que esse magistrado ficou afastado do cargo durante 7 anos devido a uma ação no STJ por estelionato e formação de
quadrilha. Para bom entendedor...
Tudo isso nos levou à eleição presidencial mais polarizada
da história desta Banânia, na qual, por mal dos nossos pecados, nosso "esclarecidíssimo"
eleitorado eliminou, no primeiro turno, uma porção de
aberrações dignas de figurar num circo de horrores, mas foram de embrulho dois ou três postulantes
de centro que poderiam ser testados. Assim, os cidadãos de bem foram obrigados a apoiar Jair Bolsonaro para impedir que o PT voltasse ao poder, com o
bonifrate Fernando Haddad no Palácio
do Planalto e Lula puxando os
cordéis desde sua cela VIP em Curitiba. O problema é que, no mesmo pacote que nos trouxe o "mito", vieram
três de seus cinco filhos e um dublê de astrólogo e guru radicado na Virgínia
(EUA).
Em onze meses como chefe do Executivo, o "mito"
dos bolsomínions — curiosa confraria de sectários que agem em relação ao
capitão caverna como a militância petista em relação a sumo pontífice da seita
do inferno — decepcionou muita gente, embora sua inaptidão para o cargo e postura
belicosa fossem visíveis, desde sempre, a olho nu. Mas a situação do país não
está tão ruim quanto eu suponho que estaria se o títere do criminoso de Garanhuns
vencido o pleito. No mínimo, não teríamos a PECprevidenciária, que é
indispensável para o equilíbrio das contas públicas, embora não resolva todos
os problemas gerados e paridos durante as gestões nefastas da gerentona de
araque que, sem saber atirar, virou modelo de guerrilheira; sem ter sido
vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa,
virou secretária de Estado; sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter
inaugurado nada de relevante, virou estrela de palanque; sem jamais ter tido um
único voto na vida até 2010, virou presidente do Brasil — e isso depois de ter
levado à falência não uma, mas duas lojinhas de badulaques importados que ela
abriu em Porto Alegre durante o governo de FHC (detalhes nesta
postagem).
Tudo isso é público e notório, faz parte da nossa história
recente e foi objeto de dezenas de postagens aqui no Blog. O que mais me
estarrece são as perspectivas nada alvissareiras que despontam no horizonte, a
despeito de o atual governo ainda não ter completado um ano. Com a soltura de Lula por uma decisão estrambótica de
seis membros da mais alta corte do país, teve início a campanha eleitoral
antecipada de 2022. Aproveitando-se da inércia, da complacência e da conivência
do TSE, presidido por uma ministra
do STF nomeada por Dilma, que acontece de ser a
personificação do "nem sim, nem não, antes pelo contrário", o pseudo
pai dos pobres e mão dos necessitados vem destilando seu ódio país afora. Horas
depois de ser solto, o picareta subiu num palanque improvisado e discursou para
acéfalos amestrados que bateram os cascos alegremente, sugando como saprófagos a
podridão emanada do pontífice da seita do inferno. No dia seguinte, depois de
ter voado para São Paulo à bordo de um luxuoso jatinho, o pezzo di minchia repetiu a proeza defronte ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. É surreal!
Vivemos tempos de pós-verdade, onde a versão vale mais que os
fatos. Veja o caso da Vaza-Jato de
Verdevaldo das Couves, que, valendo-se de material hackeado de 1000
celulares de autoridades (entre as quais o ministro Sérgio Moro, o procurador federal Deltan Dallagnol e o próprio presidente da República), desovou uma
profusão de mensagens possivelmente editadas e adulteradas, que veículos de
comunicação supostamente ilibados e imparciais se apressaram a disseminar a
torto e a direito, ajudando o gringo imprestável a assassinar a reputação dos
responsáveis pela maior operação anticrime e anticorrupção da história deste
país e municiando a defesa do ex-presidente ladrão, que pugna pela anulação das
condenações do bandido e pela punição dos mocinhos.
Falando nessa caterva, semanas atrás a Revista Veja — que durante algum tempo funcionou como pau-mandado
do site The Intercept Brasil — publicou
uma
entrevista com Cristiano Zanin Martins, cujo nome dispensa
apresentações. Quem tem estômago forte não pode deixar de ler; que não tem pode
se precaver tomando uma dose cavalar de Plasil antes de dar início à leitura.
Segundo o artigo 21
do CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DA OAB, "é direito e dever do advogado
assumir a defesa criminal, sem considerar sua própria opinião sobre a culpa do
acusado". Afinal, todos têm direito à mais ampla defesa, ou pelo menos é
isso que diz a lei. Todavia, Zanin
insulta a inteligência dos leitores em diversos pontos da entrevista. Num
deles, ele diz que "o que vimos é
que, desde a fase de investigação, o juiz Moro coordenava as ações da acusação,
quando deveria manter posição de equidistância. Isso não pode nem para Lula nem
para nenhum cidadão”.
Porrepetir
frequentemente que Lula é inocente, Zanin foi perguntado como explica os
depoimentos de delatores, as provas reunidas nos processos — como a visita de Lula ao tríplex, reformas feitas para
atender o ex-presidente e objetos pessoais no sítio de Atibaia, etc. Sua
resposta: "Os depoimentos dos
delatores são mentirosos e não provam absolutamente nada contra o
ex-presidente. São ensaiados e com conteúdo previamente acertado com o
Ministério Público em troca de benefícios. Não têm força probatória. Não há em
nenhum processo demonstração alguma de que Lula tenha praticado ou deixado de praticar
ato inerente à função de presidente da República em troca de vantagem indevida."
A essa altura, o repórter ponderou que foram encontrados no
apartamento e no sítio objetos pessoais de Lula
e de seus familiares. Zanin respondeu
que "as reformas foram feitas à
completa revelia do ex-presidente". Perguntado, então, se ele acha que
alguém acredita mesmo nisso, o advogado respondeu: "No tríplex as reformas foram
feitas por conta exclusivamente de Léo
Pinheiro (ex-presidente da OAS e delator no caso), não sei com
qual objetivo. Talvez fosse o de vender o apartamento ou torná-lo mais
atraente. Mas o fato é que houve a decisão de Lula de não o adquirir. O sítio é de propriedade de Fernando Bittar, e ele demonstrou isso
no processo. Tudo o que foi realizado foi em proveito do proprietário, não de
terceiros. O Lula sempre disse que
frequentava o sítio. O que se buscou foi transformar a amizade que sempre
existiu em crime."
Pausa para ver Papai Noel singrando os céus a bordo de seu trenó puxado por renas.
Pouco antes de ser preso, Lula teve uma de
suas piores ideias: fazer uma “caravana” pelos estados do Sul. Acabou
escorraçado de lá na base da pedrada. Solto recentemente graças a uma decisão
inqualificável da ala pró-crime do STF,
reiniciou seu périplo pelo Brasil, visando destilar seu ódio e receber
estrepitosos aplausos da claque amestrada que bebe suas palavras como, segundo
diz a lenda, Rômulo e Remo sorveram o leite da loba que os alimentou.
No domingo 17, num hotel de luxo da praia da Boa Viagem (na
capital de seu estado natal), o troçulho de Garanhuns tomou a sua primeira vaia. Enfiado
no fundo de um desses ônibus de luxo com vidro escuro para ninguém ver nada
dentro, aprontava-se para partir rumo ao que, aparentemente, seria um
compromisso de sua nova peregrinação pelo Brasil, com a qual imagina atrair as
massas e voltar a ser o que foi um dia. Mas em vez de ouvir o aplauso da
multidão, ouviu o que tem ouvido sempre que sai à rua: “Lula, ladrão, teu lugar é na prisão”. Na verdade, não havia
multidão nenhuma — só um grupo de gente vestida de verde e amarelo, mandando o
ex-presidente para o raio que o parta. Onde estavam os milhares e milhões de
“brasileiros do povo”, os “pobres”, os “desesperados” com o governo”, que
deveriam ter aparecido para dar força ao ex-presidente petralha? Em lugar
nenhum — e isso no coração do Nordeste, onde, com o apoio dos “institutos de
pesquisa de opinião”, o sujeito sempre diz que goza de 110% de popularidade.
Este, meus caros, é o novembro do nosso descontentamento
diante de um Brasil que está em guerra aberta contra os brasileiros. Agora,
depois de meses a fio de uma tragédia única no mundo, vemos a maioria dos
magistrados do tribunal supremo do País fazer o oposto do que é a sua
obrigação. Em vez de buscar mais justiça numa sociedade que já é
perigosamente injusta, chama para si a tarefa de dar aos criminosos ricos,
aqueles que têm dinheiro para pagar criminalistas estrelados, o direito de
passar o resto da vida sem receber nenhuma punição real pelos crimes que
praticaram.
E não agem como agem os nobres causídicos-chicaneiros por
acreditar, como dizem, que o direito de defesa deve estar acima de todos os
outros — a começar pelo direito das vítimas. Fazem o que fazem porque estão metidos numa
luta desesperada pela sobrevivência do Brasil velho, corrupto, subdesenvolvido
e desigual, paraíso dos parasitas da máquina pública, da venda de favores e dos
privilégios para quem tem força, inimigo do trabalho, do talento e do mérito
individual. É o País que você tem certeza de que não quer.
Nada destrói tanto o respeito pelos governos, dizia Einstein, do que a sua incapacidade de
fazer com que as leis sejam cumpridas. É o risco que foi construído no Brasil.
De fato, como seria possível respeitar o poder público neste País se o Código
Penal brasileiro diz que é proibido praticar crimes, mas o STF decide impedir a punição dos crimes praticados? Na verdade, o
que realmente aconteceu em toda essa infame discussão sobre a “prisão em
segunda instância” não foi, em momento algum, uma divergência sobre questões
jurídica, mas, sim, um choque entre leis — ou o que nos dizem que é a lei — e a
moral. Quando a lei se opõe à moral, como nesse caso, ou se perde o senso moral
ou se perde o respeito pela lei. Não há outra possibilidade. É o momento em que
a lei se torna injusta, por não estar mais em harmonia com as noções
elementares do certo e do errado. O resto é mentira.
O que o cidadão viu, neste golpe legal para proibir a prisão
de condenados em segunda instância, foi uma tentativa aberta de impedir que
vigore no Brasil o império da lei — algo que só pode existir se a Justiça for
imparcial. Mas quem defende essa aberração, inexistente em qualquer país sério
do mundo, propõe, na verdade, que o sistema judicial brasileiro tome um partido
— o dos réus, por considerar que as provas colhidas contra eles jamais estarão
corretas, ou serão suficientes, e que os juízes errarão todas as vezes em que
condenarem alguém.
Observação: Levantamento do jornal O Estado de S. Paulo dá conta de que a maioria dos deputados e
senadores é a favor da autorização para condenado em segunda instância começar a cumprir
pena, mas as tentativas de transformar essa vontade de representantes do povo em lei
se perdem em negociações sem fim, pois os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da
Câmara, Rodrigo Maia, sabotam de forma canalha as mudanças necessárias para que os
bandidos da política deixem de gozar a proteção servil que lhes dão.
Trata-se, simplesmente, de usar o que está escrito na lei
para desrespeitar a lei. Sempre ouvimos que democracia e civilização só podem
vigorar se a Justiça tiver coragem de enfrentar o grito irracional da multidão,
que exige culpados, não se interessa por provas e não entende de hermenêutica.
Mas não há nada de irracional na voz da multidão que se está ouvindo agora —
muito pelo contrário. O brasileiro sabe perfeitamente que um réu, para acabar
na cadeia, tem de ser condenado por um juiz, a “primeira instância”, e, em
seguida, ser condenado outra vez — agora não mais por um, mas por um conjunto
de magistrados, a “segunda instância”. Nos dois casos, ele tem todas as chances
de se defender e, se não consegue, não pode ficar apelando na Justiça até o Dia
do Juízo Final. Irracional é querer o contrário.
Não há nada de frouxo na moralidade, como alegam os campeões
do “direito de defesa”. Na verdade, ela é muito mais dura que qualquer lei. Diz
apenas que é preciso fazer a coisa certa.