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domingo, 8 de dezembro de 2019

BOLSONARO E A REELEIÇÃO



Jair Bolsonaro, por um fenômeno até agora não esclarecido pelos nossos esclarecedores de questões nacionais, foi o único político de primeira grandeza no Brasil a entender que, para a maioria dos brasileiros, a polícia é uma coisa boa e bandido é uma coisa ruim. Noves fora os rematados idiotas de sempre, todo mundo sabe que policiais erram, que podem tratar mal o público e não investigar nem reprimir como deveriam os crimes cometidos, além de eles próprios cometerem uma série intolerável de atos criminosos. Mas também é sabido que não existe um único caso de bandido que esteja a favor do cidadão — e que qualquer policial, no fim das contas, é melhor que qualquer criminoso. Daí a “oposição”, parte da mídia, “movimentos sociais” e "defensores dos direitos humanos" tomarem partido contra as forças da ordem e a favor das forças do crime. E se mostrarem indignados, depois, quando a população prefere o capitão caverna a assassinos, ladrões e estupradores.

Segundo J.R. Guzzo, a grande questão da política brasileira, hoje, é a perspectiva real de Bolsonaro ficar no seu cargo não só pelos três anos de mandato a que ainda tem direito por conta da eleição de 2018, mas até 31 de dezembro de 2026. E não adianta fazer de conta que não é isso. É precisamente isso. Fala-se de tudo — da descomunal importância do presidente da Câmara para o futuro do Brasil e do Sistema Solar, do que se passa a cada minuto do dia na cabeça do presidente do Senado, dos entreveros de Bolsonaro com o sistema de pontos nas multas de trânsito. Discutem-se novos partidos, velhos partidos, centrão, centrinho, os filhos do presidente e o futuro de Lula: o que mais o STF pode fazer por ele?

Há, todos os dias, a crise da manhã, a crise da tarde e a crise da noite, com ameaça real, direta e imediata à sobrevivência do governo. Há de tudo — menos a discussão aberta da única coisa que de fato interessa: até quando Bolsonaro vai ficar? O resto é o resto.

Não se trata de um “Quiz” de adivinhação. Se o presidente ficar ”X” tempo, a sociedade brasileira terá uma cara; se ficar “X” + “Y”, terá outra. Não é mudança de governo. É mudança de vida. Daqui a três anos, se as coisas continuarem a andar do jeito que estão andando, o Brasil será um país tão diferente do que é hoje, mas tão diferente, que praticamente nada do que se discute no momento terá qualquer significado prático para o dia a dia dos brasileiros.

Se a história for ainda além, e Bolsonaro receber um segundo mandato — bom, aí estaremos entrando em território absolutamente virgem. É uma perspectiva que assusta até o fundo da alma toda a ordem política, econômica e social que manda hoje no Brasil, como tem mandado há décadas, ou mais do que isso. Assusta porque traz o insustentável peso da mudança para os que não querem que nada mude — ou que só mude aquilo que lhes interessa mudar. Mudam o sistema psicológico, a “ideologia”, os hábitos intelectuais, os valores, os usos e costumes.

Quem está contente com o Brasil como ele foi até hoje não pode estar contente com o Brasil desconhecido que talvez esteja vindo aí pela frente. Qual poderia ser ele? É uma perda de tempo, como se sabe, ficar preocupado em excesso com o futuro, porque ele virá de qualquer maneira. O que dá para fazer é uma lista de realidades — e ir checando, uma por uma, se elas estão mudando para melhor ou para pior. A economia, por exemplo. Pelos fatos que podem ser vistos hoje — e não pelos sentimentos que você tem a respeito deles — a situação tende a melhorar ou piorar?

O país, no futuro próximo, vai ter um outro STF e uma outra Justiça. A máquina pública deixará de crescer como cresceu nos últimos 50 anos. O Brasil, forçosamente, vai estar mais integrado às cadeias mundiais de produção. O “investimento público” deixará de ter o tratamento sagrado que tem hoje. Não haverá novas empresas estatais. As pressões da maioria sobre os donos da vida pública vão aumentar — entre outras coisas, não há nenhuma hipótese de que as redes sociais se tornem menores e mais silenciosas do que são hoje.

Todas essas coisas somadas, e uma infinidade de outras, são positivas ou não? Faça suas contas. O fato é que ninguém pode esperar uma vida melhor se não houver mudança nenhuma no lugar onde ela se tornou ruim.

Com J.R. Guzzo

domingo, 21 de julho de 2019

RIR PARA NÃO CHORAR


Depois das mensagens de Moro, Bolsonaro, filhos de Bolsonaro, ministros do STF, deputados e senadores, o interesse por vazamentos caiu muito. O editor do Intracept estava desesperado.
— De que adianta fazer esse fuzuê todo? Dinheiro que é bom, nada! — desabafou. Precisamos nos reinventar. Precisamos monetizar nosso negócio.
Os hackers se entreolharam, sem saber o que dizer. Foi um estagiário quem teve a sacada.
— Brasília saturou. Vamos expandir. O negócio é hackear gente comum.
A ideia se provou genial. Seu chefe é um panaca? Hackeie o WhatsApp dele (“R$ 2 mil por 15 dias ou consulte tabela”). Sua namorada está te traindo? Hackeie o Snapchat dela. (“Só R$ 500 por 7 dias. O oitavo é grátis!”). E por aí foi.
Patrícia e Geraldo tinham vida de núcleo rico de novela. Apartamento com varanda gourmet, viagem com personal shopper, SUV coreana blindada. Casamento inabalável, todo mundo dizia.
Um dia Patrícia acordou, pegou o iPad para ver as notícias e, mesmo sendo muito equilibrada, não conteve o calor que lhe subiu até as orelhas. Estava lá, escancarada, a foto do marido e o título: “Intracept vaza WhatsApp de Geraldo Freire”.
Ele não era famoso nem nada. Mas de uns meses para cá era assim. Ninguém estava salvo. Patrícia não conseguia imaginar alguém capaz de uma maldade dessas com o marido — e com ela.
Porque não há dignidade que sobreviva a um vazamento do Intracept. Ainda por cima quando vão liberando um pouco por dia. Qualquer desculpa esfarrapada de um dia não se sustenta no outro. Toda semana tem um anônimo novo com a vida devassada.
Patrícia sempre acabava conhecendo alguém.
— Porque esse mundo é uma ervilha, né?
Só esse mês, no cabeleireiro, teve notícia de dois divórcios. Luciana, amiga íntima, teve as mensagens do Insta divulgadas. O marido a botou para fora de casa sem direito nem ao iPhone.
— Pede um novo para ele, safada! — gritou para o condomínio ouvir.
As conversas que vazaram eram comprometedoras demais: Luciana e um amigo do tempo de faculdade trocavam receitas de nhoque, ravióli, linguine, tudo com as respectivas fotos. Não tem casamento que resista.
Mas não era hora de pensar nos outros. Patrícia olhou para o marido que dormia com seu ronronar de homem de bem. Ela não teve coragem de clicar no link. Contou para a mãe pelo Facebook.
— Coisa de amante, filha. Batata. Sempre disse para você ficar esperta. Deu nisso — respondeu.
Patrícia balançou o marido até acordá-lo. Geraldo despertou com o iPad esfregando a ponta do seu nariz. Leu o texto ainda com os olhos melados de sono. Geraldo também sabia que não existe vida após vazamento. Era só ver Brasília. Virou uma cidade fantasma.
Ele se reagrupou.
— Amor, calma. Vamos superar isso juntos.
Patrícia concordou, chorando.
Aquela semana seria definitiva para o casamento, para o futuro dos dois. Combinaram de ler as mensagens juntos, para que Geraldo pudesse explicar qualquer mal-entendido.
E assim foi. A semana passou tensa, arrastada, discutindo a relação, é verdade, mas surpreendentemente, nenhuma mensagem comprometedora foi revelada. Patrícia mal podia conter o orgulho.
Geraldo era o assunto de todas as conversas no cabeleireiro, entre as amigas e até da sogra. Vazou até a mensagem com o agente de turismo sobre hotéis em Positano, estragando a viagem surpresa para o aniversário dela. Quando acabou a semana, o casamento estava mais forte do que nunca. Ela nunca desconfiou de nada.
Na segunda-feira seguinte, Geraldo pagou a outra metade do pacote Vazamento do Bem do Intracept.
— O negócio é esse mesmo! — vibrava o editor com a nova ideia do ex-estagiário, agora editor assistente — Tem que diversificar para sobreviver.
Diante dos vazamentos, poucos casamentos resistem. O de Patrícia até saiu fortalecido. Mas as mensagens sobre a viagem para a Itália estariam no contexto?
Texto de Mentor Neto.

terça-feira, 25 de junho de 2019

GREENWALD E A CONSPIRAÇÃO ANTIRREPUBLICANA



NÃO IMPORTA O QUE VOCÊ SABE, MAS SIM O QUE VOCÊ PODE PROVAR.

O julgamento do pedido de habeas corpus de Lula no processo do tríplex  aquele em que o petista já foi condenado em três instâncias deve ser concluído somente no segundo semestre. Devido ao recesso de meio de ano, as sessões ficarão suspensas até agosto, e por ser o HC do petralha o último item da pauta desta terça-feira, e só o voto do ministro Gilmar Mendes ter nada menos que 40 páginas, a avaliação é de que não haveria tempo de encerrar o julgamento nesta sessão, que é última antes do recesso.

A defesa do molusco pede tratamento diferenciado a seu cliente, alegando que ele é idoso e está preso há mais de 400 dias. Em nota, Cármen Lúcia esbanjou mineirice ao salientar que “todo processo com paciente preso tem prioridade legal e regimental, especialmente quando já iniciado o julgamento, como nos casos de vista, independente da ordem divulgada.” Portanto, façam suas apostas e confiram no final da tarde "o que deu no poste".

Como bem lembrou Josias de Souza em sua coluna, esse julgamento foi interrompido em dezembro por um pedido de vistas de Gilmar Mendes, depois que os ministros Fachin e Cármen Lúcia votaram contra o pedido da defesa. Gilmar e Lewandowski certamente votariam a favor, restando ao ministro Celso de Melo proferir o voto de desempate. Gilmar não pretendia devolver a encrenca à pauta antes do segundo semestre. Adiantou o relógio depois que vieram à luz as primeiras mensagens vazadas pelo site The Intercept Brasil, que a defesa do petralha rapidamente empurrou para dentro dos autos. Inicialmente, os advogados do molusco alegava que a migração de Moro da 13ª Vara Federal de Curitiba para a Esplanada confirmara o viés político das decisões do ex-juiz; agora sustentam que as mensagens arrancadas do aplicativo confirmam a alegada falta de isenção do ex-magistrado.

Observação: Na semana passada, numa de suas participações no Jornal da Gazeta, José Nêumanne comentou que em entrevista a Mônica Bergamo, da Folha, e Florestan Fernandes, do El Pais, no dia 26 de abril, Lula garantiu que iria “desmascarar o Moro e o Dallagnol.” Omitiu na entrevista como o faria, mas foi nitidamente um spoiler no mínimo suspeito — a exemplo do pedido de vistas de Gilmar, após os votos de Fachin e Carmen Lúcia, e a liberação dos autos logo depois que as denúncias vazadas pelo The Intercept ganharam as manchetes dos jornais. Tire o leitor suas próprias conclusões.

Antes de decidir se Moro foi ou não parcial e se Lula é ou não um injustiçado, as togas supremas terão de informar se as mensagens podem ou não ser admitidas como prova. Para Mendes, a origem ilícita de uma prova não impede que seja usada em benefício de condenado sem culpa. O diabo é que as mensagens podem ter sido adulteradas. Quer dizer: o STF agora precisa decidir duas questões preliminares antes de entrar no mérito da causa: 1) Prova obtida de forma criminosa vale?; 2) Se valer, o lote de mensagens pode ser tomado como autêntico sem uma perícia capaz de afastar a alegada hipótese de adulteração?

Para complicar, os textos chegam às manchetes em ritmo de conta-gotas. Julgar num ambiente assim seria algo tão seguro quanto sapatear em areia movediça. Melhor adiar do que cometer o crime da precipitação. O Supremo nunca teve pressa para julgar réus da Lava-Jato que desfrutam do privilégio do foro especial. Condenou um mísero e escasso denunciado. Não seria razoável que resolvesse apressar o passo justamente na apreciação de um habeas corpus que pode resultar na absolvição duvidosa de Lula — um corrupto condenado em primeira, segunda e terceira instâncias, cuja prisão foi avalizada pela maioria do plenário do próprio STF. Dizia Rui Barbosa que "justiça tardia não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta", mas nada seria mais apropriado no momento do que adiar o julgamento do pedido de suspeição formulado pela defesa de Lula contra Moro.

Não fossem Lula, Sérgio Moro e Deltan Dallagnol os envolvidos, o “material bombástico” que vem sendo divulgado em doses homeopáticas pelo site esquerdista The Intercept Brasil produziria as mesma consequência de um peido num vendaval. Ocorre que parte da mídia, dos analistas políticos e de juristas das horas vagas se alinhou à imprensa “cumpanhêra” e comprou alegremente a narrativa construída com indiscutível parcialidade pelo americano Glenn Greenwald — que acontece de ser marido do deputado David Miranda, do PSOL-RJ — e seus asseclas. O propósito salta aos olhos: demonstrar que as supostas mensagens trocadas entre o ex-juiz da Lava-Jato e o coordenador da força-tarefa em Curitiba comprovariam de maneira cabal o grande conluio contra o sumo pontífice da seita do inferno, exterminador do plural, parteiro do Brasil Maravilha e deus pai da Petelândia.

Tudo que foi ventilado pelo Intercept até o momento não passa de um amontoado de coisa alguma, uma coletânea de diálogos curtos e fora do contexto onde foram pinçados. Isso para não mencionar que "material bombástico" foi obtido de forma ilícita (hackeamento digital), e que, no mundo dos ilícitos, criar diálogos para corroborar narrativas não é nada incomum.

Greenwald diz que há muito mais a ser revelado — mais do mesmo que foi mostrado até aqui, provavelmente, retocado com as cores vibrantes de uma reinterpretação ideológica por “repórteres” incapazes de disfarçar suas militâncias, e que, ávidos por revelar uma “grande conspiração conservadora”, ignoram tudo que deveriam ter aprendido na faculdade sobre a razoabilidade das fontes e a neutralidade jornalística. Demais disso, conversas entre promotores, procuradores e juízes são comuns — talvez não devessem ser, mas isso não é outra história. E, de novo: não fossem os envolvidos quem são, esse assunto não mereceria mais que uma nota de rodapé.

As mensagens vazadas não são denúncias. São pedaços de supostas realidades coladas com fita crepe a um aglomerado de narrativas partidárias. O Intercept não pode apontar ou imputar crimes sem ter deles provas reais, e ainda que as tivesse, a obtenção por meio ilícito desqualificaria seu uso nos tribunais. O próprio Greenwald procurou a Rede Globo para divulgar o material de forma conjunta, mas, à ausência da credibilidade das fontes e da legalidade do conteúdo, a Venus Platinada bateu-lhe a porta nas fuças. Reinaldo Azevedo, dono de uma empáfia à toda prova, travestiu-se de paladino da Justiça e acabou pagando mico: a "informação bombástica" que ele divulgou no último dia 20 — de que a Lava-Jato, seguindo orientação de Sergio Moro, teria afastado a procuradora Laura Tessler de audiências — era fake news e foi prontamente desmentida pela força-tarefa.

Os procuradores, através de nota, afirmam que "além de desrespeitosa, mentirosa e sem contexto, a publicação de Reinaldo em seu blog não realizou a devida apuração que, por meio de simples consulta aos autos públicos acima mencionados, evitaria divulgar movimento fantasioso de troca de procuradores para ofender o trabalho e os integrantes da força-tarefa". Ainda segundo a nota, Laura participou de audiência em 13 de março de 2017, sobre o ex-ministro Antônio Palocci, e em todas as subsequentes do caso, realizadas nos dias 14, 15, 21 e 22 de março. A nota diz também que a publicação do Intercept Brasil é tendenciosa e que "tentou criar artificialmente uma realidade inexistente para dar suporte a teses que favoreçam condenados por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava-Jato".

Sobre Reinaldo Azevedo, a força-tarefa afirma que "a suposta versão, que não resiste a uma mínima análise crítica diante dos fatos públicos, indica que a fábrica de narrativas político-partidárias baseadas em supostos diálogos sem autenticidade e integridade comprovadas somente leva à perda de credibilidade de quem delas se utiliza sem a devida apuração", que a notícia é "rasa, equivocada e sem checagem dos fatos", e que a atuação de Laura sempre foi "firme, técnica e dedicada" e contribuiu decisivamente para a condenações importantes. Para finalizar, a nota afirma que "não houve qualquer alteração na sistemática de acompanhamento de ações penais por parte de membros da força-tarefa; os procuradores responsáveis pelo desenvolvimento de cada caso acompanharam as principais audiências até o interrogatório, não se cogitando em nenhum momento de substituição de membros, até porque todos vêm desenvolvendo seus trabalhos com profissionalismo, competência e seriedade".

Notícia bombástica mesmo foi o furo jornalístico publicado por Lauro Jardim, em maio de 2017, que trouxe a lume conversas nada republicanas mantidas nos porões do Jaburu, na calada da noite, pelo então presidente Temer e o moedor de carne bilionário Joesley Batista, cuja pronta repercussão levou ao esvaziamento do Congresso e sitiou no Palácio do Planalto o presidente da República. Enfim, uma galinha até consegue voar, mas jamais será um condor-dos-andes.

sábado, 13 de abril de 2019

BOLSONARO E O MINISTÉRIO DOS PROBLEMAS CRETINOS



No afã de criticar o atual governo, a FOLHA dá mais uma “derrapada”. Confira a reportagem de capa publicada ontem e as considerações do Secretário Especial Adjunto de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, sobre o tema. 

Dito isso, passo a palavra ao ilustre jornalista J.R. Guzzo, já que a síndrome do macaco não me larga.
Eis aqui uma sugestão para o atual governo: criar o mais cedo possível o Ministério dos Problemas Cretinos, dando-se o devido crédito, naturalmente, ao gênio de Millôr Fernandes. O trabalho desse novo ministério seria receber, processar e mandar para uma usina de lixo a ser instalada em Brasília as questões gravíssimas, e sem a mais remota importância prática, que se reproduzem à velocidade alarmante no noticiário político de hoje em dia.

Desde que o presidente Jair Bolsonaro tomou posse, as “crises” de seu governo se sucedem ao ritmo médio de uma por dia o que já estaria dando, numa conta redonda, cerca de 100 em apenas três meses. É verdade que, até agora, nenhuma delas gerou um miligrama de efeito real, pela excelente razão de terem sido construídas com uma combinação de falta de pé com falta de cabeça. Mas acabam fazendo a administração pública perder um monte de tempo para explicar todo santo dia que o lobisomem visto agora pouco anunciando o fim do governo no Viaduto do Chá não era, olhando bem, um lobisomem de verdade. Entraria aí, então, o novo ministério: às 9 horas da manhã de cada dia útil o serviço de protocolo registraria o conjunto completo de bobagens cinco estrelas noticiadas na véspera, passaria um recibo de entrada e daria a crise por resolvida para o resto da vida.

Em matéria de problema cretino de primeiríssima grandeza, no embrulho de disparates mais recentes servidos pela mídia, pouca coisa se compara à visita que Bolsonaro acaba de fazer a Israel. Segundo a maioria dos árbitros do bem e do mal que nos ensinam diariamente o que devemos pensar sobre todos os assuntos desta vida, a viagem em si foi uma aberração ética imperdoável. Embora o Brasil mantenha relações absolutamente normais com Israel há mais de 70 anos, Bolsonaro cometeu um delito moral, político e diplomático sem perdão pelo simples fato de ir até lá. Nada comprovaria melhor este desastre, segundo os comunicadores mais indignados, do que a nota de protesto contra a visita expedida pelo Hamas um grupo de criminosos que vive da extorsão, do assassinato de inocentes e de atos terroristas para promover a causa palestina. Queriam o quê? Que o Hamas ficasse a favor? Ficava a favor nos tempos de Lula-Dilma; agora não dá mais.

O ponto culminante do desvario, porém, está na abordagem “econômica” da viagem. De acordo com “especialistas” em comércio exterior, ela desagradou aos países “do Oriente Médio”, que importaram cerca de 14 bilhões de dólares de produtos brasileiros em 2018, enquanto Israel importou só 320 milhões. Como podemos arriscar aquela montanha de dinheiro em troca da mixaria que é Israel? O problema disso tudo são os fatos. O tal “Oriente Médio” inclui nada menos do que 15 países entra até Chipre, onde se fala grego e ninguém faz a menor ideia de que Bolsonaro foi a Israel, ou a qualquer outro lugar mais um pouco, enfiariam na lista a Rua 25 de Março. Ainda assim, somando tudo, esse grupo representa menos de 6% das exportações totais do Brasil. Por esse critério de agradar quem compra muito, como ficariam as coisas, então, com os Estados Unidos? Em 2018 o Brasil exportou cerca de 25 bi para lá. Muito cuidado, portanto: não façam nada que possa incomodar os americanos, os maiores amigos de Israel no mundo, porque eles nos compram quase o dobro do que os “árabes”.

Também foi deplorada a catástrofe diplomática que Bolsonaro provocou ao fazer que voltasse para a sua terra o embaixador da Palestina, um negócio que se resume à Faixa de Gaza e é menor que o município de Jundiaí. A coisa foi apresentada como um problema mortal. Mas e daí? Que diferença isso vai fazer no mundo das realidades, se ninguém nem sequer sabia que o homem estava aí? Como disse o general Mourão: “Deixa. Um dia ele volta”. E se não voltar quem é que vai perder 5 minutos de sono com isso?

A recusa em pensar é realmente um problemão no Brasil de hoje. Chamem o Ministério dos Problemas Cretinos.

(Texto de J.R. Guzzo)

Vale pela música:



terça-feira, 26 de março de 2019

E LA NAVE VA — TOMARA QUE NÃO SEJA A PIQUE


Deitado eternamente em berço esplêndido, o Gigante Adormecido não tem motivos para despertar — não quando realidade parece pior que o pior dos pesadelos.

A boa notícia, ou o que parece ser uma boa notícia, é que lideranças do Centrão decidiram tentar "baixar a temperatura" da crise. A conversa ocorreu em um jantar realizado no domingo na residência oficial de Rodrigo Maia, que quer acalmar os ânimos e seguir com os trabalhos para a aprovação da reforma da Previdência. O presidente da Câmara se diz defensor do projeto independentemente do governo, mas avalia que arregimentar votos para a aprovação não é de sua competência, mas dos líderes do governo.

Em entrevista ao Estado, Maia havia dito que o governo não tem projeto para o País além da reforma da Previdência, fez várias críticas e advertiu que o presidente Bolsonaro precisa deixar o Twitter de lado, além da “disputa do mal contra o bem”, e se empenhar para melhorar a vida da população. Até aí, não há como discordar.

Embora eu tenha aditado a postagem anterior com a informação da soltura do ex-presidente Michel Temer, vale transcrever a nota também neste post:

Contrariando as expectativas, o desembargador Ivan Athié determinou nesta segunda-feira a soltura de Michel Temer, que havia sido preso na última quinta-feira (clique aqui para ler a íntegra da decisão). O magistrado havia pedido que o caso fosse incluído na pauta de julgamento do tribunal na próxima quarta-feira, para que a decisão sobre o habeas corpus fosse colegiada, mas resolveu se antecipar: “Mesmo que se admita existirem indícios que podem incriminar os envolvidos, não servem para justificar prisão preventiva, no caso, eis que, além de serem antigos, não está demonstrado que os pacientes atentam contra a ordem pública, que estariam ocultando provas, que estariam embaraçando, ou tentando embaraçar eventual, e até agora inexistente instrução criminal, eis que nem ação penal há, sendo absolutamente contrária às normas legais prisão antecipatória de possível pena, inexistente em nosso ordenamento, característica que tem, e inescondível, o decreto impugnado”.

O MPF vai recorrer da liminar de Athié, que tirou da pauta da 1ª turma especializada em direito penal, previdenciário e da propriedade industrial do TRF-2 e determinou a soltura Temer e seus asseclas pode ser revertida mais adiante, ainda que não amanhã. Outro detalhe: Embora boa parte dos jornais tenha publicado a notícia sob o título "JUSTIÇA MANDA SOLTAR TEMER", é bom não confundir as coisas: Primeiro, porque a justiça é cega; segundo, porque quem mandou soltar o emedebista foi o presidente a 1ª Turma do TRF-2, que ficou afastado do cargo durante sete anos devido a uma ação no STJ por estelionato e formação de quadrilha (em 2004)Um inquérito contra ele, com as mesmas acusações, foi arquivado em 2008 pelo STJ a pedido do MPF, que alegou não ter encontrado provas de que o desembargador tivesse proferido sentenças em conluio com advogados. O magistrado retornou às atividades em 2011, depois que o STF trancou a ação contra ele.

Devido à síndrome do macaco, encerro por aqui. Fiquem com mais um texto brilhante do igualmente brilhante J.R. Guzzo:

Está na hora, mais uma vez, de falar algumas coisas sobre as guerras sem pausa, sem cavalheiros e sem regras a que o público pode assistir nestes tempos de cólera descontrolada entre os meios de comunicação e o governo do presidente Jair Bolsonaro. É o caso de indagar: será que o leitor já não está enjoado de continuar ouvindo a mesma ladainha? A única opção disponível, enquanto não se consegue uma resposta decente para a pergunta, é ir adiante — não vale fazer de conta que está tudo bem, pois nada está bem. Na verdade, nunca esteve tão mal, e quem paga o preço é o cidadão que sustenta as duas partes, governo e imprensa. Ele teria o direito de ser informado sobre como o seu país está sendo governado. Não é o que acontece. O que lê, ouve ou vê na mídia só está servindo para lhe mostrar que os dois lados não estão aí para explicar, mas para se detestar — e parecem perfeitamente satisfeitos em continuar assim.

É cansativo, e principalmente inútil, ficar queimando válvula na tentativa de explicar quem está com a razão. Para quê? Bolsonaristas e comunicadores acreditam que estão certíssimos, e a última coisa que querem ouvir nesta vida é alguma modalidade de argumento racional. Além disso, tanto faz — as realidades, como sempre, se encarregarão de mostrar quem acertou e quem errou. Nas próximas eleições, daqui a dois e a quatro anos, os eleitores vão tomar a única decisão que realmente importa — vão reeleger as forças do governo, caso achem que Bolsonaro está fazendo um bom trabalho, ou mandar todos para o olho da rua, caso achem que o seu trabalho foi ruim. Essas decisões serão tomadas em cima de resultados concretos, que a população possa perceber; o resto é conversa fiada, neurastenia e pesquisa de opinião. A mídia, do seu lado, estará com a razão se tiver, neste mesmo período, aumentado o seu público pagante; estará errada se continuar perdendo leitores, ouvintes e espectadores.

O pior dos mundos, de qualquer forma, é a briga de rua na qual se vive hoje. É uma dessas situações que não têm nada de bom, de um lado, e têm tudo de ruim, de outro — e coisas assim, como mostra a experiência, têm as melhores perspectivas de continuar exatamente como estão. O que se pode dizer, neste momento, é que o governo faria um grande favor a si próprio, e provavelmente aos governados, se pusesse na cabeça de uma vez por todas que os meios de comunicação deste país odeiam o presidente da República, seus ministros, seus generais, seus programas, seus valores, suas crenças, seus defeitos e suas virtudes; odeiam, sobretudo, que cerca de 60 milhões de eleitores tenham colocado Bolsonaro na Presidência por estarem a favor das posturas que ele defende. Quando a coisa fica assim, não tem mais conserto. Game over. Se Bolsonaro descobrir a cura do câncer, amanhã ou depois, a mídia vai ficar contra; ainda não sabe direito como faria um negócio desses, mas com certeza acabará encontrando um jeito de fazer.

Esse espírito de guerra religiosa que se desenvolveu dentro da mídia é formicida puro. Está na cara, entre outros efeitos tóxicos, que, agindo como têm agido em relação ao governo, os meios de comunicação abrem uma avenida inteirinha para serem acusados de uma coleção completa de pecados mortais. A mãe de todos eles, no fundo, talvez seja a hipocrisia — a tentativa de mostrar que está apenas cumprindo o seu dever de informar e opinar, quando muitas vezes falsifica ambas, informação e opinião, com o propósito de fazer oposição política. Não dá para negar, com base na observação dos fatos, que a imprensa brasileira de hoje está decidida a não mudar de ideia e não mudar de assunto; acha que o governo está sempre errado, em tudo, e que o único interesse do público é ficar ouvindo isso todos os dias. Há, comprovadamente, a divulgação de notícias coladas a suposições sem fundamento, conclusões fantasiosas e interpretações sem pé nem cabeça. Utiliza-se todos os dias o expediente de chamar “especialistas” para dizer, a respeito de qualquer coisa, unicamente aquilo que os jornalistas querem que seja dito.  Há as mentiras, enfim — publicadas de propósito ou, então, por negligência, imperícia ou imprudência. Uma criança de 10 anos de idade sabe mentir. Por que raios uma pessoa crescida não mentiria —  só porque trabalha na imprensa? Ah, vai. Em todo caso, por um caminho ou por outro, fica evidente a existência de um generalizado, banal e agressivo descaso pela verdade.

O fato, comprovado pela memória digital onde tudo se grava, é que a mídia nacional resolveu participar da campanha eleitoral de 2018 tomando partido contra a candidatura de Bolsonaro – e contra a maioria do público, também. Perdeu as eleições, já que o eleitorado decidiu fazer precisamente o oposto do que os comunicadores queriam que fizesse. A essa altura, em vez de parar um pouco para perguntar se não havia nada a corrigir no roteiro seguido até ali, a imprensa dobrou a aposta. Ficou ainda mais brava do que já estava durante a campanha; desde a eleição, trata o governo Bolsonaro como ilegítimo. Não há sinais de que nada disso vá mudar nos próximos quatro anos.

Um exemplo que talvez ajude a entender melhor as coisas é a convicção, manifestada por Bolsonaro e muitos dos seus seguidores, de que a mídia deveria estar cobrando quem é o mandante da tentativa de assassinato que quase o matou no final da campanha eleitoral. Acham que o seu caso merece tanta atenção, pelo menos, quanto o da vereadora Marielle. O presidente pode esperar sentado; não vai rolar. Na opinião da imprensa, não há mais nada a perguntar sobre o assunto. A polícia já não disse que o criminoso é um débil mental que agiu sozinho? Pois então: qual é a dúvida? Se a polícia falou, está falado. Além disso, há os “laudos técnicos”, que garantem que o homem não deve nem ser julgado, pois não tem culpa nenhuma pelo que fez, coitado. Laudo de peritos, na tradição da Justiça brasileira, é algo que se compra como um pastel de feira, mas tudo bem. O nosso jornalismo investigativo também não é de ferro; não vai sair por aí procurando coisas que não gostaria de encontrar.

É por histórias como essa que o governo se acha na obrigação de dar o troco. Em sua maneira de ver as coisas, Bolsonaro e parte do seu sistema de apoio acham que é indispensável reagir. Não se ganha uma guerra com retiradas, não é mesmo? Além do mais, estão convencidos de que brigar com a imprensa dá cartaz junto ao eleitorado; deu certo na campanha e, portanto, vai dar certo de novo. “O Trump” não faz assim? Etc. etc. etc. Só que nada disso vai resolver a vida de ninguém. A obrigação do governo é governar, e não demonstrar que a imprensa está errada; seu dever é ser aprovado pela população, e não pelos jornalistas. A imprensa é ruim? Problema dela. A questão toda, na verdade, é bem simples. Basta levar em consideração que a imprensa não tem nenhuma obrigação legal de ser boa, ou equilibrada, ou de dizer a verdade; o que está dito na lei, apenas, é que tem de ser livre. Ou se convive com esse princípio, ou não há jogo. Quem tem de julgar a qualidade da mídia, e decidir se vale a pena pagar pelo seu conteúdo, é o público — e o governo pode ter certeza que ele está fazendo exatamente isso. Trata-se de um juiz muito mais cruel do que os bolsonaristas imaginam; quando pune um veículo, vai embora e não volta nunca mais. Não há salvação para quem é condenado.

Bem que o presidente poderia se contentar com isso.

domingo, 10 de março de 2019

DEU NO QUE DEU...



Certa vez, perguntaram a Albert Einstein se ele andava com um bloquinho e uma caneta para anotar suas ideias. Einstein estranhou a pergunta.

– Na verdade, só tive uma ideia na vida — respondeu.

Uma única boa ideia ao longo de uma existência, afinal, é uma enorme conquista. Já tive milhares de ideias. Nenhuma foi boa. Pior, minha inveja de quem é cheio delas e tem a autoconfiança necessária para levá-las a cabo se expressa na forma de críticas e previsões absolutamente equivocadas. Quando conheci o Instagram, fui taxativo:

– Besteira. Vão fotografar o quê? O prato do almoço? Ora, por favor, que bobagem.

Deu no que deu.

A primeira vez que ouvi o rumor que Trump seria candidato ao mais alto cargo dos Estados Unidos, dei uma boa gargalhada. Que o sujeito era arrogante e egocêntrico já sabíamos, mas imaginar que teria apoio para se eleger, que conseguiria seduzir os eleitores, que driblaria o labirinto das convenções, aí já era demais.

– Besteira. Não ganha nem com reza brava. — profetizei.

Deu no que deu.

Veio o presidente Messias. Assisti ao anúncio de sua candidatura com descrença pueril.

– Besteira. Era só o que faltava esse sujeito achar que pode ser presidente.

Deu no que deu.

A verdade é que o mundo tem provado que não entendo patavinas de nada. De aplicativo a presidente, os projetos e as intenções que me soam mais absurdos têm se provado consistentemente aceitáveis, factíveis e realizáveis.

Agora me aparecem com a teoria da terra plana. Quando assisti pela primeira vez a um maluco no YouTube explicando que o planeta não é esférico, reagi como sempre:
– Besteira.

Mas o tempo vai passando e mais gente vai aderindo. Uns deputados do Mato Grosso chegaram a homenagear um “cientista” brasileiro que alegou ter comprovado a teoria.

Acreditar na terra plana não é o mesmo que apostar numa ideia qualquer, dessas que surgem por aí. É desacreditar da física e da gravidade. É negar técnicas de navegação que diariamente levam milhares de aeronaves de um ponto ao outro do planeta. É não aceitar o funcionamento básico dos GPS, das ondas eletromagnéticas e do celular. Por isso, assisti a um documentário do Discovery Channel dedicado a comprovar que a terra é redonda. A que ponto chegamos.

Os ignorantes não sabem que não sabem de nada, por isso se cobrem de toda a razão. E como são maioria, quando assumem o poder impõem sua negação do conhecimento como verdade absoluta. 

Essa ignorância hegemônica se espalha. Líderes se elegem apoiados pelas mais primitivas crenças e, em nome da democracia, dão voz e poder ao mais vil obscurantismo. Com isso, conchavos e decisões são apoiados não mais em má-fé, mas em burrice.

A terra plana de Brasília expõe uma lamentável salada de técnicos competentes e ignorantes funcionais. Como um vírus adaptável, vamos nos acostumando com decisões primárias evidentemente equivocadas. São escolhas que misturam religião com política, conservadorismo arraigado e argumentos fracos impostos por grupos poderosos. Por isso, é emblemática a triste decisão do ministro da Justiça ao voltar atrás em sua indicação de Ilona Szabó de Carvalho para uma vaga na suplência do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária.

A ignorância, com poder, forma e deforma nosso futuro. Ignorantes no poder impõem a negação do conhecimento como verdade absoluta. Na terra plana de Brasília, política e religião se misturam, enquanto nos acostumamos com decisões primárias equivocadas. 

E aí, dá no que deu.

Texto de Mentor Neto.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

BOLSONARO E A MÍDIA “CUMPANHÊRA”



Tomada pelo câncer do “nós contra eles”, a mídia vem prestando um desserviço à população ao divulgar os fatos não como eles são, mas como os jornalistas, redatores, editores e congêneres gostariam que eles fossem, e entregando aos leitores, ouvintes e telespectadores ago como um "grande editorial". 

Não é assim que a banda toca — ou não deveria ser. Mas o jornalismo que preza pelo interesse público ao reportar diversas vozes e checar informações está em falta nos veículos de comunicação, uma vez que estes, mesmo os que se definam como "independentes", estão comprometidos com interesses comerciais ou escusos. Isso ficou claro ao longo da campanha presidencial (quem não se lembra das “pesquisas” do Datafolha, Ibope e companhia?) e ainda mais claro depois que Jair Bolsonaro foi eleito e empossado Presidente. A revista Veja, por exemplo, vem se empenhando em criticar o novo governo com um afinco que deixaria a Carta Capital roxa de inveja.  

Jornalismo e política estão ligados umbilicalmente desde sempre. Em 1919, no ensaio “A política como vocação”, Max Weber (sociólogo alemão considerado liberal — favor não confundir com o prussiano Karl Marx) apontou a carreira jornalística como a primeira profissão política remunerada. Mas o jornalismo de interesse público, que é também político, precisa de independência em relação a financiadores, sejam eles fundações, anunciantes privados ou governos, e também dos proprietários dos veículos.

O site Renova Mídia publicou que o blog petista Brasil 247, em artigo intitulado Globo acusa Record de cumplicidade com esquema Bolsonaro“, reconhece que a narrativa propagada pela esquerda brasileira é corroborada pela Globo e pela Folha. Diz a matéria: “O governo Bolsonaro está no centro da ofensiva da emissora dos Marinho contra a concorrente”. [...] “a Globo está cada vez mais distante do ‘governo de extrema-direita’, enquanto a Record e o SBT tornaram-se as ‘emissoras extraoficiais do novo regime’”. No final do artigo, o blog petista escreve: “No novo cenário, a Globo e a Folha assumem, em determinados momentos, aspectos da narrativa das mídias independentes do país, como o 247, Fórum, DCM, Brasil de Fato, RBA entre outros.”

É curioso que o Brasil 247 se diz “independente”, mas um despacho do ex-juiz Sergio Moro mostra que não é bem assim. A Editora 247, representada pelo jornalista Leonardo Atuch — que também edita o site Brasil 247 —, recebeu, a pedido do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, pelo menos R$ 180 mil do esquema do Petrolão. Segundo Milton Pascovitch, um dos delatores da Lava-Jato, o valor foi pago apenas para conferir legalidade ao apoio que o PT dava ao blog de Atuch.

Mudando de pato pra ganso: No Rio de Janeiro, 27 dos 70 deputados da Alerj são investigados na área cível por improbidade administrativa. A lista conta ainda com 75 assessores que tiveram movimentação bancária muito acima do que recebem ou recebiam. Em novembro passado, quando a PF cumpriu 22 mandados de prisão em um desdobramento da Lava-Jato, 7 deputados foram presos e outros três que já estavam na cadeia tiveram outros mandados cumpridos.

Esses dados não chegam a surpreender em se tratando de um país onde, nos anos 1950, o bordão “rouba mas faz” era repetido pelos cabos eleitorais do folclórico Adhemar de Barros, visando neutralizar os adversários que o acusavam de ser ladrão. Em vez de negar as acusações, os ademaristas afirmavam que o político ladrão era um “fazedor”, e que, se roubava, ora, quem se importava? O mesmo argumento funcionou também com Paulo Maluf, hoje condenado em  a 7 anos e fumaça de prisão, mas agraciado pelo ministro supremo Edson Fachin com um habeas corpos de ofício. Na visão do magistrado, o pobre ancião estava às portas da morte, mas, se ele realmente está morrendo, deve ser de rir (dos trouxas que ainda acreditam na Justiça). 

Enfim, fato é que o “rouba mas faz” sempre foi visto como parte do jogo político, e a corrução, depois que foi institucionalizada por Lula e sua espúria agremiação criminosa, tornou-se suprapartidária e passou a ser praticada alegremente em todas as esferas da política tupiniquim (se gritar "pega ladrão", não fica um, meu irmão).

Antes de se eleger senador com respeitáveis 4 milhões de votos, Flávio Nantes Bolsonaro foi deputado estadual por quatro legislaturas e aprovou 40 projetos — dentre os quais a lei que proíbe pedófilos de ingressar no serviço público, mesmo que já tenha cumprido a pena. Em 2016, disputou a prefeitura do Rio, mas ficou em 4º lugar. Além de atuar na política, é advogado e empresário — dono de uma franquia Kopenhagen no Shopping Via Parque, na Barra da Tijuca. E se se tornou o epicentro dessa onda sísmica deflagrada pelas famosas “movimentações financeiras atípicas” que o Coaf identificou na conta de Fabrício Queiroz, foi menos por ser quem é e mais por ser filho de quem é.

Volto a dizer que tudo isso poderia ter sido evitado se Fabrício Queiroz tivesse apresentado prontamente sua “explicação plausível”. Mas o ex-assessor não atendeu a nenhuma das convocações do MPRJ, tornando ainda mais substantivas as suspeitas de que tomava de volta uma parcela dos salários pagos aos seus colegas, ou de que era um "laranja" e repassava esse pedágio adiante.

Queiroz sumiu do mapa até o dia seguinte ao do Natal, quando ressurgiu tão misteriosamente quanto havia desaparecido. Quebrando a "lei do silêncio" que vinha obedecendo até então, declarou em entrevista ao SBT que estava tratando um câncer no intestino, que nunca foi “laranja” e que as movimentações em sua conta decorreram da compra e venda de carros. A versão deixou uma montanha de perguntas sem respostas, mas ele só voltou a falar depois depois que ter alta do Hospital Albert Einstein, onde foi submetido a uma cirurgia para a retirada do tumor. No dia 9, ele disse que pagou a conta com recursos próprios — mas não revelou o valor — e garantiu que esclareceria em breve as tais “movimentações atípicas” — mas não especificou quando isso ocorreria e tampouco compareceu ao depoimento marcado para o dia 10 no MPRJ. Dias depois, um vídeo em que ele aparece dançando no hospital viralizou nas redes sociais. 

No último dia 17, as investigações foram suspensas pelo ministro Luiz Fux, a pedido da defesa de Flávio Bolsonaro. Novidades virão somente no próximo dia 1º, quando o ministro Marco Aurélio, sorteado para relatar a Reclamação, decidir em qual instância do Judiciário as apurações terão seguimento. Até lá, as nuvens negras continuarão pairando sobre o senador eleito e, por que não dizer, sobre o Palácio do Planalto, ainda que o Presidente nada tenha a ver com a história — e ainda que tivesse, não poderia ser investido enquanto ocupar a Presidência.

Justificativas dadas a conta-gotas raramente produzem o efeito desejado. Demais disso, a “explicação plausível” de Queiroz tem mais furos que uma peneira, e a de seu ex-chefe ainda não convenceu os 4 milhões que o elegeram senador, até porque, ao contrário dos seguidores da seita do inferno, nem mesmo os bolsomínions de carteirinha acreditam em tudo que os Bolsonaros dizem simplesmente porque foram eles que disseram. 

Por outro lado, está cada vez mais evidente que essa investigação é uma verdadeira caça às bruxas — fomentada em grande medida pela mídia “cumpanhêra”. Como Flávio Bolsonaro bem colocou, a coisa “deixou de ser investigação para virar perseguição e atingir o presidente da República".   

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

SOBRE O GOVERNO, ÁTILA E O ALZHEIMER DA MÍDIA



Antes da matéria do dia, uma notícia que eu reputo importante: Segundo a Folha publicou em seu site no início da tarde de ontem, o ex-atleta Fabio Guerra confirmou que deu cerca de R$ 100 mil em dinheiro a Flávio Bolsonaro, como parte do pagamento pela compra de um apartamento. Essa informação corrobora o que o senador eleito disse nas entrevistas que deu à Record e à Rede TV na noite do último domingo, mas, na noite de ontem, o Jornal Nacional noticiou que as datas não batem. Um detalhe interessante: segundo o blog PODER 247, tocado pelo "cumpanhêro" Leonardo Atuch ─ que se declara "independente", mas, como a maioria dos blogs financiados pelo PT e seus satélites, vive em um mundo fantasioso onde o presidente do Brasil, que foi eleito legitimamente pelas vias democráticas, é o líder de um “regime”, enquanto o ditador Nicolás Maduro, da Venezuela, é o chefe de um “governo─, a Globo está cada vez mais distante do “governo de extrema-direita”, enquanto a Record e o SBT tornaram-se as “emissoras extraoficiais do novo regime”.  Volto oportunamente com mais detalhes.

Sob o título “NEM ÁTILA”, o jornalista J.R. Guzzo publicou mais uma pérola em sua coluna em Veja, que ultimamente vem atacando o governo Bolsonaro da primeira à última página. O texto de Guzzo quebrou essa hegemonia, interrompendo o tiroteio na penúltima página (a coluna do jornalista é publicada na última, que ele ocupa semana sim, semana não, alternando com Roberto Pompeu de Toledo). Na edição da semana passada, porém, os ataques começaram logo na capa, que exibiu uma montagem feita a partir da foto clássica de Jânio Quadros com os pés trocados (vide a ilustração desta postagem), que valeu a Erno Schneider o Prêmio Esso de Jornalismo em 1962. Mas passemos sem mais delongas ao que interessa, pois o tempo ruge e a Sapucaí é grande.

É realmente uma canseira, mas não tem outro jeito. A cada vez que você vai escrever ou falar alguma coisa sobre a imprensa no Brasil, é preciso explicar direitinho, se possível com desenho e quadro-negro, que o autor não é repetindo: não é, de jeito nenhum, nem pensem numa coisa dessas contra a liberdade de imprensa. Não está pedindo a volta da censura, mesmo porque seria legalmente impossível. Não quer a formação de uma polícia para fazer o “controle social dos meios de comunicação”. Não está “a favor dos militares e contra os jornalistas”. Não acha, pelo amor de Deus, que é preciso fechar nenhum jornal, revista, rádio, televisão, folheto de grêmio estudantil ou seja o que for. Não lhe passa pela cabeça sugerir aos donos de veículos e aos jornalistas que publiquem isso ou deixem de publicar aquilo; escrevam em grego, se quiserem, e tenham toda a sorte do mundo para encontrar quem leia. Com tudo isso bem esclarecido, então, quem sabe se possa dizer que talvez haja um ou outro probleminha com a imprensa brasileira de hoje. Um deles é que a mídia está começando a revelar sintomas de Alzheimer ou de alguma outra forma de demência ainda mal diagnosticada pela psiquiatria.

É chato lembrar esse tipo de coisa, mas também não adianta fazer de conta que está tudo bem quando dizem para você dia e noite, 100 mil vezes em seguida, que o novo governo brasileiro provou ser o pior que a humanidade já teve desde Átila, o Huno. Não faz nexo. Até Átila precisaria de mais de duas semanas de governo para mostrar toda a sua ruindade e olhem que ele foi acusado de comer carne humana e andava cercado de lobos, em vez de cachorros, sendo que nenhum dos seus lobos era bobo o suficiente para chegar perto do dono quando sentiam que o homem não estava de muito bom humor naquele dia. Além disso, errar em tudo é tão difícil quanto acertar em tudo. Talvez fosse mais racional, então, recuar para uma antiga regra da lógica: as ações devem ser julgadas pelos resultados concretos que obtêm, e não por aquilo que você acha delas. Um governo só pode ser avaliado depois de se constatar se as coisas melhoraram ou pioraram em consequência das decisões que colocou em prática. O número de homicídios, por exemplo aumentou ou diminuiu depois de doze meses? A inflação está em 2% ou em 20%? O desemprego caiu ou subiu? E por aí vamos.

Mas essa lógica não existe no Brasil de hoje. Está tudo errado, 100% errado, porque é assim que decretam os estados de alma dos proprietários dos veículos e dos jornalistas que empregam e não porque mediram algum resultado concreto. Ou seja: ainda não aconteceu, mas o governo já errou. A condenação começou no dia da posse de Bolsonaro e dali até hoje não parou mais. Os jornalistas, denunciou-se já nos primeiros minutos, não receberam instalações à altura da sua importância para a sociedade. Donald Trump não veio. O discurso de estreia foi ruim embora não tivessem publicado uma sílaba de algum discurso presidencial anterior, para que se pudesse fazer uma comparação. Há generais em excesso no governo e qual seria o número ideal de generais no governo? As médias das administrações de Sarney para cá? A média mundial? O que é pior: o general A, B ou C ou os ministros Geddel, Palocci ou Erenice? Há poucos nordestinos. O ministro do Ambiente acha que esgotos, por exemplo, ou coleta de lixo, são problemas ambientais sérios. Conclusão: ele vai abandonar a Amazônia para os destruidores de florestas.

Como o doente que repete sem parar a mesma coisa, não consegue descrever o que vê pela janela, e esquece tudo o que lhe foi demonstrado 1 minuto atrás, a imprensa travou. A prisão do terrorista Cesare Battisti foi uma “derrota” para Bolsonaro; imaginava-se que teria sido uma derrota para Battisti, mas a mídia quer que você ache o contrário. O acesso à armas de fogo para que um cidadão (só aquele que queira), tenha a chance de exercer o direito de legítima defesa antes de ser assassinado, vai desencadear uma onda de homicídios jamais vista na história. Como as armas de fogo são caras, denuncia–se que a medida é “pró-elites”. E se vierem a baixar de preço? Passarão a ser melhores?

Quando alguém começa a escrever coisas assim, e faz isso o tempo todo, é porque parou de pensar; o cérebro não está mais ligando lé com cré. É um problema. Os leitores, cada vez mais, estão percebendo que a imprensa é inútil. Não só eles. No dia em que o governo descobrir que não precisa mais prestar atenção à mídia, vai ver que está perdendo uma montanha de tempo à toa.

Dá para discordar?

domingo, 16 de dezembro de 2018

A POLÍTICA NO BRASIL E O CEMITÉRIO DA MÍDIA TENDENCIOSA



O que aconteceria se uma empresa de ônibus passasse a vender bilhetes para Florianópolis (SC) e despejasse os passageiros em Curitiba (PR), por exemplo? Pois é. Guardadas as devidas proporções, foi mais ou menos isso que se deu com alguns órgãos de comunicação ao longo deste ano. Desde o momento em que os pré-candidatos fizeram seus primeiros movimentos no tabuleiro da sucessão presidencial, alguns jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão, em vez de se aterem aos fatos, preferiram publicar versões alternativas, porque o jornalista “a” ou o editor “b” é militante do partido “x” ou simpatizando do candidato “y”.

O que aconteceu nas últimas eleições foi o maior fiasco que os meios de comunicação brasileiros já viveram em sua história recente. Durante meses a fio, tentaram provar no noticiário que coisas trágicas aconteceriam se a campanha de Bolsonaro prosperasse (mas nunca pensaram na possibilidade de que milhões de brasileiros estivessem achando que essas coisas trágicas, justamente essas, eram as que consideravam as mais certas para o país). Convenceram a si mesmos de que não estavam numa cobertura jornalística, e sim numa luta do bem contra o mal. Em vez de reportar, passaram a torcer, a distorcer e a trabalhar por um lado na campanha, convencidos de ter a “superioridade moral”. Resultado: disputaram uma eleição contra Jair Bolsonaro e perderam por mais de 10 milhões de votos de diferença.

Não é função da imprensa disputar eleições (nem muito menos perdê-las), mas alguns órgãos de comunicação se arriscaram a fazê-lo e acabaram surrados pelo candidato que declararam “inimigo” e por seus quase 58 milhões de eleitores. Passaram meses fazendo uma operação contínua contra o candidato menos equipado materialmente e constataram, no dia da apuração, que todo esse esforço foi em vão, pois o público está pouco se lixando para o que a mídia lhe diz quando fica como arquibancada em jogo de futebol, xingando o juiz de ladrão e o técnico de burro, mas não alterando em nada o resultado do placar.

Inventou-se como estratégia, desde o começo, que o presidiário Lula era não só candidato, mas o candidato favorito para ganhar a eleição, embora nem sequer pudesse disputá-la, pois estava — e está — cumprindo a pena de prisão a que foi condenado em duas instâncias da Justiça. Mas os “institutos de pesquisa” garantiam que ele tinha “40% dos votos”, que havia “avançado mais X pontos”, que ganhava de todos os outros candidatos... E a imprensa, em peso, reproduzia essa fábula em suas manchetes, alimentando a ficção de que “a ONU” iria obrigar o Brasil a aceitar a candidatura. Chegaram mesmo a convocar o STF para julgar essa aberração.

Sai Lula, entra Haddad. Sete dias antes do pleito, uma das “pesquisas”” deu o fantoche do criminoso de Garanhuns com “22%”, numa “ascensão” que o levaria inexoravelmente à vitória. Para não deixar dúvidas, todos os meios de comunicação repetiram até o dia da eleição que Bolsonaro perderia de “todos os outros candidatos” no segundo turno, em “todas as pesquisas”. Pois deu-­se exatamente o contrário.

Às vésperas da eleição, a Folha denunciou uma suposta campanha de notícias falsas bancada por empresários apoiadores de Bolsonaro e, em cima disso, pediu-se a “anulação do primeiro turno”, inclusive com atrizes da Globo exigindo, num vídeo eleitoral especialmente irado, “uma atitude” do Supremo. Falsa, mesmo, só a reportagem — reproduzida maciçamente através da imprensa até morrer de inanição, por ausência de fatos, de pé e de cabeça. Em contra partida, o brutal atentado contra a vida de Bolsonaro foi tratado como uma notícia menor, fruto natural do “ódio” trazido à campanha em grande parte pelo próprio candidato. Até hoje, a maioria dos jornalistas se refere ao episódio como “a facada”; é jornalisticamente incorreto escrever que um criminoso quis assassinar Bolsonaro.

Desde o início da campanha, os mais potentes cérebros da análise política do Brasil deram como fato científico que a candidatura de Bolsonaro iria “desaparecer” assim que começasse o horário eleitoral obrigatório na TV, no qual ele contava com poucos segundos. Bolsonaro ganhou a eleição — e o candidato que tinha o maior tempo de TV não conseguiu nem 5% dos votos.

Mais do que tudo, talvez, a mídia não chegou nem perto de entender uma realidade evidente: a maioria do público brasileiro pensa basicamente o contrário do que pensam os jornalistas e os donos dos veículos de comunicação. Tem valores opostos aos dos comunicadores. Aprova o que a mídia condena. Condena o que a mídia aprova. É a favor da polícia, que a imprensa considera inimiga dos pobres, e contra os bandidos, que os jornalistas consideram vítimas da injustiça social. Os heróis da imprensa, como a vereadora Marielle, não são os heróis da população. E nem o que a imprensa divulga maciçamente como sendo problemas essenciais para o Brasil é percebido da mesma maneira pela massa — homofobia, racismo, fascismo, machismo, “agrotóxicos”, terras indígenas, torturas cometidas quarenta anos atrás são vistos mais com indiferença do que com indignação. Em questões como a conveniência de eliminar as diferenças entre os gêneros masculino e feminino, deixando em segundo plano as leis da biologia, mídia e maioria estão simplesmente em posições opostas.

Ninguém tem ouvido histórias de veículos que triplicaram seus leitores ou sua audiência nos últimos anos; pelo contrário: salta aos olhos que o método que vem sendo utilizado está dando errado. E como poderia dar certo se os resultados são um desastre? O aviso das eleições está aí.

Até quatro anos atrás, era no programa eleitoral obrigatório que tudo se decidia numa campanha; hoje, a televisão, em seu conjunto, deixou de existir como um fator de importância numa eleição brasileira. Os “institutos de pesquisa” tampouco são capazes de mudar coisa alguma, como se viu da derrota de Dilma Rousseff — vendida como aquela que seria “a senadora mais votada do Brasil”, mas que acabou em quarto lugar.

Os meios de comunicação travaram uma guerra sem descanso contra Bolsonaro, mas sua influência foi absolutamente nula no resultado da eleição. A internet, o Facebook, o Twitter e o restante do arsenal nuclear que a tecnologia eletrônica despeja a cada momento sobre o universo das comunicações mudaram a política no Brasil em 2018. Há muitos anos vêm transformando a imprensa num animal cada vez mais diferente de tudo o que possa ter sido — e não há sinais de que essa história venha a tomar um novo rumo.

Em momentos como este, é uma tragédia que a imprensa brasileira venha demonstrando, no conjunto daquilo que publica em seus veículos, uma inteligência inferior à inteligência média dos seus leitores, ouvintes e espectadores. Desse jeito, torna-se cada vez mais inútil para eles. Ninguém vai chegar a lugar nenhum por aí.

Inspirado em um artigo do jornalista J.R. Guzzo, publicado na edição impressa de VEJA desta semana.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

FICOU SEM ESPAÇO NO HD APÓS MIGRAR PARA O WINDOWS 10? ENTÃO VEJA COMO PROCEDER

FALTA AO VIRTUOSO A FEÉRICA, A IRISADA, A MULTICOLORIDA VARIEDADE DO VIGARISTA.

Foi-se o tempo em que os PCs traziam HDs com poucas centenas de megabytes de espaço. Hoje em dia, qualquer máquina de configuração mediana ― ou mesmo de entrada de linha ― conta com pelo menos 500 GB (com a possível exceção das que integram SSDs, devido ao preço ainda elevado desse tipo de memória, mas isso já é outra história).

No entanto, sempre tem quem armazena arquivos multimídia volumosos (como filmes e clipes de vídeo, por exemplo), instala tudo quanto é freeware que encontra pela frente e guarda indefinidamente milhares de fotos e coleções de músicas com o propósito de um dia ― sabe lá Deus quando ― gravar tudo isso em CDs ou transferir para pendrives. Desse jeito, até o HD mais espaçoso pode ficar lotado rapidamente, com consequente prejuízo para o desempenho do sistema operacional e do computador como um todo.

No Windows 10, conferir a quantas anda o espaço disponível no HD é ainda mais fácil do que nas edições anteriores: basta abrir a pasta Computador e checar a barra correspondente ao ícone que representa a unidade na qual o Windows está instalado (geralmente C:). No entanto, eu recomendo dar um clique direito sobre a unidade em questão e selecionar Propriedades, pois, além de obter informações mais detalhadas, você pode aproveitar o embalo para executar a Limpeza de disco (conforme a gente já discutiu em outras oportunidades).

Vale frisar que suítes de manutenção como o Advanced System Care, o CCleaner, o Glary Utilities e tantas outras ― sobre as quais a gente também já falou em diversas oportunidades ― fazem um serviço mais elaborado ou, no mínimo, complementam a faxina feita pela ferramenta nativa do Windows (mais detalhes nesta postagem).

Lembro também que, caso essa faxina não resolva seu problema de espaço, convém você considerar a possibilidade de apagar pontos antigos de restauração do sistema, desinstalar aplicativos desnecessários e transferir arquivos volumosos (como os de multimídia e outros que foram mencionados linhas atrás) para mídias ópticas e/ou dispositivos de armazenamento removível.

Outra providência que resulta em economia de espaço é a exclusão de arquivos temporários. Para isso, na caixa de diálogo do menu Executar ― que você pode abrir pressionando ao mesmo tempo as teclas Windows e R ―, digite temp, dê Enter, selecione os arquivos listados e pressione a tecla Delete. Em seguida, no mesmo menu Executar, digite %temp% e repita o procedimento retro citado.

Há quem sugira ainda desativar a memória virtual (ou arquivo de paginação, como queira), mas eu não recomendo, a não ser que, em vez de um drive eletromecânico, seu PC seja equipado com SSD. No entanto, é consenso entre os especialistas sistemas com 8 GB ou mais de RAM ficam mais ágeis sem a memória virtual (para mais detalhes, reveja esta postagem). Então, se você acha mesmo que pode abrir mão desse recurso, veja como reconfigurá-lo no Windows 10:

― Dê um clique direito no logo do Windows que é exibido na extremidade esquerda da sua barra de tarefas (o mesmo em que você clica com o botão esquerdo para acessar o menu Iniciar).

― Clique então em Sistema e, na porção esquerda da tela que se abrirá em seguida, clique em Configurações avançadas do sistema.

― Selecione a guia Avançado e, no campo Desempenho, clique em Configurações... e novamente na guia Avançado.

― No campo Memória virtual da janelinha que se abrirá em seguida, clique em Alterar.

― Desmarque a caixinha ao lado de Gerenciar automaticamente o tamanho do arquivo de paginação, selecione (se necessário) o drive ou partição em que o Windows está instalado e marque a opção Sem arquivo de paginação.

Observação: Note que essa mesma janela permite definir manualmente o tamanho do arquivo de paginação. Para isso (embora essa questão fuja aos propósitos da postagem, já que o tema em pauta é a recuperação de espaço no HD), selecione a opção correspondente, preencha os campos Tamanho inicial e Tamanho máximo com o mesmo valor (que deve ficar entre uma vez e meia e três vezes a quantidade de memória RAM instalada no computador), confirme em OK e reinicialize o sistema.

A MORTE DE TEORI ZAVASCKI ― OUTRO “PAVOROSO ACIDENTE”?

Eram 5h da tarde quando a notícia caiu feito uma bomba ― ou feito o Beechcraft C90GT de prefixo PR-SOM, a bordo do qual se encontrava o ministro do STF Teori Zavascki e outras quatro pessoas, mas essa analogia me pareceu de mau gosto, de modo que resolvi ficar com a primeira.

Eu já havia encerrado o expediente quando soube do “pavoroso acidente” e resisti à tentação de postar algo no Blog e na comunidade de política devido à falta de informações confiáveis. Até aquele momento, sabia-se apenas que a aeronave ― que decolou por volta das 13h00 do Campo de Marte, na região central da capital paulista, e tinha como destino a cidade de Paraty, no litoral fluminense ― havia caído no mar, a 2 km do campo de pouso de destino (chamar aquilo de aeroporto é piada) e que Zavascki poderia ser um dos passageiros. Meia hora depois, todos os telejornais confirmavam que o ministro estava mesmo a bordo e que havia morrido no acidente, e, mais adiante, que havia cinco pessoas a bordo (e não quatro, como havia sido dito anteriormente), que nenhuma delas sobreviveu para contar a história e que as causas da tragédia podiam ser... qualquer coisa.

Teori era o relator dos processos da Lava-Jato no STF. A ele caberia homologar os acordos de 77 delatores da Odebrecht, que, até onde se sabe, envolvem cerca de 200 políticos de diversos partidos ― que poderão ter a carreira abreviada e até mesmo passar um tempo no complexo penitenciário de Pinhais, em Curitiba, caso as denúncias sejam confirmadas, os respectivos inquéritos, instaurados, e as ações, julgadas em desfavor dos réus. Só isso já dá e sobra para inúmeras teorias da conspiração ― que realmente vêm pipocando na Web. Pode ser que tudo não passe de uma lamentável coincidência, mas dizem que coincidências nada mais são do que Deus agindo nos bastidores ― no caso, por motivos óbvios, seria mais provável que o Diabo tivesse culpa no cartório.

Ainda não são conhecidas ― pelo menos até o momento em que estou rabiscando estas linhas ― as verdadeiras causas do acidente, e não vejo sentido em perder tempo com meras especulações. Melhor acompanhar o desenrolar das investigações para ver que bicho dá. Mesmo quanto ao futuro da Lava-Jato ― que a perda de Zavascki certamente atrapalha, ou pelo menos retarda, mas isso não significa que a Operação esteja comprometida. Ainda não se sabe quem será o novo relator, até porque fala-se em duas maneiras de escolhê-lo: na primeira, Temer aponta o substituto de Zavascki (que deve ser sabatinado pela CCJ do Senado e referendado pelo plenário da Casa), e ele herdará as ações que estavam sob os cuidados de seu antecessor. Na segunda, a ministra Carmem Lucia, atual presidente da Corte, sorteia o novo relator entre os 9 colegas remanescentes (o STF é composto por 11 magistrados, mas, nesse caso, a presidente não conta), embora alguns palpiteiros afirmem que esse sorteio deve envolver apenas os 4 componentes que restaram na Segunda Turma do Supremo, da qual TZ fazia parte (e que é presidida por Gilmar Mendes e conta com os ministros Celso de Mello, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski).

Já deu na mídia que o presidente Temer deve indicar para o posto seu ministro da justiça, o boquirroto dublê de Kinder ovo e Lex Luthor, que atende por Alexandre de Moraes. Há quem sugira o nome de Sergio Moro, mas parece que essa ideia é defendida apenas pelos (muitos) admiradores do magistrado. Demais disso, é bom lembrar que se Moro ocupasse a vaga, estaria automaticamente impedido de julgar recursos de casos relativos às ações que ele próprio julgou em primeira instância.

A coisa toda ainda é muito recente. Não se sabe ao certo sequer onde o corpo de Zavascki será sepultado. Alguns dizem que será velado no STF e de lá enviado para Santa Catarina (o ministro nasceu naquele estado, no município de Faxinal dos Guedes), enquanto outros dizem que tanto o velório quanto o sepultamento serão em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Voltarei com mais detalhes quando os tiver e achar que posso confiar nas informações.

E como a vida continua e hoje é sexta-feira:



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