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domingo, 17 de novembro de 2019

PRA QUEM GOSTA É UM PRATO CHEIO (CONTINUAÇÃO)


Falando em crimes, criminosos e em quem deveria inibi-los e combatê-los (mas faz exatamente o contrário, como bem salientou o juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelo braço da Lava-Jato que atua no Rio de Janeiro), parlamentares do grupo Muda, Senado prometem intensificar a pressão sobre Davi Alcolumbre pela instalação da CPI da Lava-Toga e pela abertura de processos de impeachment contra ministros do STF.

A pressão aumentou depois que Dias Toffoli, que usurpou o poder de D. Bozo I, instituiu a ditadura da toga e sagrou-se tiranete (a coroação se deu quando ele ordenou que o Coaf lhe desse acesso a relatórios com dados sigilosos de cerca de 600 mil pessoas físicas e jurídicas), passando a presidir "de fato" esta republiqueta de bananas enquanto o "mito-late-mas-não-morde" cuida de interesse próprios, de seus filhos e da 33ª agremiação política que resolveu criar para si.


A política tupiniquim sempre foi um esgoto a céu aberto. Da feita que os candidatos se elegem para roubar e roubam para se reeleger, como nos sentirmos representados por essa caterva? No Executivo, perdemos a fé (se é que ainda nos restava alguma) antes mesmo de a renúncia de Jânio Vassoura Quadros abrir espaço para o golpe de Estado que resultaria em duas décadas de ditadura militar (aquela de que dizem sentir saudades saudades os que nasceram depois de 1985). E a morte de Tancredo Neves — eleito indiretamente, mas que representava a esperança dos brasileiros num futuro melhor — foi a gargalhada do diabo, pois promoveu de vice a titular o eterno donatário da capitania do Maranhão, um dos mais notórios ícones da abominável política coronelista tupiniquim.

As esperanças se renovaram em 1989, quando o autodeclarado Caçador de Marajás frustrou (ou retardou) a ascensão do eterno "presidente de honra" do partido dos trabalhadores que não trabalham, estudantes que não estudam e intelectuais que não pensam. Mas logo se viu que o santo de colhões roxos era de pau oco, tinha pés de barro e não passava de um populista tão desprezível quanto seu adversário, só que ocupava o outro extremo do espectro político-ideológico-partidário (e qualquer semelhança com o atual inquilino do Palácio do Planalto não é mera coincidência).

Daí veio Itamar, que, além de recriar o Fusca e posar para fotos ao lado da modelo sem calcinha Lilian Ramos, promulgou o Plano Real, cujo sucesso levou Fernando Henrique Cardoso a se eleger presidente, recriar a reeleição e se reeleger presidente desta republiqueta de Bananas, embora o número de coelhos que seria capaz de tirar da cartola tivesse se esgotado já em sua primeira gestão.

Depois vieram Lula e o mensalão do PT (edição revista, atualizada e aprimorada do mensalão tucano), que transformaram Judiciário, aos olhos dos desalentados cidadãos de bem deste desalentador país de merda, no último bastião das esperanças. Mas aí Lula, o podre, e Dilma, a quintessência da incompetência, nomearam os oito togados supremos que, somados aos ministros que ainda não haviam pedido o boné e pegado a bengala — Celso de Mello, que seus pares têm na condição de sapientíssimo e o ex-ministro Saulo Ramos, de um juiz de merdaMarco Aurélio, indicado por ninguém menos que seu primo Fernando Collor; e Gilmar Mendes, cuja indicação foi a obra prima ao contrário do grão duque tucano —, resultaram na pior composição de toda a história do tribunal (ainda pior depois que o dono da careca mais luzidia do planeta foi indicado pelo vampiro do jaburu para ocupara a vaga aberta com a morte de Teori Zavascki num mal explicado acidente aéreo).

O impeachment de Dilmanta, a inolvidável, e os avanços da Lava-Jato refrearam (em alguma medida e por um custo espaço de tempo) o apetite pantagruélico dos petralhas e companhia pelo dinheiro do Erário, mas as recentes investidas da fação pró-crime do STF em prol de seus bandidos favoritos ameaçam pôr a perder quase tudo que foi conquistado no último lustro.

Para Josias de Souza, a quem muito admiro e com cujas opiniões quase sempre concordo, foi constrangedora e triste a passagem por Brasília do grupo de trabalho da comissão antissuborno da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. A missão da OCDE constrange porque os representantes da entidade percorreram gabinetes dos três Poderes para manifestar preocupação com os retrocessos que observam no Brasil em relação ao combate à corrupção. A visita entristece porque representa, na prática, uma espécie de atestado de óbito da Operação Lava-Jato e suas congêneres.

A morte é anterior a si mesma. Ela começa muito antes da abertura da cova. Percorre um lento processo. No caso da Lava-Jato, a operação morreu e não sabe. Ninguém disse ainda, talvez por pena, mas aquela operação em que, pela primeira vez desde a chegada das caravelas, o braço do Estado investigou, enjaulou e puniu poderosos da oligarquia política e econômica do Brasil, essa operação não existe mais. Foi boa enquanto durou.

A missão da OCDE acabou se transformando num cortejo fúnebre. Os visitantes foram de autoridade em autoridade para lamentar iniciativas recentes patrocinadas pela turma do abafa. Coisas como a lei de abuso de autoridades, o fim da prisão na segunda instância e o congelamento das investigações municiadas com dados do antigo Coaf. A atmosfera é de velório.

O velório reúne gente importante. Seguram a alça do caixão Jair Bolsonaro, o Centrão, o PT… O Supremo envia uma sequência de coroas de flores enquanto prepara a última pá de cal. Ela virá na forma da anulação de sentenças.

A morte às vezes funciona como um grande despertar. Mas a sociedade brasileira emite sinais de cansaço. Um cansaço que se parece com saudade de quem não teve a oportunidade de dizer adeus.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

BRASIL — O PAÍS ONDE A SOPA POUSA NA MOSCA


O recesso parlamentar terminou oficialmente na última quarta-feira, mas os congressistas só devem retomar suas atividades na semana que vem — e no dia 6, pois, como se sabe, suas excelências só trabalham de segunda a quinta. 

A expectativa é de que seja dada prioridade à PEC Previdenciária, que ainda precisa ser votada em segundo turno na Câmara e em dois turno no Senado, mas políticos da esquerda estão mais interessados em defenestrar Bolsonaro do Palácio do Planalto. 

Entre os motivos capazes, segundo essa caterva, de fundamentar o pedido na Câmara estão o uso de aeronave da FAB para transportar familiares do Presidente ao casamento de zero três, a exoneração de um fiscal do Ibama que multou Bolsonaro em 2012 por pesca irregular, a infeliz declaração sobre o desaparecimento do militante de esquerda Fernando Santa Cruz, a alegada ameaça de prisão feita ao dono do panfleto proselitista The Intercept e os episódios em que o capitão se referiu ao governadores nordestinos como “paraíbas” e respondeu ironicamente às perguntas de jornalistas sobre o massacre ocorrido durante motim em presídio do Pará.

Se o impeachment tem chances reais de prosperar, bem, cabe ao presidente da Câmara arquivar ou dar seguimento a pedidos de impedimento do chefe do Executivo, e de bobo Rodrigo Maia não tem nada. Vale lembrar que o impeachment é um processo eminentemente político e em certa medida traumático, sobretudo em meio a uma polarização acirrada — basta lembrar o furdunço causado pelas "flechadas" de Janot contra o ex-presidente Temer. Outra crise daquela magnitude não faria bem nenhum ao Brasil, especialmente quando urge liquidar a novela da Reforma da Previdência e adotar outras medidas que contribuam para o combate à recessão e à volta do crescimento da Economia.

No Congresso, a corrente majoritária prefere esperar que a relação do Palácio do Planalto com os parlamentares se desgaste ainda mais, mas uma parcela da oposição entende que um pedido de impeachment na gaveta de Maia poderia servir, no mínimo, para constranger Bolsonaro a arrefecer seus “ímpetos autoritários”. Também pesa na discussão o fato de o vice ser Hamilton Mourão — olhando por esse ângulo, talvez a coisa não fosse menos ruim, mas setores mais à esquerda rejeitam veementemente o general. Para alguns, uma alternativa melhor seria o TSE cassar a chapa Bolsonaro/Mourão, já que uma investigação da denúncia de que empresários bancaram o envio em massa de mensagens pelo WhatsApp para beneficiar a campanha de Bolsonaro vem sendo cozinhada em banho-maria naquela Corte. 

Também nesse caso não custa olhar pelo retrovisor: O mesmo expediente foi tentado contra Temer, que escapou da cassação graças aos préstimos do amigo Gilmar Mendes, então presidente da nossa mais alta corte eleitoral, que transformou o julgamento numa palhaçada monumental (segundo se comentou à época, a absolvição se deu “por excesso de provas”). A ministra Rosa Weber preside o TSE até maio do ano que vem, quando Luiz Roberto Barroso assumirá o posto pelo próximo biênio.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

NOVAS PUBLICAÇÕES DA VAZA-JATO E OUTRAS CONSIDERAÇÕES


Em pareceria com o site ultraesquerdista de Glenn Greenwald, a Folha soltou neste domingo mais uma leva de “mensagens tóxicas” atribuídas a Sérgio Moro e procuradores da Lava-Jato. Desta vez a acusação é de que foram discutidas estratégias para vazar informações sigilosas da delação da Odebrecht sobre a Venezuela durante o recrudescimento do regime de Nicolás Maduro

Pegando carona nesse circo de horrores, o oráculo de festim Datafolha — cujas sondagens eleitorais feitas em 2018 apontavam para a vitória do fantoche de Lula sobre Bolsonaro e a eleição da ex-presidanta Dilma para o Senado por Minas Gerais — ora afirma que seus mapas astrais indicam que 58% dos entrevistados que tiveram conhecimento dos diálogos de Moro com os procuradores da Lava-Jato reprovam a conduta do hoje ministro da Justiça. Talvez as entrevistas tenham sido realizadas defronte ao Instituto Lula ou ao Sindicato dos Metalúrgicos de SBC, mas para a maioria dos analistas políticos, palpiteiros de plantão e assemelhados, os ataques a Moro fizeram crescer a sua popularidade e habilitaram-no a disputar (com chances reais de vencer) a eleição presidencial em 2020. Josias de Souza escreveu em sua coluna do último dia 2 que, ao apontar supostos excessos do ex-juiz, o PT e as legendas que gravitam na órbita de Lula ainda não notaram, mas estão fabricando um adversário político de grande potencial, criando um pesadelo do qual talvez tenham dificuldades para acordar mais tarde.

A revista Veja, que ora engrossa a ala do replicadores do material vazado pelo Intercept — proveniente de uma “fonte anônima” —, publicou na edição desta semana uma longa matéria de capa assinada por Glenn Greenwald, Edoardo Ghirotto, Fernando Molica, Leandro Resende e Roberta Paduan. Esse pool de repórteres investigativos afirma que uma nova leva de diálogos demonstram que Moro alertou Dallagnol para o fato de o MPF não ter incluído uma informação considerada importante por ele na denúncia de um réu, e a partir daí “investiga” julga e condena o procedimento do ex-juiz na condução dos processos da Lava-Jato em Curitiba.

No editorial, a revista assegura que, ao contrário daqueles que fomentam o ódio ou se aproveitam dele, seus compromissos não são com pessoas ou partidos, que sempre foi — e continua — a favor da Lava-Jato, que a luta contra a corrupção tem sido um dos pilares de sua história, mas que os diálogos publicado nessa edição violam o devido processo legal, pedra fundamental do estado de direito e, portanto, como veículo de mídia responsável, não pode apoiar posturas como essa. A meu ver, sua mudança de viés jornalístico não demora a refletir no número de assinantes — entre os quais se inclui este obscuro articula — , que tende a se igualar em breve ao de eleitores do PSTU ou do PC do B. O que é uma pena, pois Veja sempre foi implacável com os crimes cometidos por Lula e pelo PT, como comprovam as dezenas de matérias de capa publicadas ao longo das últimas décadas, sem mencionar a famosa entrevista com Pedro Collor, publicada em 1992, que foi decisiva para o impeachment do ex-caçador de marajás de araque, hoje senador pelo PTB de Alagoas, réu na Lava-Jato e aliado de Lula

Dora Kramer, cuja coluna quase sempre vale a leitura, pondera que a nova leva de mensagens “toxicas” requer uma avaliação diferenciada sobre a repercussão na decisão a ser tomada pelo STF sobre a suspeição dele no caso Lula/triplex e na reação da opinião pública. A reportagem feita em parceria com o site Intercept não “bate” da mesma maneira nesses dois ambientes. Na Justiça, pode ser que os diálogos influenciem a posição dos ministros — embora o voto do decano Celso de Mello, considerado crucial, já estivesse pronto antes da publicação desta sexta-feira, 5, sempre pode haver mudanças de posições até a decretação do resultado do julgamento. Além disso, diz Dora, a situação de Moro pode se complicar, não porque as mensagens mostrem produção de provas falsas, mas devido à evidência de que o juiz teria atuado como ministro de instrução, figura inexistente na nossa legislação.

Já na opinião pública, e aqui entramos no terreno político, nada indica que possa haver maiores danos além dos já provocados entre aqueles que questionam a posição de Moro desde que ele aceitou ser ministro da Justiça. Seu núcleo de apoiadores mais fiéis não se abala com isso. Ao contrário, ignora o valor dos ritos legais e celebra o papel de justiceiro. Esses dois agrupamentos não “conversam” entre si. 

Um Moro popular não significa um Moro imune à lei — Lula é popular e está preso com mais de dez processos nas costas. Não há, por isso, risco a “desmonte” da Lava-Jato semelhante ao que ocorreu com a operação Mãos Limpas na Itália. De certo, conclui a jornalista, temos apenas o fato de que Moro não poderá ambicionar uma vaga no STF, e que, se quiser seguir na vida pública, sua única opção é a via político-partidária-eleitoral, cujos desmandos combateu como juiz.

Vamos ver até onde essa merdeira vai chegar.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

A CAÇA ÀS BRUXAS — CONSIDERAÇÕES SOBRE O SEGUNDO EPISÓDIO DA SÉRIE


Interrompo a sequência sobre os processos de Lula para fazer mais algumas considerações sobre o “circo marimbondo” do Intercept e o show de horrores protagonizado na terça-feira por parlamentares de esquerda que, como eu disse no post anterior, não valem o que comem, muito menos o que lhes pagamos para, supostamente, nos representarem. E o mesmo raciocínio se aplica a alguns “monstros sagrados” da imprensa — esses, felizmente, não pagamos diretamente —, que botam lenha nessa fogueira insana, bem como a conspícuos membros da nossa mais alta corte — estes, infelizmente, são pagos por nós — que, a pretexto de homenagear a Constituição com seu garantismo de araque, contribuem para que criminalistas estrelados, regiamente pagos com dinheiro da corrupção, valem-se de todo tipo de chicanas procrastinatórias para eternizar os processos contra seus clientes.

Todo mundo tem direito a suas opiniões, mas não a seus próprios fatos. Elio Gaspari vem crucificando sistematicamente o ministro Sérgio Moro em suas colunas (bem escritas, mas claramente tendenciosas). Numa delas, e diz acreditar que a permanência do ex-juiz no Ministério da Justiça ofende a moral, o bom senso e a lei da gravidade, que suas conversas impróprias com o procurador Dallagnol enodoaram a Lava-Jato e fragilizaram a condenação imposta a Lula pelo tríplex do Guarujá, e que sua postura arrogante obriga muitos daqueles que gostariam de defendê-lo a fazer papel de bobos.

Josias de Souza nos oferece uma avaliação menos apaixonada e mais realista. Segundo ele, o sistema político brasileiro apodreceu e a Lava-Jato apressou o processo de degeneração. O PT e as legendas que gravitam na órbita de Lula mostram-se incapazes de lidar com o tema da moralidade. Estão fabricando um adversário político de grande potencial. Ao atacar o ex-juiz da Lava-Jato, o petismo e sua turma criam um pesadelo do qual talvez tenham dificuldades para acordar mais tarde. Moro voltou ao Congresso e repetiu na Câmara as explicações que dera dias atrás no Senado. Os deputados foram bem mais agressivos  do que os senadores. O bloco lulista equipou-se para constranger o interrogado. Em termos jurídicos, a inquirição da CCJ da Câmara, a exemplo do interrogatório do Senado, teve importância nula. A relevância da sessão foi política. Os deputados trataram Moro como um ex-juiz suspeito de parcialidade. Não se deram conta de que estavam diante de um potencial candidato.

Observação: O presidente da CCJ, Felipe Francischini, descartou convidar o ministro novamente a participar da comissão. “Na CCJ, nunca mais. Não vai ter Moro na CCJ nunca mais. “Qualquer pedido de convocação não vai prosperar na minha comissão. Eu estarei pessoalmente em cada comissão para tentar obstruir essa convocação.”

Para medir o efeito da agressividade dos deputados é preciso frequentar não o Congresso, mas o boteco. A reputação dos inquisidores de Moro é a soma dos palavrões que inspiram na mesa do bar. Ali, o ex-juiz vai ganhando a cada ataque a aparência de uma alternativa eleitoral.

O Antagonista resume a história de maneira magistral: Há a lanchonete de Gaspari, onde se fala mal de Sergio Moro, e o boteco de Josias de Souza. Os botecos são mais numerosos do que as lanchonetes.

A edição revista e atualizada da caça às bruxas no Senado, não só foi ineficaz para acuar o ministro pelo conteúdo das mensagens atribuídas a ele vazadas por Glenn Greenwald, mas também útil para o ministro falar sobre seu trabalho à frente da pasta e defender o pacote anticrime e anticorrupção que enviou ao Congresso. Houve até espaço para defender, por um breve instante, a reforma da Previdência. Moro foi ajudado pelos argumentos usados pelos senadores que quiseram encurralá-lo. E pelo passado dos senadores. Renan Calheiros, do MDB de Alagoas, tentou implicá-lo a casos em que ele não atuou, como o da JBS, em uma fala que irritou os colegas por ter se demorado mais do que devia. Paulo Rocha reclamou do julgamento do mensalão, em que Moro atuou como magistrado auxiliar, mas o senador do PT do Pará  foi absolvido — o que contraria a tese de perseguição da Justiça contra o partido de Lula. Jaques Wagner criticou a divulgação de gravações feitas de conversas telefônicas do ex-presidente e do sensacionalismo das ações da Lava-Jato. Para tanto, o senador do PT da Bahia teve de recordar que ele próprio foi alvo de uma mandado de busca e apreensão.

As comparações feitas pelo material do Intercept com as gravações de Lula e de outros casos famosos do jornalismo, como o escândalo de Watergate e dos papéis do Pentágono, na imprensa americana, também foi favorável ao juiz. Moro lembrou mais de uma vez que as conversas telefônicas foram autorizadas judicialmente, e o sigilo foi levantado em uma decisão em que ele justificou o ato, não “se escondendo atrás de hackers”, como acusou o site de fazer. Moro aproveitou a comparação com os casos mais famosos de investigação do jornalismo americano para lembrar que tanto a cobertura de atos ilegais do governo Nixon a partir de um arrombamento no conjunto Watergate quanto a divulgação de relatórios de um analista da CIA apontando a impossibilidade de os Estados Unidos derrotarem o Vietnã eram baseados em fontes de informação identificadas. E os jornalistas envolvidos publicavam as informações assim que as recebiam, não anunciando que iriam fazê-lo “a conta-gotas”, como lembrou ser a estratégia do Intercept.

Tendo estabelecido essas diferenças, o ministro repetiu que houve sensacionalismo na divulgação de mensagens que, se verdadeiras, não mostram irregularidades. Robusteceu a tese de que o problema não são as mensagens, mas o ataque de hackers contra integrantes da Lava-Jato, que atuam também para atingir outras autoridades e jornalistas. A defesa da Lava-Jato e de seus resultados acabou por levar a pedidos de atenção ao pacote anticrime que está no Senado. Os parlamentares chegaram a falar com o ministro de outras ações da pasta, como a violência nos presídios do Amazonas ou o problema da imigração venezuelana que estaria tendo impacto na violência em Roraima.

Foram buscar lã, mas saíram tosquiados.

domingo, 30 de junho de 2019

GREENWALD E OS VILÕES REBATIZADOS PELA ODEBRECHT QUE QUEREM ESCAPAR DA CADEIA, PRENDER O XERIFE E ROUBAR O FILME QUE MOSTRA A LADROAGEM



Quando Moro for inquirido na Câmara sobre a troca de mensagens com Dallagnol — cujo processo administrativo disciplinar foi arquivado pelo corregedor nacional do MPF — os parlamentares que apoiam a Lava-Jato deveriam neutralizar os interrogadores mais agressivos com um método simples e eficaz: a cada ataque, um deles recordaria o codinome do atacante no Departamento de Propinas da Odebrecht. Por exemplo: depois da intervenção de Gleisi Hoffmann, algum parlamentar informaria que a pergunta fora feita pela excelentíssima deputada conhecida como Amante ou Coxa. Será divertido ver o efeito do lembrete sobre o ímpeto dos vilões que, como sempre acontece no faroeste à brasileira, querem prender o xerife e roubar o filme. 

(Com Augusto Nunes).

CONVERSA ENTRE ARAPONGAS DO BEM

— E aí, já falou lá no Supremo?

— Sim, a Lula ser inocente e vai estar solta amanhã.

— Que bom. E na Câmara? Tudo certo?

— Eu só ter dúvida se amigas da PT ir botar tapete vermelha pra eu.

— Não exagera. Já tem um palco lindo pra você brilhar e uma imprensa meiga pra te dar todas as manchetes como jornalista investigativo. Se melhorar, estraga.

— Você pensar pequena. Eu querer poder e grana, mas querer prêmia também.

— Vamos focar: o que você vai falar na Câmara?

— Que a Moro ser chefe do Lava-Jato e que isso desmascarar esse operação contra a Lula.

— Deixa só eu te passar uma informação que a gente interceptou aqui: tá saindo um acordo de leniência com devolução de mais de 800 milhões de reais roubados da Petrobras…

— Essa problema não ser minha…

— Claro que não. Mas é coisa da Lava-Jato, podem querer te perguntar sobre isso.

— Elas não vai perguntar de isso.

— Como você sabe?

— Darling, nós só lidar com duas grupos de gente: as comparsas e as otárias. As duas só ir repetir até morte minha mantra: Lavo-Jata ser armação de Mora pra fuck Lula.

— Gênio. Mas só pra te alertar que dessa vez a Lava-Jato conseguiu que os sócios da gangue do Lula indenizem também o governo dos Estados Unidos…

— Minha país ser fascista e estar nas mãos de uma fascista que gosta da Moro porque ser fascista também.

— Incrível, você tem tudo mesmo na ponta da língua.

— Jornalista investigativa ter que saber muita.

— Não te preocupa o STF dar defeito?

— Que defeita?

— Desistir de botar em votação a tal liberdade provisória do Lula.

— Ser ruim, hein?

— Sei não. Uma coisa é tu combinar uma gambiarra dessas no escurinho, outra coisa é botar o carão ali no plenário da suprema corte e mandar uma barbaridade dessas sem cair na gargalhada.

— Elas não ir cair no gargalhada. Elas ser triste, igual nós. Todas que vive fingimento ser pessoa que não é e lutar luta de mentira não rir nunca.

— Pô, também não precisava ser tão sincero… Que baixo astral.

— É isso que eu te falar a tempo toda: ser sincera é uma baixo astral. Melhor ser triste mentindo que ser muito triste falando verdade.

— Agora você falou tudo. Seu português até saiu legal… Aliás, tava pra te perguntar: tanto tempo por aqui, por que você continua falando português como se tivesse chegado ontem?

— Não ter tempo, muito sabotagem pra inventar. E linguagem do fake news ser universal, não precisar aprender esse língua chato.

— Tá certo. Lula também nunca aprendeu. Lula livre!

— Não precisar dessa gritinha ridícula, só ter nós duas aqui.

— Ah, é. Foi mal.

(Por Guilherme Fiúza publicado na Forbes Brasil)

terça-feira, 25 de junho de 2019

GREENWALD E A CONSPIRAÇÃO ANTIRREPUBLICANA



NÃO IMPORTA O QUE VOCÊ SABE, MAS SIM O QUE VOCÊ PODE PROVAR.

O julgamento do pedido de habeas corpus de Lula no processo do tríplex  aquele em que o petista já foi condenado em três instâncias deve ser concluído somente no segundo semestre. Devido ao recesso de meio de ano, as sessões ficarão suspensas até agosto, e por ser o HC do petralha o último item da pauta desta terça-feira, e só o voto do ministro Gilmar Mendes ter nada menos que 40 páginas, a avaliação é de que não haveria tempo de encerrar o julgamento nesta sessão, que é última antes do recesso.

A defesa do molusco pede tratamento diferenciado a seu cliente, alegando que ele é idoso e está preso há mais de 400 dias. Em nota, Cármen Lúcia esbanjou mineirice ao salientar que “todo processo com paciente preso tem prioridade legal e regimental, especialmente quando já iniciado o julgamento, como nos casos de vista, independente da ordem divulgada.” Portanto, façam suas apostas e confiram no final da tarde "o que deu no poste".

Como bem lembrou Josias de Souza em sua coluna, esse julgamento foi interrompido em dezembro por um pedido de vistas de Gilmar Mendes, depois que os ministros Fachin e Cármen Lúcia votaram contra o pedido da defesa. Gilmar e Lewandowski certamente votariam a favor, restando ao ministro Celso de Melo proferir o voto de desempate. Gilmar não pretendia devolver a encrenca à pauta antes do segundo semestre. Adiantou o relógio depois que vieram à luz as primeiras mensagens vazadas pelo site The Intercept Brasil, que a defesa do petralha rapidamente empurrou para dentro dos autos. Inicialmente, os advogados do molusco alegava que a migração de Moro da 13ª Vara Federal de Curitiba para a Esplanada confirmara o viés político das decisões do ex-juiz; agora sustentam que as mensagens arrancadas do aplicativo confirmam a alegada falta de isenção do ex-magistrado.

Observação: Na semana passada, numa de suas participações no Jornal da Gazeta, José Nêumanne comentou que em entrevista a Mônica Bergamo, da Folha, e Florestan Fernandes, do El Pais, no dia 26 de abril, Lula garantiu que iria “desmascarar o Moro e o Dallagnol.” Omitiu na entrevista como o faria, mas foi nitidamente um spoiler no mínimo suspeito — a exemplo do pedido de vistas de Gilmar, após os votos de Fachin e Carmen Lúcia, e a liberação dos autos logo depois que as denúncias vazadas pelo The Intercept ganharam as manchetes dos jornais. Tire o leitor suas próprias conclusões.

Antes de decidir se Moro foi ou não parcial e se Lula é ou não um injustiçado, as togas supremas terão de informar se as mensagens podem ou não ser admitidas como prova. Para Mendes, a origem ilícita de uma prova não impede que seja usada em benefício de condenado sem culpa. O diabo é que as mensagens podem ter sido adulteradas. Quer dizer: o STF agora precisa decidir duas questões preliminares antes de entrar no mérito da causa: 1) Prova obtida de forma criminosa vale?; 2) Se valer, o lote de mensagens pode ser tomado como autêntico sem uma perícia capaz de afastar a alegada hipótese de adulteração?

Para complicar, os textos chegam às manchetes em ritmo de conta-gotas. Julgar num ambiente assim seria algo tão seguro quanto sapatear em areia movediça. Melhor adiar do que cometer o crime da precipitação. O Supremo nunca teve pressa para julgar réus da Lava-Jato que desfrutam do privilégio do foro especial. Condenou um mísero e escasso denunciado. Não seria razoável que resolvesse apressar o passo justamente na apreciação de um habeas corpus que pode resultar na absolvição duvidosa de Lula — um corrupto condenado em primeira, segunda e terceira instâncias, cuja prisão foi avalizada pela maioria do plenário do próprio STF. Dizia Rui Barbosa que "justiça tardia não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta", mas nada seria mais apropriado no momento do que adiar o julgamento do pedido de suspeição formulado pela defesa de Lula contra Moro.

Não fossem Lula, Sérgio Moro e Deltan Dallagnol os envolvidos, o “material bombástico” que vem sendo divulgado em doses homeopáticas pelo site esquerdista The Intercept Brasil produziria as mesma consequência de um peido num vendaval. Ocorre que parte da mídia, dos analistas políticos e de juristas das horas vagas se alinhou à imprensa “cumpanhêra” e comprou alegremente a narrativa construída com indiscutível parcialidade pelo americano Glenn Greenwald — que acontece de ser marido do deputado David Miranda, do PSOL-RJ — e seus asseclas. O propósito salta aos olhos: demonstrar que as supostas mensagens trocadas entre o ex-juiz da Lava-Jato e o coordenador da força-tarefa em Curitiba comprovariam de maneira cabal o grande conluio contra o sumo pontífice da seita do inferno, exterminador do plural, parteiro do Brasil Maravilha e deus pai da Petelândia.

Tudo que foi ventilado pelo Intercept até o momento não passa de um amontoado de coisa alguma, uma coletânea de diálogos curtos e fora do contexto onde foram pinçados. Isso para não mencionar que "material bombástico" foi obtido de forma ilícita (hackeamento digital), e que, no mundo dos ilícitos, criar diálogos para corroborar narrativas não é nada incomum.

Greenwald diz que há muito mais a ser revelado — mais do mesmo que foi mostrado até aqui, provavelmente, retocado com as cores vibrantes de uma reinterpretação ideológica por “repórteres” incapazes de disfarçar suas militâncias, e que, ávidos por revelar uma “grande conspiração conservadora”, ignoram tudo que deveriam ter aprendido na faculdade sobre a razoabilidade das fontes e a neutralidade jornalística. Demais disso, conversas entre promotores, procuradores e juízes são comuns — talvez não devessem ser, mas isso não é outra história. E, de novo: não fossem os envolvidos quem são, esse assunto não mereceria mais que uma nota de rodapé.

As mensagens vazadas não são denúncias. São pedaços de supostas realidades coladas com fita crepe a um aglomerado de narrativas partidárias. O Intercept não pode apontar ou imputar crimes sem ter deles provas reais, e ainda que as tivesse, a obtenção por meio ilícito desqualificaria seu uso nos tribunais. O próprio Greenwald procurou a Rede Globo para divulgar o material de forma conjunta, mas, à ausência da credibilidade das fontes e da legalidade do conteúdo, a Venus Platinada bateu-lhe a porta nas fuças. Reinaldo Azevedo, dono de uma empáfia à toda prova, travestiu-se de paladino da Justiça e acabou pagando mico: a "informação bombástica" que ele divulgou no último dia 20 — de que a Lava-Jato, seguindo orientação de Sergio Moro, teria afastado a procuradora Laura Tessler de audiências — era fake news e foi prontamente desmentida pela força-tarefa.

Os procuradores, através de nota, afirmam que "além de desrespeitosa, mentirosa e sem contexto, a publicação de Reinaldo em seu blog não realizou a devida apuração que, por meio de simples consulta aos autos públicos acima mencionados, evitaria divulgar movimento fantasioso de troca de procuradores para ofender o trabalho e os integrantes da força-tarefa". Ainda segundo a nota, Laura participou de audiência em 13 de março de 2017, sobre o ex-ministro Antônio Palocci, e em todas as subsequentes do caso, realizadas nos dias 14, 15, 21 e 22 de março. A nota diz também que a publicação do Intercept Brasil é tendenciosa e que "tentou criar artificialmente uma realidade inexistente para dar suporte a teses que favoreçam condenados por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava-Jato".

Sobre Reinaldo Azevedo, a força-tarefa afirma que "a suposta versão, que não resiste a uma mínima análise crítica diante dos fatos públicos, indica que a fábrica de narrativas político-partidárias baseadas em supostos diálogos sem autenticidade e integridade comprovadas somente leva à perda de credibilidade de quem delas se utiliza sem a devida apuração", que a notícia é "rasa, equivocada e sem checagem dos fatos", e que a atuação de Laura sempre foi "firme, técnica e dedicada" e contribuiu decisivamente para a condenações importantes. Para finalizar, a nota afirma que "não houve qualquer alteração na sistemática de acompanhamento de ações penais por parte de membros da força-tarefa; os procuradores responsáveis pelo desenvolvimento de cada caso acompanharam as principais audiências até o interrogatório, não se cogitando em nenhum momento de substituição de membros, até porque todos vêm desenvolvendo seus trabalhos com profissionalismo, competência e seriedade".

Notícia bombástica mesmo foi o furo jornalístico publicado por Lauro Jardim, em maio de 2017, que trouxe a lume conversas nada republicanas mantidas nos porões do Jaburu, na calada da noite, pelo então presidente Temer e o moedor de carne bilionário Joesley Batista, cuja pronta repercussão levou ao esvaziamento do Congresso e sitiou no Palácio do Planalto o presidente da República. Enfim, uma galinha até consegue voar, mas jamais será um condor-dos-andes.

sábado, 25 de maio de 2019

AINDA SOBRE AS MANIFESTAÇÕES DE DOMINGO



Sobre as manifestações marcadas para amanhã — assunto que discutimos ad nauseam no post de ontem —, escreveu o jornalista Augusto Nunes:

Nesta segunda-feira (20), publiquei no Twitter a seguinte constatação: “As manifestações do dia 26 terão significado histórico se provarem que os brasileiros aprenderam a mobilizar-se em torno de ideias. As ruas devem exigir do Congresso a votação, sem delongas malandras, do projeto da Nova Previdência, da Lei Anticrime arquitetada por Sergio Moro e da medida provisória da reforma administrativa, que abrandou a farra dos ministérios”. Em resposta, descontado um punhado irrelevante de comentários subscritos por cretinos fundamentais, centenas de brasileiros informaram que são exatamente essas as bandeiras que pretendem desfraldar no próximo domingo. Abstraídos os cretinos de sempre, os manifestantes reiteraram que não pretendem fechar o Congresso, nem exterminar o Supremo, muito menos transformar Jair Bolsonaro num Nicolás Maduro na contramão. O que eles querem é que deputados e senadores façam alterações que não desfigurem o projeto de Paulo Guedes e removam de vez essa pedra gigantesca colocada no caminho que encurta a chegada ao porto seguro.

É fato que declarações infelizes e tuítes desastrados do presidente dificultam o diálogo com o Legislativo. Mas também é fato que não melhoram em nada as relações entre os dois Poderes a estupidez do PT  que aposta no quanto pior, melhor  e a batalha travada pelo Centrão pela captura de cargos, verbas e cofres públicos. Não existe democracia sem Poder Legislativo. Mas a democracia será sempre uma caricatura com um Congresso infestado de delinquentes decididos a anular a revogação de privilégios contida na nova Previdência, bloquear o aperfeiçoamento do combate à corrupção e ao crime organizado desenhado pela Lei Anticrime de Sergio Moro e emparedar o Executivo com a recriação de ministérios inúteis extintos pelo atual governo.

Há poucos dias, manifestações contra quaisquer reformas foram tratadas como outra evidência de que o Brasil é um país democrático. Merecem o mesmo tratamento as manifestações do próximo domingo, desde que se limitem a desfraldar as bandeiras da nova Previdência, da Lei Anticrime e da reforma administrativa. “O Congresso sempre acaba fazendo o que o povo quer”, repetia o gaúcho Ibsen Pinheiro, que presidiu a Câmara durante o processo de impeachment de Collor. Já começou a fazer: nesta terça-feira, o Centrão resolveu desistir da ressurreição de ministérios e aprovar a MP que reformou a administração federal. Uma das três grandes reivindicações já foi atendida. As outras o serão assim que deputados e senadores ouvirem o rugido das ruas.

Na Gazeta do Povo, escreveu Guilherme Fiúza:

Não há novidade alguma na obsessão brasileira pelo fracasso. Você não precisa ler nenhum sociólogo de passeata para constatar o fenômeno. Cada passo à frente corresponde a uns dez para trás e andar de lado é progresso arrojado. Por uma razão miseravelmente simples: tacar pedra, aqui, é salvo-conduto. Por que trabalhar dobrado para construir, num lugar onde destruir é muito mais charmoso e bem mais fácil? Você está cansado de saber que, numa nação infantilizada, fazer cara de nojo para o governo é sucesso garantido. Arregaçar as mangas pelo bem comum e correr o risco de tomar uma chapa branca na testa? Deixa de ser otário.

Esse componente tão dramático quanto corriqueiro do caráter nacional já deu as caras, sem a menor inibição, inúmeras vezes. Uma das mais impressionantes se deu logo após a eleição de Lula, em 2002. Desafiado publicamente por Pedro Malan a esclarecer se sua plataforma era a demagogia dos calotes e bravatas contra a elite malvada ou o cumprimento de contratos e a responsabilidade fiscal, Lula se comprometeu com a segunda opção. E cumpriu. Iniciou seu governo com uma equipe econômica de alto nível, chefiada por Antonio Palocci cuja gestão foi reconhecida por dez entre dez expoentes do setor e Henrique Meirelles no Banco Central. Estavam dadas as condições para um novo ciclo virtuoso, depois das crises de energia (doméstica) e da Rússia (internacional) que travaram na virada do século a linha ascendente do Plano Real. Lula era um líder popular mostrando senso de pragmatismo para unir a estruturação econômica e o resgate social enfim, para unir o país. E o que fez o país? Fez o que faz sempre: sabotou. A fritura de Palocci não demorou a começar e vinha de todos os lados (isso te lembra alguma coisa?). Corneteiros e cassandras brotavam no meio empresarial, na imprensa, nas artes, na política inclusive no PT, o partido governante. Aliás, os tucanos fizeram a mesma coisa com Fernando Henrique e Malan porque, como já foi dito, aqui fazer cara de nojo para governo é investimento. Mesmo se você estiver no governo.

O Plano Real triunfou apesar dos tucanos, que até o apoiaram majoritariamente na decolagem (covardia não é burrice), mas atrapalharam tanto no nascedouro quanto na sustentação. Malan passou oito anos sendo demitido na imprensa e adivinha a origem dessas sementinhas? Uma equipe de abnegados executou o maior plano econômico da história enquanto o presidente era chamado todo dia de elitista, neoliberal (o fascista da época) e reacionário por ter se aliado a Antonio Carlos Magalhães, o Toninho Malvadeza. Identificou o padrão?

Voltando a Lula, aquela configuração que prometia unir o país (haha) logo virou tiro ao alvo: MST querendo mais grana, PT querendo mais cargo, PSOL nascendo para sua vida gloriosa de virgem do puteiro, tucano querendo o poder de volta, empresário “moderno” querendo dinheiro de graça e fritando o ministro da Fazenda que buscava a modernização. O vice-presidente, que era empresário, atacava dia sim, outro também, a política macroeconômica do seu próprio governo. Crise, teu nome é Brasil.

Observação: Direto da cadeia, em entrevista a um site, o demiurgo de Garanhuns explica que os 13 milhões de desempregados, a maior roubalheira da história, a crise econômica e outros desastres que ele próprio produziu em parceria com a anta que o sucedeu ocorreram nos últimos quatro meses: “A verdade é que nos governos petistas as pessoas mais pobres subiram um degrau na escala social começaram a entrar na universidade, frequentar restaurante, frequentar aeroporto e isso começou a incomodar a elite brasileira. Esse legado está sendo destruído. Bolsonaro está há quase cinco meses no governo e ninguém escuta falar em crescimento, desenvolvimento, investimento ou geração de renda. O país está abandonado. Só se fala em cortes orçamentários”.

Pausa para o leitor vomitar e se recompor.

Segundo vários representantes da intelectualidade nacional, o presidente dos pobres estava vendendo a alma ao diabo. Veríssimo se declarava decepcionado com a adesão de Lula ao superávit primário… (parece piada, e é, mas aconteceu). O país só se acalmou quando conseguiu interromper essa gestão virtuosa e abrir caminho para o maior assalto da história. Aí sobreveio uma década de paz. Em meio à roubalheira e à depravação institucional, não se viu nem passeata cenográfica pela educação. Pega daí, caro leitor: boa equipe, chance de reconstrução, cara de nojo, decepção… Só continua chamando isso aqui de nação quem confunde rima com solução.
Nota antropológica: FHC e vários outros que combateram a praga nacional dos falsos virtuosos hoje estão na orquestra da crise. Que lugar está reservado para esses personagens na história do Brasil? Pergunta no Posto Ipiranga.

Antes de concluir, um texto de Carlos Brickmann e mais algumas ponderações:

Lá vão os olavetes/em louca arrancada/xingando o inimigo/tinindo as espadas. Para que? Para nada”. Mas esta paródia dos Cavaleiros de Granada, de Cervantes, não é exata: em vez de “para nada”, pode ser “para o desastre”. A manifestação deste domingo, parece, é contra os políticos, o Supremo, os manifestantes da semana passada. A marcha pode ser um êxito, pode dar para o gasto, pode fracassar. Se fracassar, será péssimo para o presidente. Se apenas der para o gasto, será ruim para o presidente. Se tiver êxito, hostilizará entidades de que Bolsonaro precisará para que seu Governo siga em frente: do Congresso, por exemplo, depende a reforma da Previdência, depende a aprovação do projeto anticrime de Moro. E depende o crédito extraordinário para que o Governo aguente os gastos até o fim do ano.

Neste momento, boa parte do Governo está desnorteada. Moro funciona, embora mais fraco. Ministros como o da Infraestrutura e a da Agricultura vão bem. E Paulo Guedes é a esperança de que volte o crescimento na economia, gerando algum emprego. No mais, quem cuida da casa é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (que se articula com Guedes), aliado ao Centrão, dois dos alvos da marcha. Se o Centrão e Maia cruzarem os braços, haverá vácuo de poder, e como o poder abomina o vácuo, a lacuna será logo preenchida por alguém. Bolsonaro, se a manifestação der muito certo? Talvez. Mas Collor tentou e, ao falhar, selou sua queda. Jânio tentou e voltou, mas só como prefeito, quase 30 anos depois (detalhes na minha postagem da última quinta-feira).

Observação: Collor apostou todas as fichas numa manifestação em que todos deveriam vestir verde e amarelo. Quem foi, foi de preto. Itamar era desconhecido, mas a aposta foi nele (e o vice acabou sendo bom presidente). O vice de Jânio era João Goulart, que despertava desconfiança nas Forças Armadas e na classe média. Mesmo assim, Jânio não teve apoio. Já Bolsonaro tem um vice militar, bem visto por seus colegas, e que surpreendeu boa parte da opinião pública por seu bom senso. Os bolsonaristas mais radicais poderiam ouvir companheiros como o presidente do PSL, partido de Bolsonaro, ou Janaína Paschoal, bolsonarista e autora do pedido de impeachment de Dilma. Ambos têm sérias dúvidas sobre o que o presidente pode ganhar com a manifestação.

Jornais, TV, rádio e Internet se referem ao ato como “protesto a favor de Bolsonaro”. Brickmann diz ser do tempo em que protesto só podia ser contra. Relembra a primeira briga de Bolsonaro com seu até então amigo de fé Gustavo Bebianno, que culminou com a demissão do ministro que tinha sido o chefe de sua campanha. Bebianno marcou audiência com o vice-presidente de Relações Institucionais da Globo, e Bolsonaro, furioso por não admitir que inimigos fossem recebidos no palácio, mandou-o suspender a reunião. Pois é: ontem, Bolsonaro recebeu no palácio o vice-presidente de Relações Institucionais da Globo, o mesmo Paulo Tonet Camargo, em companhia do ministro Onyx Lorenzoni e do empresário de comunicações Vicente Jorge Espíndola Rodriguez. Nada como um dia depois do outro (e bons contatos).

Resumo da ópera: Uma parte dos apoiadores de Bolsonaro encara o protesto como um chamado do presidente. O problema é que, qualquer que seja o cenário, os atos embutem risco para o próprio Bolsonaro e para o governo. Mas nada que chegue perto das teorias conspiratórias propaladas nos últimos dias. Na história do Brasil, golpes sempre foram acompanhados de uma conjunção de fatores a sustentá-los. A começar pelo apoio das Forças Armadas, de setores importantes da economia — e de protagonistas do próprio parlamento. O grito das ruas, ou de parte dela, nunca foi suficiente. Ainda que quisesse, o que não parece um dado concreto a ser considerado, não há sinais de que Bolsonaro conte com o mix de fatores pré-golpe que a história não deixa esquecer. Portanto, o risco de ruptura institucional difundido em discursos e análises se mostra um evidente exagero. Assim como parecem exageradas as leituras de que o impeachment é algo que pode estar tão perto quanto a próxima esquina.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

LULA ESTÁ PRESO, BABACA!



No que interessa ao PT e à legião de crentes na injustiça da prisão de Lula, a decisão do STJ de reduzir a pena aplicada no processo do tríplex do Guarujá é um fator que não altera a ordem do produto. Do ponto de vista do mote “Lula livre”, nada mudou. Lula teria direito, daqui a algum tempo, a pleitear o regime para o semiaberto.

O detalhe — e o diabo, dizem, mora nos detalhes — é que o ex-presidente responde a outros seis processos e já foi condenado nem deles a mais 12 anos e 11 meses de prisão. A ação se encontra em grau de recurso, e se a tramitação seguir o ritmo das apelações da Lava-Jato já julgadas pelo TRF-4, a decisão pode ser conhecida ainda este mês. Caso se repita a velocidade com o Regional julgou especificamente o caso do tríplex, o acórdão sai em agosto — antes, portanto, de Lula ter cumprido 1/6 da pena, o que é condição sine qua non para pleitear a progressão para o semiaberto (ao reduzir sua pena, o STJ antecipou para meados de setembro a data em que lhe será possível solicitar progressão de regime à juíza Carolina Lebbos, responsável pelas decisões sobre sua custódia). Mas mesmo que seja autorizado a sair do confinamento para trabalhar durante o dia, ele não poderia fazer política, e como não exerce desde os anos 1980 a função de torneiro mecânico e é desprovido de qualquer outra especialidade conhecida, precisaria encontrar uma nova função em que fosse, senão especialista, ao menos aprendiz (talvez aplicar golpes e velhinhas ou bater carteiras).

Lula sempre manipulou habilmente as declarações alheias. Agora, falseia até suas próprias afirmações. Na sua primeira entrevista como presidiário, declarou: "Não trocarei a minha dignidade pela minha liberdade." Na segunda entrevista, dessa vez ao jornalista Kennedy Alencar, ajustou o discurso para admitir o óbvio: equipa-se para solicitar a progressão de regime que levará à abertura de sua cela. "Obviamente, quando os meus advogados disserem ´Lula, você pode sair´, eu vou sair. Só sairei daqui se qualquer coisa que tiver que tomar decisão não impedir de eu continuar brigando pela minha inocência." Ainda que desejasse, o molusco não poderia trocar a dignidade pela liberdade, até porque não se pode oferecer, em troca de alguma coisa, algo que não se tem. Se algum dia Lula teve alguma dignidade, ela se perdeu quando ele cometeu os crimes que o levaram à prisão.

Observação: A alegada "inocência" de Lula perdeu o prazo de validade quando sua culpa foi ratificada na terceira instância do Judiciário. Mas ao dizer que não abre mão de "continuar brigando", o preso como que desmente afirmações anteriores, nas quais tratava o Judiciário como parte de um grande complô político.

Fato é que o petralha não dá sinal de que esteja desconfortável no quarto com televisão e água quente da Polícia Federal em Curitiba, diferentemente de vários de seus parceiros obrigados a conviver com a cadeia dos comuns. Em casa, abdicaria da condição de “preso político”, teria de fazer frente às cobranças por reativação do PT e responder às necessidades do partido no exercício de uma oposição fragmentada e desarticulada. De onde está, nada lhe é cobrado.

Lula costuma dizer que, quando puder, voltará a percorrer o país. Talvez não tenha a oportunidade de expor seu discurso desconexo a plateias companheiras cada vez menores. Como dito linhas atrás, está a caminho uma segunda condenação em segunda instância, no caso do sítio de Atibaia. Somando-se as penas, ele voltará para o regime fechado antes de se acostumar com as vantagens do semiaberto ou os confortos da prisão domiciliar. Melhor seria se voltasse para o buraco imundo de onde jamais deveria ter saído, mas aí já é querer demais.



Com Dora Kramer e Josias de Souza

quarta-feira, 6 de março de 2019

CONSIDERAÇÕES E LUCUBRAÇÕES DE QUARTA-FEIRA DE CINZAS



O atentado contra o então candidato Jair Bolsonaro completa hoje seis meses, e até o momento não há evidência da participação de outras pessoas além de Adélio Bispo de Oliveira, o esfaqueador misterioso. 

Depois que o ministro Sérgio Moro, a cúpula da PF e o delegado responsável pela investigação se reuniram com o presidente, divulgou-se que o próximo passo seria seguir o dinheiro, já que quem quer que esteja bancando os honorários do batalhão de advogados que defendem o criminoso deve ter tido interesse direto no atentado. Surpreendentemente, o desembargador Néviton Guedes, do TRF-1, atendendo um pleito da OAB, determinou a suspensão da investigação que realizou buscas no escritório do advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, o principal coordenador da defesa de Bispo, paralisando, consequentemente, a investigação.

Longe de mim fomentar teorias conspiratórias, mas me chama a atenção o fato de OAB ser presidida atualmente por Felipe Santa Cruz, que tem fortes laços com políticos do PT, de o desembargador Néviton Guedes, que foi nomeado para o cargo pela anta sacripanta Dilma Rousseff, ter suspendido, tempos atrás, os interrogatórios de Lula e Luleco na Operação Zelotes e derrubado a decisão do juiz federal Ricardo Leite, que impedia o funcionamento do Instituto Lula, além de ser crítico figadal da Lei da Ficha-Limpa.

Adélio era servente de pedreiro e tinha duas passagens pela polícia. Em agosto de 2013, ele tentou invadir a casa da sogra para agredir a ex-esposa. Em outro boletim de ocorrência, lavrado no mesmo ano, ele e outro homem brigaram e trocaram tapas e socos. Além disso, ele teria publicado nas redes sociais, nos meses que antecederam o atentado, diversas mensagens de ódio contra Bolsonaro, numa das quais pedia “pena de morte” ao presidenciável, a quem chamava de “traidor”, “judas”, e por aí afora. Entre 2007 e 2014, ele foi filiado ao PSOL de Uberaba (MG), e incentivava protestos na cidade. Também chegou a participar de manifestações contra a corrupção na cidade e em Brasília, em frente ao Congresso Nacional. Publicou ainda imagens de pessoas que defendem a liberdade do ex-presidente Lula.

Mas tudo isso é de somenos. As perguntas que não querem calar são: Quem é, de fato, esse sujeito? O que, realmente, o motivou a atentar contra a vida de Bolsonaro? E mais: quanto ganha um servente de pedreiro e em quanto montam os honorários da banca de advogados que ora lhe presta assistência jurídica?

É o que vamos tentar responder na próxima postagem, que hoje é quarta-feira de cinzas, dia de meio expediente e, consequentemente, de “meia postagem”.  

domingo, 3 de março de 2019

SOBRE O PT E A VENEZUELA



Em certas horas, como agora, é realmente um alívio lembrar que o presidente da República não é Fernando Haddad.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, na guerra que vem travando contra a maioria da população do seu próprio país, fechou as fronteiras com o Brasil e a Colômbia para não deixar que os venezuelanos recebam alimentos, remédios e outros artigos de primeiríssima necessidade.

É um novo patamar, ao que parece, em matéria de brutalidade. Da mesma maneira que um exército trata de cortar todos os possíveis suprimentos da força inimiga, os militares, as “milícias” armadas e os outros gangsteres que mandam hoje na Venezuela acham que quanto mais fome, doença e calamidades os venezuelanos sofrerem, mais fraca vai ficar a oposição. Pode ser. Pode não ser. O fato é que o governo do Brasil estaria dando apoio pleno a Maduro se o resultado do segundo turno da eleição tivesse sido o contrário do que foi.

Muito se ouviu falar da situação perigosíssima que teria sido criada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro — que antes mesmo de ser eleito já se declarava absolutamente contra a ditadura venezuelana. De lá para cá, pelo menos 50 outros países com credenciais democráticas acima de qualquer discussão tomaram a mesma decisão Maduro nem sequer é mais reconhecido como o presidente legal da Venezuela. Fica difícil entender, então, porque o Brasil estaria numa situação mais segura se tivesse ficado dentro do bando de regimes fora da lei, do ponto de vista democrático, que apoia a tirania lugares como Cuba, Rússia, China e outros da mesma natureza.

A verdade é que a esquerda brasileira em geral e o PT em particular não quiseram até agora reconhecer o fato de que a Venezuela se transformou numa tirania imposta pela força bruta de um condomínio de malfeitores. (Lula chegou a dizer que o verdadeiro problema da Venezuela era ter “democracia demais”.) Por preguiça mental, covardia e simples cobiça, preferiram abraçar a mentira, sempre muito bem remunerada pelas Odebrecht da vida, de que o “bolivarianismo” era um movimento “de resistência à direita”. Daí não conseguiram sair nunca mais.

Condensação do texto de J.R. Guzzo publicado na edição impressa de Veja desta semana

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

LULA, O PACIFICADOR DE ARAQUE


O anúncio oficial da demissão de Gustavo Bebianno demorou mas chegou. No início da noite de ontem, num briefing marcado inicialmente para as 17 horas, mas adiado por duas vezes, o porta-voz da Presidência comunicou oficialmente o desligamento do ministro, com os agradecimentos de praxe por sua dedicação à frente da pasta e votos de sucesso na nova jornada Perguntado sobre o motivo da demissão, Rêgo Barros respondeu que a decisão do Presidente se deveu a “razões de foro íntimo”, e confirmou a informação de que o substituto será o general da reserva do Exército Floriano Peixoto Neto — o oitavo militar a se tornar ministro deste governo. Em tese, a demissão de Bebianno encerra a crise. Na prática, porém, a teoria costuma ser outra. Demais disso, ninguém está conseguindo prejudicar mais o trabalho do governo do que os três filhos do presidente. Para além das intenções de cada um, o que eles vêm fazendo está sabotando o país. Ou Bolsonaro os cala, ou vira um banana completo. Volto a esse assunto na próxima postagem.

Nada como olhar com cuidado cada uma das partes de alguma coisa para se ter uma ideia mais exata do todo. A máquina pública brasileira, como revelam quase todos os dias fatos trazidos à luz do sol, transformou-se durante os treze anos e meio dos governos de Lula e de Dilma no maior pesqueiro privado do mundo para o desfrute de ladrões do erário — era chegar na beira da água, jogar o anzol e sair com uma refinaria para a Petrobras, uma hidroelétrica no Xingu ou mesmo um Trem-Bala, se você fosse uma empreiteira de obras amiga íntima do presidente da República como as Odebrecht, as OAS, as Andrade Gutierrez.

Também podiam rolar duas dúzias de ambulâncias, lanchas para o Ministério da Pesca ou o patrocínio de um show de axé no interior do Nordeste. Roubaram sangue humano dos hospitais, leite das crianças nas escolas e sondas para encontrar petróleo no fundo do mar. Houve quadrilhas operando à toda na venda de livros didáticos para o Ministério da Educação, na entrega de recursos da “reforma agrária” para mais de 30.000 mortos (sem contar 1.000 políticos eleitos), ou na compra, com dinheiro dos fundos de pensão das estatais, de ações de empresas falidas. Pense, em resumo, numa insânia jamais cometida na história mundial da corrupção; haverá precedentes nos governos Lula-Dilma.

Muita gente não tem mais paciência, nem tempo, para ficar olhando de perto cada episódio da roubalheira desesperada dos três governos e meio do PT. Muito justo, até porque a tarefa seria impossível. Mas de tempos em tempos vale a pena ver de novo — ou, mais exatamente, vale a pena separar alguma ladroagem especialmente depravada de todas as milhares que o cardápio Lula-Dilma oferece, e fazer uma espécie de análise clínica mais demorada da patologia que existe ali dentro. Ajuda, como dito no começo, para o melhor entendimento do todo.

A esquerda, no comando do arrastão mental que se pratica todo dia no Brasil, tenta passar ao público a alucinação de que o conjunto completo da corrupção no país se resume, no fundo, às sentenças que condenaram Lula (25 anos de cadeia no lombo, pela última conta) por recebimento de propina e lavagem de dinheiro. Como, no seu entender, “não há provas definitivas” da culpa do ex-presidente, não há, realmente, corrupção alguma. Aí dá curto circuito. Quando você olha a rapina parte por parte, e faz a soma de tudo, tem certeza de que está vendo um avestruz. O PT diz que você está vendo uma galinha.

Considere, por exemplo, uma das últimas demonstrações de demência praticadas pelo governo com o seu dinheiro e trazida a público, ainda outro dia, pelo novo ministro da Saúde. Dá para fazer ideia, aí, de onde foram amarrar o nosso burro. Segundo o ministro, o Brasil gasta por ano 1,4 bilhão de reais para cuidar da saúde dos índios. Esqueça se é muito ou pouco; pode até ser uma miséria, e talvez o governo devesse gastar o dobro, ou o triplo, ou quanto quiserem, nesse serviço. O que realmente acaba com qualquer discussão é que 650 milhões desse 1,4 bilhão vão direto para as ONGs a quem as autoridades entregam a tarefa de cuidar da saúde indígena. Cereja do bolo: desses 650, quase 500 — isso mesmo, quase 500 — vão para uma única ONG. Que tal? Os outros 700 milhões da verba total são consumidos com as despesas para a existência material do próprio programa: aluguel de helicópteros e carros para transporte de pessoal, gasto com isso, gasto com aquilo.

Sabe-se muito bem, em suma, de onde o dinheiro sai: do seu bolso, a cada tostão de imposto que você paga. Sabe-se, também, para onde vai: para o bem estar dos 13.000 agentes das ONGs envolvidas no esquema. Sabe-se definitivamente, enfim, para onde essa montanha de dinheiro não vai: para os índios propriamente ditos. Seus índices de saúde são os piores de toda a população brasileira. Não recebem remédios. Não têm acesso regular a exames clínicos. As taxas de mortalidade infantil entre eles são três vezes superiores à média nacional.

Muito bem: multiplique agora essa calamidade por 1.000, ou por 10.000, ou sabe-se lá por quantas partes mais, e veja a dimensão delirante a que chegou o “todo” na transferência de recursos públicos para interesses privados neste país nos últimos anos. É a grande lição do manual de instruções que os governos petistas deixaram como herança. Invente uma “política pública” qualquer. Diga que ela é “social”. Pronto: é só correr para o abraço. Roubaram até remédio de índio, e exigem que o seu líder seja Prêmio Nobel da Paz. É onde estamos.

Com J.R. Guzzo.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

AINDA SOBRE A AUSÊNCIA DE LULA NO ENTERRO DE VAVÁ, ONDE O MORTE FEZ O PAPEL DE FIGURANTE



Com o fim do recesso no Judiciário, é provável que o ministro Marco Aurélio decida ainda nesta sexta-feira se as investigações sobre o caso Queiroz/Bolsonaro prosseguirão mesmo no MP-RJ. Dada essa possibilidade, resolvi sobrestar a publicação do capítulo final da minha sequência sobre o imbróglio e dedicar mais algumas linhas ao mais recente “episódio Lula”.

"Não deixaram que eu me despedisse do Vavá por pura maldade. Não posso fazer nada porque não me deixaram ir. O que eu posso fazer é ficar aqui e chorar", disse o molusco abjeto, deixando claro que sua opção pela política privou a dramaturgia tupiniquim do que poderia vir a ser um grande ator.

À luz dos argumentos do MPF e da PF, tanto a juíza Carolina Lebbos quanto o desembargador Leandro Paulsen negaram o pedido da defesa de Lula, mas o ministro Dias Toffoli, o conciliador, numa decisão salomônica, autorizou o encontro do molusco com seus familiares, mas desde que numa base militar, sem a presença de militantes, repórteres e telefones celulares.

Sem palanque, sem comício, sem vitimismo, Lula preferiu não deixar suas acomodações na Superintendência da PF em Curitiba. Como sua ideia era capitalizar politicamente a morte do irmão — de quem, dizem, ele nunca foi muito próximo — recorrendo à demagogia politiqueira, a decisão tardia do presidente do STF lhe deu o argumento ideal para se fazer de vítima.

Observação: A decisão de Toffoli causou espécie entre militares das Forças Armadas. O próprio presidente Bolsonaro demonstrou preocupação com a operacionalidade da ação. A ideia era Lula ser levado de Curitiba para a Base Aérea de Guarulhos e, ao final da reunião familiar, devolvido a sua cela. Seria um voo ponto a ponto, sem necessidade de uso de helicópteros, o que tornaria a operação mais simples e com menos risco. Não obstante, os militares receavam que o próprio pessoal da caserna reagisse mal à “regalia” que estaria sendo concedida ao prisioneiro. Um oficial-general lembrou tratar-se de procedimento complexo, de alto custo e que poderia gerar revolta entre os militares devido ao uso de suas instalações.

Responsável pela decisão administrativa que embasou a decisão de Lebbos e Paulsen, o superintendente da Polícia Federal no Paraná, Luciano Flores de Lima disse que atender ao pedido da defesa era impossível. “Temos que botar na balança se é possível e se o pedido vai ser alcançado”, afirmou, depois de questionado pela Folha durante entrevista sobre a nova fase da Lava-Jato. “Eu não entendi a polêmica. Simplesmente não era possível; não dependia da boa vontade de ninguém. Apenas não havia condições logísticas e policiais suficientes para garantir a segurança do próprio conduzido e dos agentes públicos.”

Toffoli, criticado pelo PT por liberar a saída do prisioneiro somente quando faltavam poucos minutos para enterro, rebateu: “o juiz não pode acordar de manhã e decidir: vou solucionar tal problema da sociedade. Se um juiz quer ter desejos e ir além de sua função tradicional, que vá ser deputado”.

Lula nunca se interessou por enterro de irmão. Faltou a dois eventos do tipo antes de se tornar presidiário. O que interessa a ele é alimentar a narrativa de perseguido. Se agora não pode compartilhar com a família momentos como esse, deveria ter sopesado essa possibilidade antes de cometer os crimes que o puseram na cadeia. Para encerrar, um texto de Augusto Nunes:

É tão avassaladora a paixão de Lula por Lula, é tão gigantesco o seu ego, que não sobra espaço para outros afetos reais. Lula só ama Lula. E faz apenas o que acha que o deixa melhor no retrato.

O presidiário mais conhecido do Brasil não estava interessado em despedir-se do irmão Vavá, nem em rever parentes que nunca visitou quando estava em liberdade. O que o explorador de cadáveres queria era fazer outro comício à beira do caixão. Como faltou palanque, preferiu faltar ao encontro com a família em São Bernardo.

No cemitério, falaram por ele Gleisi Hoffmann e Fernando Haddad. Ambos atacaram o ministro Sergio Moro e a crueldade dos juízes que, na versão da dupla, perseguem o chefe. Nenhum deles mencionou uma única vez o nome de Vavá. No lugar do toque de silêncio, dois corneteiros sopraram a musiquinha “Lula, lá”.

Pela primeira vez, o morto fez o papel de figurante no próprio velório.