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quarta-feira, 17 de julho de 2019

VEJA E VERDEVALDO — QUANDO OS IMPRESTÁVEIS SE ENCONTRAM



No dia 27 do mês passado, o GG que não é o Gabriel Gonçalves (*), em resposta ao colunista do Globo e comentarista da Jovem Pan Carlos Andreazza, anunciou via Twitter e no programa Pânico que a revista Veja passaria a fazer parte do grupo de veículos de comunicação que vêm divulgando (de maneira sensacionalista) o material que (o site panfletário) The Intercept Brasil obteve (de cibercriminosos) a pretexto de travar uma (pseudo) cruzada moralizadora contra o ex-juiz Sérgio Moro e a Lava-Jato.

(*) Em atenção aos mais novos, trata-se de uma remissão ao comercial da loja de presentes GG — Gabriel Gonçalves, no qual o locutor, em off, apregoava as ofertas da semana e perguntava: “É na Gabriel Gonçalves não é?”, e então aparecia a faccia do Arthur Miranda e ouvia-se o bordão: “Evidentemente!

Interessante. As capas deles são às vezes bonitas”, escreveu o jornalista estadunidense especializado em destruir reputações e que se orgulha de ser marido de um deputado brasileiro (David Miranda, do PSOL, que diz “amar mais do que tudo”), referindo-se à capa com a estátua do ministro da Justiça “DESMORONANDO”.

Na edição que chegou às bancas na última sexta-feira, Veja — que sempre foi implacável com os crimes cometidos por Lula e pelo PT, como comprovam dúzias de matérias de capa publicadas ao longo das últimas décadas, sem mencionar a famosa entrevista com Pedro Collor, em 1992, que foi decisiva para o impeachment do ex-caçador de marajás de araque , parece ter mesmo virado a casaca com uma desfaçatez digna de certo togado supremo.

Observação: Gilmar Mendes, que foi um dos grandes defensores da prisão em segunda instância em 2016, parece ter incorporado o caboclo laxante, pois, a pretexto de travar uma cruzada contra as prisões preventivas alongadas e outras arbitrariedades cometidas pela Lava-Jato, vem concedendo habeas corpus por atacado. Segundo Luís Roberto Barroso, que há muito não se bica com Gilmar, o motivo é outro. Nas palavras do ministro, “há no supremo gabinete distribuindo senha para soltar corrupto sem qualquer forma de direito e numa espécie de ação entre amigos (...) quando a Justiça desvia dos amigos do poder, ela legitima o discurso de que as punições são uma perseguição.

O alvo da edição da última sexta-feira foi o desembargador João Pedro Gebran Neto, do TRF-4. A reportagem, assinada por GG, é tão grotesca que nem mereceu uma chamada na capa. Verdevaldo não está fazendo jornalismo, e sabe disso. De bobo, ele não tem nada; mas está cheio de bobos caindo na sua conversa fiada. Ele está apenas se servindo do produto de um furto — material de autenticidade duvidosa, sujeito a manipulações e não devidamente escrutinado, como foi reconhecido por um dos seus funcionários — para tentar tirar da cadeia o chefe de uma organização criminosa e abrir caminho para a anulação de todas as condenações obtidas pela maior operação contra a corrupção da história brasileira.

Com a possível exceção dos textos de alguns colunistas, o que Veja vem publicando ultimamente não vale o papel em que a revista é impressa. Infelizmente, o que não falta neste país é gente susceptível à manipulação descarada dos fatos, ao uso de micropartículas da realidade para dar ares de verdade a narrativas tendenciosas e proselitistas. Caso o amigo leitor não seja um deles, e se, por revoltantes, esses “frutos do melhor jornalismo investigativo de que se tem notícia desde Johann Gutenberg” lhe provocarem náuseas e desarranjos intestinais, as folhas da revista, por não serem de papel absorvente, não servem sequer para limpar a bunda.


O vazamento das mensagens atribuídas aos procuradores da Lava-Jato  — entre si e com o então juiz Sérgio Moro — não revelou até agora nenhuma ato que distorcesse a investigação, que forjasse provas inexistentes, que indicasse conluio contra qualquer investigado, muito menos o ex-presidente Lula, que é o principal foco as invasão de celulares. Segundo Merval Pereira, tudo se limita ao terreno pantanoso da hermenêutica, ou seja, da interpretação da leis. E com efeito: enquanto o Intercept carrega nas tintas da alegada ilegalidade nas conversas, inúmeros juristas e advogados afirmam o contrário.

O busílis da questão remente ao nosso processo penal, no qual o juiz que controla a investigação do Ministério Público e da polícia é o mesmo julga a ação. E dá-se o mesmo no STF, onde desaguam os processos envolvendo réus que têm direito a foro privilegiado. Basta relembrar o julgamento do mensalão do PT, onde o ministro hoje aposentado Joaquim Barbosa atuou como relator do processo que mais adiante julgaria juntamente com seus pares.  No caso das forças-tarefa, a situação é ainda mais limítrofe, pois o juiz controla as investigações — embora não participe diretamente delas —, autorizando ou negando pedidos de quebra de sigilo, interceptações telefônicas e mandados de busca e apreensão, colhendo depoimentos e determinando prisões provisórias. 

Para dar agilidade ao combate contra os crimes financeiros, a Vara especial de Curitiba foi criada em 2003, por recomendação do CNJ, e a Força-Tarefa da Lava-Jato, em 2014, por decisão da PGR. Quem a coordenou foi o procurador Deltan Dallagnol, que já trabalhara com o então juiz Moro anos antes, no caso Banestado, e passou a integrar a Lava-Jato por ocasião da primeira denúncia contra o doleiro Alberto Youssef.

Dallagnol e Moro se conhecem há quase 20 anos. Como nenhuma ação dos procuradores do MPF ou da PF pode ser feita sem uma autorização do juiz, a sinergia entre as diversas corporações que trabalham em conjunto — Ministério Público, Polícia Federal, Receita Federal etc. — é que dá sentido às forças-tarefas. As etapas das operações, assim como questões logísticas, exigências legais e formalização de atos tinham de ser autorizadas por Moro, e por isso juiz e investigadores tinham inevitavelmente de discutir a melhor hora para realizar esta ou aquela ação, o embasamento de pedidos dos procuradores e da PF (prisão preventiva, de quebra de sigilo etc.) e por aí afora.

O entendimento sobre essa sinergia — que agrega eficiência ao combate ao crime — é que está em discussão com a divulgação desses diálogos, que, nunca é demais lembrar, os supostos participantes não reconhecem como autênticos na sua integralidade. O cerne da questão está na maneira como o site Intercept vem divulgando o material que recebeu do hacker (ou dos hackers), pois a falta da integralidade impede a verificação da autenticidade do conteúdo. Demais disso, o site panfletário de GG seleciona a seu talante quais partes divulgar (fora de seu contexto integral) e, principalmente, quais não divulgar. O trabalho de edição é uma função jornalística, mas a recusa de Verdevaldo a dar acesso ao material, mesmo àqueles que participam da divulgação, carece de explicação razoável.

Traçando um paralelo com o Wikileaks, que divulgou documentos oficiais do governo dos Estados Unidos, o material foi distribuído a uma cadeia de jornais e revistas, e cada qual fez sua própria edição a partir de critérios próprios. No caso do Intercept, a última leva, com conversas de procuradores — entre si e com suas mulheres — sobre a formação de uma empresa para gerenciar palestras, se resume à revelação da intimidade das autoridades, sem que nada justifique a divulgação. A empresa não foi aberta e as palestras precisam ser autorizadas pelo CNJ. Pode-se até ver indícios de ganância dos procuradores, mas isso é uma questão moral, e não criminal. Talvez eles não devessem ter proposto a criação de um fundo, que eles geririam, com a indenização bilionária que a Petrobras teve que pagar aos Estados Unidos. Só que isso foi vetado. 

Resta saber como Dallagnol e seus pares se explicarão a Raquel Dodge, mas isso é outra conversa.  

quarta-feira, 10 de julho de 2019

VAZA-JATO, BOLSONARO, A RAINHA DA INGLATERRA, O PARLAMENTARISMO BRANCO E OUTRAS BOBAGENS


Bolsonaro diz que o Congresso quer transformá-lo “numa Rainha da Inglaterra”. Impossível não imaginá-lo vestindo tailleur, luva e chapéu rosa-pompom, amarelo-táxi ou verde-abacate (que a segurança da rainha Elizabeth II a obriga a usar para distingui-la mais rápida e facilmente nas cerimônias públicas) em vez da camisa do Palmeiras — ou do Flamengo, conforme a ocasião. Claro que o queixume presidencial nada tem a ver com a indumentária, mas sim com uma articulação de seus ex-colegas na Câmara, que, sob a competente batuta de Rodrigo Maia, querem torná-lo um presidente decorativo, que preside mas não governa.

A irresignação do capitão pode até fazer sentido, mas ele se comparar a sua Sua Alteza Real é puro nonsense. Ao contrário da rainha, que raramente fala em público e convive civilizadamente com primeiros-ministros conservadores e trabalhistas, Bolsonaro fala mais do que deve sobre o que não deve, não admite outro partido senão o seu e mantém funcionando a pleno vapor uma usina de decretos inúteis e estapafúrdios — talvez para que o Congresso os rejeite e ele possa dizer que não os parlamentares não o deixam governar. 

A exemplo de outros "luminares" tupiniquins, sua excelência tem falado em “parlamentarismo branco”, talvez porque uma invencionice repetida incontáveis vezes tenda a assumir ares de verdade. Mas seus conhecimentos constitucionais não permitem que suas leituras da realidade ultrapassem o limite do senso comum, diz Dora Kramer, para quem a metáfora da rainha externa a contrariedade do capitão por não conseguir exercer o poder absoluto, por ter imaginado a presidência de um jeito e descoberto que ela é de outro, que sua “nova política” não passa de uma via de mão única onde o chefe do Executivo manda e o Legislativo diz amém sem reclamar nem cobrar contrapartidas (lícitas, ilícitas, legítimas e/ou ilegítimas).

Podemos concordar ou não com a jornalista, mas o fato é que existe, sim, uma articulação suprapartidária de senadores para discutir uma proposta de emenda constitucional que institua o parlamentarismo no Brasil a partir de 2022, cuja aprovação reduziria significativamente os poderes do próximo presidente, seja ele Bolsonaro, Doria, Moro, Maia ou qualquer outro que venha a se eleger.

Nosso presidencialismo de coalizão (ou de cooptação, como bem definiu FHC) é bananeira que deu cacho. Talvez esteja na hora de experimentarmos o parlamentarismo. Mas faltam-nos elementos empíricos para uma avaliação acurada: o parlamentarismo foi implantado uma única vez desde a proclamação da República — após a renúncia de Jânio Quadros — e durou pouco mais de um ano. Seja lá como for, nada há no sistema atual que se assemelhe a um parlamentarismo, onde o presidente não é eleito pelo voto popular, mas nomeado pelo Parlamento, cuja maioria tem a prerrogativa de formar um gabinete, escolher um primeiro-ministro e submetê-lo a votos de confiança ou desconfiança — em caso de desconfiança, cai o governo; ou seja, o gabinete é parcial ou integralmente substituído.

Dora acerta na mosca quando diz que a visão do paraíso presidencial de Bolsonaro revelou-se equivocada quando o Congresso resolveu reagir à ofensiva de desmoralização mudando seus padrões de comportamento. Se era novidade o que o capitão queria, novidade ele está tendo ao deparar com derrotas em votações, derrubadas de vetos presidenciais, devolução de medida provisória, contestação de decretos e, por outro lado, a execução de uma agenda condizente com as necessidades objetivas do país. Mas isso não é parlamentarismo branco, vermelho nem verde ou amarelo, e sim o exercício da autonomia e do sentido de serviço público que o Congresso havia muito estava devendo à população brasileira.

Após duas décadas de jejum — cortesia da ditadura militar que hoje sabemos ser fruto da imaginação dos esquerdistas — o Legislativo tirou a barriga da miséria. Na Carta Magna de 1988, os constituintes distribuíram benefícios a torto e a direito sem estabelecer a necessária contrapartida — ou seja, mandaram servir o banquete sem apontar quem pagaria a conta. Na sequência, em vez de exercer as funções para as quais foram eleitos — representar a sociedade, produzir leis, fiscalizar o Executivo e debater as grandes questões nacionais —, passaram quase três décadas atuando em benefício próprio e se locupletando a mais não poder. A atividade legislativa foi terceirizada ao Executivo, que governa por medidas provisórias; fiscalizações, só as que nascem mortas e as que são enterradas vivas. Até que o presidencialismo sem coalizão de Bolsonaro fez surgir tênues sinais de que há em Brasília gente disposta a interromper o ciclo de irrelevância do Congresso.

Bom seria se os dois poderes atuassem em conjunto e harmonia — dois burros puxam a carroça melhor do que um, mas somente se ambos puxarem na mesma direção. A questão é que a cizânia que Lula fomentou com seu nós contra eles  cavou entre a esquerda e a direita uma vala grande o bastante para tragar tudo que havia entre esses extremos. Mas isso é conversa para uma outra vez.

Mudando de um ponto a outro, a mais nova comparsa de Greenwald e seu imprestável site ultraesquerdista na espúria cruzada contra o ex-juiz da Lava-Jato publicou dias atrás: “MORO, ACUADO, AFASTA-SE DO CARGO”. É fato que o ministro vai se licenciar por cinco dias (de 15 a 19 de julho), e que essa notícia pegou todo mundo de surpresa. Mas no afã de enquadrar os fatos na moldura distorcida dos seus propósitos, VEJA, que se proclama a quintessência do jornalismo investigativo isento e imparcial, nem se deu ao trabalho de investigar quais seriam os tais “assuntos particulares” que motivaram o pedido de licença. Se tivesse procurado o ministro — como fizeram jornalistas de outros veículos —, saberia que Moro costuma sair de férias com a família em janeiro, e como não foi possível fazê-lo este ano (não teria cabimento se afastar do cargo logo após a posse),   ele prometeu à família que tiraria alguns dias em julho, e por ainda não ter direito a férias, pediu os tais 5 dias de licença.   

A postura de VEJA não chega a espantar: da sua ótica distorcida, os novos diálogos envolvendo o então juiz da Lava-Jato e os procuradores da força-tarefa — revelados na edição publicada na última sexta-feira — “aumentaram a pressão no Congresso e acuaram o agora ministro, que na semana passada abandonou a CCJ da Câmara após ser chamado de ‘juiz ladrão’ pelo deputado psolista Glauber Rocha”. O que na verdade aconteceu foi a suspensão da sessão pelo presidente da Comissão — para evitar que o furdunço virasse pancadaria —, após o que Moro deixou o salão escoltado por seguranças. A revista também acusou o ministro de se negar a entregar seu celular para ser periciado, embora ele já o tivesse feito. 

É lamentável um veículo de comunicação que prestou relevantes serviços ao Brasil ora se rebaixar à esbirro de comunista e defender a soltura do Coringa e a criminalização do Batman porque o homem-morcego supostamente conversou com o Comissário Gordon. É nítido que VEJA age como a trupe de corruptos que tomou de assalto o Congresso, sem falar no presidente da OAB (que por sinal é petista de carteirinha) e da banda podre do STF, que não só compactuam com esse descalabro como estimula a inversão de valores... Vade retro, Satanás!

Em sua inserção no Jornal da Gazeta da última segunda-feira, José Nêumanne comentou um pronunciamento do ministro Luís Edson Fachin, que não se referiu especificamente a Moro e à divulgação de mensagens obtidas de maneira criminosas e não periciadas pela Justiça, mas deixou claro que “juízes também cometem ilícitos e devem ser punidos”. Integrantes da Supremo e do meio jurídico especulam que o magistrado não gostou da forma como foi citado em diálogos entre procuradores (“Aha, uhu, o Fachin é nosso”), mas, cá entre nós, será o fim da picada se ele mudar seu voto para libertar o Ali Babá petista e seus bem mais de 40 ladrões. 

Observação: Não se pode esquecer que na sessão do TSE que cassou a espúria candidatura de Lula esse mesmo ministro reconheceu a inelegibilidade do petralha à luz da Lei da Ficha-Limpa, mas, com as vênias e salamaleques de estilo, votou pelo acolhimento da recomendação do Comitê de Direitos Humanos da ONU — órgão administrativo sem competência jurisdicional e cuja decisão foi uma medida precária, de caráter liminar e que em nada mudava a decisão da lei brasileira —, sustentando que o parecer de um par de boçais teria o condão de paralisar a eficácia da decisão que negou o registro da candidatura do criminoso condenado. Torçamos para que ele não mude seu voto no julgamento do HC do molusco em agosto. 

Se Fachin acha mesmo que juiz que comete ilícitos deve ser punido, Nêumanne recomenda-lhe olhar para seus pares na 2ª Turma (e cita nominalmente um deles; eu citaria pelo menos dois, mas prefiro me abster de dar nomes aos bois). Lembra ainda o jornalista que o ex-ministro supremo Nelson Jobim, que passou 9 anos na corte, dois dos quais como seu presidente, e foi ministro nos governos FHC, Lula e Dilma, tem agora a cara-de-pau de dizer que a conduta de Moro foi inadequada. Um dos poucos a demonstrar lucidez em meio a essa merdeira é o general Augusto Heleno, ministro do GSI, que disparou: “Muitos conversam com o advogado de defesa, recebem em casa para jantar”. Para bom entendedor...

Finalmente, sobre os números divulgados pelo Ibope, houve quem subisse no caixote para berrar que a popularidade de Bolsonaro está em queda livre. Não é bem assim. Ainda que apenas 33% dos brasileiros aprovem o atual governo — percentual idêntico ao dos que desaprovam —, uma simples comparação com a pesquisa feita em abril mostra que quase nada mudou (vide imagem). 

Ironicamente, Bolsonaro é, entre os presidentes eleitos pelo voto popular desde a redemocratização desta banânia, o dono da pior avaliação. Nem mesmo Collor, que bateu nossa carteira logo após subir a rampa do Planalto, foi tão repudiado nos primeiros meses de sua desditosa gestão (a opinião popular sobre ele mudaria mais adiante, mas isso é outra conversa). 

A ironia das ironias, porém, é ninguém menos que Dilma — a Grande-Chefa-Toura-Sentada-Impichada — ocupar o topo da lista, e Lula, que além de nomear esse traste como sucessora nos deu o mensalão e o petrolão, ficar à frente de FHC, que nos deu o Real. Detalhe: o grão-tucano continua livre para voar e a jararaca petralha está presa na gaiola.

Atualização - 08h15: O plenário da Câmara dos Deputados encerrou nesta madrugada a fase de debates sobre a proposta da PEC da Previdência. Com o avanço no rito, o presidente da Casa, Rodrigo Maia, convocou nova sessão para a manhã desta quarta-feira, quando o texto-base deverá ser votado em primeiro turno, mesmo com a possibilidade de novas obstruções. Vamos acompanhar.

terça-feira, 9 de julho de 2019

SOBRE A APROVAÇÃO DA REFORMA PREVIDENCIÁRIA E O PARTO DA MONTANHA DA REVISTA VEJA, ORA ALIADA À ALA ESQUERDISTA EM DEFESA DA SOLTURA DOS CRIMINOSOS E DA PRISÃO DO XERIFE



Após ter sido retalhada, remendada e recosturada pelo relator na Comissão Especial da Câmara, a proposta de reforma da Previdência teve o texto base aprovado por 36 votos a 13 e agora, aos trancos barrancos, segue para o plenário, onde será submetida a dois turnos de votação (e ainda poderá sofrer modificações). Rodrigo Maia diz que o governo já conta com mais que os 308 votos necessários, e acredita que a votação acontece antes recesso parlamentar. O texto final ainda terá de passar pelo crivo do Senado — e voltar à Câmara caso seja alterado — mas a cada dia a sua agonia. Quando nada, o dólar encerrou a semana em expressiva queda, e o Ibovespa bateu um novo recorde histórico (104089.47 pontos no fechamento da sexta-feira, algo jamais visto desde que o índice foi criado, nos anos 1960).

Mudando de um ponto a outro, depois que o “The Interpret” — como Alexandre Borges chama ironicamente o site ultraesquerdista de Glenn Greenwald — e seus esbirros divulgarem mais uma leva de (supostas) trocas de mensagens “tóxicas” entre Sergio Moro e procuradores da Lava-Jato, o ministro parafraseou o poeta romano Horácio (65 a.C. - 8 a.C.) num tuíte: “Parturiunt montes, nascetur ridiculus mus " ("a montanha pariu um ridículo rato", numa tradução livre). A carapuça veste a revista Veja, que em pareceria com o site retrocitado anunciou um tiro de bazuca e soltou um traque. A montanha pariu um rato — ou melhor, uma ninhada —, e todos eles petistas, naturalmente. A festa da rataiada teve seu apogeu na audiência com o ministro na CCJ da Câmara, duas semanas após sua inquisição no Senado. E se a qualidade do nosso Senado já é ruim, a da “Casa do Povo” (que está mais para casa de noca) consegue ser ainda pior.

Por ter sido obtido por via criminosa e enviado ao Intercept por "anonimamente" — ou pelo menos é isso que Greenwald afirma —, o "material tóxico" é imprestável como prova no âmbito jurídico. As "mensagens comprometedoras" foram hackeadas por cibercriminosos contratados por quem tem interesse em destruir a Lava-Jato e denegrir a reputação dos principais responsáveis por desmantelar uma quadrilha de políticos e empresários que assaltaram a nação sob o comando de um populista condenado em três instâncias e, até segunda ordem, preso na Superintendência da PF em Curitiba, de onde continua vomitando seus protestos de inocência. A PF está investigando, mas, à luz do resultado das investigações sobre o atentado contra Bolsonaro em Juiz de Fora, que corre o risco de completar um ano envolto em brumas... enfim, Brasília não é famosa pela celeridade, com provam as decisões do Supremo nos processos da Lava-Jato: até hoje, um único caso foi julgado e um único réu, condenado, mas o competente mandado de prisão ainda não foi expedido. É como se no Planalto Central os segundos, para os poderosos da República, fossem verdadeiras fatias da eternidade.

Falando nos supremos togados, o ministro supremo Luís Roberto Barroso assim se manifestou a propósito do furdunço parido pelo site comuna de Glenn: “Tenho dificuldade em entender a euforia que tomou conta dos corruptos e seus parceiros” — euforia essa estampada no delírio da claque petista, inconformada com a condenação de seu amado líder em três instâncias por corrupção e formação de quadrilha. Para ficar nos exemplos mais notórios, o senador petista pernambucano Humberto Costa chegou a defender a abertura de uma CPI: Agora é pau”, disse essa “impoluta figura”, depois de afirmar que a Lava-Jato está ferida de morte. A inebriada parlamentar comunista carioca Jandira Feghali, por sua vez, vociferou: Esse é um dos maiores escândalos da democracia brasileira”, numa tentativa pândega de desqualificar os efeitos bombásticos e positivos da Lava-Jato, que não só pôs na cadeia políticos do alto escalão e empresários da alta cúpula, como também trouxe de volta aos cofres públicos bilhões de reais surrupiados por Ali-Babalula e seus 400 ladrões.

Faz parte da democracia aturar esse tipo de coisa, lembra Rodrigo Constantino em artigo publicado na Gazeta do Povo. Afinal, todos merecem representação na política democrática, inclusive os canalhas. E eles estavam muito bem representados lá. Defensores de ditadores sanguinários, de traficantes, de terroristas, de marginais, de corruptos, enfim, a bancada vermelha tratou Moro como se ele fosse o verdadeiro bandido ali...

Ao convidar Moro para o ministério, Bolsonaro sabia que estaria politizando a Lava-Jato, e o hoje ministro também sabia disso ao aceitar o cargo. Mas não há razão para duvidar de sua sinceridade: Moro abriu mão de 22 anos de carreira na magistratura em prol de uma missão de vida, que é combater a corrupção. E nessa caminhada precisa aguentar ataques abjetos à sua integridade feitos por cúmplices dos corruptos que mandou para a cadeia. E não só manteve a calma durante a Santa Inquisição, como demonstrou que está se tornando “mais político” a cada dia. Quando Gleisi Hoffmann o questionou sobre eventuais contas no exterior, o ministro simplesmente lembrou que não era ele ali o réu por corrupção, deixando claro nas entrelinhas a situação de “Narizinho”, também identificada como “Coxa” e “Amante” nas planilhas do departamento de propina da Odebrecht, que, além de ter contas a acertar com a Justiça, defende o tiranete Nicolás Maduro e outros imprestáveis como ele. Em outro momento, Moro disse que, segundo a lógica da patuleia, seria preciso soltar todos os presos pela Lava-JatoSergio Cabral, Marcelo Odebrecht, Eduardo Cunha e tantos outros injustiçados perseguidos pelo juiz parcial. Silêncio atônito na casinha, seguido de uivos de protesto.

Observação: Enquanto a extrema esquerda armava o circo, Palocci confessava, em sessão secreta da CPI do BNDES, que as gestões do PT distribuíram para as empresas amigas nada menos que R$ 500 bilhões. O ex-ministro de Lula disse ainda que o ex-presidente era o grande articulador do esquema de corrupção no banco.

O fato é que os comparsas de Lula querem convencer o país de que Moro é o vilão da história e que, por isso, Lula deve ser solto. "Esquecem-se" muito convenientemente de que, no caso do tríplex, a condenação foi ratificada em segunda e terceira instâncias, e por unanimidade; se houve divergência, foi somente em relação à dosimetria de pena, que o TRF-4 aumentou e o STJ reduziu para pouco menos do que Moro havia estabelecido originalmente. Não fosse trágico, seria cômico.

Os parlamentares que repudiam veementemente o comportamento do ex-juiz da Lava-Jato, de duas uma: ou são esquerdistas fanáticos e, portanto, defensores do picareta dos picaretas, ou são eles próprios — corja nefasta de picaretas imprestáveis — integrantes da confraria de investigados, indiciados e réus na Justiça criminal. E o pior é que nós os elegemos, ainda que indiretamente em alguns casos — por exemplo, de carona com o Palhaço Tiririca ou outra aberração em que votamos com a intenção de protestar —, mas isso é outra conversa.

Observação: Certa vez, Pelé disso que o brasileiro não sabe votar, e foi muito — e injustamente — criticado por isso: os eleitores desses vagabundos são parte do povo. Mas não dá para aplaudir os representantes do outro lado: salvo raras exceções, o nível é péssimo. Basta olhar para nosso Parlamento para ter calafrios. Mas, como dizia Churchill, se cinco minutos de conversa com um eleitor médio é o melhor argumento contra a democracia, essa mesma democracia é o pior regime que existe, exceto todos os outros já testados.

Continuamos amanhã. Bom final de feriadão a todos.