UM BATE-PAPO INFORMAL SOBRE INFORMÁTICA, POLÍTICA E OUTROS ASSUNTOS.
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segunda-feira, 23 de dezembro de 2019
RECESSO
Considerando que tanto o Congresso quanto o Judiciário já entraram em recesso — e assim deverão permanecer até o início de fevereiro, a despeito de tantos assuntos importantes e urgentes que requerem sua atenção — resolvi não só não fazer minha tradicional retrospectiva de final de ano, mas dar um pausa e sobrestar as postagens de política pelo menos até dia 6 de janeiro p.f. A menos, naturalmente, que algo relevante aconteça nesse entretempo. Afinal, no Brasil, se até o passado é imprevisível, o que dizer do futuro?
Obervação: Os posts de informática não deverão sofrer qualquer alteração.
Boas Festas a todos.
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retrospectiva 2019
Jornalista, blogueiro, entusiasta da informática, articulista de TI, autor de livros e de artigos publicados em revistas especializadas quando as pessoas ainda procuravam essas informações na mídia impressa.
sábado, 21 de dezembro de 2019
SOBRE O FURDUNÇO QUEIROZ/FLÁVIO BOLSONARO
As suspeitas de rachadinha no gabinete do então deputador Flávio Bolsonaro já causavam preocupação no ano
passado, antes mesmo das eleições. Prova disso é que seu ex-motorista e ex-assessor,
Fabrício Queiroz, disse a um amigo através de um vídeo no WhatsApp:
"O MP está com uma pica do tamanho
de um cometa para enterrar na gente". Noutro trecho, ele afirmou:
"Não vejo ninguém mover nada para
tentar me ajudar".
Observação: Vale lembrar que a rachadinha — retenção, em benefício do parlamentar, de parte dos
salários dos assessores e funcionários do gabinete — é uma prática tão
enraizada na política tupiniquim quanto o caixa dois de campanha, mas isso não a
torna legal ou menos imoral.
Em meio ao turbilhão, o advogado Paulo Klein, alegando "questões de foro íntimo",
abandonou a defesa de Queiroz no
momento mais delicado da investigação que fecha o cerco ao ex-assessor e o ex-assessorado.
Foi Klein quem ajudou a articular a
entrevista concedida ao SBT em dezembro
de 2018, na qual Queiroz tentou
explicar as movimentações atípicas em sua conta. Com a investigação cada vez
mais próxima de Zero Um, o mal-estar
no governo ganhou outra dimensão. “Venham
para cima, não vão me pegar”, desafiou o presidente. Será que não?
A julgar pela fumaça, o incêndio é grande. O primogênito do
presidente frequenta a investigação como suspeito da prática de dois crimes:
lavagem de dinheiro e peculato. Os promotores poderiam ter enviado a polícia às
ruas depois das festas de final de ano, mas parecem dispostos a recuperar o
atraso provocado pela blindagem que Dias
Toffoli ofereceu ao "Ronaldinho
dos Imóveis" — e estendeu oportunisticamente às advogadas Roberta Rangel e Guiomar Mendes, mulheres do próprio Toffoli e de seu amigo e parceiro de maracutaias.
O inquérito permaneceu suspenso por quase 5 meses.
Ironicamente, Queiroz voltou às
manchetes horas depois de o Congresso ter aprovado a medida provisória editada
por Bolsonaro para desossar o Coaf. Os parlamentares enterraram o
novo nome proposto pelo presidente (UIF),
mas mantiveram a decisão de enfiar o órgão de controle nos fundões do
organograma do Banco Central. Foi
graças a descobertas do Coaf que Queiroz estilhaçou o discurso da
família Bolsonaro, aproximando a
dinastia presidencial da turma do PT.
Queiroz nunca
prestou depoimento. Entregou ao MP-RJ
uma manifestação por escrito. Não conseguiu explicar a movimentação de R$ 1,2
milhão em sua conta nem os R$ 24 mil repassadas para a conta da hoje primeira-dama.
Reconheceu que se apropriava de parte dos salários de assessores de Flávio, mas alegou que fazia isso para
pagar "colaboradores informais" do então deputado e jamais exibiu
recibos. Mesmo assim, o Ministério Público ainda não promoveu — como deveria — a
condução coercitiva do ex-assessor, embora Veja tenha revelado que ele é
vizinho de Marcelo Odebrecht no
bairro do Morumbi.
A defesa de Flávio
Bolsonaro impetrou um habeas corpus no STF
para tentar suspender novamente as investigações. O caso tramita sob sigilo sob
a relatoria da Maritaca de Diamantino. Na última quinta-feira, o semideus
togado pediu ao MP-RJ, "com
urgência", informações sobre a investigação. Seria muita safadeza se...
enfim, vindo de quem vem, nada surpreende.
A semana que termina foi considerada a mais turbulenta para
a família Bolsonaro desde a posse.
Tanto que na noite da operação do GAECO,
Flávio foi ao encontro do pai, no
Palácio da Alvorada. A reunião, que contou com a presença de Zero Três, durou quase duas horas. Questionado sobre esse salseiro, o
presidente, sempre grandiloquente, disse apenas não ter “nada a ver” com as
suspeitas levantadas pelo MP e que “o Brasil é muito maior do que pequenos
problemas”. Ato contínuo, fechou-se em copas. Aos repórteres mais
insistentes, disse apenas: "Perguntem
aos advogados".
Somente Flávio e
o papai presidente sabem o tamanho real do buraco em que se meteram. Toda crise
tem um custo. O capitão precisa decidir quanto deseja pagar. A fatura vai
aumentando com o tempo, e ainda lhe restam três anos de governo. A pressa do MP recomenda ao inquilino do Planalto que acenda a luz.
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terça-feira, 17 de dezembro de 2019
SOBRE O PAU DE ARARA E OS FILHOS DO PAI, DA MÃE E DO CAPETA
Após um hiato de 26 dias sem postar, o pitbull presidencial
voltou às redes sociais no domingo 8, quando publicou um meme do chefe de cozinha
turco Salt Bae, e na terça subsequente, para compartilhar um
vídeo do grupo Os Mateadores
cantando a música "Cadela de baia".
Mas o mais intrigante foi uma frase em código Morse que não fazia o menor
sentido (vide figura ilustração).
Entrementes, Bolsonaro
pai, de passagem pelo Tocantins, afirma que colocará no pau de arara ministros
de seu governo que se envolverem em casos de corrupção. Como é de praxe, a
mídia logo classificou a frase de efeito do capitão como "uma declaração
polêmica", e os teóricos da conspiração entraram em polvorosa, pois o dislate foi
proferido às vésperas do 51.º aniversário do AI-5.
Observação: Para quem não sabe, no pau de arara os
pulsos do torturado eram amarrados aos tornozelos. Antes do início da sessão de
suplícios, a vítima é pendurada pelos joelhos, de cabeça para baixo, num pau
roliço, e ficava à mercê dos algozes.
Ao longo de todo este ano, a mídia enalteceu um ex-presidente
corrupto, decarréu e duplamente condenado, e perseguiu implacavelmente
o "mito" dos bolsomínions. Diante dessa caça à bruxas, não espanta que capitão destile sua hostilidade contra jornalistas e veículos que publicam
críticas a ele, seu governo, sua prole e seus ministros. A Folha, que se tornou sua inimiga figadal ao noticiar a suspeita de uso de disparos em massa de
mensagens de WhatsApp contra Haddad e, mais adiante, ao publicar as
primeiras denúncias sobre o uso de candidaturas laranjas pelo PSL, chegou a ser excluída de uma licitação do
governo.
Na outra margem desse caudaloso rio de merda, o ex-presidiário de Curitiba nem bem deixou a cadeia e subiu num palanque
improvisado para vituperar acusações irresponsáveis contra a Rede Globo e despejar toda sorte de
ameaças vazias contra "os inimigos do povo", levado ao delírio a chusma de
esquerdopatas que se reuniu defronte à sede da PF em Curitiba e, no sia seguinte, diante do
Sindicato dos Metalúrgicos de ABC para beber seus ensinamentos. Mais adiante, já
na capital do seu estado de origem (num hotel de luxo da praia da Boa Viagem, o
bairro mais chique da cidade, é claro), o criminoso de Garanhuns acrescentou ao bolo fecal que serviu à
patuleia ignara de adoradores o seguinte troçulho: "(...) Nós não vendemos ódio, vendemos amor,
paixão. É muito coração nessa história”.
Observação: Na edição revista e atualizada de sua
"caravana pelo Brasil", só bateram os cascos para o petralha os
integrantes da tropa asinina mortadeleira. Do restante dos populares, o que mais
se ouviu foi: “Lula, ladrão, teu lugar é
na prisão”. E isso no coração do Nordeste, onde, dos “institutos de pesquisa de opinião”, o enganador
vermelho sempre diz que tem 120% de popularidade.
Para não espichar demais esse assunto na penúltima semana de 2019, acrescento apenas que, para mim, o que Lula fala e merda são a mesma
coisa. Mas Bolsonaro discursa como se
não enxergasse corrupção em seu entorno, mesmo havendo na Esplanada dos
Ministérios três denunciados, dois investigados e até um condenado. Esses
ministros estão pendurados na folha de pagamento da União, não no pau de arara,
e desfilam pelos gabinetes de Brasília como se nada pesasse contra eles. Durma-se
com um barulho desses!
Sobre a nova novela cujo primeiro capítulo foi ao ar na última semana com a fase 69 da Lava-Jato focando Lulinha, o notável ex-catador de bosta de elefante que, graças ao papai presidente, tornou-se da noite para o dia o "Ronaldinho dos negócios", falarei numa próxima oportunidade.
Sobre a nova novela cujo primeiro capítulo foi ao ar na última semana com a fase 69 da Lava-Jato focando Lulinha, o notável ex-catador de bosta de elefante que, graças ao papai presidente, tornou-se da noite para o dia o "Ronaldinho dos negócios", falarei numa próxima oportunidade.
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domingo, 15 de dezembro de 2019
AO VENCEDOR, AS BATATAS!
A polarização política fomentada por Lula com o proselitismo do "nós contra eles" vem produzindo efeitos tão nefastos quanto os que Dilma causou na Economia ao longo de
seus 5 anos, 4 meses e 12 dias no poder governo.
Entre outras consequências funestas, a "guerra entre o Bem e o Mal" exterminou no primeiro turno das eleições passadas, juntamente com o circo de horrores (Vera Lúcia, Cabo Daciolo, Eymael e outras bizarrices), os poucos candidatos que valiam dois tostões de mel coado, levando ao embate final os extremistas mais extremados do espectro político. E com o timão da Nau dos Insensatos nas mãos de um marujo que, em outras circunstâncias, estaria empunhando um esfregão, nosso consolo é que a coisa teria seria ainda pior se o títere da jararaca tivesse derrotado o capitão caverna.
Eleito graças ao discurso anti-Lula e anti-PT, a versão tupiniquim do Goofy beneficia-se desse cenário inflamado, notadamente num momento em que sua capacidade de produzir crises começava a decepcionar quem acreditou que ele adquiriria maturidade no cargo ou seria domado pelos assessores. E os ganhos são ainda maiores com o presidiário de Curitiba (que também se capitaliza com esse confronto permanente) em ritmo de palanque nacional. A questão é que o Brasil e o povo brasileiro só têm a perder, pois ficam reféns de duas posições: petista ou antipetista.
Observação: Talvez seja injusto atribuir esse descalabro apenas a Lula. Como bem lembrou o próprio Bolsonaro numa de suas "frases polêmicas" — aquelas que a mídia adora tirar do contexto para fazer tempestade em copo d'água —, o grande erro da ditadura foi torturar e não matar. Aliás, Lula disse mais ou menos a mesma coisa em 2016, após ser conduzido coercitivamente à PF do Aeroporto de Congonhas. Depois de prestar depoimento, a jararaca da caatinga ensinou que para matar a serpente é preciso bater na cabeça, não na cauda. Como ninguém aprendeu a lição, é possível que se repita no pleito de 2022 o que aconteceu no de 2018.
Ao longo dos últimos 11 meses e lá vai fumaça, Bolsonaro nomeou um bando de incompetentes para o primeiro escalão, indispôs-se com Deus e o mundo, ungiu-se primeiro-vassalo de Donald Duck, digo, Donald Trump, moveu mundos e fundos para emplacar o filho fritador de hambúrgueres (numa rede americana de lanchonetes que só trabalha com frango frito) no cargo de embaixador no EUA e vendeu a alma ao diabo, digo, à banda podre do STF, em troca da blindagem de seu primogênito no "Caso Queiroz". Como se não bastasse, em vez de ajudar na tramitação da PEC da Previdência, fez o possível para atrapalhar, criando uma crise aqui, outra acolá, falando mal deste, debochando daquele.
Entre outras consequências funestas, a "guerra entre o Bem e o Mal" exterminou no primeiro turno das eleições passadas, juntamente com o circo de horrores (Vera Lúcia, Cabo Daciolo, Eymael e outras bizarrices), os poucos candidatos que valiam dois tostões de mel coado, levando ao embate final os extremistas mais extremados do espectro político. E com o timão da Nau dos Insensatos nas mãos de um marujo que, em outras circunstâncias, estaria empunhando um esfregão, nosso consolo é que a coisa teria seria ainda pior se o títere da jararaca tivesse derrotado o capitão caverna.
Eleito graças ao discurso anti-Lula e anti-PT, a versão tupiniquim do Goofy beneficia-se desse cenário inflamado, notadamente num momento em que sua capacidade de produzir crises começava a decepcionar quem acreditou que ele adquiriria maturidade no cargo ou seria domado pelos assessores. E os ganhos são ainda maiores com o presidiário de Curitiba (que também se capitaliza com esse confronto permanente) em ritmo de palanque nacional. A questão é que o Brasil e o povo brasileiro só têm a perder, pois ficam reféns de duas posições: petista ou antipetista.
Observação: Talvez seja injusto atribuir esse descalabro apenas a Lula. Como bem lembrou o próprio Bolsonaro numa de suas "frases polêmicas" — aquelas que a mídia adora tirar do contexto para fazer tempestade em copo d'água —, o grande erro da ditadura foi torturar e não matar. Aliás, Lula disse mais ou menos a mesma coisa em 2016, após ser conduzido coercitivamente à PF do Aeroporto de Congonhas. Depois de prestar depoimento, a jararaca da caatinga ensinou que para matar a serpente é preciso bater na cabeça, não na cauda. Como ninguém aprendeu a lição, é possível que se repita no pleito de 2022 o que aconteceu no de 2018.
Ao longo dos últimos 11 meses e lá vai fumaça, Bolsonaro nomeou um bando de incompetentes para o primeiro escalão, indispôs-se com Deus e o mundo, ungiu-se primeiro-vassalo de Donald Duck, digo, Donald Trump, moveu mundos e fundos para emplacar o filho fritador de hambúrgueres (numa rede americana de lanchonetes que só trabalha com frango frito) no cargo de embaixador no EUA e vendeu a alma ao diabo, digo, à banda podre do STF, em troca da blindagem de seu primogênito no "Caso Queiroz". Como se não bastasse, em vez de ajudar na tramitação da PEC da Previdência, fez o possível para atrapalhar, criando uma crise aqui, outra acolá, falando mal deste, debochando daquele.
É complicado fazer previsão com quase 3 anos de
antecedência, sobretudo num país onde nem o passado é previsível. As últimas pesquisas
sugerem que a popularidade do capitão parou de cair e segue firme no patamar de 33%, podendo, inclusive, melhorar se
as boas perspectivas da economia se confirmem. Lula, mesmo solto, já não consegue mobilizar a esquerda como
antigamente, mas mantém respeitáveis 29%.
Lidos nas entrelinhas, esses resultados revelam que 60% do eleitorado tupiniquim é manipulável e altamente susceptível a discursos demagógicos, embora as castas já estejam formadas, sendo muito difícil membros da patuleia mortadeleira serem convertidos em bolsomínions. E vice-versa. Mas é bom ter em mente que, como as nuvens no céu e o cenário político, os índices podem mudar a cada nova pesquisa (sem mencionar que muitos entrevistados não só são semianalfabetos ou analfabetos funcionais, como também incapazes de encontrar o próprio rabo usando as duas mãos e uma lanterna).
Enfim, resta saber como ficará o "meio
de campo". Se não surgir um candidato "de centro" com
envergadura para mudar esse jogo de cartas marcadas, estaremos ferrados e mal pagos.
E anular, o voto, votar em branco ou se abster de votar, embora sejam opções
válidas, não ajudam em numa eleição polarizada como tende ser a de 2022.
Para concluir, ainda falando em pesquisas, dados coletados
pelo Datafolha indicam que a
avaliação do governo piorou no quesito combate à corrupção. Moro a culpa ao STF, mas
é sempre mais fácil escolher culpados do que assumir culpas. Hoje, lembra o
impagável Josias de Souza, quando a
corrupção domina a conversa numa rodinha, é impossível mudar de assunto; pode-se,
no máximo, mudar de suspeito. E Bolsonaro
está cercado de suspeitos: o filho investigado, o ministro denunciado no
escândalo do laranjal, um líder enrolado na Lava-Jato, o diabo.
Moro disse que
"o governo está trabalhando com
afinco para o restabelecimento da prisão em segunda instância". Não é
bem assim. O ministro até frequenta o debate do lado certo, mas o líder do
governo no Senado, Fernando Bezerra,
coleta assinaturas para barrar a votação do PL que altera o CPP, enquanto
Bolsonaro faz cara de paisagem ou,
no máximo, declarações flácidas. Num cenário em que a memória fraca se confunde
com a consciência limpa, o brasileiro tem dificuldade para enxergar inocentes
no palco. Consolida-se a sensação de que os corruptos são encontrados em várias
partes do mundo — quase todas no Brasil. E a leniência do Supremo não explica
tudo. Eleito como parte da solução, Bolsonaro
oferece material para que seus próprios eleitores comecem a enxergá-lo como
parte do problema.
Valei-nos Deus!
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sábado, 14 de dezembro de 2019
UM NOVO BRASILEIRO PARA UM NOVO BRASIL
Uma revolução está em curso no País. Trata-se de uma mudança na Educação feita de maneira sutil, inteligente e sistemática desde que Bolsonaro assumiu. Porque educar não é apenas colocar generais aposentados nas escolas, como qualquer verdadeiro patriota poderia pensar. O presidente, com sua alma professoral, atua para iluminar os mais velhos. Gente que, como eu, foi doutrinada pela esquerda. Com o auxílio de um seleto grupo de intelectuais, nosso indômito capitão vem colocando por terra ideias equivocadas que pareciam sedimentadas.
Em minha ignorância, por exemplo, eu lamentava não ter nascido antes. Poderia até ter sido até preso em movimentos estudantis na luta quixotesca contra uma ditadura que, como o presidente ensinou, nem existiu. Poderia ter apoiado os primeiros movimentos feministas, pensava eu, cego para a verdade. Não fosse a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, talvez ainda vivesse nas trevas.
Quando Damares Alves saiu de uma de suas primeiras reuniões com o presidente e afirmou que “a mulher nasceu para ser mãe”, meu queixo caiu. Depois, ela emendou: “A gravidez é um problema que dura só nove meses”. Que coragem. Eu passei a anotar todos os seus ensinamentos. Nascia ali um novo eu, sedento por me libertar da ignorância ideológica. Com Damares aprendi que ninguém nasce gay e que não é a política que vai mudar o Brasil, mas sim, a igreja (se for neopentecostal).
E quando achava que tinha aprendido tudo e enterrado meus sonhos adolescentes, o presidente apareceu com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Não fosse ele, eu ainda estaria alimentando a ideia de entrar para o Greenpeace, aqueles comunistas assassinos capazes de jogar óleo no mar, ou ajudar o WWF, que financia a queima da floresta amazônica (bato três vezes no tampo da minha mesa de mogno).
Não satisfeito, o presidente me deu outro mestre, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Com ele, aprendi que esse pessoal de revistas e jornais é safado e que a mídia vive para espalhar fake news. Notícias, agora, só pelo WhatsApp ou pelo Twitter dos filhos do presidente.
A gana do chefe do Executivo em difundir conhecimento parece não ter fim. Escolhida a dedo, a cada semana sua equipe de governo derruba mais uma dessas lendas que alimentei por décadas, influenciado pela mídia e pela esquerda. Mesmo assim, vejo zumbis ao meu redor. Gente que não assimila esses aprendizados.
Falando em zumbi, lembrei de mais um grande brasileiro que conheci. É esclarecedor ouvir o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo, novo presidente da Fundação Palmares, afirmar que o Dia da Consciência Negra causa perdas irreparáveis à economia do País em nome do falso herói histórico Zumbi dos Palmares, que escravizava africanos e seus descendentes, e de uma agenda política oculta que só serve para alimentar o revanchismo, doutrinando o povo negro para o vitimismo.
Pensei: “Meu Deus do céu! Não terá fim minha ignorância?”. Justo eu, que sempre achei que os negros mereciam mais oportunidades em nome de seu passado de sofrimento e lutas? Burro! Burro! Burro! sem contar que aprender, às vezes, dói. Como doeu quebrar todos os discos dos Beatles que colecionei na juventude. Não fosse o presidente da Funarte, Dante Mantoviani, explicar que Lennon e McCartney queriam implantar o comunismo, eu ainda estaria cantarolando “Help!”. Como não percebi as mensagens cifradas quando curtia “Back to USSR”?
Se você ainda não abriu os olhos, se ainda continua vivendo no passado, fica aqui o alerta de que um novo brasileiro está surgindo. Insista na ignorância e, talvez, você mereça mesmo continuar sendo nada mais do que um terrabolista alienado e oprimido.
Texto de Mentor Neto
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sexta-feira, 13 de dezembro de 2019
MAIS DO MESMO E O SÓSIA DO CAPITÃO CAVERNA
Para quem está de saco cheio das parvoíces bolsonaristas, talvez
sirva de consolo imaginar como estaria o Brasil se o bonifrate da autodeclarada
alma viva mais honesta do Brasil tivesse derrotado o capitão caverna, e não o
contrário. Só que isso não muda o fato de este governo ser uma usina de crises e
seu comandante em chefe, PhD em descumprir promessas de campanha e priorizar o
que convém a si e a sua prole.
Falando em prole, se você atribui grande parte dos problemas nacionais às estultices dos "príncipes herdeiros", prepare-se: Jair Renan Bolsonaro, de 21 anos, foi eleito para a direção nacional do novo partido do presidente — será membro com direito a voto. Bolsokid, como se apresenta o zero quatro, estuda análise de sistemas em Brasília, joga videogame, especialmente o League of Legends, frequenta festas badaladas e alimenta suas redes sociais, embora não com a mesma voracidade dos irmãos mais velhos. Com o pai, Renan compareceu a alguns eventos, como a reunião do Mercosul na Argentina, em julho, quando foi apresentado como “embaixador mirim”. É mole?
Falando em prole, se você atribui grande parte dos problemas nacionais às estultices dos "príncipes herdeiros", prepare-se: Jair Renan Bolsonaro, de 21 anos, foi eleito para a direção nacional do novo partido do presidente — será membro com direito a voto. Bolsokid, como se apresenta o zero quatro, estuda análise de sistemas em Brasília, joga videogame, especialmente o League of Legends, frequenta festas badaladas e alimenta suas redes sociais, embora não com a mesma voracidade dos irmãos mais velhos. Com o pai, Renan compareceu a alguns eventos, como a reunião do Mercosul na Argentina, em julho, quando foi apresentado como “embaixador mirim”. É mole?
Mas não é só. Paulo
Guedes parece ter absorvido por osmose (ou simbiose?) alguns traços da
personalidade do chefe. É público e notório que ministro da área econômica não
deve opinar sobre câmbio e taxa básica de juros, mas o Posto Ipiranga quebrou a regra, numa entrevista em Washington, ao
dizer que "é bom se acostumar com câmbio mais alto e juro mais baixo por um bom
tempo”. Isso bastou para a moeda brasileira encolheu quase 2%, passando
a seu maior valor nominal desde 1994.
A fala de Guedes
foi imprudente, mas não despropositada, pois passou o recado de que quem
esperava encontrar câmbio mais favorável na temporada de férias de final de ano
tirar o cavalo da chuva. Felizmente, basta ir a Brasília para ver o Pateta, sem mencionar que sai bem mais
barato do que ir à Disney.
O plano é manter o dólar mais caro e a Selic mais baixa para estimular
investimentos e dar fôlego às indústrias exportadoras, o que, espera-se,
refletirá positivamente no PIB e
propiciará um crescimento mais sustentável da Economia — às favas com o desejo
da classe média de fazer compras em Miami e as necessidades do setor produtivo,
que precisa ganhar competitividade para impulsionar as exportações com um
câmbio mais favorável. Mas a debandada de investidores estrangeiros nos últimos
meses transformou a volatilidade cambial em uma preocupação constante. Tanto é
que na terça-feira 26 o BC despejou US$2 bilhões no mercado à vista de
câmbio em menos de seis horas (foi a maior intervenção desde fevereiro de 2009
— quando se vivia o auge da crise econômica global — que, contrariando as
mentiras de Lula, foi bem mais
que uma simples "marolinha").
Enquanto isso, o Pato
Donald acusa (injustamente) o Brasil e a Argentina de desvalorizarem suas
moedas e promete taxar as importações de aço e alumínio dos dois países. Isso
mostra que a "relação especial" que o Pateta diz ter com Donald não
passa de mais uma aleivosia. Aliás, alguém deveria informar ao capitão que
países não têm amigos, têm interesses, sendo ingenuidade, portanto, achar que o
Brasil obterá alguma deferência especial porque seu presidente é baba-ovo do
colega norte-americano.
Para Josias de Souza,
a ameaça de Trump foi uma paulada,
mas Bolsonaro reagiu com inusitado
respeito e inesperada compostura: "Não
vejo isso como retaliação", disse o presidente, ainda sob efeito da
pancada. Se Bolsonaro reagisse
como Bolsonaro, diz Josias de
Souza, ele esfregaria na cara do inquilino da Casa Branca a expressão preferida
do próprio: "Isso é fake News, tá
ok?". Em se tratando do mito, porém, a ficha demora a cair: "Se for o caso, falo com o Trump, tenho um
canal aberto com ele."
Bolsonaro ainda
não se deu conta de que sua relação especial com a Casa Branca foi uma espécie
de conto do vigário que o levou a entregar a Trump a base espacial de Alcântara, a liberação da catraca do
Brasil para turistas americanos, a importação de uma cota extra de etanol
americano e até amor verdadeiro, e, em troca, só recebeu pauladas. Dizer que o
Brasil quis derrubar a cotação do real de propósito para se tornar mais
competitivo no agronegócio, prejudicando os produtores americanos, é bullshit de um Trump que tenta adular o eleitorado interno às vésperas de
disputar uma reeleição difícil. Goofy já
disse que ama Donald Duck, mas
diplomacia não é coisa para amadores nem para amantes. Em condições normais, a
relação pessoal dos dois deveria ser regulada pela Lei Maria da Penha, mas, na briga dos
Estados Unidos com o Brasil, quem apanha é o interesse tupiniquim.
Agora o cúmulo dos cúmulos deste governo desajustado: O debate sobre a volta da prisão em segunda instância transformou nosso indômito presidente no segundo desaparecido político do regime bolsonarista. O primeiro foi o Fabrício Queiroz, o "faz-tudo" da família Bolsonaro.
Quando Fernando Bezerra, líder do governo no Senado, articula a coleta de assinaturas para retardar a votação do projeto sobre prisão prisão em segunda instância, diz Josias de Souza, a plateia fica autorizada a suspeitar que há um sósia de Bolsonaro no Palácio do Planalto.
O silêncio do presidente é estridente. O Bolsonaro legítimo, todos sabem, elegeu-se enrolado na bandeira da moralidade. Eleito, esse Bolsonaro inflexível com os maus costumes nomeou para o posto de ministro da Justiça Sergio Moro, um personagem que o presidente enxergava como símbolo nacional do combate à corrupção. De repente, o sósia do Planalto suja com o seu silêncio a imagem daquele Bolsonaro da campanha eleitoral.
Alguém se fazendo passar por Bolsonaro decerto nomeou Fernando Bezerra para o posto de líder. Trata-se, como também se sabe, de um ex-apoiador de Lula, ex-ministro de Dilma, cliente de caderneta da Lava-Jato. Agora, Bezerra se associa ao PT na articulação para retardar a volta da prisão na segunda instância.
Com o nó no pescoço, o líder do governo tenta afrouxar a corda. O pior é que ele é o único a fugir do nó. Há na Esplanada ministros investigados e denunciados. Há até um ministro condenado por improbidade. Há na casa de Bolsonaro um filho, Flávio, sob suspeita de peculato e lavagem de dinheiro. O Bolsonaro legítimo jamais silenciaria diante de um quadro assim.
Alguém precisa organizar uma incursão nos porões do Alvorada. O Bolsonaro genuíno, o autêntico, deve estar aprisionado em algum recanto sombrio do palácio residencial
Agora o cúmulo dos cúmulos deste governo desajustado: O debate sobre a volta da prisão em segunda instância transformou nosso indômito presidente no segundo desaparecido político do regime bolsonarista. O primeiro foi o Fabrício Queiroz, o "faz-tudo" da família Bolsonaro.
Quando Fernando Bezerra, líder do governo no Senado, articula a coleta de assinaturas para retardar a votação do projeto sobre prisão prisão em segunda instância, diz Josias de Souza, a plateia fica autorizada a suspeitar que há um sósia de Bolsonaro no Palácio do Planalto.
O silêncio do presidente é estridente. O Bolsonaro legítimo, todos sabem, elegeu-se enrolado na bandeira da moralidade. Eleito, esse Bolsonaro inflexível com os maus costumes nomeou para o posto de ministro da Justiça Sergio Moro, um personagem que o presidente enxergava como símbolo nacional do combate à corrupção. De repente, o sósia do Planalto suja com o seu silêncio a imagem daquele Bolsonaro da campanha eleitoral.
Alguém se fazendo passar por Bolsonaro decerto nomeou Fernando Bezerra para o posto de líder. Trata-se, como também se sabe, de um ex-apoiador de Lula, ex-ministro de Dilma, cliente de caderneta da Lava-Jato. Agora, Bezerra se associa ao PT na articulação para retardar a volta da prisão na segunda instância.
Com o nó no pescoço, o líder do governo tenta afrouxar a corda. O pior é que ele é o único a fugir do nó. Há na Esplanada ministros investigados e denunciados. Há até um ministro condenado por improbidade. Há na casa de Bolsonaro um filho, Flávio, sob suspeita de peculato e lavagem de dinheiro. O Bolsonaro legítimo jamais silenciaria diante de um quadro assim.
Alguém precisa organizar uma incursão nos porões do Alvorada. O Bolsonaro genuíno, o autêntico, deve estar aprisionado em algum recanto sombrio do palácio residencial
Que Deus nos ajude.
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domingo, 8 de dezembro de 2019
BOLSONARO E A REELEIÇÃO
Jair Bolsonaro,
por um fenômeno até agora não esclarecido pelos nossos esclarecedores de
questões nacionais, foi o único político de primeira grandeza no Brasil a
entender que, para a maioria dos brasileiros, a polícia é uma coisa boa e bandido é uma coisa ruim. Noves
fora os rematados idiotas de sempre, todo mundo sabe que policiais erram, que podem
tratar mal o público e não investigar nem reprimir como deveriam os crimes
cometidos, além de eles próprios cometerem uma série intolerável de atos criminosos.
Mas também é sabido que não existe um único caso de bandido que esteja a favor
do cidadão — e que qualquer policial, no fim das contas, é melhor que qualquer
criminoso. Daí a “oposição”, parte da mídia, “movimentos sociais” e
"defensores dos direitos humanos" tomarem partido contra as forças da
ordem e a favor das forças do crime. E se mostrarem indignados, depois, quando
a população prefere o capitão caverna a assassinos, ladrões e estupradores.
Segundo J.R. Guzzo, a grande questão da política brasileira, hoje, é a perspectiva real de Bolsonaro ficar no seu cargo não só pelos três anos de mandato a que ainda tem direito por conta da eleição de 2018, mas até 31 de dezembro de 2026. E não adianta fazer de conta que não é isso. É precisamente isso. Fala-se de tudo — da descomunal importância do presidente da Câmara para o futuro do Brasil e do Sistema Solar, do que se passa a cada minuto do dia na cabeça do presidente do Senado, dos entreveros de Bolsonaro com o sistema de pontos nas multas de trânsito. Discutem-se novos partidos, velhos partidos, centrão, centrinho, os filhos do presidente e o futuro de Lula: o que mais o STF pode fazer por ele?
Segundo J.R. Guzzo, a grande questão da política brasileira, hoje, é a perspectiva real de Bolsonaro ficar no seu cargo não só pelos três anos de mandato a que ainda tem direito por conta da eleição de 2018, mas até 31 de dezembro de 2026. E não adianta fazer de conta que não é isso. É precisamente isso. Fala-se de tudo — da descomunal importância do presidente da Câmara para o futuro do Brasil e do Sistema Solar, do que se passa a cada minuto do dia na cabeça do presidente do Senado, dos entreveros de Bolsonaro com o sistema de pontos nas multas de trânsito. Discutem-se novos partidos, velhos partidos, centrão, centrinho, os filhos do presidente e o futuro de Lula: o que mais o STF pode fazer por ele?
Há, todos os dias, a crise da manhã, a crise da tarde e a
crise da noite, com ameaça real, direta e imediata à sobrevivência do governo.
Há de tudo — menos a discussão aberta da única coisa que de fato interessa: até
quando Bolsonaro vai ficar? O resto
é o resto.
Não se trata de um “Quiz” de adivinhação. Se o presidente
ficar ”X” tempo, a sociedade brasileira terá uma cara; se ficar “X” + “Y”, terá
outra. Não é mudança de governo. É mudança de vida. Daqui a três anos, se as
coisas continuarem a andar do jeito que estão andando, o Brasil será um país
tão diferente do que é hoje, mas tão diferente, que praticamente nada do que se
discute no momento terá qualquer significado prático para o dia a dia dos
brasileiros.
Se a história for ainda além, e Bolsonaro receber um segundo mandato — bom, aí estaremos entrando
em território absolutamente virgem. É uma perspectiva que assusta até o fundo
da alma toda a ordem política, econômica e social que manda hoje no Brasil,
como tem mandado há décadas, ou mais do que isso. Assusta porque traz o insustentável
peso da mudança para os que não querem que nada mude — ou que só mude aquilo
que lhes interessa mudar. Mudam o sistema psicológico, a “ideologia”, os
hábitos intelectuais, os valores, os usos e costumes.
Quem está contente com o Brasil como ele foi até hoje não
pode estar contente com o Brasil desconhecido que talvez esteja vindo aí pela
frente. Qual poderia ser ele? É uma perda de tempo, como se sabe, ficar
preocupado em excesso com o futuro, porque ele virá de qualquer maneira. O que
dá para fazer é uma lista de realidades — e ir checando, uma por uma, se elas
estão mudando para melhor ou para pior. A economia, por exemplo. Pelos fatos
que podem ser vistos hoje — e não pelos sentimentos que você tem a respeito
deles — a situação tende a melhorar ou piorar?
O país, no futuro próximo, vai ter um outro STF e uma outra Justiça. A máquina pública deixará de crescer como cresceu nos últimos 50 anos. O Brasil, forçosamente, vai estar mais integrado às cadeias mundiais de produção. O “investimento público” deixará de ter o tratamento sagrado que tem hoje. Não haverá novas empresas estatais. As pressões da maioria sobre os donos da vida pública vão aumentar — entre outras coisas, não há nenhuma hipótese de que as redes sociais se tornem menores e mais silenciosas do que são hoje.
O país, no futuro próximo, vai ter um outro STF e uma outra Justiça. A máquina pública deixará de crescer como cresceu nos últimos 50 anos. O Brasil, forçosamente, vai estar mais integrado às cadeias mundiais de produção. O “investimento público” deixará de ter o tratamento sagrado que tem hoje. Não haverá novas empresas estatais. As pressões da maioria sobre os donos da vida pública vão aumentar — entre outras coisas, não há nenhuma hipótese de que as redes sociais se tornem menores e mais silenciosas do que são hoje.
Todas essas coisas somadas, e uma infinidade de outras, são
positivas ou não? Faça suas contas. O fato é que ninguém pode esperar uma vida
melhor se não houver mudança nenhuma no lugar onde ela se tornou ruim.
Com J.R. Guzzo
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sábado, 7 de dezembro de 2019
E DÁ-LHE ÓLEO DE PEROBA
A vida passa, o tempo voa, os governos mudam de Lula para Bolsonaro e o Brasil continua sem
saber quem são os seus inimigos reais — aqueles que funcionam como um exército
de ocupação, extorquem o seu dinheiro pelas mais diversas formas que o ser
humano pode imaginar e impõem, no fim das contas, uma tirania não declarada
sobre toda a população do país. Ou melhor: sabe-se muito bem quem são eles, até porque estão
dia e noite em todas as plataformas da mídia. Mas não há mais ânimo nem meios
nem força para combatê-los.
O resultado é que fica todo mundo procurando saber
o que há “de errado com esse país”, e o mais errado de tudo está na cara de
todo mundo: a casta de parasitas que ocupa regiões inteiras do funcionalismo público
nacional.
Concentram renda. Consomem recursos que pertencem a todos.
Emperram o funcionamento da máquina que devia servir a população. Obrigam
pessoas e empresas a obedecer regras que não existem na lei — são legisladores,
executivos e juízes ao mesmo tempo. Levam o país a dispender três vezes mais
esforço, trabalho e energia para avançar cada decimal de ponto no crescimento
do PIB.
Grande parte da atividade realizada hoje pelo poder
público brasileiro, talvez a maior parte, consiste na tarefa, jamais
terminada, de atender essa gente — nomear, pagar, dar aumentos, apaziguar,
fazer com que se reproduzam. Sua modalidade mais degenerada, provavelmente, são
os cargos chamados DAS, uma manada que tem entre 20.000 e 25.000 pessoas só no
governo federal. Ninguém, nem com os programas de computador mais irados, sabe
ao certo quantos são. Consomem quantidades desconhecidas de dinheiro do erário
em salários e benefícios — acima de R$ 1 bilhão por ano, certamente, mas podem
estar custando muito mais que isso ao contribuinte.
Não têm, ao contrário do que se exige da imensa maioria dos
servidores públicos, de prestar concurso ou demonstrar qualquer competência
para ocupar os seus cargos. Eles são de “livre nomeação” do Poder Executivo,
que os utiliza como moeda de troca para obter votos e apoio no Congresso.
São apadrinhados de senadores e deputados que chantageiam o
governo 365 dias por ano com o mesmo problema: ou vocês nomeiam quem eu estou
pedindo, ou então eu viro oposição na hora de votar seja lá o que for.
Isso é só um pedaço da tragédia. Nos níveis estaduais e
municipais, a casta dos ocupantes de cargos de “livre provimento” deve andar
por volta de 800.000 apaniguados. A despesa com eles, como ocorre com os demais
números nessa salada, é incerta – mas tem sido calculada em alguma coisa entre
R$ 30 bilhões e R$ 35 bilhões por ano.
Não se pode esquecer, enfim, os premiados com “funções
especiais”, presentes também na área federal, e todos os que se beneficiam da usina
de produzir trapaças no serviço público que funciona em tempo integral do
Oiapoque ao Chuí. Em suma: quer saber por que falta tanta coisa, em termos das necessidades mais elementares para a população? Porque riquezas que são devidas a todos vão direto para a turma do “livre provimento” e dos políticos que a controlam.
Há ainda muita coisa que poderia ser dita, mas será mais do
mesmo. O fato é que está aí, nessa multidão que ocupa o verdadeiro centro nervoso
do “debate político” no país, o mais intratável inimigo de toda a sociedade
brasileira. Estão discutindo furiosamente, neste exato momento, a
“liberação” de mais nomeações, fazendo um “esforço concentrado”, como eles próprios chamam as suas tentativas mais agressivas de aprovar com rapidez alguma coisa — em geral, alguma coisa da qual vão tirar proveito material imediato. Depois vão lhe dizer, nas mesas redondas de
especialistas, que o Brasil está diante de graves problemas de “articulação
política".
Como se sabe, o Congresso Nacional, uma das
nossas “instituições”, roubou dos cidadãos deste país, em plena luz do dia, uma
montanha de dinheiro para distribuir entre “os partidos”, com a desculpa
velhaca de que precisam de recursos do erário público para pagar as despesas
que têm de fazer no exercício da atividade política. É o infame “Fundo Partidário”. Na melhor das
hipóteses, iriam meter a mão em 1,7 bilhão de reais. O governo tenta
segurar o valor do assalto em 2 bi. Os deputados estão querendo mais de 4,
simplesmente o dobro, para o ano que vem.
Não há uma única coisa em toda essa história que seja
verdadeira. O dinheiro não vai para os “partidos” — vai, na prática, para as
pessoas que mandam neles. É falso que, ao saquear dinheiro público, os
políticos estejam evitando a extorsão de dinheiro privado para pagar suas
campanhas eleitorais e outros gastos; vão fazer as duas coisas ao mesmo tempo,
apenas isso.
Os recursos do “Fundo
Partidário” não se destinam a pagar despesas legítimas (vá lá) da ação
política — os parlamentares querem usar esses bilhões para virtualmente tudo,
do pagamento de diárias de motel a honorários de advogados criminalistas para
defendê-los em seus processos na justiça. Quer saber quem são as pessoas honestas e quem são as
desonestas no Congresso brasileiro? É muito fácil. Honesto, de verdade, só há
um tipo: o que se recusa a usar a verba do “Fundo”.
“É difícil encontrar
uma maneira mais estúpida de se tomar decisões do que entregá-las a pessoas que
não vão pagar nada se elas derem errado”, diz o pensador americano Thomas Sowell. Perfeito, professor.
Eis um retrato maravilhoso de como as coisas funcionam neste país.
Com J.R. Guzzo.
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