A prisão dos quatro suspeitos de invadir cerca
de mil celulares, entre os quais os de altas autoridades desta Banânia, não
altera de maneira substantiva as suspeições sobre as condutas de Sergio Moro e Deltan Dallagnol nem põe em xeque a liberdade de expressão, mas fere gravemente a confiabilidade de novas publicações de conversas decorrentes
de invasões.
Diz Dora Kramer
que é razão de o editor do site panfletário proselitista The Intercept reagir violentamente
contra a ação da PF, chamando de
“farsa” as investigações que resultaram na prisão dos hackers em
São Paulo. Isso de um lado. De outro,
Moro reduziu o efeito do que poderia ser visto como uma vitória dele ao
avisar parlamentares e magistrados que haviam sido atingidos e dizer a pelo
menos um deles que as conversas seriam destruídas.
Houve providencial recuo em manifestação da PF e em nota do próprio Ministério da
Justiça, esclarecendo que o destino das mensagens só pode ser decidido pelo
juiz do caso, que Moro escorregou
quando agiu ao mesmo tempo como juiz, vítima e chefe das investigações — o que,
em tese e no limite, pode resultar numa acusação por obstrução de justiça
devido à defesa de destruição de provas. Afora isso, o que esse caso expõe é
uma tremenda falta de segurança no tocante à privacidade de autoridades que,
muito provavelmente por ignorância digital, não tomaram as devidas precauções
no resguardo dos respectivos telefones celulares. E o problema com as
consequências é que elas sempre vêm depois.
Mudando de pato pra ganso, a campanha eleitoral de 2018
ensinou que o embate ideológico, principalmente se feito na base do “fascista”
para rebater o “comunista”, não é arma eficaz no exercício da oposição a Jair Bolsonaro. Nele, esse tipo de
chumbo trocado não dói. Ao contrário, costuma fortalecê-lo junto ao público que
o levou à presidência e é ainda diária e intensamente cultivado em gestos,
palavras e decisões.
Expressões de repugnância e/ou menosprezo pela figura
presidencial servem bem ao desabafo, ao protesto emocional, às demonstrações
indignadas que, embora sustentadas em fatos e respaldadas em princípios de
civilidade e racionalidade, são apenas demonstrativos. Tendem, inclusive, a
servir de armadilha, na medida em que banalizam o protesto e acabam dando
sentido de normalidade ao que é realmente exorbitante.
Nos primeiros seis meses de governo, a toada das críticas tem
sido a mesma, não obstante Bolsonaro oferecer razões a mancheias para que elas
sejam mais bem fundamentadas. A ausência de elaboração argumentativa e o uso de
insultos são a praia onde o presidente nada de braçada, imbatível no quesito
nível abaixo do aceitável. Já no campo das alegações e justificativas bem
colocadas, questionamentos substantivos, premissas e conclusões lógicas, teses,
antíteses e sínteses irrefutáveis, ele não sabe nem tem interesse em navegar.
Portanto, quando a ideia é contentar seus gestos, palavras e notadamente
decisões, a saída eficaz é o recurso a um bom e consistente conteúdo.
Dá trabalho, requer conhecimento, habilidade no trato das
palavras e argúcia de raciocínio, mas qualifica e diferencia o antagonista. Foi
justamente o que exibiu o diplomata Rubens
Barbosa em artigo publicado na edição do dia 23 de julho do ESTADO, ao discorrer sobre seu período
(1999-2004) como embaixador do Brasil
nos Estados Unidos. Em meio ao ambiente de insultos vãos sobre Bolsonaro de indicar o filho número
três para o posto mais importante da diplomacia mundial, sem citar a hipótese
da nomeação, Barbosa chama o
presidente à compostura, mostrando o que é a função e o que se exige do titular
na missão de representar o país em Washington.
Segundo o embaixador, presença e interlocução constante com
autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário americanos, empresários,
acadêmicos, investidores, representantes de entidades sociais, viagens pelo
país em busca de informações e mediação de contatos multilaterais são
indispensáveis à “ocupação de espaço de influência a favor do Brasil”. Nenhuma
dessas atribuições consta da lista de tarefas que zero três se diz apto a
exercer em nome do Brasil, mas abrilhanta seu invejável currículo ter fritado
hambúrgueres no estado norte-americano do Maine, 14 anos atrás, numa unidade da rede de fast food Popeyes. Mesmo assim, tudo indica que ele será indicado e que o Senado aprovará essa indicação.
O detalhe — e o diabo mora nos detalhes — é que a rede Popeyes é especializada em frango frito e
não tem hambúrguer de carne bovina no menu. Concorrente do KFC, é a segunda maior rede de fast
food baseada em frango do mundo; em algumas regiões, há até frutos do mar
empanados e fritos, mas o foco é a carne de frango com tempero típico do estada
da Louisiana.
Sobre o passado nebuloso de Verdevaldo, o puro, assista a este vídeo:
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