A vida passa, o tempo voa, os governos mudam de Lula para Bolsonaro e o Brasil continua sem
saber quem são os seus inimigos reais — aqueles que funcionam como um exército
de ocupação, extorquem o seu dinheiro pelas mais diversas formas que o ser
humano pode imaginar e impõem, no fim das contas, uma tirania não declarada
sobre toda a população do país. Ou melhor: sabe-se muito bem quem são eles, até porque estão
dia e noite em todas as plataformas da mídia. Mas não há mais ânimo nem meios
nem força para combatê-los.
O resultado é que fica todo mundo procurando saber
o que há “de errado com esse país”, e o mais errado de tudo está na cara de
todo mundo: a casta de parasitas que ocupa regiões inteiras do funcionalismo público
nacional.
Concentram renda. Consomem recursos que pertencem a todos.
Emperram o funcionamento da máquina que devia servir a população. Obrigam
pessoas e empresas a obedecer regras que não existem na lei — são legisladores,
executivos e juízes ao mesmo tempo. Levam o país a dispender três vezes mais
esforço, trabalho e energia para avançar cada decimal de ponto no crescimento
do PIB.
Grande parte da atividade realizada hoje pelo poder
público brasileiro, talvez a maior parte, consiste na tarefa, jamais
terminada, de atender essa gente — nomear, pagar, dar aumentos, apaziguar,
fazer com que se reproduzam. Sua modalidade mais degenerada, provavelmente, são
os cargos chamados DAS, uma manada que tem entre 20.000 e 25.000 pessoas só no
governo federal. Ninguém, nem com os programas de computador mais irados, sabe
ao certo quantos são. Consomem quantidades desconhecidas de dinheiro do erário
em salários e benefícios — acima de R$ 1 bilhão por ano, certamente, mas podem
estar custando muito mais que isso ao contribuinte.
Não têm, ao contrário do que se exige da imensa maioria dos
servidores públicos, de prestar concurso ou demonstrar qualquer competência
para ocupar os seus cargos. Eles são de “livre nomeação” do Poder Executivo,
que os utiliza como moeda de troca para obter votos e apoio no Congresso.
São apadrinhados de senadores e deputados que chantageiam o
governo 365 dias por ano com o mesmo problema: ou vocês nomeiam quem eu estou
pedindo, ou então eu viro oposição na hora de votar seja lá o que for.
Isso é só um pedaço da tragédia. Nos níveis estaduais e
municipais, a casta dos ocupantes de cargos de “livre provimento” deve andar
por volta de 800.000 apaniguados. A despesa com eles, como ocorre com os demais
números nessa salada, é incerta – mas tem sido calculada em alguma coisa entre
R$ 30 bilhões e R$ 35 bilhões por ano.
Não se pode esquecer, enfim, os premiados com “funções
especiais”, presentes também na área federal, e todos os que se beneficiam da usina
de produzir trapaças no serviço público que funciona em tempo integral do
Oiapoque ao Chuí. Em suma: quer saber por que falta tanta coisa, em termos das necessidades mais elementares para a população? Porque riquezas que são devidas a todos vão direto para a turma do “livre provimento” e dos políticos que a controlam.
Há ainda muita coisa que poderia ser dita, mas será mais do
mesmo. O fato é que está aí, nessa multidão que ocupa o verdadeiro centro nervoso
do “debate político” no país, o mais intratável inimigo de toda a sociedade
brasileira. Estão discutindo furiosamente, neste exato momento, a
“liberação” de mais nomeações, fazendo um “esforço concentrado”, como eles próprios chamam as suas tentativas mais agressivas de aprovar com rapidez alguma coisa — em geral, alguma coisa da qual vão tirar proveito material imediato. Depois vão lhe dizer, nas mesas redondas de
especialistas, que o Brasil está diante de graves problemas de “articulação
política".
Como se sabe, o Congresso Nacional, uma das
nossas “instituições”, roubou dos cidadãos deste país, em plena luz do dia, uma
montanha de dinheiro para distribuir entre “os partidos”, com a desculpa
velhaca de que precisam de recursos do erário público para pagar as despesas
que têm de fazer no exercício da atividade política. É o infame “Fundo Partidário”. Na melhor das
hipóteses, iriam meter a mão em 1,7 bilhão de reais. O governo tenta
segurar o valor do assalto em 2 bi. Os deputados estão querendo mais de 4,
simplesmente o dobro, para o ano que vem.
Não há uma única coisa em toda essa história que seja
verdadeira. O dinheiro não vai para os “partidos” — vai, na prática, para as
pessoas que mandam neles. É falso que, ao saquear dinheiro público, os
políticos estejam evitando a extorsão de dinheiro privado para pagar suas
campanhas eleitorais e outros gastos; vão fazer as duas coisas ao mesmo tempo,
apenas isso.
Os recursos do “Fundo
Partidário” não se destinam a pagar despesas legítimas (vá lá) da ação
política — os parlamentares querem usar esses bilhões para virtualmente tudo,
do pagamento de diárias de motel a honorários de advogados criminalistas para
defendê-los em seus processos na justiça. Quer saber quem são as pessoas honestas e quem são as
desonestas no Congresso brasileiro? É muito fácil. Honesto, de verdade, só há
um tipo: o que se recusa a usar a verba do “Fundo”.
“É difícil encontrar
uma maneira mais estúpida de se tomar decisões do que entregá-las a pessoas que
não vão pagar nada se elas derem errado”, diz o pensador americano Thomas Sowell. Perfeito, professor.
Eis um retrato maravilhoso de como as coisas funcionam neste país.
Com J.R. Guzzo.