FILHOS? MELHOR NÃO
TÊ-LOS. MAS SE NÃO OS TEMOS, COMO SABÊ-LO?
A frase acima abre o POEMA ENJOADINHO, de Vinicius de Moraes, (que você pode
apreciar clicando aqui). Mas nem tudo é poesia na política nem flores no jardins
do Palácio do Planalto.
Três dos cinco filhos de JairBolsonaro têm
mandato. Zero um é senador, zero dois, vereador e zero três, deputado federal,
mas ficam sob as asas do presidente como pintinhos de uma galinha, e são tão
barulhentos quanto. E zero quatro — ou Bolsokid,
como Jair Renan se apresenta — deve
se juntar aos irmãos em breve. Que Deus nos ajude.
Flávio Bolsonaro
está tão afundado no caso Queiroz
quanto os destroços do Titanic na costa de Newfoundland, no
Canadá. As investigações foram suspensas por uma estapafúrdia
liminar do togado supremo que preside os demais togados, mas o plenário fechou esse guarda-chuva ao deliberar pela constitucionalidade de troca de
dados entre o UIF (antigo Coaf) e a Receita Federal com o Ministério Públicosem prévia autorização judicial.
Semanas atrás, o primogênito do capitão-super-herói da luta
contra a corrupção votou a favor do aumento do fundo eleitoral de R$ 1,7 para R$3,8 bilhões. Cuspiu
na cara dos 4 milhões de brasileiros que o elegeram senador. "Foi por engano, e agora não dá para voltar
atrás”, justificou-se o senador distraído. Pode uma coisa dessas? Ele acha
que sim. Mas isso demonstra que, além de compactuar com as gangues partidárias
do Congresso, o sujeito ainda nos tem na conta de burros.
Observação: Pressionados pelo governo, líderes do
Congresso já admitem reduzir a verba para R$
2,5 bilhões. Em reunião nesta terça-feira, 10, para fechar acordo sobre
votações no Legislativo até o fim do ano, os parlamentares ouviram que o novo
valor não enfrentaria resistência por parte de Jair Bolsonaro.
Mudando o foco para Fabio
Luiz Lula da Silva, o Lulinha, (que,
por sinal, detesta o apelido), e os sócios dele, Fernando Bittar, Kalil
Bittar e Jonas Suassuna (tutti buona gente), que são alvos da
69ª fase da Lava-Jato. Há anos que
se tem conhecimento de que a ascensão profissional/patrimonial do "Ronaldinho dos Negócios" é, no
mínimo, suspeita. Até o criminoso de Garanhuns ser eleito presidente, seu
primogênito trabalhava como catador de bosta de elefante no zoo de São Paulo. Com
o papai no Planalto, esse gênio das finanças abriu uma firmeca de tecnologia
chamada Gamecorp, travestiu-se
de empreendedor bem sucedido e amealhou um patrimônio considerável.
O menino-prodígio mora num apartamento registrado em nome
de Jonas Suassuna — o
mesmo que figura como um dos donos do folclórico Sítio Santa Bárbara, em Atibaia. Nunca houve contrato formal
assinado entre eles, apenas o repasse de umas poucas mensalidades de R$ 15 mil, que, segundo os
investigadores, “não contemplavam todos
os meses do período de maio de 2014 fevereiro de 2016, assim como eram em valor
inferior à estimativa realizada pelo fisco federal para valor do aluguel do
imóvel” (que em 2016, foi estimado em R$ 40 mil mensais).
Impulsionado pelo grupo telefônico Oi/Telemar, cuja fusão com a Brasil
Telecom foi azeitada graças à benevolência do governo durante o reinado de Lula, o filho do pai se tornou um
próspero empresário. Segundo a força-tarefa de Curitiba, a boa vontade de
Brasília resultou em repasses injustificados da telefônica para a firma de Lulinha que somaram R$ 132 milhões entre 2004 e 2016. Por
uma dessas doces coincidências, dois dos sócios do Bill Gates tupiniquim — Bittar
e Suassuna— se juntaram para comprar
o sítio em Atibaia que era desfrutado pelo ex-presidente lalau. Foi nesse sítio
que a Odebrecht e a OAS despejaram verbas roubadas da
Petrobras para financiar os confortos do petralha — e que rendeu uma pena de
mais de 17 anos na recente sentença condenatória de segunda instância.
Lula, o pai, foi
libertado após amargar um ano e sete meses de cana. Só continua livre porque o
Supremo derrubou por 6 votos a 5 a regra que permitia a prisão de condenados em
segunda instância. O sucesso da Lava-Jato
era atribuído a três novidades: 1) A corrupção passara a dar cadeia; 2) O medo
da prisão potencializara as delações; 3) As colaborações judiciais
impulsionaram as descobertas. Esse círculo virtuoso foi interrompido pela
suprema banda-podre. Assim, é improvável que Lulinha passe na cadeia temporada semelhante à que foi imposta ao
pai. Não por falta de material, mas porque a Lava-Jato, agora aleijada, arrasta-se pela conjuntura sem meter
medo. O supremo retrocesso reintroduziu no processo penal brasileiro dois
vocábulos nefastos: prescrição e impunidade.
Para assistir a um vídeo onde o assunto é abordado forma bem-humorada, clique aqui.
Além de ainda não ter formado uma base de apoio parlamentar e de ter declarado guerra ao partido pelo qual se
elegeu, nosso indômito presidente vem terminando amizades de longa data (mais
detalhes nas postagens de ontem e de amanhã) e fulminando aliados um após o
outro. Não demora e lhe restará somente o apoio dos três filhos com mandato
parlamentar — o que não serve de consolo, considerando que, para blindar Zero Um, o papai presidente se sujeitou
a lamber as botas de Toffoli, Alcolumbre e Gilmar; Zero Dois
insiste em botar fogo no circo (sua penúltima estultice foi o vídeo do leão e
as hienas); e Zero Três, que já
"defendeu o fechamento do STF"
(cliqueaquipara
assistir ao vídeo e conferir em que contexto ele disse isso), agora volta à
carga com a reedição do AI-5 (mais
detalhes nos posts anteriores e no de amanhã).
Com desgraça pouca é bobagem, depois que a Globo veiculou (de forma açodada,
se não maliciosa) uma matéria sobre sua suposta ligação com o caso Marielle, o capitão insinuou que que
a emissora terá problemas para renovar sua concessão: "Teremos uma conversa em 2022",
disse, para logo depois tentar recolocar o gênio na garrafa. Mas aí a mídia
já havia caído de pau. No dia seguinte, Bolsonaro voltou à carga e anunciou o
cancelamento de todas as assinaturas do jornal Folha de S.Paulo no âmbito do governo federal, além de fazer
ameaças aos anunciantes do veículo. Quase que ao mesmo tempo, o terceiro filho concedeu a bizarra entrevista
que "estarreceu o país" — continuo achando que houve muito
oportunismo nessa indignação toda, mas enfim...
Apeado do sonho (por ora impossível) de assumir a embaixada
do Brasil nos EUA (com as bençãos de Pato
Donald Trump), Eduardo Bolsonaro assumiu a liderança do PSL na Câmara.
Não foi uma boa ideia. Falta-lhe discernimento para diferenciar o que pode ser
dito entre amigos, numa mesa de boteco, do que se pode falar em público. Embora não
exista no governo cargo de "filho de presidente", esta administração o criou
informalmente quando o monarca se cercou dos príncipes-herdeiros, e estes, deslumbrados com o poder, escudam-se na imunidade parlamentar para proferir asnices
de todas as cores, cheiros e sabores.
A declaração do Zero Três sobre o AI-5 foi repudiada
por partidos de todo o espectro ideológico — inclusive do próprio PSL. Bolsonaro pai desautorizou o filho: "Não apoio. Quem quer que seja que fale em AI-5 está sonhando. Está
sonhando, está sonhando. Não quero nem ver notícia nesse sentido aí. Cobrem
vocês dele, ele é independente."E completou:"Qualquer palavra nossa vira um tsunami."
Mas a flecha já havia sido lançada, a oportunidade de calar, perdida, e o estrago,
feito.
Em entrevista ao Brasil
urgente, o deputado emendou o soneto: "Eu talvez tenha sido infeliz em falar do AI-5, porque não existe
qualquer possibilidade de retorno. Mas nesse cenário, o governo tem de tomar as
rédeas da situação, não pode simplesmente ficar refém de grupos organizados
para promover o terror." Não adiantou.
A mídia não perdoa qualquer
deslize da primeira-família, e a declaração estapafúrdia do caçula foi alvo de uma série de representações no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar
da Câmara, e pode, pelo menos em tese, levar à cassação de seu mandato. Mas as
ações apresentadas contra ele no STF,
sob acusação de "incitar publicamente ato criminoso", não devem prosperar
(considerando a atual composição da Corte, que conta com ministros como o que
mandou soltar Anthony Garotinho e
senhora um dia depois de o ex-governador lalau ser preso pela quinta vez e a
madame, pela terceira, pode-se esperar qualquer coisa).
Observação: Para quem não sabe de qual togado estou falando, aqui vão algumas dicas: ele foi indicado para o STF por FHC, classificado por um colega de tribunal como "uma pessoa horrível, mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia", apelidado por Augusto Nunes de "Maritaca de Diamantino" e era presidente do TSE quando a chapa Dilma/Temer foi absolvida por "excesso de provas". Quer mais? Então vamos lá: ele tem ódio da Lava-Jato, do procurador Deltan Dallagnol e do atual ministro da Justiça e do juiz Marcelo Bretas, além de ostentar um formidável par de beiços (que pesam uns bons cinco quilos).
Questionado por jornalistas, Jair Bolsonaro negou ter feito ameaças à imprensa. Perguntado se não
teme comparações com Hugo Chávez, o
tiranete venezuelano que em 2007 não renovou a concessão da emissora de maior
audiência no país por discordar da cobertura do canal sobre seu governo e
acusá-la de ser "golpista". Disse o capitão: "Ô, ô, ô, aqui não tem ditadura, aqui não
tem ditadura. Qualquer concessão tem de cumprir a lei, nada mais além disso.
Nunca, em nenhum momento, partiu de mim nenhuma ameaça a qualquer órgão de
imprensa no Brasil."
Observação: A decisão por uma não renovação ou aprovação
de uma concessão passa inicialmente pelo Poder Executivo, mas precisa ser
autorizada por dois quintos do Congresso Nacional.
Diante da possibilidade de o STF rever o entendimento sobre
a prisão em segunda instância (novela cujo próximo capítulo deve ser transmitido na próxima quinta-feira), o perfil do presidente no Twitter publicou em
17 uma defesa do cumprimento da pena imediatamente após condenação em segunda
instância. "Aos que questionam,
sempre deixamos clara nossa posição favorável em relação à prisão em segunda
instância". A mensagem foi interpretada por autoridades como uma
tentativa de pressão (?!) sobre o Judiciário
e o Legislativo e apagada logo depois
por Zero Dois, que atua como ghostwriterdo pai, que pediu desculpas pela publicação.
"Eu escrevi o tuíte sobre segunda
instância sem autorização do Presidente. Me desculpem a todos! A intenção
jamais foi atacar ninguém! Apenas expor o que acontece na Casa Legislativa!"
E é com coisas assim que se preocupam a imprensa, os
políticos e outros desocupados. Como se o Brasil não tivesse nada mais
importante para fazer.
Esta é para começar bem o final de semana: Deu na Folha de ontem que uma das signatárias
do requerimento para criar uma comissão parlamentar de inquérito para
investigar integrantes do STF, a
senadora Juíza Selma (PSL-MT), disse
que foi procurada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e pelo senador Flávio Bolsonaro, o enroladíssimo Zero Um, para retirar sua assinatura e inviabilizar a CPI da Lava-Toga.
Isso mostra como
estamos "bem representados", politicamente falando, e, por extensão, como o presidente da vez, que elegemos para evitar a volta do abjeto molusco de Garanhuns — representado
pelo bonifrate de plantão, o ex-prefeito de um só mandato e um dos mais mal
avaliados alcaides da história de Sampa — prioriza os interesses próprios, de seus filhos e apaniguados. Sob esse prisma, a política é sempre a mesma merda, mudam apenas as moscas, e olhe lá.
Não se trata de estar arrependido de ter votado contra o PT — ou de ter votado em Bolsonaro — já que o esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim não deixou outra opção ao fulminar, no primeiro turno, juntamente com quase uma dezena de lunáticos, fanáticos e delirantes, umas duas alternativas que poderíamos ter experimentado. Agora é tarde, Inês é morta e não adianta chorar sobre o leite derramado.
A questão é que, até não muito tempo atrás, com o Legislativo mergulhado até os chifres na lama da corrupção, ainda podíamos contar com o Judiciário. Mas isso mudou depois que a cizânia do "nós contra eles" contaminou o STF, onde togados posam de garantistas para — em troca sabe Deus de quê
— garantir que políticos de alto coturno e empresários
poderosos, representados por
criminalistas estrelados que cobram seu peso em ouro, tenham acesso a toda sorte de chicanas para empurrar para as calendas sua condenação e consequente cumprimento da pena. Até hoje, um mísero parlamentar com foro
privilegiado foi condenado no STF, e continua livre, leve e solto, já que ninguém se dignou
de determinar a expedição do competente mandado de prisão.
Adicione-se a esse banquete — já difícil de deglutir — mais
um acepipe repugnante: apesar de ter ligações com a esquerda no passado, o
indicado para comandar a PGR o foi, de acordo com a versão palaciana, por "ser católico e de perfil conservador". Mas basta ler as
letrinhas miúdas para ver que a escolha se deveu à propensão do subprocurador à
subserviência e sua disposição para rezar pelo catecismo bolsonariano, do qual o pontífice
da seita suprimiu o capítulo e todos os versículos que tratavam da cruzada
anticorrupção quando o Ministério Público começou a apertar o laço em torno do pescoço rechonchudo de seus rebentos.
Observação: Como medida de
cautela, o capitão mandou substituir o papel higiênico (que anda em falta no palácio
devido à penúria que se abateu sobre os cofres públicos) por cópias do projeto anticrime e anticorrupção do superministro da Justiça, que só continua no cargo porque sua popularidade sustenta, em grande medida, esse deplorável castelo de cartas bolsonariano.
O slogan deste governo pode até ser "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos",
mas basta ler nas entrelinhas para ver como a coisa, no mundo real, é a família (do presidente) que paira sobranceira. Não bastasse o imbróglio envolvendo Flávio Bolsonaro e seu ex-motorista e assessor parlamentar, emergem, agora, do mesmo mar de podridão indícios de que também no
gabinete de Carluxo, na Câmara Municipal
do Rio, a "rachadinha" campeava solta.
Pelo visto, Zero Um foi um excelente professor e Zero Dois, um aluno mais que exemplar.
Fazer oposição sem oferecer contraproposta viável não é política,
é mero e irresponsável exercício do espírito de porco. Mas não há como aplaudir
um presidente que age como se ainda estivesse campanha, posta vídeos escatológicos nas redes
sociais, deixa-se fotografar vestindo camiseta do Palmeiras e calçando chinelos de dedo e faz oposição, a si próprio e a seu
governo, tecendo comentários ácidos, jocosos, impróprios, desnecessários e
improdutivos.
Um presidente que, a pretexto de não compactuar com o nefasto
"toma-lá-dá-cá", deixa de construir uma base aliada capaz de
neutralizar os previsíveis ataques de parlamentares do PT e de seus satélites, que não sai em defesa de seu ministro e dos
procuradores da Lava-Jato diante do
vazamento feito por um site proselitista a partir de material obtido através de
crime cibernético, com teor sujeito a distorções, manipulações e
descontextualizações.
Um presidente que obstaculiza a tramitação do projeto anticrime e anticorrupção
do ex-juiz Sérgio Moro — uma das
bandeiras de sua campanha — para não se indispor com a banda podre do Congresso
e não aumentar o risco de ver rejeitada a nomeação do filho Eduardo para embaixada do Brasil nos EUA; que intervém na política de preços da Petrobras e nos quadros da Polícia Federal, da Receita Federal e do Coaf para proteger o filho Zero Um e,
no limite, para proteger a si mesmo; que atribui a organizações não
governamentais a responsabilidade pelo desmatamento da Amazônia e... agora a cereja do bolo: Que, ao ser criticado por tudo isso e muito mais, defende-se dizendo que “se é para ser um banana, um poste dentro da
Presidência, estou fora”.
Ficar impassível diante dessas e outras estultices bolsonarianas
seria o mesmo que fazer como Nero, que cantava
enquanto Roma ardia em chamas (há quem diga que ele tocava harpa, mas
isso não vem ao caso). Como na fábula d'O Velho, o Menino e o Burro, o Capitão Caverna é criticado toda vez
que diz, faz ou deixa de dizer ou fazer seja lá o que for, mas sua infindável
fieira de asnices vem minando lhe minando a popularidade, não entre os bolsomínions, naturalmente
— que, como devotos de Lula com
sinal trocado, aplaudem tudo que vêm de seu amado líder —, mas entre os milhões
de brasileiros que o elegeram para evitar à volta do PT ao poder.
Claro que todos têm direito a suas opiniões, e o cidadão Jair Messias Bolsonaro não é exceção. Mas ao presidente Jair Messias Bolsonaro cabe observar a liturgia do cargo. Não é admissível que ele faça na vida pública o que faz na privada (o duplo sentido foi intencional).
Ao dizer que não se aterá à listra tríplice do Ministério Público para escolher o novo
PGR, Bolsonaro armou mais uma arapuca para si mesmo, e agora não sabe o
que fazer com penca de candidatos e o lobby
em torno deles. Nada o obriga a escolher um nome da lista, naturalmente, mas
certamente haverá protestos do MPF
se, para ter um procurador-geral subserviente ao Executivo, indicar alguém que não conte com
o respeito da corporação.
Ao vestir a faixa presidencial — disse Josias de Souza —, o capitão
teve o vislumbre das dádivas que o mundo proporciona a alguém que passa do
baixo clero parlamentar para o Planalto, e agora age como quem enfiou o dedo
num favo de mel e, de repente, se visse ameaçado pela abelhas. A depender das
boas intenções contidas em suas falas, o país estaria no paraíso,
mas a realidade costuma estragar as coisas. Bolsonaro não foi eleito para reformar o Coaf nem intervir em órgãos de
controle. Melhor faria se provasse que há um presidente da República
por trás da faixa presidencial, e não será fazendo intervenções e órgãos administradores,
a pretexto de não fazer papel de banana, que ele alcançará esse objetivo.
O comportamento de Bolsonaro mudou radicalmente quando as investigações apertaram
o cerco em torno de Zero Um. Para
defender o filho, ele fez um acordo espúrio com o STF, o Congresso e
outros poderosos interessados em manter a impunidade como era antes da Lava-Jato.
Lamentavelmente, nossas leis penais foram criadas para impedir a prisão de poderosos e outros criminosos com recursos
financeiros para pagar honorários milionários criminalistas especializados em
encontrar brechas legais para anular provas e investigações. Sempre foi assim,
e é por isso que querem acabar com a força-tarefa
— que, em 5 anos, instaurou cerca de
2.500 procedimentos que produzira (até agora) 244 condenações contra 159 réus,
contabilizando 2.249 anos, 4 meses e 25 dias de pena e ressarciu os cofres
públicos em mais de R$ 40 bilhões. Em contrapartida, o STF levou 3 anos, dois meses e 26 dias para condenar o deputado Nelson
Meurer (PP-PR), integrante da lista de Janot.
A condenação imposta é de 13 anos e nove meses de prisão em regime fechado,
além de pagamento de multa de R$ 322 mil, mas a Corte concedeu ao condenado o
direito e aguardar em liberdade o resultado do derradeiro recurso — que até
hoje o plenário não se dignou de julgar.
Durante a campanha, Bolsonaro
ganhou o apoio de um eleitorado liberal que buscava ao centro a solução para
livrar-se do PT ao anunciar que seu ministro
da Economia seria Paulo Guedes.
Eleito, fez mais um lance magistral ao convidar Sérgio Moro, símbolo do combate à corrupção, para chefiar o ministério
da Justiça e Segurança Pública. Os dois superministros continuam sustentando o
governo — a despeito de as relações entre Moro
e Bolsonaro andarem estremecidas, dizem as más-línguas que por ciúmes, já que o subordinado com bem mais apoio da população do que seu
chefe.
Dizem ainda as más-línguas que o castelo de cartas
tupiniquim esteve prestes a ruir em maio, mas o pacto institucional celebrado pelos presidentes dos Três Poderes conseguiu debelar uma suposta
movimentação do núcleo militar do governo, empresários insatisfeitos com a
economia e políticos oportunistas para apear Bolsonaro da Presidência. Curiosamente,
essa ação coincidiu com as investigações da Receita e do Coaf sobre
ministros do STF, Flavio Bolsonaro e respectivas
famílias.Assim, aproveitando-se do pedido da
defesa de Zero Um para que o Coaf não repassasse seus dados fiscais
sem autorização judicial, o presidente dos togados supremos livrou a cara do
clã Bolsonaro e das famílias de
membros do STF, como ele próprio e o
ministro Gilmar Mendes.
Como toda
escolha tem consequências, Bolsonaro
se tornou refém da nova agenda política, cujo objetivo é travar a Lava-Jato e seus desdobramentos — prova
disso é a Câmara ter aprovado dias atrás, a toque de caixa e em votação simbólica
e secreta, a lei de abuso de autoridade
egressa do Senado (leia-se Renan Calheiros),
que coloca barreiras legais, ou reforça as já existentes, às investigações da Lava-Jato.
A exemplo do que vem ocorrendo com o presidente não-banana e seu ministro da Justiça, também devem
azedar as relações palacianas com outras corporações — como a Receita Federal, que está em pé de
guerra pela tentativa do Executivo
de nomear um novo responsável pelo Porto
de Itaguaí, base eleitoral dos Bolsonaro
e conhecido ponto de atuação de milicianos e contrabandistas. Já o
vice, acusado de tentar ofuscar o titular ao palpitar sobre os mais
diversos assuntos da República, passou repentinamente de loquaz a silente.
Em
recente entrevista ao Estado, o
general HamiltonMourão quebrou o silêncio para dizer
que Bolsonaro decidiu “assumir o protagonismo e tratar
pessoalmente da comunicação". Sobre o boquirrotismo do chefe, disse
que "reclamavam que ele não falava,
que fugia da imprensa, e reclama também agora que ele está falando". Perguntado
sobre o alto grau de toxicidade dos pronunciamentos do presidente, relativizou: "Ele é um cara simples
e direto. Não adianta esperar que ele vá tecer comparações pensando em grandes
mestres da filosofia. Não. Ele não vai fazer isso. Ele vai se expressar com a
linguagem dele, usando sujeito, verbo e predicado. Podem não ser as melhores
palavras, mas é o jeito dele".
Enfim, a deputada federal Bia Kicis anunciou que será apresentada outra lei sobre o abuso de autoridade “sem os absurdos” da que aguarda sanção
presidencial. Paralelamente, associações de policiais, juízes, integrantes do Ministério Público e da Receita Federal foram convocadas pelo
líder do governo, Major Vitor Hugo,
para discutir como pressionar Bolsonaro
a vetar a tal aberração. A ver que bicho dá.
Agora é o próprio Toffoli
que busca superar essas liminares asininas. Valendo-se do plantão e da
hermenêutica e a pretexto de atender um pedido de Flávio Bolsonaro, o supremo togado suspendeu liminarmente todos os processos em que
houve compartilhamento de informações fiscais e bancárias pelo Coaf sem prévia autorização judicial.
A exemplo dos desdobramentos da Vaza-Jato de Verdevaldo, discorrer sobre esse assunto exige doses
cavalares de metoclopramida (princípio
ativo do Plasil), mas vamos lá: A
decisão monocrática de Toffoli não
só compromete as investigações da Lava-Jato
e os processos delas decorrentes, como também pode resultar sanções
internacionais (o entendimento do ministro vai de encontro a diretrizes
estabelecidas por organismos intergovernamentais, como o Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e Financiamento
do Terrorismo) e favorecer aqueles que rapinaram e rapinam o Erário.
Ao contrariar a decisão colegiada que o STF tomou em 2016, Toffoli não beneficia somente
o zero um, mas também outros acusados de crime contra o sistema financeiro a
partir de dados repassados diretamente pelo Coaf. Pelo princípio da isonomia, a liminar alcança um sem-número
de criminosos, de traficantes a terroristas. É crucial, portanto, que o plenário
do Supremo se manifeste o quanto
antes sobre o compartilhamento de provas em investigação criminal, e não somente
no final de novembro.
Observação: O ativismo de Toffoli no plantão de férias causou enorme desconforto entre seus pares. Alguns já falam em antecipar a deliberação do plenário sobre a esdrúxula liminar do plantonista, que, em seu despacho, anotou que o tema será analisado pelo colegiado somente em 21 de novembro. A ala incomodada deseja adiantar o relógio, antecipando o julgamento para o mês que vem, tão logo o tribunal retorne do recesso, já que a demora pode arruinar investigações e carbonizar a já combalida imagem da corte. A preocupação dos ministros aumentou depois que a PF, em cumprimento à ordem bizarra de Toffoli, suspendeu todas as investigações que se serviram de dados repassados pelo Coaf, pela Receita e pelo Bacen, para gáudio de toda sorte de bandidos — de sonegadores a traficantes. Disseminam-se entre os supremos togados críticas à forma como seu presidente agiu, desfazendo sozinho procedimentos validades em pelo menos três julgamentos colegiados — dois na 1ª Turma e um no plenário, com voto favorável do próprio Toffoli. Um ministro que sabe fazer contas estima que a liminar asnática que brecou investigação contra Flávio Bolsonaro e uma legião de suspeitos deve cair, e aposta no placar de 6 a 5.
No mínimo, seria preciso definir o que acontece com os
processos que estão suspensos — a tese dos advogados dos investigados é que
eles não poderão ser retomados, mesmo com a autorização judicial, pois os dados
já revelados invalidam as provas. Por outro lado, diversos juristas entendem
que, mesmo se o plenário aderir à tese de Toffoli,
as ações podem ser retomadas, desde que adequadas às novas normas. Ministros do
próprio STF, como Celso de Mello e Marco Aurélio de Mello, consideram que nenhum dado, mesmo genérico,
pode ser entregue pelo Coaf sem
decisão judicial, mas, mesmo assim, Marco
Aurélio vê indícios de inconstitucionalidade na decisão monocrática do
presidente da Corte.
O Supremo já
autorizou, em diversas oportunidades, investigações das operações atípicas
detectadas pelo Coaf sem
necessariamente passar pela autorização judicial. Desde que o plenário deliberou,
por 9 votos a 2, que os órgãos de investigação podem receber dados de movimentações
consideradas suspeitas, o Coaf tem
enviado informações detalhadas dos gastos dos investigados sem autorização da
Justiça, o que tecnicamente não significa quebra do sigilo bancário.
Toffoli, que em
2016 votou a favor dessas investigações, agora entende — ou pelo menos é isso
que se infere de sua liminar — que as informações devem ser fornecidas em
números globais, e o detalhamento, só com decisão judicial. Em prevalecendo essa
tese, a agilidade das investigações restará prejudicada, pois adicionará mais
uma etapa burocrática que pode retardar a ação da PF e/ou do MP no combate
ao narcotráfico e crimes de lavagem de dinheiro. De novo: é fundamental que o
plenário liquide essa fatura o quanto antes, sob pena de o país ser punido
tanto pela inviabilização do combate aos crimes financeiros quando pela
rejeição de órgãos internacionais como a OCDE,
que exigem legislação dura contra a lavagem de dinheiro internacional.
Em sua participação no Jornal
da Gazeta de ontem, José Nêumanne pondera que reportagem da Crusoé é lógica e verossímil. Não dá
para duvidar que Toffoli atropelou
seus pares do STF tomando a decisão
maluca de destroçar o combate ao crime organizado e a corrupção no Brasil para
blindar sua mulher e a de Gilmar Mendes (detalhes mais adiante), embora quem lhe deu pretexto foi defesa de Flávio
Bolsonaro, ao pedir a providência para seu cliente. As reações
completamente fora do esquadro do presidente Jair Bolsonaro em relação ao advogado-geral da União, André Mendonça, indicado por Toffoli,
nomeado por Temer e mantido por ele,
agora elogiado como “ministro terrivelmente evangélico”, provoca uma pulga
atrás da orelha sobre alguma eventual recompensa no futuro para premiar a “boa
vontade” do presidente do STF agora.
Toffoli, nunca é demais lembrar,
deixou a militância petista, mas esta jamais o deixou (mais detalhes na
sequência de postagens iniciada por esta aqui). Em fevereiro passado, quando
vieram a lume informações sobre uma apuração interna da Receita envolvendo a advogada Guiomar Mendes, o presidente supremo sinalizou que haveria reação à
iniciativa de esquadrinhar as movimentações financeiras da esposa do colega.
Como salienta a revista
eletrônica Crusoé, não demorou para
que surgisse a notícia de que, a exemplo de Guiomar, o escritório da também advogada Roberta Maria Rangel — mulher de
Toffoli — estava no radar da Receita,
e diante disso o bom amigo e diligente maridão pautou para março passado o julgamento de
um recurso extraordinário que visa delimitar até que
ponto órgãos como a própria Receita
podem repassar informações fiscais para procuradores e outros investigadores. Mas depois voltou atrás e reagendou a discussão para novembro, e agora, aproveitando-se do recesso do Judiciário...
Embora essa enjoativa novela venha sendo exigida ad nauseam por todos os telejornais, não custa reforçar: numa só
uma canetada, Toffoli atendeu ao pedido do primogênito do presidente Jair
Bolsonaro e estancou na origem o
incômodo causado desde que surgiram as notícias sobre o pente fino nas operações
financeiras do escritório de sua mulher e nas contas da mulher de seu colega Gilmar. Ainda segundo Crusoé, três
semanas antes de ele expedir a
decisão, a Receita havia pedido
explicações a algumas das empresas que contrataram os serviços do escritório de Roberta, e assim, ao proibir que os auditores repassem informações detalhadas
aos órgãos de controle sem que haja uma ordem expressa de um juiz, Toffoli desarmou a bomba — pelo menos até o plenário do STF cassar sua liminar.
Observação: Crusoé pediu à Receita informações sobre o avanço da
apuração envolvendo a banca de advocacia de Renata Rangel — do qual o próprio Toffoli era sócio quando ainda trabalhava para o PT —, mas o órgão limitou-se a
responder que não pode comentar o assunto. O escritório se escusou de
responder, a exemplo da assessoria da presidência do STF, que informou “não ter conseguido contatar o ministro para
falar sobre o assunto”.
Depois que Toffoli
deixou a sociedade, Roberta levou a
banca adiante e hoje cuida de centenas de processos em Brasília. Segundo os
registros na OAB, um advogado que trabalhou
com Toffoli figura como
sócio de Renata (detalhes mais adiante). Em outra matéria,
publicada tempos atrás, Crusoé
noticiou que Toffoli recebia da mulher uma “mesada” de R$100
mil, metade dos quais era transferido para a conta de sua ex,
Monica Ortega, e o restante, usado
para pagar despesas correntes, como faturas de cartão.
Discreta, Roberta
despacha em um prédio moderno, conhecido por abrigar os famosos lobistas que
circulam pela capital federal. À diferença das grandes bancas, que gostam de
ostentar suas marcas, o nome do escritório de Roberta aparece apenas no tapete. Os processos sob seus cuidados
tramitam ou tramitaram principalmente no STJ
e no TSE, e entre seus clientes há
uma infinidade de políticos desconhecidos (muitos prefeitos de cidades pequenas
e médias, por exemplo), um “banqueiro” de jogo de bicho e diversas empresas. No
STJ, a causídica atuou recentemente
numa ação envolvendo disputa de terras no Mato Grosso. Quando o processo subiu
para Brasília, uma das partes contratou o escritório do advogado Sérgio Bermudes — que tem como sócia a mulher
de Gilmar Mendes — e a outra parte
contratou a mulher de Toffoli. O
litígio foi encerrado no fim de 2017, mediante acordo celebrado entre as partes,
e os honorários não foram discriminados no documento obtido por Crusoé, embora ficasse claro que ambos
os escritórios se deram bem no acerto.
Roberta evita
atuar no Supremo, mas um caso ajuda
a entender como funciona a engrenagem dos tribunais superiores em Brasília. Em
dezembro de 2014, ela deixou de advogar num processo sob a relatoria do marido,
mas repassou a tarefa para o colega Daniane
Mangia Furtado, que trabalhou com o próprio Toffoli quando este ainda estava na advocacia. O ministro se deu
por impedido de julgar a ação, mas sua relação com Daniane segue firme e forte: hoje ele é sócio de Roberta Rangel, ou seja, o sócio da
mulher do Toffoli é um ex-parceiro
do próprio ministro.
Além de se dedicar à advocacia, Roberta é procuradora da Câmara
Legislativa do DF, um cargo público que lhe rende salário com a
flexibilidade de poder advogar, e dona do Instituto
Brasiliense de Estudos Tributários — criado em março deste ano e que tem
como sede o próprio escritório da advogada em Brasília. Procurado por Crusoé, Toffoli não quis falar. “O ministro não irá se manifestar”,
respondeu sua chefe de gabinete. A Sra. Toffoli também não quis se pronunciar.
Observação: Segundo VEJA publicou em
2016, Léo Pinheiro, num dos anexos
de sua delação premiada, informou que Toffoli teria
comentado com ele que sua casa estava com problemas de infiltração. O então
presidente da OAS mandou prontamente
uma equipe de engenheiros fazer uma verificação e indicou uma empresa para
executar a obra. Depois que os trabalhos foram concluídos, uma nova vistoria
realizada pela OAS atestou que tudo
estava bem. Em nota a Veja, o
ministro afirmou não ter recebido nenhum tipo de ajuda da OAS, mas a revista assevera que sua casa foi inteiramente reformada
em 2011, quando ganhou novos quartos, adega, espaço gourmet, instalações de
gás, energia solar e paisagismo, além de a área construída ter aumentado de 370
para 451 metros quadrados. Amigos de Toffoli
dizem que a casa antiga virou “mansão de revista” — mansão essa que, ainda
segundo Veja, está para a OAS assim como o sítio em Atibaia e o
triplex no Guarujá estavam para certo ex-presidente presidiário e chefe da ORCRIM do PT. O vazamento do conteúdo da
delação de Léo Pinheiro
levou Rodrigo Janot, então no
comando da PGR, a suspender o acordo
de colaboração. E assim o dito ficou pelo não dito.
Em 2015, a área técnica do Banco Mercantil identificou transações consideradas atípicas que chegavam
a R$ 4,5 milhões. Em casos assim, cabe
ao banco notificar o Coaf — um dos
órgãos agora alcançados pela decisão de Toffoli
— mas não foi o que ocorreu: após uma ordem da diretoria do banco, os relatos
com os indícios de irregularidades foram engavetados. Assim como agora, Toffoli não se manifestou sobre o caso —
nem à altura da publicação, nem nos quase dois anos transcorridos desde então.
Na
quarta-feira, 17, em resposta à saraivada de críticas que passou a receber após
sua abilolada decisão, Toffoli repisou o argumento central de seu
despacho — o de que órgãos como a Receita
e o Coaf só podem passar informações
adiante com a intermediação de um juiz. Suas declarações reverberam o discurso
entoado por Gilmar Mendes quando
veio à tona a informação sobre a apuração da Receita envolvendo sua mulher. A certa altura, Gilmar apontou um suposto interesse da OperaçãoLava-Jato por
trás da iniciativa dos auditores fiscais, e chegou a dizer que um dos envolvido
na apuração havia trabalhado em conjunto com procuradores da Lava-Jato no Rio — um indício, segundo Gilmar, de que o levantamento teria o
objetivo de atingi-lo.