Além de ainda não ter formado uma base de apoio parlamentar e de ter declarado guerra ao partido pelo qual se
elegeu, nosso indômito presidente vem terminando amizades de longa data (mais
detalhes nas postagens de ontem e de amanhã) e fulminando aliados um após o
outro. Não demora e lhe restará somente o apoio dos três filhos com mandato
parlamentar — o que não serve de consolo, considerando que, para blindar Zero Um, o papai presidente se sujeitou
a lamber as botas de Toffoli, Alcolumbre e Gilmar; Zero Dois
insiste em botar fogo no circo (sua penúltima estultice foi o vídeo do leão e
as hienas); e Zero Três, que já
"defendeu o fechamento do STF"
(clique aqui para
assistir ao vídeo e conferir em que contexto ele disse isso), agora volta à
carga com a reedição do AI-5 (mais
detalhes nos posts anteriores e no de amanhã).
Com desgraça pouca é bobagem, depois que a Globo veiculou (de forma açodada,
se não maliciosa) uma matéria sobre sua suposta ligação com o caso Marielle, o capitão insinuou que que
a emissora terá problemas para renovar sua concessão: "Teremos uma conversa em 2022",
disse, para logo depois tentar recolocar o gênio na garrafa. Mas aí a mídia
já havia caído de pau. No dia seguinte, Bolsonaro voltou à carga e anunciou o
cancelamento de todas as assinaturas do jornal Folha de S.Paulo no âmbito do governo federal, além de fazer
ameaças aos anunciantes do veículo. Quase que ao mesmo tempo, o terceiro filho concedeu a bizarra entrevista
que "estarreceu o país" — continuo achando que houve muito
oportunismo nessa indignação toda, mas enfim...
Apeado do sonho (por ora impossível) de assumir a embaixada
do Brasil nos EUA (com as bençãos de Pato
Donald Trump), Eduardo Bolsonaro assumiu a liderança do PSL na Câmara.
Não foi uma boa ideia. Falta-lhe discernimento para diferenciar o que pode ser
dito entre amigos, numa mesa de boteco, do que se pode falar em público. Embora não
exista no governo cargo de "filho de presidente", esta administração o criou
informalmente quando o monarca se cercou dos príncipes-herdeiros, e estes, deslumbrados com o poder, escudam-se na imunidade parlamentar para proferir asnices
de todas as cores, cheiros e sabores.
A declaração do Zero Três sobre o AI-5 foi repudiada
por partidos de todo o espectro ideológico — inclusive do próprio PSL. Bolsonaro pai desautorizou o filho: "Não apoio. Quem quer que seja que fale em AI-5 está sonhando. Está
sonhando, está sonhando. Não quero nem ver notícia nesse sentido aí. Cobrem
vocês dele, ele é independente."
E completou: "Qualquer palavra nossa vira um tsunami."
Mas a flecha já havia sido lançada, a oportunidade de calar, perdida, e o estrago,
feito.
Em entrevista ao Brasil
urgente, o deputado emendou o soneto: "Eu talvez tenha sido infeliz em falar do AI-5, porque não existe
qualquer possibilidade de retorno. Mas nesse cenário, o governo tem de tomar as
rédeas da situação, não pode simplesmente ficar refém de grupos organizados
para promover o terror." Não adiantou.
A mídia não perdoa qualquer deslize da primeira-família, e a declaração estapafúrdia do caçula foi alvo de uma série de representações no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, e pode, pelo menos em tese, levar à cassação de seu mandato. Mas as ações apresentadas contra ele no STF, sob acusação de "incitar publicamente ato criminoso", não devem prosperar (considerando a atual composição da Corte, que conta com ministros como o que mandou soltar Anthony Garotinho e senhora um dia depois de o ex-governador lalau ser preso pela quinta vez e a madame, pela terceira, pode-se esperar qualquer coisa).
Observação: Para quem não sabe de qual togado estou falando, aqui vão algumas dicas: ele foi indicado para o STF por FHC, classificado por um colega de tribunal como "uma pessoa horrível, mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia", apelidado por Augusto Nunes de "Maritaca de Diamantino" e era presidente do TSE quando a chapa Dilma/Temer foi absolvida por "excesso de provas". Quer mais? Então vamos lá: ele tem ódio da Lava-Jato, do procurador Deltan Dallagnol e do atual ministro da Justiça e do juiz Marcelo Bretas, além de ostentar um formidável par de beiços (que pesam uns bons cinco quilos).
A mídia não perdoa qualquer deslize da primeira-família, e a declaração estapafúrdia do caçula foi alvo de uma série de representações no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, e pode, pelo menos em tese, levar à cassação de seu mandato. Mas as ações apresentadas contra ele no STF, sob acusação de "incitar publicamente ato criminoso", não devem prosperar (considerando a atual composição da Corte, que conta com ministros como o que mandou soltar Anthony Garotinho e senhora um dia depois de o ex-governador lalau ser preso pela quinta vez e a madame, pela terceira, pode-se esperar qualquer coisa).
Observação: Para quem não sabe de qual togado estou falando, aqui vão algumas dicas: ele foi indicado para o STF por FHC, classificado por um colega de tribunal como "uma pessoa horrível, mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia", apelidado por Augusto Nunes de "Maritaca de Diamantino" e era presidente do TSE quando a chapa Dilma/Temer foi absolvida por "excesso de provas". Quer mais? Então vamos lá: ele tem ódio da Lava-Jato, do procurador Deltan Dallagnol e do atual ministro da Justiça e do juiz Marcelo Bretas, além de ostentar um formidável par de beiços (que pesam uns bons cinco quilos).
Questionado por jornalistas, Jair Bolsonaro negou ter feito ameaças à imprensa. Perguntado se não
teme comparações com Hugo Chávez, o
tiranete venezuelano que em 2007 não renovou a concessão da emissora de maior
audiência no país por discordar da cobertura do canal sobre seu governo e
acusá-la de ser "golpista". Disse o capitão: "Ô, ô, ô, aqui não tem ditadura, aqui não
tem ditadura. Qualquer concessão tem de cumprir a lei, nada mais além disso.
Nunca, em nenhum momento, partiu de mim nenhuma ameaça a qualquer órgão de
imprensa no Brasil."
Observação: A decisão por uma não renovação ou aprovação
de uma concessão passa inicialmente pelo Poder Executivo, mas precisa ser
autorizada por dois quintos do Congresso Nacional.
Diante da possibilidade de o STF rever o entendimento sobre
a prisão em segunda instância (novela cujo próximo capítulo deve ser transmitido na próxima quinta-feira), o perfil do presidente no Twitter publicou em
17 uma defesa do cumprimento da pena imediatamente após condenação em segunda
instância. "Aos que questionam,
sempre deixamos clara nossa posição favorável em relação à prisão em segunda
instância". A mensagem foi interpretada por autoridades como uma
tentativa de pressão (?!) sobre o Judiciário
e o Legislativo e apagada logo depois
por Zero Dois, que atua como ghostwriter do pai, que pediu desculpas pela publicação.
"Eu escrevi o tuíte sobre segunda
instância sem autorização do Presidente. Me desculpem a todos! A intenção
jamais foi atacar ninguém! Apenas expor o que acontece na Casa Legislativa!"
E é com coisas assim que se preocupam a imprensa, os
políticos e outros desocupados. Como se o Brasil não tivesse nada mais
importante para fazer.
Bom domingo a todos.