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sábado, 21 de dezembro de 2019

SOBRE O FURDUNÇO QUEIROZ/FLÁVIO BOLSONARO



As suspeitas de rachadinha no gabinete do então deputador Flávio Bolsonaro já causavam preocupação no ano passado, antes mesmo das eleições. Prova disso é que seu ex-motorista e ex-assessor, Fabrício Queiroz, disse a um amigo através de um vídeo no WhatsApp: "O MP está com uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na gente". Noutro trecho, ele afirmou: "Não vejo ninguém mover nada para tentar me ajudar".

Observação: Vale lembrar que a rachadinha — retenção, em benefício do parlamentar, de parte dos salários dos assessores e funcionários do gabinete — é uma prática tão enraizada na política tupiniquim quanto o caixa dois de campanha, mas isso não a torna legal ou menos imoral.

Em meio ao turbilhão, o advogado Paulo Klein, alegando "questões de foro íntimo", abandonou a defesa de Queiroz no momento mais delicado da investigação que fecha o cerco ao ex-assessor e o ex-assessorado. Foi Klein quem ajudou a articular a entrevista concedida ao SBT em dezembro de 2018, na qual Queiroz tentou explicar as movimentações atípicas em sua conta. Com a investigação cada vez mais próxima de Zero Um, o mal-estar no governo ganhou outra dimensão. “Venham para cima, não vão me pegar”, desafiou o presidente. Será que não?

A julgar pela fumaça, o incêndio é grande. O primogênito do presidente frequenta a investigação como suspeito da prática de dois crimes: lavagem de dinheiro e peculato. Os promotores poderiam ter enviado a polícia às ruas depois das festas de final de ano, mas parecem dispostos a recuperar o atraso provocado pela blindagem que Dias Toffoli ofereceu ao "Ronaldinho dos Imóveis" — e estendeu oportunisticamente às advogadas Roberta Rangel e Guiomar Mendes, mulheres do próprio Toffoli e de seu amigo e parceiro de maracutaias.

O inquérito permaneceu suspenso por quase 5 meses. Ironicamente, Queiroz voltou às manchetes horas depois de o Congresso ter aprovado a medida provisória editada por Bolsonaro para desossar o Coaf. Os parlamentares enterraram o novo nome proposto pelo presidente (UIF), mas mantiveram a decisão de enfiar o órgão de controle nos fundões do organograma do Banco Central. Foi graças a descobertas do Coaf que Queiroz estilhaçou o discurso da família Bolsonaro, aproximando a dinastia presidencial da turma do PT.

Queiroz nunca prestou depoimento. Entregou ao MP-RJ uma manifestação por escrito. Não conseguiu explicar a movimentação de R$ 1,2 milhão em sua conta nem os R$ 24 mil repassadas para a conta da hoje primeira-dama. Reconheceu que se apropriava de parte dos salários de assessores de Flávio, mas alegou que fazia isso para pagar "colaboradores informais" do então deputado e jamais exibiu recibos. Mesmo assim, o Ministério Público ainda não promoveu — como deveria — a condução coercitiva do ex-assessor, embora Veja tenha revelado que ele é vizinho de Marcelo Odebrecht no bairro do Morumbi.

A defesa de Flávio Bolsonaro impetrou um habeas corpus no STF para tentar suspender novamente as investigações. O caso tramita sob sigilo sob a relatoria da Maritaca de Diamantino. Na última quinta-feira, o semideus togado pediu ao MP-RJ, "com urgência", informações sobre a investigação. Seria muita safadeza se... enfim, vindo de quem vem, nada surpreende.

A semana que termina foi considerada a mais turbulenta para a família Bolsonaro desde a posse. Tanto que na noite da operação do GAECO, Flávio foi ao encontro do pai, no Palácio da Alvorada. A reunião, que contou com a presença de Zero Três, durou quase duas horas. Questionado sobre esse salseiro, o presidente, sempre grandiloquente, disse apenas não ter “nada a ver” com as suspeitas levantadas pelo MP e que “o Brasil é muito maior do que pequenos problemas”. Ato contínuo, fechou-se em copas. Aos repórteres mais insistentes, disse apenas: "Perguntem aos advogados".

Somente Flávio e o papai presidente sabem o tamanho real do buraco em que se meteram. Toda crise tem um custo. O capitão precisa decidir quanto deseja pagar. A fatura vai aumentando com o tempo, e ainda lhe restam três anos de governo. A pressa do MP recomenda ao inquilino do Planalto que acenda a luz.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

CORTINAS DE FUMAÇA E ESQUELETOS NO ARMÁRIO



Eu já havia concluído a postagem de hoje quando soube da declaração do deputado Eduardo Bolsonaro — aquele que seria indicado para embaixador do Brasil nos EUA, mas que atendeu ao pedido do papai presidente e ficou por aqui mesmo, para servir seu país como líder do governo da Câmara dos deputados. Dentre outras estultices, o parlamentar defendeu medidas drásticas — como "um novo AI-5" — para conter manifestações de rua como as que ocorrem no Chile atualmente.

Durante a campanha eleitoral, um vídeo que viralizou nas redes sociais mostra Zero Três dizendo que era necessário apenas "um cabo e um soldado" para fechar o STF. Na última terça-feira, em discurso no plenário da Câmara,  o deputado afirmou que a polícia deveria ser acionada em caso de protestos semelhantes e o País poderia ver a "história se repetir". Na ocasião, ele não explicou a que período se referia, mas deixou isso claro na entrevista que concedeu à jornalista Leda Nagle, que foi veiculada na tarde de ontem: "Se a esquerda radicalizar a esse ponto, vamos precisar dar uma resposta. E essa resposta pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada via plebiscito, como ocorreu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada".

Ao ser questionado por jornalistas, Bolsonaro pai não escondeu seu desagrado, mas limitou-se a sugerir que cobrassem do filho as explicações, e que quem falasse tamanha besteira só poderia estar sonhando. Quando chegar em casa, o menino vai levar boas palmadas (e parece que levou mesmo, como se vê na atualização mais abaixo).

Brincadeira à parte, a diarreia verbal de Zero Três — que teria prestado um bom serviço ao nosso país se tivesse ficado nos EUA, fritando hambúrgueres numa lanchonete que serve somente frango frito — caiu como uma bomba no Congresso, levando, inclusive, os presidentes de ambas as casas a se manifestar. Ambos repudiaram as declarações do deputado, naturalmente, a exemplo do que fizeram outros parlamentares que a imprensa conseguiu pegar no laço (quinta-feira à tarde sobram bem poucos congressistas em Brasília). Alguns falaram na cassação de Eduardo por quebra de decoro parlamentar.

ATUALIZAÇÃO:

Depois da repercussão negativa de sua parvoíce, Eduardo Bolsonaro, em entrevista à TV Bandeirantes, fez o que já se esperava: “Peço desculpas a quem porventura tenha entendido que eu estou estudando o retorno do AI-5, ou o governo, de alguma maneira, mesmo eu não fazendo parte do governo, está estudando qualquer medida nesse sentido. Essa possibilidade não existe. Agora, muito disso é uma interpretação deturpada do que eu falei. Eu apenas citei o AI-5. Não falei que ele estaria retornando”.

Desmentidos não faltaram nos 10 meses que o governo Bolsonaro completa neste dia de Todos os Santos. Isso e a indefectível atribuição de culpa à imprensa — que tem lá sua parcela de responsabilidade, mas não neste caso específico. Mas, afinal, que efeito imaginava o deputado obter com sua estapafúrdia sua declaração, senão desagradar a gregos e troianos?  Na Câmara, já se fala em pedir sua cassação. Não sei se a punição é cabível, mas sei que a maioria de seus pares não tem moral para criticá-lo, nem a quem quer que seja. Sobretudo os de esquerda. Isso sem mencionar o todo-poderoso "Botafogo", que publicou um post repudiando o despautério, sendo prontamente seguido pelo presidente do Senado — outro que... bem, melhor deixar pra lá. Quem tem telhado de vidro não deveria jogar pedra em telhado dos outros, mas quem sou eu para meter a colher nesse caldeirão? Na melhor das hipóteses, apenas mais um eleitor (que não votou no deputado, diga-se de passagem).

Salvo melhor juízo, há um pouco de exagero nisso tudo. Estão fazendo tempestade em copo d'água, como fazem a cada pronunciamento "polêmico" de Jair Bolsonaro e respectiva prole. Basta relembrar outras falas pitorescas do deputado de Zero Três para ver que a asnice da vez não chega a surpreender. O que assusta é sua, digamos, falta de tato, sobretudo se considerarmos que esse parlamentar foi cogitado para o cargo de embaixador nos EUA.

Partidos da oposição ameaçam pedir a cabeça de Eduardo já nos próximos dias. Não há base para responsabilizá-lo criminalmente, como alguns de seus pares — demonstrando conhecimentos jurídicos profundos como um pires — ameaçaram fazer. Já a cassação é uma medida de caráter político e, para que aconteça, basta vontade política. Por outro lado, há parlamentares (pelo menos três) que discutem leis durante o horário de trabalho no Congresso e voltam à cadeia para dormir, o que demonstra que as tais "comissões de ética" da Câmara e do Senado são tão inúteis quanto sapatos para minhocas.

Volto a esse assunto oportunamente, talvez na postagem de amanhã. Antes de passar ao texto que eu havia preparado para esta sexta-feira, dia de Todos os Santos, segue a transcrição do comentário de Josias de Souza sobre o capitão e distintíssima prole.

A loucura tem razões que a sensatez desconhece. Jair Bolsonaro é um ex-capitão que deixou a tropa depois de um episódio de indisciplina. Chegou ao Planalto com mais de 57 milhões de votos, numa ascensão meteórica que coroou 28 anos de vida parlamentar. E seu filho querido, Eduardo Bolsonaro, eleito deputado com a maior votação do país, achou que seria uma boa ideia defender numa entrevista a volta do AI-5, o mais draconiano ato institucional da ditadura militar, que mergulhou o Brasil nas trevas. Impossível contemporizar. Se isso não acabar no plenário da Câmara na forma de um processo de cassação por quebra do decoro parlamentar, ficará entendido não que Eduardo Bolsonaro está meio maluco, mas que o Legislativo está completamente doido. 

Como alternativa para combater uma hipotética radicalização de esquerda, o príncipe herdeiro sugere uma legislação repressora qualquer, "aprovada através de um plebiscito". O plebiscito é uma forma de expressão da vontade do povo. Está previsto na Constituição. Entretanto, a defesa de plebiscitos nos lábios do filho de um presidente que acaba de ser eleito é uma ideia golpista destinada a emparedar o Congresso, à moda de Hugo Chávez. É uma maluquice dentro da outra. 

A pretexto de se contrapor a um inexistente levante esquerdista de rua, o filho do monarca sugere a adoção do veneno como antídoto. Esse penúltimo despautério produzido no seio da primeira-família chega dias depois da estupidez anterior, que foi a veiculação do vídeo em que o presidente-leão estava cercado por hienas-rivais. Bolsonaro desculpou-se pelo post que Carlos Bolsonaro, o príncipe Zero Dois, disse que ele mesmo havia divulgado. Desculpas já não resolvem. Pode-se apagar um vídeo do Twitter. Mas é impossível deletar os pendores autoritários do DNA dos Bolsonaro. Por sorte, a democracia tem remédios contra esse tipo de patologia.

Sobre o infeliz vídeo que compara Bolsonaro a um leão e o STF, o PSL, a OAB e outras instituições a um bando de hienas, disse o togado supremo Marco Aurélio que pode ser uma “cortina de fumaça” para desviar o foco das revelações dos áudios do ex-assessor Fabrício Queiroz. É possível que desta vez o ministro esteja certo — afinal, nem ele é capaz de errar todas as vezes. Aliás, o decano supremo também criticou o vídeo, que foi publicado na conta oficial do presidente no Twitter e depois apagado, devido à repercussão negativa. Detalhe: Em 1989, quando foi promovido a ministro supremo, Celso de Mello foi chamado de “juiz de merda” pelo então ministro da Justiça (Saulo Ramos). Vejam vocês onde fomos amarrar nosso bode.

Bolsonaro retornou ao Brasil nesta quinta-feira, depois de um périplo pela Ásia e Oriente Médio que começou pelo Japão, no dia 22, passou pela China, pelo Catar e pelos Emirados Árabes, terminou na Arábia Saudita e cumpriu (ao menos em parte) o objetivo de fechar parcerias comerciais e atrair investimentos para o Brasil — o destaque foi a notícia de que o fundo soberano da Arábia Saudita investirá US$ 10 bilhões no Brasil, e que, na China, o governo assinou protocolos sanitários para exportar farelo de algodão e carne termoprocessada. Mas o que mais repercutiu na mídia foi a autodeclarada "afinidade" que o capitão disse ter com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, acusado internacionalmente de ser o mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. E, claro, as polêmicas do vídeo do leão entre hienas e da menção do nome de Bolsonaro na investigação do caso Marielle Franco.

Nesta semana, tanto a FOLHA quanto O GLOBO divulgaram áudios em que Queiroz aparece falando sobre a demissão de uma funcionária "fantasma" do gabinete de Zero Dois, que é vereador no Rio de Janeiro (a Cileide, que eu não sei se é a mesma do Doutor Pimpolho). Durante a viagem, o capitão afirmou que a funcionária do gabinete do filho não era fantasma e que sua demissão “não tem nada para espantar”.

Sobre o imbróglio Marielle, a perícia feita pelo MP não detectou se algum áudio foi excluído do sistema do condomínio de Bolsonaro, mas encontrou a gravação de Ronnie Lessa autorizando a entrada de Élcio de Queiroz no dia da morte da vereadora. Seja lá como for, essa relação da primeira família com milicianos não vem de hoje. Galinha que anda com pato acaba se afogando. Para bom entendedor...

A despeito de toda essa merdeira, a Bolsa bateu mais um recorde na quarta-feira, encerrando o pregão com alta de 0,79%, aos 108.407 pontos. Na manhã da quinta, porém, a Bovespa voltou a registrar uma forte queda, com negócios ainda ditados pela temporada de balanços corporativos do terceiro trimestre, após reunião do COPOM confirmar expectativa do mercado de corte na taxa básica de juros (Selic): às 11:12 do dia das bruxas, o índice B3 registrava baixa de 1,83%, com 106.426,88 pontos, mas se recuperou ao longo do dia e fechou em 107.219,83 pontos — ainda em baixa, mas de "apenas" 1.10%.

Até onde se consegue ver em meio à poeira que ainda não baixou totalmente, esse furdunço parece ter nascido morto, pelo menos à luz do que já se apurou sobre o depoimento do porteiro. Mas tem potencial para azedar de vez a relação do presidente com Wilson Witzel, que evoluiu de ruim para muito pior. Antes, Bolsonaro estava em rota de colisão com o governador fluminense; agora, entrou no estágio da explosão. 

Bolsonaro atribui a Witzel o vazamento de informações judiciais sigilosas sobre o depoimento em que um porteiro o envolveu "levianamente" no caso Marielle, e acusa o ex-aliado de ter ordenado à polícia civil do Rio a manipulação do inquérito — um "ato criminoso" de quem tem a ambição de chegar ao trono presidencial. Aliás, é impressionante a competência do capitão em semear inimizades (cito os casos do ex-coordenador de campanha e ex-secretário-geral da Presidência Gustavo Bebianno e, mais recentemente, do general Santos Cruz e de ex-correligionários como Luciano BivarAlexandre Frota e Joice Hasselmann, apenas para ficar nos mais notórios).

Bolsonaro disparou também contra a Globo — usando, inclusive, termos como "patifaria", "porra", "canalhas", "imprensa porca", "jornalismo podre". A irritação se justifica: uma matéria isenta deveria focar as contradições no depoimento do porteiro, e não da forma como a notícia foi veiculada, plantando a dúvida para só depois atrelar frases adversativas, como "mas o registro da Câmara aponta que Bolsonaro estava em Brasília", por exemplo. Na avaliação de José Nêumanne, a "barrigada" da emissora foi fruto de vagabundagem no duplo sentido da palavra: preguiça e abandono de mínimos cuidados a ser tomados em qualquer denúncia, caso de dar a palavra ao denunciado, qualquer que seja ele. A Vênus Platinada errou ao não ouvir a versão de Bolsonaro e este, ao fazer uma live furiosa, insinuando, inclusive, que pode tornar bastante difícil a vida da Globo em 2022, quando ela deverá renovar sua concessão de TV pública. Segundo especialistas em comunicações, porém, o poder do presidente da República de interferir na concessão de uma emissora de TV é remoto, justamente para preservar a liberdade de imprensa.

Enfim, quem revirar esse angu ainda vai encontrar muitos dentes de coelho — como um segundo áudio, que teria sido apagado, o sumiço de imagens das câmeras de segurança, sem mencionar o vazamento de dados (vale lembrar que a investigação corre sob sigilo na Justiça do Rio). Vamos continuar acompanhando.

sexta-feira, 22 de março de 2019

TEMER PRESO E BOLSONARO COM A POPULARIDADE EM QUEDA. O QUE ISSO SINALIZA?



No início da tarde de ontem eu noticiei a prisão do ex-presidente Michel Temer, do ex-ministro e ex-governador do Rio, Moreira Franco (o quinto governador do Rio a ser preso no âmbito da Lava-Jato), do célebre coronel João Batista Lima Filho e de outros membros da quadrilha supostamente chefiada pelo ex-presidente. Postei em edição extraordinária devido à importância do fato — a partir do qual o Brasil passou a ter dois ex-presidentes presos — e porque este episódio é mais uma evidência de que narrativa petista de perseguição política a seu amado líder não passa de conversa mole para boi dormir. Aliás, ainda falta prender a dona Dilma, mas isso é conversa para outra hora.

Como o assunto em tela ocupou boa parte dos telejornais da última quinta-feira, e considerando as repercussões que ainda estão por vir, acrescento apenas que Temer classificou sua prisão como “uma barbaridade”, a despeito de o juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava-Jato no Rio, entender que a conclusão dos procuradores que atuaram no desdobramento batizado de Operação Radioatividade, de que o emedebista é o líder da organização criminosa que desviou cerca de R$ 1,8 bilhão, “é convincente”. Aliás, Bretas ordenou busca e apreensão nos endereços de Maristela Temer, filha de Michel Temer, do almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, de Ana Cristina da Silva Toniolo e de Nara de Deus Vieira e em empresas vinculadas aos investigados.

Cumpre salientar dois pontos que eu reputo importantes: o primeiro é que, a despeito do bombardeio sofrido dias atrás — tanto por parte do STF quanto do MPF — a Lava-Jato mostra que continua viva, ativa e operante. Agora, se isso vai dar início a uma guerra entre os procurados e os ministros supremos, bem, o que eu posso dizer é que, se isso acontecer, quem tende a ser mais prejudicado é o país. Aliás, a prisão de Moreira Franco, que é sogro do presidente da Câmara, já respingou no andamento da reforma da Previdência — a indicação do relator na CCJ, que deveria acontecer nesta sexta, foi adiada para a semana que vem.

O segundo ponto é que a prisão de Temer escancara a fantasia falaciosa que da narrativa petista de que Lula está na cadeia por ser perseguido pela Justiça. Aliás, por mais lamentável que seja ver dois ex-presidentes da República nessa situação vexatória, ainda mais lamentável ainda seria vê-los se safarem impunemente, como acontecia até a Lava-Jato entrar em ação. Pena que parte do Judiciário compactue com os malfeitos dessa caterva e crie todo tipo de dificuldade para evitar que criminosos do colarinho branco respondam por seus atos. Não é à toa que, de 2015 para cá, chegaram ao Senado nada menos que 45 pedidos de impeachment de ministros do STF, 10 dos quais pedem a saída Gilmar Mendes

Também não é à toa que o juiz Bretas incluiu em sua decisão que um possível recurso de Temer ao STF não deve ser relatado por Mendes, que já relatou outros casos da Lava-Jato no Rio, como as operações Saqueador e Calicute. No documento, o magistrado afirma que a prisão do emedebista não guarda relação com as ações penais dos dois casos da Lava-Jato já relatados pelo ministro. "Apenas para evitar confusões a respeito da competência para eventual impugnação desta decisão, repito que estes autos guardam relação de conexão e continência com a ação penal derivada da denominada operação Radioatividade e seus vários desdobramentos", observou. Bretas entende que o encaminhamento deva ser feito ao ministro Barroso, remetente do inquérito que leva o ex-presidente à 7ª Vara Federal do Rio, ou a qualquer outro ministro sorteado eletronicamente. A expectativa dos membros do MPF é que o relator seja o ministro Fachin, responsável por relatar processos decorrentes da Operação Radioatividade, que apurou desvios na Eletronuclear.

Observação: O habeas corpus apresentado pela defesa de Temer está nas mãos do desembargador Ivan Athié, do TRF-2, que, dizem, acredita na prisão somente depois de condenação final. Mas o magistrado pode jogar a batata quente no colo da 1ª Turma daquele regional, que costuma apoiar as decisões do juiz Bretas. Como se vê, no Brasil a Justiça está mais para um jogo de roleta do que... Bom, deixa pra lá. Passemos ao texto que eu havia preparado para hoje:

É pública e notória a aversão que parte da mídia nutre pelo presidente Jair Bolsonaro (aliás, a recíproca é verdadeira), mas há quem vá mais além, criando fake news para desmoralizar seu governo. Os bolsomínions não ficam atrás, mas, convenhamos: esse revanchismo irresponsável é contraproducente, sobretudo quando o capital político do chefe do Executivo é fundamental para a aprovação da reforma da Previdência — sem o que a economia tupiniquim entrará em colapso.

Na última quarta-feira, noticiou-se ad nauseam que a popularidade do atual governo é a pior desde a redemocratização do país. Segundo o Ibope — que ouviu 2002 pessoas entre 16 e 19 de março e atribui margem de confiança de 95% a esse levantamento —, a avaliação positiva da gestão de Bolsonaro caiu de 49% para 34% em menos de 3 meses, enquanto o percentual dos entrevistados que a consideram ruim ou péssima subiu de 11% em janeiro para 24% em março, e a aprovação pessoal do presidente é de 51%. Nunca é demais lembrar o Ibope, a exemplo da maioria dos principais institutos de pesquisa, dava como líquida e certa a eleição de Dilma para o Senado, e que a ex-presidanta ficou em quarto lugar, com 15,29% dos votos válidos — e ainda viu seu ex-companheiro de luta armada e ex-ministro, Fernando Pimentel, ser expurgado do segundo turno na disputa pelo governo de Minas Gerais.

Observação: Em seus tempos de guerrilheira, a Rainha Bruxa do Castelo do Inferno integrou o grupo Colina, que executou  um oficial alemão por confundi-lo com o major boliviano Gary Prado, suposto matador de Che Guevara. Como se vê, a incompetência está no DNA dessa calamidade em forma de gente.

A mídia também divulgou os índices de aprovação de FHC (1995) Lula (2003) e Dilma (2011) ao cabo dos primeiros três meses em seus primeiros mandatos, que foram respectivamente de 41%, 51% e 56%. Mas ninguém deu um pio sequer sobre Lula ter acabado na cadeia e Dilma, defenestrada do Planalto pela porta dos fundos. Ou essa gente tem memória seletiva, ou age de má-fé, valendo-se de meias-verdades para manipular a opinião pública.

Outro fato curioso é o destaque dado ao assassinato da vereadora Marielle Franco — cujo mandante (ou mandantes) não ter sido identificado (ou não terem sido identificados, embora já se tenha passado mais de um ano — ser muito maior que o do atentado contra a vida de Jair Bolsonaro. Também chama a atenção o fato de Adélio Bispo ser considerado um “lobo solitário”, a despeito de todas as evidências em contrário — a começar pelo fato de ele não ter um gato para puxar pelo rabo e ser defendido por 5 advogados renomados, pagos sabe lá Deus por quem. Como se isso não bastasse, as investigações que visavam elucidar quem está por trás do atentado foram suspensas por um pedido do presidente da OAB, que tem fortes laços com o PT, deferido por um desembargador nomeado por Dilma e crítico figadal da Lei da Ficha-Limpa.

Tenta-se agora vincular Bolsonaro ao atentado contra a vereadora carioca. Argumenta-se que o atirador, o sargento reformado da PM Ronnie Lessa, era seu vizinho no condomínio em que Bolsonaro morava antes de se mudar para o Palácio do Planalto, que Bolsonaro aparece numa foto (tirada em 2011) com o outro suspeito, o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, e que o fato de o filho mais novo do presidente, Jair Renan, ter namorado a filha de Lessa. Bolsonaro argumenta que o condomínio em questão tem 150 casas, e que ele não conhecia todos os seus vizinhos; que já tirou fotos com milhares de policiais e que zero quatro já namorou todo mundo naquele condomínio.  

Eis aí mais uma história mal explicada a destruir a confiança da nação em seu presidente — como se já não bastasse a interminável novela Fabrício Queiroz /Flávio Bolsonaro, que se arrasta desde o ano passado e parece estar longe de terminar. Agora, depois de ter faltado a quatro convocações do MP, o ex-assessor afirmou por escrito que abiscoitava parte do salário dos funcionários do gabinete do então deputado, na Alerj, para redistribuí-los entre outros servidores “informais”, sem que o chefe tivesse conhecimento. Uma explicação tão mambembe quanto a que atribuía os depósitos feitos em sua conta à compra e venda de veículos usados. Pelo visto, criatividade não é o forte do ex-factótum dos Bolsonaro; afinal, tempo não lhe faltou para elaborar uma narrativa mais convincente.


Para não estender ainda mais este texto, vou deixar as demais considerações para uma próxima postagem.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

O BRASIL ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA



Nicolás Maduro rompeu relações diplomáticas com Bogotá no último sábado, depois de soldados venezuelanos dispararem balas de borracha e atirarem bombas de gás contra manifestantes que, na fronteira, exerciam pressão para garantir a entrada da ajuda humanitária que se deslocou em caminhões da Colômbia. Juan Guaidó, que dezenas de países reconhecem como o presidente interino da Venezuela, busca contribuições da Colômbia, do Brasil e também de Curaçao para enfrentar a profunda crise econômica e a escassez sofrida pela nação petroleira. Maduro está cavando a própria sepultura. E não vai "vai cair de maduro", se me permitem o trocadilho, mas de podre. Enfim, sigamos em frente.

Nos filmes das décadas de 50 e 60, jornaleiros (geralmente meninos) postavam-se nas esquinas e, ao gritos de “Extra!”, “Extra!”, apregoavam edições extraordinárias com manchetes bombásticas. Também era comum vermos o editor do jornal — quase sempre careca e com um charuto meio mastigado no canto da boca — mandado "parar as rotativas" diante de um furo de reportagem. O que isso tem a ver com a postagem de hoje? Nada. Mas essas imagens me cruzaram à mente quando li uma manchete “quase epifânica” publicada pelo Estadão: EX-ASSESSOR DE FLÁVIO DAVA PARTE DO SALÁRIO PARA QUEIROZ!!! (para ler a matéria, clique aqui )

Quer dizer, então, que havia mesmo pedágio no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj? Nossa! Só faltou dizer isso é um fato inédito — como sabemos, a despeito de ser ilegal e imoral, o pedágio é uma prática quase tão velha quanto a própria política. Aliás, política e lisura, se não são conceitos mutuamente excludentes, são tão imiscíveis quanto óleo e água. Mas no país do futuro que nunca chega a corrupção se institucionalizou a tal ponto que, como diria minha avó, “contando, ninguém acredita”. Basta uma rápida pesquisa no Google para ver quantos deputados e senadores que estão no Congresso deveriam estar atrás das grades (e só não estão devido ao empenho de alguns de nossos ministros supremos em preservar o instituto da impunidade).

O descrédito em relação à política e aos políticos não vem de hoje e tampouco é exclusividade tupiniquim. Mas, aqui, sempre que surge uma luz no fim do túnel, ou é miragem, ou é o farol da locomotiva. Em maio de 2016, achamos que o afastamento da anta sacripanta poria um ponto final nos 13 anos, 4 meses e 12 dias de corrupção lulopetista. Mas alegria de pobre dura pouco: o ministério de notáveis prometido pelo vice promovido a titular não tardou a se revelar uma notável agremiação de corruptos. O hoje ex-senador Romero Jucá — que, a exemplo de Renan Calheiros e outros mais, encarna tudo o que não presta na “velha política” — durou uma semana e meia no comando da pasta do Planejamento. Na sequência, caíram Fabiano Silveira (que durou 18 dias no Ministério da Transparência) e Henrique Eduardo Alves (35 dias na pasta do Turismo).

Outros ministros foram caindo feito moscas, a razão de um por mês, em média, até que o vampiro do Jaburu, pego no contrapé pela gravação de sua conversa nada republicana com o açougueiro que ficou bilionário durante as gestões de Lula e Dilma, mandou às favas os escrúpulos, despiu a fantasia de virtuoso e torrou seu considerável capital político na compra do apoio das marafonas do parlamento para sepultar as denúncias apresentadas contra si pelo então procurador-geral Rodrigo Janot. Isso depois de ter afirmado enfaticamente que, litteris: 

A investigação pedida pelo Supremo Tribunal Federal será território onde surgirão todas as explicações, e no Supremo demonstrarei não ter nenhum envolvimento com estes fatos. (...) Não renunciarei. Repito. Não renunciarei”.

Como não poderia deixar de ser, Temer se tornou refém da Câmara dos Corruptos e, vergado sob o peso de uma impopularidade sem precedentes, terminou seu mandato-tampão como um “lame duck” (ou pato manco, que é como os americanos se referem a políticos que chegam ao fim mandato desgastados a ponto de os garçons palacianos demonstrarem seu desprezo servindo-lhes o café frio).

Em 2018, durante o primeiro turno da eleição presidencial mais conturbada da história desta Banânia, nosso “esclarecidíssimo eleitorado” (entre aspas e com todas as ironias de estilo) descartou os insossos candidatos “de centro”, ignorou (felizmente) aberrações como o Cabo Daciolo, Guilherme Boulos, Vera Lucia e afins e convocou os dois “extremados” para disputar o segundo turno. Diante da perspectiva nada alvissareira de o Brasil voltar a ser governado pelo PT e seus satélites — desta feita a partir de uma cela de prisão, no melhor estilho comandante-em-chefe do PCC —, milhões de não-eleitores de Bolsonaro ficaram sem alternativa que não se aliarem aos bolsomínions.

Claro que ninguém (ninguém minimamente racional, bem entendido) acreditaria que o deputado-capitão, com quase 30 anos de janela na Câmara Federal, tivesse um passado ilibado como o da Madre Tereza de Calcutá. Mas poucos imaginavam que seu governo viria a ser sistematicamente desestabilizado pelo “fogo amigo” disparado pelos “príncipes herdeiros”, que usam suas contas no Twitter como metralhadoras giratórias sem controle. Ou que o Presidente em pessoa fosse dado a enxergar complôs e deslealdades em cada esquina.

Desde a campanha que Bolsonaro reclama de supostas conspirações orquestradas por inimigos declarados e imaginários. Empossado, passou a desconfiar de traições também de integrantes graduados do governo. Como se não bastasse, mostrou-se inabilidoso em momentos de crise: a demissão de Bebianno, que contou com a participação decisiva de zero dois, só ganhou relevância graças à maneira canhestra com que o Presidente tratou o caso (quando bastaria ter "tirado as crianças da sala e dado ouvidos aos adultos", se é que me faço entender). Nos primeiros dez dias de governo, ele fez três anúncios públicos que logo foram corrigidos por seus auxiliares, e enfileiro declarações desencontradas sobre a mudança da embaixada brasileira em Israel, a instalação de uma base militar americana no Brasil e a extinção da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

No episódio gerou a crise “que só não existiu no 'mundo real' do ministro da Justiça e Segurança Pública”, pouco importa se Carluxo fez “macumba psicológica”, se agiu envenenado pelo ciúme, deslumbrado pelo poder ou ressentido por não ter ganhado um cargo no governo. O que preocupa é a inabilidade demonstrada pelo Presidente e pelo alto escalão do governo para lidar com a situação, e, por que não dizer, o arrepiante déjà-vu proporcionado pela demissão de um ministro depois de míseros 48 dias no cargo, e, pior, de o pivô desse salseiro não ser a oposição, mas um dos “príncipes herdeiros”, que, num passe de mágica, transformou o advogado, articulador da campanha, factótum e amigo do peito do pai em homem-bomba com potencial para jogar um trem de merda no ventilador e apontá-lo para o núcleo do governo.

O Planalto afirma que isso é página virada, que a questão foi superada, e que a Velhinha de Taubaté já psicografou um post dizendo que acredita. Tomara que ela esteja certa. Errar faz parte do aprendizado, mas quem não aprende com os erros que comete está fadado a repeti-los. E insistir no erro esperando que uma hora ele se transforme em acerto é a melhor definição de cretinice que eu conheço.

É por essas e outras que os brasileiros de bem perderam a fé na política e nos políticos. Claro que isso não se aplica aos devotos da seita do inferno, cuja fidelidade canina ao presidiário de Curitiba não lhes permitiria raciocinar nem se tivessem um mísero par de neurônios funcionais. Mutatis mutandis, o mesmo se pode dizer dos defensores atávicos de Bolsonaro, dada a dificuldade que eles têm de perceber que algo cheira mal no reino da Dinamarca, ou melhor, no Palácio do Planalto. Para os demais, fica difícil levar a sério um Congresso que funciona de terça a quinta e só reúne quórum quando a pauta interessa diretamente aos nobres congressistas. Onde deputados — supostamente representantes do povo — se comportam como galos de rinha durante as sessões, formando blocos fisiologistas e clientelistas, sem qualquer viés ideológico, para aprovar ou derrubar projetos em troca de cargos, verbas e emendas parlamentares.

E o que dizer do Judiciário — o derradeiro depositário das nossas esperanças —, se ministros supremos se digladiam diante das câmeras e promovem barracos que constrangeria até as marafonas de um puteiro de quinta classe? Salvo raras e honrosas exceções, suas excelências têm deixado claro que priorizam os próprios interesses e, se calhar, concedem parte de seu precioso tempo, como quem atira migalhas aos pombos, às questões que realmente interessam à nação. Depois, quando são confrontados pelos cidadãos inconformados em ver criminosos condenados deixarem a cadeia pela porta da frente (caso de Jacob Barata, Paulo Maluf, José Dirceu e tantos outros), zombando da lei e escarnecendo da população que roubaram descaradamente por anos a fio, mandam a PF prender os insurrectos — como fez Ricardo Lewandowsky em dezembro do ano passado, ao sentir “ofendido” pelo advogado Cristiano Caiado Acioli (durante um voo de São Paulo para Brasília), embora o “ofensor” tivesse apenas exercido seu direito constitucional de dizer como se sentia em relação ao STF e a vergonha que tinha de ser brasileiro.

Isso nos leva a Gilmar Mendes, o superministro supremo e autodeclarado representante de Deus na Terra, que, se não bastassem os péssimos serviços que preta à nação, vem atirando contra tudo e contra todos depois que a Receita Federal apontou indícios de lavagem de dinheiro nas movimentações financeiras dele e de sua digníssima esposa. 

Para não encompridar ainda mais esta matéria, os detalhes ficam para amanhã (a quem interessar possa, eu já publiquei algumas considerações interessantes sobre os ministros do Supremo — para acessá-las, clique aqui e aqui).

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

BOLSONARO, A ENTREVISTA CANCELADA, A SITUAÇÃO DA VENEZUELA, O IMBRÓGLIO QUEIROZ/FLAVIO E OUTROS FILHOS DE PRESIDENTES BRASILEIROS ENROLADOS COM A JUSTIÇA



A fábula O Velho, o Menino e o Burro me vem à mente sempre que Jair Bolsonaro diz ou faz seja lá o que for. A bola da vez ainda é — e pelo visto continuará sendo por mais algum tempo — o imbróglio envolvendo o ex-assessor de Flávio Bolsonaro e amigo de longa data do clã —, além do próprio Flávio, que não é formalmente investigado, mas vem agindo como se fosse.

Na quarta 23, em entrevista à Bloomberg, o Presidente afirmou que lamentaria se as suspeitas que cercam Flávio fossem confirmadas, mas que, se ficar provado que o filho cometeu algum ilícito, ele terá de pagar o preço. Horas depois, em entrevista à Record, o Presidente disse que as acusações são infundadas, que o objetivo é atingir o governo e que a quebra do sigilo bancário de Flávio foi arbitrária. Nesse entretempo, cancelou a coletiva de imprensa da qual, além do próprio Jair Bolsonaro, tomariam parte os ministros Paulo Guedes, Sérgio Moro e Ernesto Araújo. Por determinação médica, o Presidente precisa estar descansado no próximo domingo, quando será submetido à cirurgia que restabelecerá o trânsito intestinal e o livrará de vez da bolsa de colostomia (só quem já passou por isso sabe como essa situação é estressante).

Parte a mídia, porém, atribuiu o cancelamento da entrevista à “abordagem antiprofissional da imprensa”. Como de costume, houve informações desencontradas: o ministro Augusto Heleno disse que o Bolsonaro quis se poupar de uma agenda carregada e Gustavo Bebianno, que o Presidente retornara ao hotel porque precisara trocar a bolsa de colostomia. Junte-se a isso o fato de os ministros que participariam da coletiva também não apareceram. Mesmo assim, o Ibovespa quebrou novo recorde, fechando aos 96.558,42 pontos depois de atingir a máxima de 96.575,98 pontos. Nesta quinta-feira, por volta do meio dia, o índice alcançou 97.187 pontos, recorde intradia.

Mudando o foco para a Venezuela: embora eu não costume dar pitacos no cenário político internacional, achei por bem registrar que o apoio do Brasil à ofensiva contra Nicolás Maduro, comandada pelo oposicionista Juan Guaidó, que se proclamou presidente daquele país nesta quarta-feira, foi enfaticamente criticado por petistas como Paulo Pimenta e a presidente nacional da ORCRIM.

"Começamos hoje na América Latina a caminhada dos conflitos que tanto repudiamos em outros continentes", escreveu no Twitter a abilolada Gleisi, que no último dia 10 foi à Venezuela prestigiar a posse de Maduro, embora não tenha comparecido à de Bolsonaro. Ela disse ainda que “não se faz política externa de forma ideológica”. Pausa para as gargalhadas.

Observação: Vale lembrar que durante os governos petista o Brasil apoiou diversos regimes ditatoriais, e que a Venezuela, Cuba e Moçambique estão devendo mais de R$ 1.7 bilhão para o BNDES. E que o que menos existe na Venezuela, hoje em dia, são democracia, garantias democráticas e respeito aos direitos humanos. O que há, isso sim, é uma população fragilizada, oprimida, que não tem como se mobilizar contra as forças armadas e as milícias que opiam o tiranete Nicolás Maduro.

Na mesma linha seguiram o PCdoB e o candidato derrotado Guilherme Boulos, do PSOL, que classificou de “golpe” a ação de Guaidó.  Disse ainda o líder dos sem-teto que "a diplomacia brasileira se tornou extensão do Departamento de Estado dos EUA" e que “a crise no país vizinho precisa de solução democrática e pacífica” (vejam bem quem está falando). Já Fernando Haddad, Manuela D’Ávila e Marina Silva preferiram criticar o cancelamento da coletiva de imprensa de Bolsonaro.

Antes de encerrar, pego um gancho no post anterior para relembrar que outros Presidentes tiveram filhos enrolados com a Justiça. Um bom exemplo é a ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney, que foi denunciada em 2016 pelo MP por um suposto esquema de isenções fiscais concedidas pela Secretaria de Estado da Fazenda a empresas de forma fraudulenta, o que teria causado prejuízo de R$ 410 milhões aos cofres públicos. Outro exemplo é Paulo Henrique Cardoso, que foi citado na delação premiada de Nestor Cerveró — segundo o ex-diretor da Petrobrás, entre 1999 e 2000 o então presidente tucano o orientou a fechar contrato com uma empresa ligada a seu rebento.

Outras malas sem alça são Luís Cláudio, caçula de Lula, e o primogênito Lulinha, que eu já mencionei no posta anterior. O primeiro é investigado na Operação Zelotes pelo recebimento de R$ 2,5 milhões do lobista Mauro Marcondes Machado, que atuava em favor das montadoras Caoa (Hyundai) e MMC Automotores (Mitsubishi). Em sua delação premiada, Antonio Palocci informou que Lula disse ter acertado os repasses com Machado em troca de uma medida provisória. O segundo abriu uma empresa de games que rebebeu pelo menos pelo menos R$ 82 milhões em investimentos da Oi

Por último, mas não menos importante, Maristela Temer aparece no relatório final sobre corrupção no setor portuário. A PF encontrou “indícios concretos” de que dinheiro de propina da JBS a Michel Temer pagou a reforma da casa da filhota. A reforma foi realizada entre 2013 e 2015, e o próprio Temer teria acompanhado detalhes da obra, inclusive financeiros, contradizendo depoimentos da família. A obra teria custado R$ 2 milhões, dos quais boa parte foi paga com dinheiro vivo.

Por hoje é só, pessoal. Amanhã tem mais.