A fábula O Velho, o
Menino e o Burro me vem à mente sempre que Jair Bolsonaro diz ou faz seja lá o que for.
A bola da vez ainda é — e pelo visto continuará sendo por mais algum tempo — o
imbróglio envolvendo o ex-assessor de Flávio Bolsonaro e amigo de longa data do clã
—, além do próprio Flávio, que não é
formalmente investigado, mas
vem agindo como se fosse.
Na quarta 23, em entrevista à Bloomberg, o Presidente afirmou que lamentaria se as suspeitas que
cercam Flávio fossem
confirmadas, mas que, se
ficar provado que o filho cometeu algum ilícito, ele terá de pagar o preço.
Horas depois, em entrevista à Record, o Presidente disse que as acusações são infundadas, que o objetivo é atingir o governo e
que a quebra do sigilo bancário de Flávio
foi arbitrária. Nesse entretempo, cancelou a coletiva de imprensa da qual, além do próprio Jair Bolsonaro, tomariam parte os
ministros Paulo Guedes, Sérgio Moro e Ernesto Araújo. Por determinação médica, o Presidente precisa estar
descansado no próximo domingo, quando será submetido à cirurgia que
restabelecerá o trânsito intestinal e o livrará de vez da bolsa de colostomia
(só quem já passou por isso sabe como essa situação é estressante).
Parte a mídia, porém, atribuiu o cancelamento da entrevista
à “abordagem antiprofissional da
imprensa”. Como de costume, houve informações desencontradas: o
ministro Augusto Heleno disse que o Bolsonaro
quis se poupar de uma agenda carregada e Gustavo
Bebianno, que o Presidente retornara ao hotel porque precisara trocar a
bolsa de colostomia. Junte-se a isso o fato de os ministros que participariam
da coletiva também não apareceram. Mesmo assim, o Ibovespa quebrou novo recorde, fechando aos 96.558,42 pontos depois de atingir a máxima de 96.575,98 pontos. Nesta quinta-feira,
por volta do meio dia, o índice alcançou 97.187
pontos, recorde intradia.
Mudando o foco para a Venezuela:
embora eu não costume dar pitacos no cenário político internacional, achei por bem registrar que o apoio do Brasil à ofensiva contra Nicolás Maduro, comandada pelo oposicionista Juan Guaidó, que
se proclamou presidente daquele país nesta quarta-feira, foi enfaticamente
criticado por petistas como Paulo
Pimenta e a presidente nacional da ORCRIM.
"Começamos hoje na América Latina a
caminhada dos conflitos que tanto repudiamos em outros continentes",
escreveu no Twitter a abilolada Gleisi, que no último dia 10
foi à Venezuela prestigiar a posse de Maduro,
embora não tenha comparecido à de Bolsonaro. Ela disse ainda que “não se faz política externa de forma ideológica”. Pausa para as gargalhadas.
Observação: Vale lembrar que
durante os governos petista o Brasil apoiou diversos regimes ditatoriais, e que
a Venezuela, Cuba e Moçambique estão
devendo mais de R$ 1.7 bilhão para o
BNDES. E que o que menos existe na
Venezuela, hoje em dia, são democracia, garantias democráticas e respeito aos direitos
humanos. O que há, isso sim, é uma população fragilizada, oprimida, que não tem
como se mobilizar contra as forças armadas e as milícias que opiam o tiranete Nicolás Maduro.
Na mesma linha seguiram o PCdoB e o candidato derrotado Guilherme Boulos, do PSOL, que classificou de “golpe” a ação
de Guaidó. Disse ainda o líder dos sem-teto que "a diplomacia brasileira se tornou extensão
do Departamento de Estado dos EUA" e que “a crise no país vizinho precisa de solução democrática e pacífica”
(vejam bem quem está falando). Já Fernando
Haddad, Manuela D’Ávila e Marina Silva preferiram criticar o cancelamento da coletiva de imprensa de Bolsonaro.
Antes de encerrar, pego um gancho no post anterior para relembrar
que outros Presidentes tiveram filhos enrolados com a Justiça. Um bom exemplo é
a ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney,
que foi denunciada em 2016 pelo MP
por um suposto esquema de isenções fiscais concedidas pela Secretaria de Estado
da Fazenda a empresas de forma fraudulenta, o que teria causado prejuízo de R$ 410 milhões aos cofres públicos. Outro
exemplo é Paulo Henrique Cardoso,
que foi citado na delação premiada de Nestor
Cerveró — segundo o ex-diretor da Petrobrás, entre 1999 e 2000 o então
presidente tucano o orientou a fechar contrato com uma empresa ligada a seu
rebento.
Outras malas sem alça são Luís Cláudio, caçula
de Lula, e o primogênito Lulinha, que eu já mencionei no posta anterior. O primeiro é investigado
na Operação Zelotes pelo recebimento
de R$ 2,5 milhões do lobista Mauro Marcondes Machado, que atuava em
favor das montadoras Caoa (Hyundai)
e MMC Automotores (Mitsubishi). Em
sua delação
premiada, Antonio Palocci
informou que Lula disse ter acertado
os repasses com Machado em troca de
uma medida provisória. O segundo abriu uma empresa de games que rebebeu pelo menos pelo
menos R$ 82 milhões em investimentos da Oi.
Por último, mas não
menos importante, Maristela Temer aparece
no relatório final sobre corrupção no setor portuário. A PF encontrou “indícios concretos” de que dinheiro de propina da JBS a Michel Temer pagou
a reforma da casa da filhota. A reforma foi realizada entre 2013
e 2015, e o próprio Temer teria
acompanhado detalhes da obra, inclusive financeiros, contradizendo depoimentos
da família. A obra teria custado R$ 2
milhões, dos quais boa parte foi paga com dinheiro vivo.
Por hoje é só, pessoal. Amanhã tem mais.