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sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

BOLSONARO, A ENTREVISTA CANCELADA, A SITUAÇÃO DA VENEZUELA, O IMBRÓGLIO QUEIROZ/FLAVIO E OUTROS FILHOS DE PRESIDENTES BRASILEIROS ENROLADOS COM A JUSTIÇA



A fábula O Velho, o Menino e o Burro me vem à mente sempre que Jair Bolsonaro diz ou faz seja lá o que for. A bola da vez ainda é — e pelo visto continuará sendo por mais algum tempo — o imbróglio envolvendo o ex-assessor de Flávio Bolsonaro e amigo de longa data do clã —, além do próprio Flávio, que não é formalmente investigado, mas vem agindo como se fosse.

Na quarta 23, em entrevista à Bloomberg, o Presidente afirmou que lamentaria se as suspeitas que cercam Flávio fossem confirmadas, mas que, se ficar provado que o filho cometeu algum ilícito, ele terá de pagar o preço. Horas depois, em entrevista à Record, o Presidente disse que as acusações são infundadas, que o objetivo é atingir o governo e que a quebra do sigilo bancário de Flávio foi arbitrária. Nesse entretempo, cancelou a coletiva de imprensa da qual, além do próprio Jair Bolsonaro, tomariam parte os ministros Paulo Guedes, Sérgio Moro e Ernesto Araújo. Por determinação médica, o Presidente precisa estar descansado no próximo domingo, quando será submetido à cirurgia que restabelecerá o trânsito intestinal e o livrará de vez da bolsa de colostomia (só quem já passou por isso sabe como essa situação é estressante).

Parte a mídia, porém, atribuiu o cancelamento da entrevista à “abordagem antiprofissional da imprensa”. Como de costume, houve informações desencontradas: o ministro Augusto Heleno disse que o Bolsonaro quis se poupar de uma agenda carregada e Gustavo Bebianno, que o Presidente retornara ao hotel porque precisara trocar a bolsa de colostomia. Junte-se a isso o fato de os ministros que participariam da coletiva também não apareceram. Mesmo assim, o Ibovespa quebrou novo recorde, fechando aos 96.558,42 pontos depois de atingir a máxima de 96.575,98 pontos. Nesta quinta-feira, por volta do meio dia, o índice alcançou 97.187 pontos, recorde intradia.

Mudando o foco para a Venezuela: embora eu não costume dar pitacos no cenário político internacional, achei por bem registrar que o apoio do Brasil à ofensiva contra Nicolás Maduro, comandada pelo oposicionista Juan Guaidó, que se proclamou presidente daquele país nesta quarta-feira, foi enfaticamente criticado por petistas como Paulo Pimenta e a presidente nacional da ORCRIM.

"Começamos hoje na América Latina a caminhada dos conflitos que tanto repudiamos em outros continentes", escreveu no Twitter a abilolada Gleisi, que no último dia 10 foi à Venezuela prestigiar a posse de Maduro, embora não tenha comparecido à de Bolsonaro. Ela disse ainda que “não se faz política externa de forma ideológica”. Pausa para as gargalhadas.

Observação: Vale lembrar que durante os governos petista o Brasil apoiou diversos regimes ditatoriais, e que a Venezuela, Cuba e Moçambique estão devendo mais de R$ 1.7 bilhão para o BNDES. E que o que menos existe na Venezuela, hoje em dia, são democracia, garantias democráticas e respeito aos direitos humanos. O que há, isso sim, é uma população fragilizada, oprimida, que não tem como se mobilizar contra as forças armadas e as milícias que opiam o tiranete Nicolás Maduro.

Na mesma linha seguiram o PCdoB e o candidato derrotado Guilherme Boulos, do PSOL, que classificou de “golpe” a ação de Guaidó.  Disse ainda o líder dos sem-teto que "a diplomacia brasileira se tornou extensão do Departamento de Estado dos EUA" e que “a crise no país vizinho precisa de solução democrática e pacífica” (vejam bem quem está falando). Já Fernando Haddad, Manuela D’Ávila e Marina Silva preferiram criticar o cancelamento da coletiva de imprensa de Bolsonaro.

Antes de encerrar, pego um gancho no post anterior para relembrar que outros Presidentes tiveram filhos enrolados com a Justiça. Um bom exemplo é a ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney, que foi denunciada em 2016 pelo MP por um suposto esquema de isenções fiscais concedidas pela Secretaria de Estado da Fazenda a empresas de forma fraudulenta, o que teria causado prejuízo de R$ 410 milhões aos cofres públicos. Outro exemplo é Paulo Henrique Cardoso, que foi citado na delação premiada de Nestor Cerveró — segundo o ex-diretor da Petrobrás, entre 1999 e 2000 o então presidente tucano o orientou a fechar contrato com uma empresa ligada a seu rebento.

Outras malas sem alça são Luís Cláudio, caçula de Lula, e o primogênito Lulinha, que eu já mencionei no posta anterior. O primeiro é investigado na Operação Zelotes pelo recebimento de R$ 2,5 milhões do lobista Mauro Marcondes Machado, que atuava em favor das montadoras Caoa (Hyundai) e MMC Automotores (Mitsubishi). Em sua delação premiada, Antonio Palocci informou que Lula disse ter acertado os repasses com Machado em troca de uma medida provisória. O segundo abriu uma empresa de games que rebebeu pelo menos pelo menos R$ 82 milhões em investimentos da Oi

Por último, mas não menos importante, Maristela Temer aparece no relatório final sobre corrupção no setor portuário. A PF encontrou “indícios concretos” de que dinheiro de propina da JBS a Michel Temer pagou a reforma da casa da filhota. A reforma foi realizada entre 2013 e 2015, e o próprio Temer teria acompanhado detalhes da obra, inclusive financeiros, contradizendo depoimentos da família. A obra teria custado R$ 2 milhões, dos quais boa parte foi paga com dinheiro vivo.

Por hoje é só, pessoal. Amanhã tem mais.