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sexta-feira, 13 de setembro de 2019

E AGORA, VERDEVALDO???



Chega de Glenn Greenwald", escreveu Diogo Mainardi na Crusoé. "Agora só falta a PF prender o hacker que lhe repassou as mensagens roubadas da Lava-Jato. Verdevaldo sabe que o hacker será preso e que seus cúmplices e financiadores também devem acabar na cadeia. Sim, a festa vai terminar. E depois vem a parte aborrecida: limpar o salão.”

Para quem chegou de Marte neste minuto, um relatório enviado pelo Coaf (hoje rebatizado de Unidade de Inteligência Financeira) ao Ministério Público do Rio aponta “movimentações atípicas” de R$ 2,5 milhões na conta do deputado David Miranda, maridão de Verdevaldo das Couves — o bem-amado, idolatrado, salve, salve, editor do abominável The Intercept, que desde junho vem divulgando a conta-gotas supostas mensagens comprometedoras trocadas pelo ex-juiz da Lava-Jato e hoje ministro da Justiça, Sérgio Moro, e integrantes da força-tarefa, notadamente seu coordenador em Curitiba, Deltan Dallagnol.

Se você acha mesmo que Verdevaldo, o Interpret e seus replicadores são paladinos da justiça, pense outra vez. Como Lula, o malacafento, eles não passam de santos com pés de barro. Greenwald posa de quintessência da moralidade, mas nunca foi flor que se cheire. Um mês antes das eleições americanas de 2016, ele publicou com um colega uma matéria no Intercept, com o título “EXCLUSIVO: NOVO VAZAMENTO DE E-MAILS REVELA RELAÇÃO PRÓXIMA DA CAMPANHA DE CLINTON COM A IMPRENSA”, que expunha o conteúdo de mensagens trocadas entre a equipe da candidata democrata Hillary Clinton e jornalistas.

Entre as táticas usadas para manipular a imprensa, era citado o oferecimento de bebidas e comida para jornalistas em reuniões para transmitir informações e sugestões de entrevistados para os programas de televisão. A fonte dos dados, segundo o site panfletário de Verdevaldo, identificava-se como Guccifer 2.0 — um nome já conhecido. Mutatis mutandis, o mesmo padrão se repetiria mais adiante aqui no Brasil.

Ao divulgar as supostas conversas entre Sergio Moro e os procuradores da Lava-Jato, o editor ignominioso também não se importou com a forma como o material fora obtido nem com o óbvio direcionamento dos alvos: somente juízes e investigadores envolvidos em decisões desfavoráveis aos acusados pela Lava-Jato tiveram seus dados vazados. Ao ser perguntado por Crusoé sobre essa seletividade, o coveiro de reputações respondeu: “Qualquer sugestão de que eu me oponho à Lava-Jato é totalmente ridícula”.

Os métodos de Verdevaldo se encaixam naquilo que é conhecido como “jornalismo ativista”, “jornalismo de oposição” ou “jornalismo de choque”. A prática usa as premissas que regem a profissão — como a preservação da fonte e a busca do interesse público — para atingir apenas rivais. Seu sobrenome até deu origem a um verbo em inglês: “greenwalding”. Em 2016, o termo entrou no site Urban Adicionar, em que os leitores elencam acepções para as palavras e votam nas melhores. Uma das mais populares é: “pinçar um conteúdo e tirá-lo do contexto com o objetivo de difamar alguém”.

Seus alvos são todos aqueles que, em sua visão de mundo, abusam de sua condição de poder. Trata-se de um grupo eclético, que inclui o Partido Democrata, as elites, o jornal The Washington Post, a Globo, os ricos (embora seja financiado por um bilionário), o FBI, a CIA, Israel, o Reino Unido, o ex-procurador especial dos Estados Unidos Robert Mueller, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e a operação Lava-Jato (quando o alvo é o PT). Seu gosto pelo enfrentamento, destilado quase diariamente em sua conta do Twitter (que conta com mais de 1 milhão de seguidores), aflorou ainda em 2005, quando o sacripanta criou um blog e começou a criticar a presença militar americana no Iraque

No ano seguinte, ainda na condição de advogado constitucionalista e blogueiro, Verdevaldo publicou o livro Como um patriota deveria atuar. O título fazia referência ao Patriot Act, criado pelo presidente George W. Bush como resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. A obra tornou-se um best-seller. Nos anos seguintes, escreveu mais quatro livros, e o sucesso editorial lhe abriu as portas para a autoria de colunas no site americano Salon e, mais tarde, no jornal inglês The Guardian.

No final de 2012, Gleen recebeu de Edward Snowden, um hacker que havia trabalhado na NSA, documentos que mostravam como as agências americanas vigiavam cidadãos nos Estados Unidos e no resto do planeta, inclusive no Brasil. O material foi publicado por diversos veículos do mundo, mas rendeu a Verdevaldo o Prêmio Pulitzer de jornalismo em 2014 — ou pelo menos é isso que seus baba-ovos nas redes sociais afirmam, tentando lhe emprestar credibilidade.

Na verdade, a equipe liderada por Gleen Greenwald e Laura Poitras conquistou para o The Guardian US e para o The Washington Post o prêmio na categoria “Serviço Público” de 2014 — na qual o premiado é sempre o jornal que publicou a reportagem (ou a série de reportagens). Ainda que assim não fosse, é bom lembrar que a lista de “ganhadores do Pulitzer” inclui Walter Duranty, que ocultou deliberadamente os crimes do stalinismo, incluindo o genocídio de ucranianos pela fome, e Janet Cooke, autora de uma reportagem inventada sobre uma criança de oito anos viciada em heroína, que teve de devolver o prêmio depois que a farsa foi descoberta.

Observação: Escreveu Políbio Braga: “Boa parte da mídia tradicional e da mídia amestrada a serviço do lulopetismo atribuírem ao dono do site The Intercept a conquista do Pulitzer. Com a ajuda do influenciador Glauco Fonseca, um dos articulistas deste blog [blog do Políbio], o editor investigou e constatou que em 2014, e não em 2013, como os aliados de Glenn informam, quem levou o Pulitzer foi o jornal inglês The Guardian. Glenn atuou como um dos repórteres do caso Snowden, mas o prêmio não foi atribuído a ele. Clique no site do Pulitzer para checar.”

Quem tiver interesse em conhecer o verdadeiro estofo do caráter de Verdevaldo pode encontrar informações relevantes numa reportagem de Eric Wempel, publicada em 27 de junho de 2013 no jornal The Washington Post. Dentre outras coisas, a matéria informa que “o escritório do cartório do condado de Nova York mostra que Greenwald tem US$ 126.000 em sentenças abertas e contra ele datando de 2000, incluindo US$ 21.000 do Departamento de Impostos do Estado e da Secretaria da Fazenda. Também fala de um penhor de US $ 85.000”.

Gleen se envolveu com gente do submundo e do ramo da pornografia. Tornou-se inimigo de Peter Haas — dono de uma companhia de produtos pornográficos —, a quem chamou de little bitch (putinha) no Post. Ao se juntar a Snowden, entrou para a lista negra do governo EUA e bateu de frente com o australiano Julian Assange, dono do site WikiLeaks. Após ganhar notoriedade, deixou o Guardian e passou ser bancado pelo bilionário francês de origem iraniana Pierre Omidyar, que oferece auxílio financeiro a jornalistas que enfrentam processos por causa de suas reportagens.

Diferentemente de outros bilionários realmente engajados em causas humanitárias e ambientalistas, o franco-iraniano “faz caridade” com uma desavergonhada pegada de ativismo político. Em 2017, quando doou US$ 100 milhões para combater "Fake News" através do jornalismo investigativo, Omidyar divulgou um comunicado em que se comprometia a aplacar o “déficit global de confiança” nas instituições. Dentre os eventos listados para fundamentar tal preocupação figuravam a eleição de Donald Trump e — vejam só — o impeachment da ex-presidanta Dilma Rousseff.

Para ter mais liberdade para divulgar seu material (os contratos assinados para as colunas no Salon e no Guardian estabeleciam que o gringo publicaria sem ter de se submeter a um editor), Verdevaldo criou o site The Intercept, que em 2013 recebeu meio milhão de dólares de Omidyar, que também custeou os salários da equipe durante os primeiros anos do site. Entre 2014 e 2017, o pasquineiro difamador recebeu US$ 1,6 milhão da First Look Media — empresa do grupo de Omidyar. Seu salário em 2015, segundo matéria do jornalista Charles Davis publicada na Columbia Journalism Review, chegou a US$ 518 mil ao ano, ou US$ 43 mil dólares por mês.

Três anos depois da divulgação dos materiais de Snowden, o panfleto digital de Verdevaldo ganhou os holofotes com a divulgação dos emails da campanha de Hillary Clinton, juntamente com o WikiLeaks — cujo dono foi forçado a deixar a embaixada do Equador, em Londres, onde estava refugiado desde 2012, para evitar ser extraditado ou para a Suécia, onde é acusado de estupro, ou para os EUA, onde é acusado de espionagem.

Com Snowden e Assange, o paladino dos bocós forma um trio sempre disposto a defender Vladimir Putin. Dos três ativistas, ele é o que tem a língua mais afiada. Para cada abuso ou crime cometido a mando de Putin, cria uma história para relativizar o fato ou afirma que as evidências não são suficientes para culpar Moscou. Quando um ex-espião russo e sua filha foram envenenados com Novichok na Inglaterra, no ano passado, disse que os cientistas britânicos mentiram quando disseram que a substância havia sido produzida na Rússia.

Além de preservar o presidente russo, Gleen é simpático a grupos terroristas muçulmanos, como o Estado Islâmico, a Al-Qaeda, o Hamas e o Hezbollah, que considera como "as democracias do Oriente" — só para lembrar: em 1983, membros do Hezbollah explodiram dois caminhões-bomba no Líbano e mataram 307 militares que estavam no país como força de paz. Desses, 241 eram americanos. Mas o Brasil entrou em sua vida por questões pessoais. Em 2005, ele conheceu o jovem David Miranda, então com 20 anos, com quem se casou tempos depois. O hoje deputado, que deixou a escola aos 13 anos, tornou-se mundialmente conhecido por ter sido interrogado por nove horas no aeroporto de Heathrow, em Londres), após ser pego transportando documentos de Snowden para Greenwald.

Em 2016, David se elegeu vereador no Rio de Janeiro pelo PSOL. No ano passado, tentou a Câmara dos Deputados, mas conseguiu apenas tornar-se primeiro suplente da bancada do PSOL. Deu sorte: quando Jean Wyllys se autoexilou na Espanha, alegando ameaças de morte, passou de suplente a titular em seu lugar, o que comprova, mais uma vez, quão bem servidos estamos de representantes no Congresso — que Deus nos livre e guarde.

O alegre casal alegre compartilha uma casa perto da favela da Rocinha e a mesma visão de mundo; "Lutamos contra os governos mais poderosos do mundo e a CIA, a NSA, o Reino Unido… Estávamos sendo ameaçados o tempo todo”, disse o farsante em entrevista ao site Agência Pública, dois dias depois da divulgação das mensagens roubadas do celular de Deltan Dallagnol e que seu site espúrio teria recebido de “fonte anônima”.  Na mesma entrevista, atacou veículos de imprensa brasileiros, afirmando que a “grande mídia” estava trabalhando para a Lava-Jato. Não é um argumento muito diferente do que usou contra a imprensa americana, mas com sinal trocado. Ele diz que os veículos do seu país estavam a serviço dos Democratas, em 2016. “Quando a grande mídia transforma Moro e a força-tarefa em deuses ou super-heróis, torna-se inevitável o que aconteceu. Os jornalistas pararam de investigar e questionar a Lava-Jato e simplesmente ficaram aplaudindo, apoiando e ajudando”, disse ele. “A Globo foi para a força-tarefa uma aliada, amiga, parceira, sócia. Assim como a força-tarefa da Lava-Jato foi o mesmo para a Globo.”

No dia seguinte, a Globo emitiu um comunicado revelando que, apesar dos ataques, Verdevaldo lhe havia proposto uma pareceria para divulgar as mensagens roubadas. O D. Quixote dos pobres e a emissora já tinham trabalhado juntos em 2013, na publicação dos documentos de Snowden, mas, em conversa na redação do Fantástico, o assassino de reputações se negou a dar informações sobre o conteúdo e a origem do material que dizia possuir. Em outras palavras, ele queria fechar a parceria sem que a Globo soubesse antes o que tinha em mãos e por isso a conversa não foi adiante.

Uma vez publicadas as matérias no Intercept, prossegue o comunicado da Globo, um representante do site ainda procurou a emissora para oferecer uma entrevista. Também não deu certo. Na sequência, Glenn passou a atacar a Globo. “O comportamento de Greenwald nos episódios aqui narrados permite ao público julgar o caráter dele”, resume a nota.

O juiz auxiliar Marcelo Martins Evaristo da Silva, da 16.ª Vara de Fazenda Pública do Rio, negou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de David Miranda. Segundo ele, a medida só deve ser adotada em “circunstâncias excepcionais”, já que pode produzir impacto negativo na imagem do investigado.

Ao determinar que o marido de Verdevaldo e os parças que entraram no radar do MP-RJ sejam ouvidos antes da adoção de qualquer iniciativa que viole o sigilo, o magistrado ponderou que eventual convite para prestar depoimento não afetará a investigação, já que as informações apuradas se referem a fatos ocorridos no passado e que estão nas mãos de instituições financeiras e da Receita Federal, “resguardadas, portanto, de quaisquer iniciativas dos interessados no sentido de sua inutilização ou distorção enquanto documentos dotados de força probante.” Miranda e Greenwald já alegam “retaliação” — Oh! Que surpresa! — e devem seguir nessa mesma linha quando se pronunciarem oficialmente.

Outro questionamento feito pelo juiz substituto diz respeito à decisão de Dias Toffoli, que, valendo-se de um pedido da defesa Flávio Bolsonaro, suspendeu por atacado todas as investigações que usaram dados de órgãos como o Coaf sem autorização judicial prévia (assunto que já foi comentado ad nauseam aqui no Blog). No pedido da quebra de sigilo do marido de Verdevaldo, o MP alegou que a decisão de Toffoli não valeria para casos de improbidade administrativa, que correm na esfera cível. Mas o conspícuo decisor refutou o argumento e afirmou que seria “inconcebível” impedir o uso dos dados para fins criminais e os autorizar livremente em ações de improbidade.

Valendo-se do mesmíssimo argumento usado pelas defesas de Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz, David Miranda reclamou do vazamento do caso para a imprensa, que considera a “única ilegalidade” na história toda. A investigação corre sob sigilo de Justiça.

O mundo dá muitas voltas. Seria providencial que ao casal 20 versão século XXI fosse administrada uma dose cavalar do seu próprio remédio, até porque a diferença entre o remédio e o veneno está justamente na dosagem. E assim encerro esta postagem, mas não sem antes recomendar a leitura desta matéria, que detalha todo esse imbróglio envolvendo o casal 20 e uns. Se sobrar tempo, não deixe também de assistir a este vídeo.  

quarta-feira, 24 de julho de 2019

CHEGA, VERDEVALDO. JÁ DEU NO SACO.



O pasquim digital The Interpret tem feito o diabo para manter o interesse público em suas “revelações bombásticas”. É certo que cada um luta com as armas que tem, mas igualmente o é o fato de que esse material não valeria um traque não fosse a polarização político-ideológica exacerbada durante a campanha presidencial ter aprofundado ainda mais o fosso que Lula começou a cavar com seu abominável “nós contra eles”.

Com a nação dividida em duas facções antagônicas e os cidadãos que repudiam o fanatismo desbragado perdidos como cegos em tiroteio, políticos corruptos e criminosos de toda espécie, motivados pelo desserviço jornalístico prestado por boa parte dos veículos de comunicação, seguem o catecismo de São Verdevaldo, o impoluto, orando pela conversão do xerife que prendeu os bandidos em vilão da história. Entrementes, o mito endeusado pelos bolsomínions, mas que só se elegeu porque milhões brasileiros votaram nele por exclusão — ou seja, para evitar a volta do PT ao poder —, completa 200 dias no cargo agindo come se ainda estivesse em campanha. Mas o Brasil é maior do que isso e certamente seguirá adiante, não pelo governo que tem, mas apesar dele.

Na semana passada, o tal site proselitista e seus associados — como a Folha, a Veja e a Band — publicaram fofocas sobre a viagem de Deltan Dallagnol. Por tecer suposições tendenciosas sobre o caráter e a idoneidade do procurador e classificá-lo como um reles interesseiro que visava obter lucros com o desempenho da operação, os jornalistas militantes foram alvo de protestos indignados de entidades e personalidades da vida pública relacionadas a mais este triste episódio do deplorável folhetim que, pelo visto, terá tantos capítulos e temporadas quanto a novela global Malhação.

Não se faz jornalismo publicando mensagens roubadas, cuja autenticidade não pode ser verificada — afinal, quem garante que as conversas são verdadeiras ou não foram adulteradas? O cibercriminoso que as hackeou?. Verdevaldo e seus asseclas agem de má-fé — afinal, são militantes da esquerda — e com o nítido propósito de libertar o chefe da ORCRIM petista e abrir caminho para a anulação de todas as condenações obtidas pela maior investigação de corrupção da história desta república de bananas.

Após ganhar notoriedade expondo documentos secretos da NSA, o pasquineiro difamador deixou o jornal The Guardian e passou ser bancado pelo francês de origem iraniana Pierre Omidyar, fundador do site de leilões eBay. Com fortuna avaliada em quase US$ 14 bilhões, Omidyar é fundador da First Look Media — empresa-mãe do The Intercept — e do Press Frendo Defense, que oferece auxílio financeiro a jornalistas que enfrentam processos por causa de suas reportagens.

Ao contrário de outros bilionários realmente engajados em causas humanitárias e ambientalistas e à semelhança do húngaro George Soros — a encarnação do demônio para os antiglobalistas —, Omidyar “faz caridade” com uma desavergonhada pegada de ativismo político. Em 2017, quando doou US$ 100 milhões para combater "fake news" através do jornalismo investigativo, ele divulgou um comunicado em que se comprometia a aplacar o “déficit global de confiança” nas instituições. Dentre os eventos listados para fundamentar tal preocupação figuravam a eleição de Donald Trump e — vejam só — o impeachment da ex-presidanta Dilma Rousseff.

Defensores de Verdevaldo nas redes sociais tentam lhe emprestar credibilidade alegando que ele teria sido agraciado com um Pulitzer — considerado o Oscar do Jornalismo — pela publicação dos documentos da NSA vazados por Edward Snowden. Na verdade, a equipe liderada por ele e Laura Poitras conquistou para o The Guardian US e para o The Washington Post o prêmio na categoria “Serviço Público” de 2014 — na qual o premiado é sempre o jornal que publicou a reportagem (ou a série de reportagens). Ainda que assim não fosse, é bom lembrar que a lista de “ganhadores do Pulitzer” inclui Walter Duranty, que ocultou deliberadamente os crimes do stalinismo, incluindo o genocídio de ucranianos pela fome, e Janet Cooke, autora de uma reportagem inventada sobre uma criança de oito anos viciada em heroína, que teve de devolver o prêmio depois que a farsa foi descoberta.

Quem tiver interesse em conhecer o verdadeiro estofo do caráter do manipulador do conta-gotas mais temido do Brasil, lembra José Nêumanne, pode encontrar informações relevantes lendo reportagem de Eric Wempel, publicada em 27 de junho de 2013 no jornal The Washington Post. Dentre outras coisas, a matéria informa que “o escritório do cartório do condado de Nova York mostra que Greenwald tem US$ 126.000 em sentenças abertas e contra ele datando de 2000, incluindo US$ 21.000 do Departamento de Impostos do Estado e da Secretaria da Fazenda. Também fala de um penhor de US $ 85.000”.

Gleen se envolveu com gente do submundo e do ramo da pornografia. Tornou-se inimigo de Peter Haas — dono de uma companhia de produtos pornográficos —, a quem chamou de little bitch (putinha) no Post, e ao se juntar a Edward Snowden — ex-administrador de sistemas da CIA e ex-contratado da NSA, que tornou públicos detalhes de vários programas que constituem o sistema de vigilância global americano —, entrou para a lista negra do governo EUA e e bateu de frente com Julian Assange — dono do site WikiLeaks —, cuja capivara inclui processo por estupro na Suécia e por quebra de acordo de liberdade sob fiança no Reino Unido, onde ele segue preso. 

Em 2013, quando David Miranda — ex-suplente de Jean Wyllys e hoje deputado pelo PSOL, além de marido de Verdevaldo — foi detido no Aeroporto de Londres por violar o protocolo 7 do Ato Antiterrorismo, Dilma, a inimitável, a pretexto de homenagear a liberdade de imprensa, prestou mais um desserviço aos brasileiros abrindo as portas do país para a permanência legal de Greenwald, como fez Lula antes dela ao acolher o mafioso assassino Cesare Battisti

Para não ficar só com a minha opinião, leia o que escreveu Políbio Braga (e assista ao vídeo):

“Acontece que de modo recorrente boa parte da mídia tradicional e da mídia amestrada a serviço do lulopetismo atribuírem ao dono do site The Intercept a conquista do Pulitzer. Com a ajuda do influenciador Glauco Fonseca, um dos articulistas deste blog [blog do Políbio], o editor investigou e constatou que em 2014, e não em 2013, como os aliados de Glenn informam, quem levou o Pulitzer foi o jornal inglês The Guardian. Glenn atuou como um dos repórteres do caso Snowden, mas o prêmio não foi atribuído a ele. Clique no site do Pulitzer para checar.”

terça-feira, 23 de julho de 2019

CELULAR DE JOICE HASSELMANN É CLONADO E TÁBATA AMARAL É VITIMA DO DESSERVIÇO JORNALÍSTICO PRESTADO PELA REVISTA VEJA, ORA PARCEIRA DO DONO DO PASQUIM DIGITAL “THE INTERCEPT”



Joice Hasselmann, deputada do PSL por São Paulo e líder do governo no Congresso, denunciou à polícia que, a exemplo do ministro Sérgio Moro, teve seu celular clonado. No último domingo, a parlamentar divulgou um vídeo no qual afirma ter descoberto a invasão durante a madrugada, quando recebeu uma ligação do jornalista Lauro Jardim

"Eu tive a certeza disso depois que esses farsantes procuraram, via Telegram [aplicativo que ela afirma não usar há muito tempo, desde a época da campanha] o jornalista Lauro Jardim, e, de madrugada, eu chego em casa e tem uma ligação do Lauro Jardim no meu telefone", relatou Joice, segundo o portal de notícias G1. "Eu achei extremamente estranho. Uma ligação de madrugada, que história é essa? Uma ligação em um horário desses. Mandei mensagem, e Lauro Jardim me respondeu: 'Estou respondendo às suas mensagens no Telegram'. Só que eu não mandei nenhuma mensagem, em Telegram nenhum", acrescentou a deputada.

No vídeo, Joice exibe o aparelho e diz que há registros de ligações feitas a partir dele para seu próprio número. "Como se fosse possível que eu ligasse para mim mesma. Exatamente o que aconteceu aí com o ministro Sergio Moro", afirmou. Ao repórter Nilson Klava, da GloboNews, ela informou que deu parte do ocorrido ao ministro da Justiça e Segurança Pública, e que pediu a um assessor que entrasse em contato com a Polícia Federal para tratar do assunto.

Se a polícia for tão célere nesse caso quanto vem sendo para elucidar o assassinato da vereadora psolista Marielle Franco, Joice pode esperar sentada. Enquanto isso, Moro, Dallagnol e a força-tarefa da Lava-Jato são tratados como criminosos, o dono do pasquim digital The Intercept é promovido pela imprensa-marrom a paladino da Justiça e os cidadãos de bem, mais uma vez, são feitos de palhaços. Triste Brasil.

ATUALIZAÇÃO: O número de celular de Paulo Guedes foi hackeado e usado para abrir uma conta no aplicativo de mensagens Telegram. Na noite de ontem, os criminosos dispararam mensagens para alguns contatos da agenda do ministro. Num dos casos, o suposto invasor fez uma ligação utilizando uma gravação com a voz de Guedes falando sobre a reforma da Previdência. A equipe do ministro garante que ele não utiliza esse canal de comunicação. Trata-se de ataque semelhante ao registrado com o celular do ministro da Justiça, Sergio Moro, quando ele teve o aplicativo invadido, há algumas semanas. A diferença é que Moro usava o aplicativo. Guedes, não. A assessoria do ministro confirmou ontem o ataque e disse que iria acionar a Polícia Federal para apurar o caso. Ao jornal O Globo, Guedes fez um comentário curto sobre o caso: “Fui hackeado. Não entrei em Telegram. Bandidos.” SE ISSO NÃO É INDÍCIO SUFICIENTE PARA SE “DESCONFIAR” ESSA CATERVA ESTÁ “CONSTRUINDO” DIÁLOGOS QUE DEPOIS REVELA COMO SENDO A QUINTESSÊNCIA DA VERDADE, NADA MAIS O FARÁ. ACORDEM, “AUTORIDADES” E OTÁRIOS DE PLANTÃO, QUE, COMO O PIOR DOS CEGOS, INSISTEM EM NÃO VER. ATÉ PROVA EM CONTRÁRIO, MORO É O XERIFE QUE PRENDEU O BANDIDO, E NÃO O VILÃO DA HISTÓRIA.

Sobre a deputada Tábata Amaral, do PDT, e matéria sensacionalista de Veja, ouça o que disse Caio Copolla no Morning Show de ontem.

domingo, 21 de julho de 2019

RIR PARA NÃO CHORAR


Depois das mensagens de Moro, Bolsonaro, filhos de Bolsonaro, ministros do STF, deputados e senadores, o interesse por vazamentos caiu muito. O editor do Intracept estava desesperado.
— De que adianta fazer esse fuzuê todo? Dinheiro que é bom, nada! — desabafou. Precisamos nos reinventar. Precisamos monetizar nosso negócio.
Os hackers se entreolharam, sem saber o que dizer. Foi um estagiário quem teve a sacada.
— Brasília saturou. Vamos expandir. O negócio é hackear gente comum.
A ideia se provou genial. Seu chefe é um panaca? Hackeie o WhatsApp dele (“R$ 2 mil por 15 dias ou consulte tabela”). Sua namorada está te traindo? Hackeie o Snapchat dela. (“Só R$ 500 por 7 dias. O oitavo é grátis!”). E por aí foi.
Patrícia e Geraldo tinham vida de núcleo rico de novela. Apartamento com varanda gourmet, viagem com personal shopper, SUV coreana blindada. Casamento inabalável, todo mundo dizia.
Um dia Patrícia acordou, pegou o iPad para ver as notícias e, mesmo sendo muito equilibrada, não conteve o calor que lhe subiu até as orelhas. Estava lá, escancarada, a foto do marido e o título: “Intracept vaza WhatsApp de Geraldo Freire”.
Ele não era famoso nem nada. Mas de uns meses para cá era assim. Ninguém estava salvo. Patrícia não conseguia imaginar alguém capaz de uma maldade dessas com o marido — e com ela.
Porque não há dignidade que sobreviva a um vazamento do Intracept. Ainda por cima quando vão liberando um pouco por dia. Qualquer desculpa esfarrapada de um dia não se sustenta no outro. Toda semana tem um anônimo novo com a vida devassada.
Patrícia sempre acabava conhecendo alguém.
— Porque esse mundo é uma ervilha, né?
Só esse mês, no cabeleireiro, teve notícia de dois divórcios. Luciana, amiga íntima, teve as mensagens do Insta divulgadas. O marido a botou para fora de casa sem direito nem ao iPhone.
— Pede um novo para ele, safada! — gritou para o condomínio ouvir.
As conversas que vazaram eram comprometedoras demais: Luciana e um amigo do tempo de faculdade trocavam receitas de nhoque, ravióli, linguine, tudo com as respectivas fotos. Não tem casamento que resista.
Mas não era hora de pensar nos outros. Patrícia olhou para o marido que dormia com seu ronronar de homem de bem. Ela não teve coragem de clicar no link. Contou para a mãe pelo Facebook.
— Coisa de amante, filha. Batata. Sempre disse para você ficar esperta. Deu nisso — respondeu.
Patrícia balançou o marido até acordá-lo. Geraldo despertou com o iPad esfregando a ponta do seu nariz. Leu o texto ainda com os olhos melados de sono. Geraldo também sabia que não existe vida após vazamento. Era só ver Brasília. Virou uma cidade fantasma.
Ele se reagrupou.
— Amor, calma. Vamos superar isso juntos.
Patrícia concordou, chorando.
Aquela semana seria definitiva para o casamento, para o futuro dos dois. Combinaram de ler as mensagens juntos, para que Geraldo pudesse explicar qualquer mal-entendido.
E assim foi. A semana passou tensa, arrastada, discutindo a relação, é verdade, mas surpreendentemente, nenhuma mensagem comprometedora foi revelada. Patrícia mal podia conter o orgulho.
Geraldo era o assunto de todas as conversas no cabeleireiro, entre as amigas e até da sogra. Vazou até a mensagem com o agente de turismo sobre hotéis em Positano, estragando a viagem surpresa para o aniversário dela. Quando acabou a semana, o casamento estava mais forte do que nunca. Ela nunca desconfiou de nada.
Na segunda-feira seguinte, Geraldo pagou a outra metade do pacote Vazamento do Bem do Intracept.
— O negócio é esse mesmo! — vibrava o editor com a nova ideia do ex-estagiário, agora editor assistente — Tem que diversificar para sobreviver.
Diante dos vazamentos, poucos casamentos resistem. O de Patrícia até saiu fortalecido. Mas as mensagens sobre a viagem para a Itália estariam no contexto?
Texto de Mentor Neto.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

A VAZA-JATO E AS ESTRIPULIAS DE VERDEVALDO



Em clima de Fla Flu, com torcidas opostas, vaias e fogos lançados do outro lado da margem por manifestantes contrários à sua presença na Feira Literária Pirata das Editoras Independentes, o jornalista americano Glenn Greenwald foi saudado como herói pela patuleia e opositores do governo Bolsonaro, ao som de uma versão hardcore de "Bella Ciao" — canção popular italiana que se tornou um símbolo da Resistência italiana contra o Fascismo durante a 2ª Guerra Mundial.

Mesmo diante da pressão, Greenwald avisou que não pretende sair do Brasil: "Sou casado com um brasileiro que eu amo mais do que tudo, nós temos dois filhos brasileiros que adotamos; somos uma família completa, cheia de amor e felicidade, como todos podem ser, inclusive os jovens LGBT neste país. Posso sair do país a qualquer momento, só que eu não estou fazendo isso, nem vou fazer. Porque 15 anos atrás eu me apaixonei pelo Brasil". E aproveitou a ocasião para revelar em que pé estão os trabalhos de apuração do The Intercept Brasil: "Estamos muito mais perto do começo do que do final. Temos muito mais para revelar. Quando perceberam a importância do material, todos os jornalistas do Brasil nos procuraram querendo trabalhar com a gente como parceiros. Todos, menos um: a Globo. Para os jornalistas da Globo, é um crime fazer jornalismo. Só com fascistas e racistas o Bolsonaro conseguiu ter 15% dos votos. O país pelo qual me apaixonei não é isso. Ele é feito de pessoas diferentes. Só a democracia pode unir esse país."

Algumas pessoas parecem ter nascido com o único propósito de atazanar a vida alheia. E Verdevaldo se destaca entre os membros dessa seleta confraria. A propósito da Vaza-Jato, escreveu Diogo Mainardi na revista eletrônica Crusoé:

A imprensa resistiu ao AI-5, mas não vai resistir a Glenn Greenwald. Como é que a Veja, depois de denunciar a gatunagem lulista por mais de dez anos, sendo retaliada por aquela gente, pode compartilhar mensagens obtidas por criminosos, com o único propósito de enterrar a Lava-Jato e tirar da cadeia Lula e seus comparsas? Como é que a Folha, que sempre se vangloriou de sua autonomia, pode sucumbir às imposturas militantes de um bando de piratas, que manipula e falseia o produto de um crime para inocentar os membros de uma quadrilha? Os leitores vão castigá-los duramente. E o descrédito vai se espalhar para todos os lados.

O complexo de vira-latas dos jornalistas brasileiros permite que o aventureiro americano passe o dia inteiro no Twitter, arrotando platitudes sobre a liberdade de imprensa, como um novo Thomas Jefferson. Mas ele não é nada disso. Depois de quatro semanas de intenso agitprop, o plano de Verdevaldo para desmoralizar a Lava-Jato e libertar o chefe da ORCRIM está se revelando um fiasco. E o motivo é um só: Sergio Moro e Deltan Dallagnol, ao contrário dos bandidos que eles prenderam, fizeram tudo certinho, sem atropelar a lei.

O AI-5 de Verdevaldo não tem DOI-CODI nem pau-de-arara: a imprensa entregou-se espontaneamente a seu algoz. Se os jornalistas quiserem, posso torturá-los ainda mais, contando o que vai ocorrer a partir de agora. Em primeiro lugar, a PF vai prender o responsável pelos ataques aos telefones celulares dos procuradores de Curitiba. Em seguida, sua rede de contatos também será revelada. Quando esses nomes vierem à tona, a trama lulista vai explodir espetacularmente. Eu sei disso porque é o que vem se repetindo há quatro anos e meio. Já vimos essa história: criminosos muito poderosos se mobilizam para destruir a Lava-Jato, advogados bombardeiam a imprensa com falsos vazamentos e pareceres de juristas coniventes, ministros do STF tentam intimidar Sergio Moro e, no fim, os bandidos terminam na cadeia. Desta vez, porém, há uma novidade: o golpe partiu da imprensa. E ela, tristemente, vai se espatifar.

Um mês antes das eleições americanas de 2016, Greenwald publicou com um colega uma matéria no site The Intercept, criado por ele em 2013. Com o título “Exclusivo: novo vazamento de e-mails revela relação próxima da campanha de Clinton com a imprensa”, o texto expunha o conteúdo de mensagens trocadas entre a equipe da candidata democrata Hillary Clinton e jornalistas. Entre as táticas usadas para manipular a imprensa, citava-se o oferecimento de bebidas e comida para jornalistas em reuniões para transmitir informações e sugestões de entrevistados para os programas de televisão. A fonte dos dados, segundo o site, identificava-se como Guccifer 2.0 — um nome já conhecido.

Dois dias antes, o Departamento de Segurança Interna e o diretor de Inteligência Nacional dos Estados Unidos soltaram um comunicado dizendo-se convictos de que o governo russo estava por trás dos roubos de e-mails de cidadãos e instituições americanas, incluindo de organizações políticas. “As revelações recentes de e-mails supostamente hackeados em sites como DCLeaks.com e Wikileaks, e pela identidade online Guccifer 2.0, são consistentes com os métodos e motivações russos”, dizia a nota. “Nós acreditamos que somente oficiais de alto nível da Rússia poderiam ter autorizado essas atividades.”

O alerta não deteve Greenwald, mesmo em plena campanha eleitoral. Na matéria do Intercept, ele se explicava: “Na sexta-feira, autoridades do governo de Barack Obama alegaram que os funcionários de alto nível da Rússia foram responsáveis por este e outros ataques, embora não tenham fornecido nenhuma evidência para essa afirmação”. Nem a origem criminosa dos documentos nem o interesse evidente de quem forneceu os dados — agente russos — evitaram a publicação da matéria.

O padrão parece ter se repetido no Brasil. Na divulgação das conversas entre Sergio Moro e os procuradores da Lava-Jato, Greenwald também não se importou com a forma como o material fora obtido (se é mesmo que ele não sabe) ou com o óbvio direcionamento dos alvos: somente juízes e investigadores envolvidos em decisões desfavoráveis aos acusados pela Lava-Jato tiveram seus dados vazados. Ao ser perguntado por Crusoé sobre essa seletividade, respondeu: “Qualquer sugestão de que eu me oponho à Lava-Jato é totalmente ridícula”.

Os métodos de Greenwald se encaixam naquilo que é conhecido como “jornalismo ativista”, “jornalismo de oposição” ou “jornalismo de choque”. A prática usa as premissas que regem a profissão — como a preservação da fonte e a busca do interesse público — para atingir apenas rivais. Seu sobrenome até deu origem a um verbo em inglês: “greenwalding”. Em 2016, o termo entrou no site Urban Dictionary, em que os leitores elencam acepções para as palavras e votam nas melhores. Uma das mais populares é: pinçar um conteúdo e tirá-lo do contexto com o objetivo de difamar alguém”.

Os alvos de Greenwald são todos aqueles que, em sua visão de mundo, abusam de sua condição de poder. Trata-se de um grupo eclético, que inclui o Partido Democrata, as elites, o jornal The Washington Post, a Globo, os ricos (embora seja financiado por um bilionário), o FBI, a CIA, Israel, o Reino Unido, o ex-procurador especial dos Estados Unidos Robert Mueller, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e a operação Lava-Jato quando o alvo é o PT. “Moro e os procuradores da Lava-Jato são figuras altamente controversas aqui e no mundo — tidos por muitos como heróis anticorrupção e acusados por tantos outros de ser ideólogos clandestinos de direita, disfarçados como homens da lei apolíticos. Seus críticos têm insistido que eles exploraram e abusaram de seus poderes na Justiça com o objetivo político de evitar que Lula retornasse à Presidência e destruir o PT”, diz o Intercept no texto elaborado para justificar a publicação das mensagens roubadas de Deltan Dallagnol.

O gosto pelo enfrentamento, que Greenwald destila quase diariamente em sua conta do Twitter com mais de 1 milhão de seguidores, aflorou ainda em 2005, quando ele criou um blog e começou a criticar a presença militar americana no Iraque. No ano seguinte, ainda na condição de advogado constitucionalista e blogueiro, publicou o livro Como um patriota deveria atuar. O título fazia referência ao Patriot Act, criado pelo presidente George W. Bush como resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. A obra tornou-se um best-seller.

Nos anos seguintes, Greenwald escreveu mais quatro livros. O sucesso editorial abriu as portas para a autoria de colunas no site americano Salon e, mais tarde, no jornal inglês The Guardian. No final de 2012, ele foi procurado por Edward Snowden, um hacker que havia trabalhado na NSA. Snowden entregou a ele documentos que mostravam como as agências americanas vigiavam cidadãos nos Estados Unidos e no resto do planeta, inclusive no Brasil. O material foi publicado por diversos veículos do mundo. Um jornalista do The Washington Post também recebeu material para produzir uma matéria. A experiência, contudo, incomodou Snowden.

No livro Sem lugar para se esconder, Greenwald conta como Snowden reagiu ao ver o Washington Post executando seu ofício. “Em vez de reportar a história rapidamente e de forma agressiva, o Washington Post montou um grande time de advogados, que estava fazendo todo tipo de pedido e dando todo tipo de advertências terríveis. Para a fonte (Snowden), isso mostrou que o Post, em relação ao que ele acreditava ser uma oportunidade jornalística sem precedentes, estava sendo dominado pelo medo em vez de convicção e determinação”, escreve Greenwald. Snowden então fez um pedido: “Agora eu realmente quero que você seja a pessoa que vai reportar isso. Eu o tenho lido há muito tempo e sei que você será agressivo e não terá medo em fazer isso”. Greenwald respondeu: “Eu estou pronto e ansioso. Vamos decidir agora o que preciso fazer”.

Pela divulgação do material de Snowden, Greenwald ganhou o Prêmio Pulitzer de jornalismo em 2014, ao lado do Guardian e do Post. Mas a má experiência em negociar a publicação com veículos da imprensa o levou, ainda em 2013, a pensar em fundar o site The Intercept, em que ele teria mais liberdade para divulgar seu material (os contratos assinados para as colunas no Salon e no Guardian estabeleciam que Greenwald publicaria sem ter de se submeter a um editor).

A empreitada digital começou muito bem. Em 2013, o Intercept recebeu 500 mil dólares do bilionário iraniano Pierre Omidyar, fundador do site de leilões eBay e do PayPal. Nos primeiros anos de vida, os salários da equipe do Intercept foram custeados por Omidyar e pelo rendimento das ações de suas empresas. Entre 2014 e 2017, Greenwald recebeu 1,6 milhão de dólares da First Look Media, de Omidyar. Seu salário em 2015, segundo matéria do jornalista Charles Davis, publicada na Columbia Journalism Review, chegou a 518 mil dólares ao ano, ou 43 mil dólares por mês.

Três anos depois da divulgação dos materiais de Snowden, o Intercept ganhou os holofotes com a divulgação dos e-mails da campanha de Hillary Clinton, juntamente com o Wikileaks, do australiano Julian Assange — que recentemente foi obrigado a sair da embaixada do Equador, em Londres, onde estava refugiado desde 2012, para evitar ser extraditado ou para a Suécia, onde é acusado de estupro, ou para os Estados Unidos, onde é acusado de espionagem. A Justiça do Reino Unido deve enviá-lo para os Estados Unidos. Com Snowden e Assange, Greenwald forma um trio decidido e sempre disposto a defender Vladimir Putin. Snowden hoje vive refugiado na Rússia e mantém contato frequente com Greenwald. “Eu acho que a razão para que Putin tenha aceitado Snowden na Rússia é porque ele simplesmente gostou da ideia de aparecer como um protetor dos direitos humanos contra os Estados Unidos”, disse Greenwald a Ian Parker, jornalista da revista The New Yorker.

Dos três ativistas, Greenwald é o que tem a língua mais afiada. Para cada abuso ou crime cometido a mando de Putin, o americano cria uma história para relativizar o fato. Ou, então, afirma que as evidências não são suficientes para culpar Moscou. Um ex-espião russo e sua filha foram envenenados com Novichok, na Inglaterra, no ano passado? Para Greenwald, os cientistas britânicos mentiram quando disseram que a substância havia sido produzida na Rússia. E atacar rivais políticos é o que fazia também o ex-presidente americano Barack Obama com o uso de drones militares no Oriente Médio. Russos derrubaram um avião de passageiros da Malaysia Airlines que sobrevoava a Ucrânia, em 2014? Greenwald tuitou que a Marinha americana também abateu um avião iraniano em 1988.

No afã de livrar os russos, Greenwald, que é de esquerda, chegou até mesmo a se aproximar de veículos de imprensa favoráveis ao presidente americano Donald Trump. Tudo para argumentar que não houve conluio entre os russos e a campanha do republicano, em 2016. Greenwald chamou as matérias sobre um possível conluio de “histeria russofóbica”. Ao mesmo tempo, passou a atacar impiedosamente o ex-procurador-geral Robert Mueller, que foi responsável pela investigação do caso. “Mesmo que ele (Trump) tenha feito acordos estranhos com a Rússia, eu ainda acho que é do interesse geral não ensinar uma geração inteira, que está se interessando por política pela primeira vez, que os russos são demônios”, disse ele à New Yorker.

Além de preservar Putin, Greenwald é simpático a grupos terroristas muçulmanos, como o Estado Islâmico, a Al Qaeda, o Hamas e o Hezbollah. Em uma conferência de socialistas em Chicago, em 2012, ele disse: “Nós temos organizações na lista de terrorismo que não são nem remotamente uma ameaça para os Estados Unidos, como o Hezbollah e o Hamas. Eles não estão de forma alguma tentando ferir americanos. São devotados a proteger seus cidadãos contra o estado de Israel. Apesar disso, é um crime nos Estados Unidos fazer qualquer coisa que seja entendida como apoio material ao Hezbollah e ao Hamas”. Em 1983, só para lembrar, membros do Hezbollah explodiram dois caminhões-bomba no Líbano e mataram 307 militares que estavam no país como força de paz. Desses, 241 eram americanos.

Para Greenwald, terroristas são as democracias do Ocidente. “Os Estados Unidos, o Reino Unido e seus aliados mataram repetidamente civis muçulmanos na última década (e antes disso), mas os defensores desses governos insistem que isso não pode ser ‘terrorismo’ porque são os combatentes, não civis, que são os alvos. Será que está certo pensar que, quando nações ocidentais matam continuamente civis muçulmanos, isso não é terrorismo, mas quando os muçulmanos matam soldados ocidentais, isso é terrorismo?”, escreveu ele no Guardian, em maio de 2013.

O Brasil entrou na vida de Greenwald principalmente por questões pessoais. Em 2005, o americano conheceu o jovem David Miranda, então com 20 anos, na região da rua Farme de Amoedo, na praia de Ipanema. Casaram-se pouco tempo depois. Miranda, que deixou a escola aos 13 anos, fez supletivo e depois se formou em comunicação, tornou-se mundialmente conhecido por ter sido interrogado por nove horas no aeroporto de Heathrow, em Londres. Ele foi pego transportando documentos de Snowden para Greenwald. Ao chegar ao Brasil, começou uma campanha pedindo para a então presidente Dilma Rousseff conceder asilo a Snowden, sem sucesso.

Em 2016, Miranda elegeu-se vereador no Rio de Janeiro pelo PSOL. No ano passado, tentou a Câmara dos Deputados. Com 17 mil votos, tornou-se primeiro suplente da bancada do PSOL. Quando o deputado federal Jean Wyllys, também do PSOL, decidiu deixar o Brasil alegando ameaças de morte, Miranda ocupou seu lugar.

Miranda e Greenwald compartilham uma casa perto da favela da Rocinha e a mesma visão de mundo. “Eu e meu marido estivemos juntos no caso do Snowden e nós lutamos contra os governos mais poderosos do mundo e a CIA, a NSA, o Reino Unido… Estávamos sendo ameaçados o tempo todo”, disse Greenwald, em entrevista para o site Agência Pública, dois dias depois da divulgação das mensagens roubadas do celular de Deltan Dallagnol e que teriam sido entregues ao Intercept por “fonte anônima”. Na mesma entrevista, Greenwald aproveitou para atacar veículos de imprensa brasileiros. Ele afirmou que a “grande mídia” estava trabalhando para a Lava-Jato. Não é um argumento muito diferente do que ele usou contra a imprensa americana, mas com sinal trocado. Ele diz que os veículos do seu país estavam a serviço dos democratas, em 2016. “Quando a grande mídia transforma Moro e a força-tarefa em deuses ou super-heróis, torna-se inevitável o que aconteceu. Os jornalistas pararam de investigar e questionar a Lava-Jato e simplesmente ficaram aplaudindo, apoiando e ajudando”, disse ele. “A Globo foi para a força-tarefa uma aliada, amiga, parceira, sócia. Assim como a força-tarefa da Lava-Jato foi o mesmo para a Globo.”

No dia seguinte, a Globo emitiu um comunicado revelando que, apesar dos ataques, Greenwald procurara a empresa no dia 29 de maio para propor uma nova parceria: divulgar as mensagens de Dallagnol a Sergio Moro. O advogado e a TV já tinham trabalhado juntos em 2013 na publicação dos documentos de Snowden. Mas, numa conversa na redação do Fantástico, Greenwald se recusou a dar informações sobre o conteúdo do material que dizia possuir e da sua origem — “uma grande bomba a explodir”. Sim, ele queria fechar a parceria sem que a Globo soubesse antes o que ele tinha em mãos. Por isso, a conversa não foi adiante.

Uma vez publicadas as matérias no Intercept, prossegue o comunicado, um representante do site ainda procurou a emissora para oferecer uma entrevista. Também não deu certo. Na sequência, vieram os ataques de Greenwald à Globo. “O comportamento de Greenwald nos episódios aqui narrados permite ao público julgar o caráter dele”, diz a nota.

A Folha de São Verdevaldo, agora, espalha mensagens de Deltan Dallagnol para sua mulher. O novo traque, que levanta suspeitas sobre um projeto que nem foi realizado, invade a esfera privada do procurador da Lava-Jato, à procura de algo para emporcalhá-lo. O resultado só emporcalha os autores do golpe: em sua reportagem sobre as palestras de Dallagnol, a Folha logicamente tentou encontrar algum fragmento de conversa capaz de constranger Sérgio Moro, mas acabou obtendo o efeito contrário. 

Há uma única mensagem enviada pelo coordenador da força-tarefa ao ex-juiz da Lava-Jato, em que o procurador diz: “Caro, o Edilson Mougenot [fundador da Escola de Altos Estudos em Ciências Criminais] vai te convidar nesta semana pra um curso interessante em agosto. Eles pagam para o palestrante 3 mil. Pedi 5 mil reais para dar aulas lá ou palestra, porque assim compenso um pouco o tempo que a família perde (esses valores menores recebo pra mim… é diferente das palestras pra grandes eventos que pagam cachê alto, caso em que estava doando e agora estou reservando contratualmente para custos decorrentes da Lava-Jato ou destinação a entidades anticorrupção)…”. 

Além de não ter nada contra Moro (o estoque de traques de Verdevaldo parece ter chegado ao fim), a mensagem isenta também Dallagnol, explicando claramente o destino dos recursos de suas palestras.

Alguma dúvida de quem é o vilão nessa história?