Ao que parece, Lula
quer manter a qualquer custo sua narrativa de preso político perseguido pela
justiça injusta, condenado por um juiz parcial apenas para impedi-lo de voltar
a presidir o país a que tanto bem ele fez durante seus governos. Diz que não
troca sua dignidade pela liberdade — e nem poderia, pois não é possível trocar o que não se tem por algo que se finge não
querer.
Da sala VIP onde se encontra hospedado desde abril do ano
passado, o picareta dos picaretas insiste que demonstrou serem falsas as
acusações contra ele, e que são seus acusadores, e não ele, que estão presos às
mentiras que contaram ao Brasil e ao mundo. Parece piada, mas é fato, como também o é a própria Lava-Jato ter pedido sua progressão de regime.
Juristas, advogados criminalistas e outros palpiteiros divergem sobre se Lula tem o direito de se recusar a aceitar a progressão. Por outro lado, se ele realmente quer ficar preso, basta anular seu atestado de bom comportamento — destruindo a cela ou agredindo os policiais, por exemplo — ou se recusar a cumprir as medidas cautelares que podem ser impostas pela juíza da Vara de Execuções Penais Carolina Lebbos — como usar tornozeleira eletrônica, por exemplo.
Juristas, advogados criminalistas e outros palpiteiros divergem sobre se Lula tem o direito de se recusar a aceitar a progressão. Por outro lado, se ele realmente quer ficar preso, basta anular seu atestado de bom comportamento — destruindo a cela ou agredindo os policiais, por exemplo — ou se recusar a cumprir as medidas cautelares que podem ser impostas pela juíza da Vara de Execuções Penais Carolina Lebbos — como usar tornozeleira eletrônica, por exemplo.
Josias de Souza
resumiu muito bem essa palhaçada: Pessoas normais morrem uma única vez, mas
atores como Lula são reincidentes. E
agora, o petista usa a cadeia como palco para encenar seu novo ato. Embora esteja preso
há um ano e meio, não cumpre pena, dá espetáculos.
Tornou-se uma espécie de presidiário-ostentação. Concede entrevistas em série.
Vinha ensaiando uma troca de figurino. Planejara a migração gradativa do papel
de vítima de hipotéticas injustiças para o de candidato a um terceiro mandato
presidencial em 2022. À espera de uma decisão da 2ª Turma do Supremo sobre o pedido de suspeição que protocolou contra Sergio Moro, ordenou a seus advogados
que se abstivessem de reivindicar o regime semiaberto, que evoluiria para a
prisão domiciliar. Súbito, a força-tarefa de Curitiba atravessou na encenação
do preso um pedido de progressão do regime, e o encarcerado foi forçado a
improvisar sua pantomima da resistência, cuja encenação foi potencializada
pelas mensagens surrupiadas por ladrões na operação de busca e apreensão que
realizaram nos celulares da turma da Lava-Jato.
A parte mais complicada do teatro será encontrar um ponto de
convergência entre o personagem que o próprio enxerga quando se olha no espelho
e aquilo que passou a representar na vida real: um ficha suja inelegível até
2035, quando, se ainda estiver vivo, terá quase 90 anos. Para recuperar os
direitos políticos, seria preciso que o Supremo
anulasse a sentença do tríplex e que o juiz
Bonat atuasse como um anti-Moro
ao julgar novamente o processo. Sem mencionar que o petralha teria de torcer
para que não surgisse uma nova condenação em segunda instância nos próximos
três anos, o que é complicado para um colecionador de ações penais.
Beira o ridículo um corrupto e lavador de dinheiro condenado
em três instâncias por 8 a 0 obter da legislação brasileiros, redigida por
bandidos para beneficiar bandidos, reclamar de ir para casa. Como explicou Deltan
Dallagnol, o Ministério Público atua na acusação, mas também representa o
Estado e, como tal, não pode permitir a um acusado escolher o regime pelo qual
cumprirá sua pena. Até porque o Estado não terá como explicar essa recusa às
instâncias jurídicas superiores.
Como eu já comentei várias vezes, Lula quer ser absolvido, declarado inocente e ainda ver de camarote
a condenação do ministro Sergio Moro
e do procurador Deltan Dallagnol por
parcialidade na acusação e na sentença. E ficar livre dos demais processos.
De um tempo a esta parte, a fraude que se autodeclara a alma
viva mais honesta do país tornou se o rei dos spoilers a respeito de sua
condição. Após ter recebido o pseudojornalista Verdevaldo das Couves na sala de
estado-maior em que passou os primeiros 17 meses de sua pena, usou seus dons
proféticos de sedutor de massas para dizer aos repórteres amigos Mônica Bergamo, da Folha, e Florestan Fernandes,
do El País, que sua obsessão é
desmoralizar o ex-juiz e o procurador. E agora teve outra premonição, ao
afirmar que “seria um prazer” que ministro e procurador, dois inimigos
figadais, entrassem no lugar dele na cela. Ou seja: o bandido quer ser solto
somente quando o xerife e o delegado estiverem atrás das grades, e então tornar
a disputar a presidência.
Será preciso conseguir de seus amigões no STF e em outros tribunais superiores o
cancelamento não de um, mas de todos os processos a que responde. Terá também
de bater todos os outros pretendentes numa eleição em que seu partido, o PT, não conta em princípio nem com o
apoio de outros líderes de esquerda, como Ciro
Gomes, que tem a mesma obsessão que ele. E, sobretudo, convencer o eleitor
a votar num candidato condenado em três instâncias, por corrupção, lavagem de
dinheiro e mais uma miríade de delitos.
Vencer esses obstáculos pode não ser fácil nem mesmo para um
migrante que saiu da escassez para a abundância no prazo curto de uma vida. Mas
não é prudente menosprezar a megalomania de um operário braçal que passou quase
14 anos no poder, e que agora tem a seu favor o absurdo de um sistema jurídico
que o condena em três instâncias a quase 9 anos de cadeia, e ele fica preso um
ano e cinco meses.
A cereja do bolo: O condenado que nunca experimentou o
inferno presidiário brasileiro e vive a detratar agentes da lei, alguns dos
quais heróis do povo, arvora-se a comandar a própria soltura. Tudo foi
minuciosamente planejado e está sendo cumprido à risca. Seus empregadinhos no
Congresso já aprovaram em votações simbólicas uma lei contra abuso de
autoridade que já está coagindo juízes, promotores e policiais a seguirem as
novas normas de conduta e deixarem à vontade criminosos de todos os tipos. A
esquerda sem votos e o Centrão sem escrúpulos, com a muda cumplicidade do presidente
da Banânia, que quer emplacar um filho na Embaixada do Brasil nos EUA e livrar
outro de investigações sobre atos espúrios cometidos no seu gabinete de
deputado na Alerj, dão dinheiro e poder a chefões das organizações criminosas
partidárias. Tudo dentro do plano. Para completar, com a adesão de Cármen Lúcia, Rosa Weber e Alexandre de
Moraes, o Supremo se prepara não para interpretar, mas sim corrigir a
Constituição. Por enquanto, só poderão impedir esse plano o amor do povo
ainda devotado a Moro, Dallagnol e, sobretudo, à eficiência da
Polícia Federal na investigação sobre o hackers que abasteceram Verdevaldo com
seu material roubado.
A complicada estratégia lulista de soltar os bandidões e
mandar para suas celas (não a dele, que é privilégio de poderoso chefão)
agentes honestos, inteligentes, judiciosos e trabalhadores da lei também é
ameaçada pela empáfia de seus operadores. A réstia de esperança que surge entre
as telhas vem da informação de que os bandidos de Araraquara que invadiram os
celulares de quase mil autoridades no Brasil se acreditavam infalíveis. Walter Delgatti, o Vermelho, deu a senha. A Polícia Federal usou como antídoto dose do
veneno que ele vendeu, ao ler mensagens trocadas com seus cúmplices, com
autorização do juiz. Numa, um destes temeu que o pedido de férias do ministro
da Justiça e da Segurança Pública pudesse representar risco. “(Moro) descobriu algo será?”, indagou o
outro. “Ele (Moro) tá com medo, isso
sim. Hacker aqui não deixa rastros. Hacker de hacker. Você não entendeu ainda.
Quem nasceu para ser crash-overlong nunca vai ser hacker aqui”, respondeu Vermelho. Felizmente, não foi bem assim.
Com José Nêumanne.
EM TEMPO: Sobre a decisão do STF na sessão desta tarde, que deve delimitar o alcance da jabuticaba jurídica criada pela maioria que se formou na sessão da semana passada, clique aqui ouvir a opinião de Merval Pereira.
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