O pasquim digital The
Interpret tem feito o diabo para manter o interesse público em suas
“revelações bombásticas”. É certo que cada um luta com as armas que tem, mas igualmente o é o fato de que esse material não valeria um traque não fosse a polarização político-ideológica exacerbada durante a campanha presidencial ter aprofundado ainda mais o fosso que
Lula começou a cavar com seu abominável “nós contra eles”.
Com a nação dividida em duas facções antagônicas e os
cidadãos que repudiam o fanatismo desbragado perdidos como cegos em tiroteio,
políticos corruptos e criminosos de toda espécie, motivados pelo desserviço
jornalístico prestado por boa parte dos veículos de comunicação, seguem o
catecismo de São Verdevaldo, o
impoluto, orando pela conversão do xerife que prendeu os bandidos em vilão da
história. Entrementes, o mito endeusado pelos bolsomínions, mas que só se
elegeu porque milhões brasileiros votaram nele por exclusão — ou seja, para
evitar a volta do PT ao poder —,
completa 200 dias no cargo agindo come se ainda estivesse em campanha. Mas o
Brasil é maior do que isso e certamente seguirá adiante, não pelo governo que
tem, mas apesar dele.
Na semana passada, o tal site proselitista e seus associados —
como a Folha, a Veja e a Band — publicaram fofocas sobre a
viagem de Deltan Dallagnol. Por tecer suposições tendenciosas sobre o caráter e a idoneidade do procurador e classificá-lo
como um reles interesseiro que visava obter lucros com o desempenho da operação,
os jornalistas militantes foram alvo de protestos indignados de entidades e
personalidades da vida pública relacionadas a mais este triste episódio do
deplorável folhetim que, pelo visto, terá tantos capítulos e temporadas quanto
a novela global Malhação.
Não se faz jornalismo publicando mensagens roubadas, cuja
autenticidade não pode ser verificada — afinal, quem garante que as conversas
são verdadeiras ou não foram adulteradas? O cibercriminoso que as hackeou?. Verdevaldo e seus asseclas agem de má-fé — afinal, são militantes da esquerda — e com o nítido propósito de libertar o
chefe da ORCRIM petista e abrir
caminho para a anulação de todas as condenações obtidas pela maior investigação
de corrupção da história desta república de bananas.
Após ganhar notoriedade expondo documentos secretos da NSA, o pasquineiro difamador deixou o jornal The
Guardian e passou ser bancado pelo
francês de origem iraniana Pierre
Omidyar, fundador do site de leilões eBay.
Com fortuna avaliada em quase US$ 14 bilhões, Omidyar é fundador da First Look Media — empresa-mãe do The Intercept — e do PressFrendo Defense, que oferece auxílio financeiro a jornalistas que
enfrentam processos por causa de suas reportagens.
Ao contrário de outros bilionários realmente engajados em
causas humanitárias e ambientalistas e à semelhança do húngaro George Soros — a encarnação do demônio
para os antiglobalistas —, Omidyar “faz
caridade” com uma desavergonhada pegada de ativismo político. Em 2017, quando
doou US$ 100 milhões para combater
"fake news" através do jornalismo investigativo, ele divulgou um
comunicado em que se comprometia a aplacar o “déficit global de confiança” nas
instituições. Dentre os eventos listados para fundamentar tal preocupação figuravam
a eleição de Donald Trump e — vejam
só — o impeachment da ex-presidanta Dilma
Rousseff.
Defensores de Verdevaldo nas redes sociais tentam lhe emprestar credibilidade alegando que ele teria
sido agraciado com um Pulitzer — considerado o Oscar do Jornalismo — pela publicação dos documentos da NSA vazados por Edward Snowden. Na verdade, a equipe liderada por elee Laura Poitras conquistou para
o The Guardian US e para o The Washington Post o prêmio na categoria “Serviço Público” de 2014 — na qual o premiado é sempre o jornal que publicou a reportagem (ou a série
de reportagens). Ainda que assim não fosse, é bom lembrar que a lista de “ganhadores
do Pulitzer” inclui Walter Duranty,que ocultou
deliberadamente os crimes do stalinismo, incluindo o genocídio de ucranianos
pela fome, e Janet Cooke, autora de
uma reportagem inventada sobre uma criança de oito anos viciada em heroína,
que teve de devolver o prêmio depois que a farsa foi descoberta.
Quem tiver interesse em conhecer o verdadeiro estofo do
caráter do manipulador do conta-gotas mais temido do Brasil, lembra José Nêumanne, pode encontrar
informações relevantes lendo reportagem de Eric Wempel, publicada em 27 de
junho de 2013 no jornal The Washington
Post. Dentre outras coisas, a matéria informa que “o escritório do cartório do condado de
Nova York mostra que Greenwald tem US$ 126.000 em sentenças abertas e contra
ele datando de 2000, incluindo US$ 21.000 do Departamento de Impostos do
Estado e da Secretaria da Fazenda. Também fala de um penhor de US $ 85.000”.
Gleen se envolveu com gente do submundo e do ramo da pornografia. Tornou-se inimigo de Peter Haas — dono de uma companhia de produtos pornográficos —, a quem chamou de little bitch (putinha) no Post, e ao se juntar a Edward Snowden — ex-administrador de sistemas da CIA e ex-contratado da NSA, que tornou públicos detalhes de vários programas que constituem o sistema de vigilância global americano —, entrou para a lista negra do governo EUA e e bateu de frente com Julian Assange — dono do site WikiLeaks —, cuja capivara inclui processo por estupro na Suécia e por quebra de acordo de liberdade sob fiança no Reino Unido, onde ele segue preso.
Em 2013, quando David Miranda — ex-suplente de Jean Wyllys e hoje deputado pelo PSOL, além de marido de Verdevaldo — foi detido no Aeroporto de Londres por violar o protocolo 7 do Ato Antiterrorismo, Dilma, a inimitável, a pretexto de homenagear a liberdade de imprensa, prestou mais um desserviço aos brasileiros abrindo as portas do país para a permanência legal de Greenwald, como fez Lula antes dela ao acolher o mafioso assassino Cesare Battisti.
Para não ficar só com a minha opinião, leia o que escreveu
Políbio Braga (e assista ao vídeo):
“Acontece que de modo
recorrente boa parte da mídia tradicional e da mídia amestrada a serviço do
lulopetismo atribuírem ao dono do site The
Intercept a conquista do Pulitzer.
Com a ajuda do influenciador Glauco
Fonseca, um dos articulistas deste blog [blog do Políbio], o editor investigou e constatou que em 2014, e não em
2013, como os aliados de Glenn
informam, quem levou o Pulitzer foi
o jornal inglês The Guardian. Glenn atuou como um dos repórteres do
caso Snowden, mas o prêmio não foi
atribuído a ele. Clique no
site do Pulitzer para checar.”
Depois das mensagens de Moro, Bolsonaro, filhos de Bolsonaro, ministros do STF, deputados e senadores, o interesse por vazamentos caiu muito. O editor do Intracept estava desesperado.
— De que adianta fazer esse fuzuê todo? Dinheiro que é bom, nada! — desabafou. Precisamos nos reinventar. Precisamos monetizar nosso negócio.
Os hackers se entreolharam, sem saber o que dizer. Foi um estagiário quem teve a sacada.
— Brasília saturou. Vamos expandir. O negócio é hackear gente comum.
A ideia se provou genial. Seu chefe é um panaca? Hackeie o WhatsApp dele (“R$ 2 mil por 15 dias ou consulte tabela”). Sua namorada está te traindo? Hackeie o Snapchat dela. (“Só R$ 500 por 7 dias. O oitavo é grátis!”). E por aí foi.
Patrícia e Geraldo tinham vida de núcleo rico de novela. Apartamento com varanda gourmet, viagem com personal shopper, SUV coreana blindada. Casamento inabalável, todo mundo dizia.
Um dia Patrícia acordou, pegou o iPad para ver as notícias e, mesmo sendo muito equilibrada, não conteve o calor que lhe subiu até as orelhas. Estava lá, escancarada, a foto do marido e o título: “Intracept vaza WhatsApp de Geraldo Freire”.
Ele não era famoso nem nada. Mas de uns meses para cá era assim. Ninguém estava salvo. Patrícia não conseguia imaginar alguém capaz de uma maldade dessas com o marido — e com ela.
Porque não há dignidade que sobreviva a um vazamento do Intracept. Ainda por cima quando vão liberando um pouco por dia. Qualquer desculpa esfarrapada de um dia não se sustenta no outro. Toda semana tem um anônimo novo com a vida devassada.
Patrícia sempre acabava conhecendo alguém.
— Porque esse mundo é uma ervilha, né?
Só esse mês, no cabeleireiro, teve notícia de dois divórcios. Luciana, amiga íntima, teve as mensagens do Insta divulgadas. O marido a botou para fora de casa sem direito nem ao iPhone.
— Pede um novo para ele, safada! — gritou para o condomínio ouvir.
As conversas que vazaram eram comprometedoras demais: Luciana e um amigo do tempo de faculdade trocavam receitas de nhoque, ravióli, linguine, tudo com as respectivas fotos. Não tem casamento que resista.
Mas não era hora de pensar nos outros. Patrícia olhou para o marido que dormia com seu ronronar de homem de bem. Ela não teve coragem de clicar no link. Contou para a mãe pelo Facebook.
— Coisa de amante, filha. Batata. Sempre disse para você ficar esperta. Deu nisso — respondeu.
Patrícia balançou o marido até acordá-lo. Geraldo despertou com o iPad esfregando a ponta do seu nariz. Leu o texto ainda com os olhos melados de sono. Geraldo também sabia que não existe vida após vazamento. Era só ver Brasília. Virou uma cidade fantasma.
Ele se reagrupou.
— Amor, calma. Vamos superar isso juntos.
Patrícia concordou, chorando.
Aquela semana seria definitiva para o casamento, para o futuro dos dois. Combinaram de ler as mensagens juntos, para que Geraldo pudesse explicar qualquer mal-entendido.
E assim foi. A semana passou tensa, arrastada, discutindo a relação, é verdade, mas surpreendentemente, nenhuma mensagem comprometedora foi revelada. Patrícia mal podia conter o orgulho.
Geraldo era o assunto de todas as conversas no cabeleireiro, entre as amigas e até da sogra. Vazou até a mensagem com o agente de turismo sobre hotéis em Positano, estragando a viagem surpresa para o aniversário dela. Quando acabou a semana, o casamento estava mais forte do que nunca. Ela nunca desconfiou de nada.
Na segunda-feira seguinte, Geraldo pagou a outra metade do pacote Vazamento do Bem do Intracept.
— O negócio é esse mesmo! — vibrava o editor com a nova ideia do ex-estagiário, agora editor assistente — Tem que diversificar para sobreviver.
Diante dos vazamentos, poucos casamentos resistem. O de Patrícia até saiu fortalecido. Mas as mensagens sobre a viagem para a Itália estariam no contexto?
A novela continua: Hoje, na segundo capítulo da Santa
Inquisição, o ministro SérgioMoro deve ir à CCJ da Câmara para ser inquirido pelos
deputados sobre as revelações espúrias feitas pelo site esquerdista The Intercept. Prevê-se um ambiente ainda mais hostil do que da primeira vez, quando o ex-juiz da Lava-Jato foi interpelado
por quase 9 horas na CCJ do Senado. Na
Câmara, a oposição ao governo Bolsonaro é maior e mais atuante, mas Moro chega respaldado pelas manifestações de rua em seu apoio, ocorridas, no último
domingo, em dezenas de cidades brasileiras.
Ficou também para esta terça-feira
a apresentação final do relatório do deputado Samuel Moreira na comissão especial que analisa a reforma
da Previdência. Ainda há pendências importantes, como a inclusão ou não de
estados e municípios no projeto. A leitura do parecer final estava prevista
para a semana passada, mas não ocorreu porque Rodrigo Maia buscava costurar um acordo com os governadores.
No apagar das luzes do primeiro semestre,
atos em defesa do ex-juiz Sérgio Moro eclodiram nos 26 estados e no DF, com maior repercussão
em capitais como Rio, Sampa, BH, Recife e Salvador. Houve manifestações
também em apoio à Lava-Jato, à
reforma previdenciária e às medidas anticrime e anticorrupção, além de repúdio a
determinados políticos e membros do STF. Estima-se que a adesão tenha sido
menor do que no dia 26 de maio, mas é bom lembrar que esta foi a segunda vez, em
menos de 2 meses, que o povo saiu às ruas para “protestar a favor do governo”, o que é algo inusitado — pelo menos para mim, que nunca havia visto, em seis décadas de existência, protestos a favor
de alguma coisa.
Não se tem uma ideia precisa do número de manifestantes e de municípios participantes, já que as PMs estaduais deixaram de fazer essa contagem
e divulgar os resultados. É claro que os inimigos da Lava-Jato — parlamentares suspeitos, acusados, processados e
condenados pela operação — desdenharam os protestos, mas isso era esperado
e não quer dizer muita coisa. O fato é que os atos de domingo mostraram que as
tentativas — da esquerda em geral e do PT
em particular — de desestabilizar o ministro da Justiça têm produzido o efeito
inverso, pois abre a porta da política, através da qual Moro poderá se tornar
um competidor de peso.
Em sua participação no Jornal
da Gazeta da noite de ontem, José
Nêumanne sugeriu ao Congresso, que se jacta de representar a cidadania, e ao
STF, que considera como principal
missão corrigir decisões de juízes de instâncias inferiores e fazer ouvidos de
mercador à pressão popular, convocarem o
povo a defender suas prerrogativas institucionais nas mesmas ruas onde os atos
de 26 de maio e 30 de junho os recriminaram. Se políticos e magistrados não
gostaram de ser execrados nas passeatas em defesa de Moro e da Lava-Jato, por que Alcolumbre,
Maia e Toffoli não convocam o povo que os dois primeiros dizem representar
e o terceiro prefere não ouvir para desagravá-los em atos mais concorridos do
que os que consideram pífios? Se o fizerem, a PM nem precisará fazer a contagem, pois é provável que o número de policiais seja maior que o de manifestantes.Dito
isso, segue o baile.
Num país onde os ratos culpam o queijo, pode parecer natural
o Coringa querer ser solto porque o Batman conversou com o Comissário Gordon. Mas não tem nada de
natural na maneira como boa parte da imprensa, do Congresso e do Judiciário reage
aos vazamentos do Intercept Brasil.
A menos que seja natural defender a corrupção, prender o xerife e soltar os
bandidos.
Os novos trechos divulgados pelo site neste final de semana envolvem críticas
que procuradores do MPF supostamente
fizeram ao então juiz federal Sérgio
Moro. Essa “bomba” produziu orgasmos múltiplos na mais petista das
jornalistas da Folha e levou ao
delírio a patuleia em geral, os petistas em particular e uma porção de debiloides
fanáticos, para quem o fato de a
procuradora Monique Cheker não reconhecer a autenticidade dos diálogos não
passa de mero detalhe.
Ao Antagonista, Monique afirmou que jamais havia ouvido falar de Sérgio Moro ou tido qualquer contato com alguém do MPF/PR na época em que as supostas
conversas teriam ocorrido, e que não reconhece os registros
remetidos pelo Intercept, que possuem dados errados e alterações de conteúdo. Pelo Twitter, o ministro da Justiça disse que, se verdadeiras, as
mensagens não passariam de "supostas fofocas de procuradores, a maioria de
fora da Lava-Jato”, e salientou mais
uma vez a possibilidade de os diálogos terem sido adulterados: "o que se
tem é um balão vazio, cheio de nada".
Não é o que pensa muita gente, a começar pelo semideus
togado mato-grossense — brilhantemente definido pelo também ministro supremo Luís Roberto Barroso como “uma pessoa horrível, uma mistura
do mal com o atraso e pitadas de psicopatia“, e pelo jornalista J.R Guzzo como “uma fotografia ambulante do subdesenvolvimento brasileiro, mais um na
multidão de altas autoridades que constroem todos os dias o fracasso do país”.
Na última terça-feira, de seu trono no alto da versão tupiniquim do Monte
Olimpo, o obelisco do saber jurídico roubou o papel da defesa de Lula ao sugerir a soltura do petralha e
sua permanência em liberdade até o julgamento do mérito do HC baseado na suspeição do juiz de primeira instância responsável
pela condenação.
Na subida opinião do excelso ministro, o então juiz federal Sérgio Moro cometeu falhas funcionais
gravíssimas, que podem anular todas as atos processuais na ação sobre o tríplex
no Guarujá. Se você tem estômago forte, não deixe de assistir à entrevista que Mendes deu à Globo News um dia depois de a 2ª Turma do STF decidir nada decidir, mas ainda assim rejeitar a concessão da liminar
sugerida pelo ministro numa manobra indecente, mas não inédita, dada a semelhança com o salvo-conduto dado pelo plenário da Corte ao próprio Lula em março de 2018,depois de desistir de
prosseguir com o julgamento e, atendendo a um pedido verbal da defesa, conceder uma estapafúrdia liminar que impedia a prisão do petista até que o mérito do
recurso fosse julgado — o que veio a acontecer somente após os feriados da Semana
Santa.
Vamos combinar que essa caça às bruxas já está virando
palhaçada (detalhes no post anterior). Afinal, o que teria a ver a suposta “parcialidade”
de Sérgio Moro com o bloqueio de R$ 78 milhões de Lula, determinado recentemente pelo juiz Luís Antonio Bonat nos autos do processo que trata do terreno que a
Odebrecht se propôs a doar para
servir de sede ao Instituto Lula? E com
o fato de o MP, no recurso contra a
decisão da juíza-substituta Gabriela
Hardt nesse mesmo processo, pedir o aumento da penade 12 anos e 11 meses de prisão que foi
imposta ao molusco? E como Lula, o
desempregado que deu certo, teria acumulado patrimônio suficiente, como
sindicalista e político, para justificar um bloqueio dessa magnitude? E o que
tudo isso tem a ver com a suspeita de que Moro
e os procuradores, no caso do tríplex, considerando que a condenação foi
ratificada, por unanimidade, tanto pelo TRF-4
(que, de quebra, aumentou a pena) quanto pelo STJ (que a reduziu para algo próximo do que Moro havia estabelecido em sua decisão)? Vão insultar nossa
inteligência na ponte que os partiu!
Na entrevista à Globo
News, Gilmar traça um paralelo entre o material que vem sendo
vazado pelo Intercept com a
gravação da conversa de alcova entre o então presidente Michel Temer e o moedor de carne bilionário dono da JBS, publicada por Lauro Jardim em O Globo em maio de
2017. Data venia, uma coisa nada tem a ver com a outra.
Naquele caso de Temer, quem gravou
a conversa, ainda que à sorrelfa, foi um dos interlocutores. Quando a notícia
veio à público, todos sabiam disso. Mesmo assim, foram feitas perícias para
atestar a veracidade do conteúdo. Segundo Ricardo Molina, contratado pela defesa do então presidente para periciar os arquivos, mas que atuou mais como advogado do
vampiro do Jaburu do que como perito, a gravação era imprestável ―
dada a existência de mais de 70 “pontos de obscuridade” ― e o MPF, “inocente e
incompetente”.
Os peritos ouvidos pelo Jornal Nacional chegaram à conclusão de que toda a gravação
estava intacta― a exemplo do que a PF atestaria mais adiante ― eTemer só não foi afastado porque as marafonas da Câmara venderam
seus votos a peso de ouro, e ele empenhou as cuecas da nação para os comprar. Nem é preciso lembrar que desde o início do ano, quando deixou o Planalto
e perdeu a prerrogativa de foro, Temer
se tornou alvo de 11 ações criminais na Justiça Federal do Rio de
Janeiro, de São Paulo e do DF, chegando a ser preso preventivamente, em duas ocasiões,
por determinação do juiz Marcelo Bretas,
responsável pelos processos da Lava-Jato
no Rio.
Para encurtar a conversa, ideologias e paixões à parte, o bom
jornalismo é aquele que recorre a expedientes que facilitam a separação do joio
do trigo no noticiário. A prática de ouvir as partes citadas em reportagens
logo após os fatos revelados é ao mesmo tempo a oportunidade de dar voz ao
outro lado e uma defesa prévia para eventuais ações judiciais que vierem a
questionar a correção das notícias divulgadas.
Até agora, o Intercept
e seus parceiros não apresentaram nenhum atestado de autenticidade das
mensagens que obtiveram (criminosamente, uma vez que fruto de hackeamento
digital), o que reduz a cada dia a credibilidade dos diálogos reproduzidos. Essa
dúvida só será dirimida se e quando os diálogos vazados forem autenticados por
registro de fé pública — e o resultado, qualquer que seja, não afastará a
essência criminosa da maneira como os arquivos foram obtidos. Demais disso,
somente agentes que atuaram e atuam no combate à corrupção vêm sendo mirados
nesses ataques, numa evidente tentativa de desqualificar e desmoralizar a
Lava-Jato e outras medidas em curso de combate à corrupção.
Em contrapartida, eventuais vazamentos e delações premiadas
no bojo da Lava-Jato nunca
privilegiaram políticos ou partidos. Foram denunciadas quase todas as
organizações partidárias do espectro político brasileiro, do PT e seus
satélites ao PSDB, legenda tida tradicionalmente como opositora ao lulopetismo.
Dilma, em sua subida sabedoria, costumava a se referir aos vazamentos como “seletivos”,
quando seletiva, mesmo, é a espionagem dirigida exclusivamente a agentes da lei
que devassaram, investigaram, processaram, condenaram e até conseguiram repor
dinheiro roubado do erário.
O Intercept perdeu a credibilidade — se é que a teve em
algum momento — ao fatiar as “informações bombásticas” e disseminá-las a conta-gotas. Nos jornais que têm reproduzido com mais destaque o material divulgado pelo site,
o colunista Elio Gaspari referiu-se
explicitamente a esse erro de origem cometido pelo militante americano. No último dia 23, ele publicou: Osite Intercept Brasil deveria
divulgar todo o acervo de grampos que amealhou. A divulgação parcial e seletiva
dos grampos, acompanhada por insinuações ameaçadoras de Glenn Greenwald, é um feitiço que pode se virar contra o
feiticeiro. Antes da internet era comum que revelações jornalísticas fossem
expostas em séries, mas Greenwald
vem fazendo bem outra coisa, prometendo isso ou aquilo, às vezes em tom de vaga
ameaça. A divulgação de denúncias num regime de conta-gotas foi uma das piores
táticas dos procuradores da Lava-Jato”.
Greenwald não se
comportou em nenhum momento como repórter, mas, sim, como ativista político.
Isso, de per si, não significa que o material que divulgou não tem valor,
ou mesmo que o jornalista mente. Mas a maneira como escolheu divulgar esse material,
de forma unilateral, sem checagem, autenticação e, sobretudo, sem nenhum
cuidado em dar ao lado exposto o direito elementar de expor sua versão dos
fatos, torna sua história bastante suspeita. Isso para dizer o mínimo.
Segundo o Estadão,
a versão de integrantes da inteligência do governo dá conta de que já se
esgotou o arsenal do The Intercept
contra Moro, e que os próximos
capítulos seriam sobre conversas entre Dallagnol e outros procuradores. Com
efeito: no mais recente episódio dessa abominável novela, Greenwald primeiro atribuiu a nova troca de mensagens ao procurador
Ângelo Villela, depois disse que
seria Ângelo Augusto Costa. A
interlocutora, segundo Glenn, era Monique Cheker, a quem o americano
atribui lotação na Procuradoria em Osasco — local onde ela nunca trabalhou. Quem
tem lotação original em Osasco é justamente ÂngeloVillela, retirado
da matéria por “erro de edição”. Villela,
como é de conhecimento público, foi preso pela Operação Greenfield, do MPF
em Brasília, vendendo informações privilegiadas à JBS.
Não se trata, portanto, de erro de edição, mas de pura (e atrapalhada)
manipulação com nítido objetivo político.
Conforme eu adiantei no post da última sexta-feira, o Telegram era um ilustre desconhecido
dos brasileiros até a mídia publicar — de maneira sensacionalista e com ares de
verdade irrefutável — uma coletânea de mensagens obtidas
criminosamente e divulgadas seletivamente por um certo site esquerdista,
com propósitos pra lá de suspeitos. Sobre esse conteúdo, o ministro Sérgio Moro, durante a reedição da Santa Inquisição na CCJ do Senado, reiterou
que algumas conversas podem ter acontecido, mas que não se lembra de outras, e
que pode ter havido edições, supressões e inserções maliciosas (clique aqui para ouvir a análise do professor
Fernando Schüler). Ao final da audiência, que durou intermináveis nove horas, Moro disse que sempre agiu com base na lei e de maneira imparcial, desafiou o
site a divulgar todo o material e prometeu deixar o governo se irregularidades de sua parte restarem provadas.
No dia seguinte, o controverso Reinaldo Azevedo — que não é mais o mesmo desde o aneurisma da
véspera do Natal de 2016 — aliou-se a Glenn
Greenwald e, travestido de anjo vingador, trombeteou uma “bomba” que não
passou de um traque. Segundo José
Nêumanne, essa história patética, comparável à tentativa de soltar Lula no plantão de
Rogério Favreto no TRF-4, já está virando galhofa. Tanto é que a PGR Raquel Dodgese recusou incluir resultado do hackeamento
dos celulares dos agentes por falta de prova de autenticidade. E com efeito. Nota-se claramente que, nessa caça às bruxas, a suposta feiticeira já foi julgada, condenada e amarrada ao tronco. Vão acender a fogo de qualquer maneira, mesmo que não consigam distorcer os fatos o bastante para fabricar provas convincentes da prática de bruxaria. Enfim, é típico do Brasil condenar a vítima e libertar o criminoso.
Observação: A PF
já tem provas de que um cracker (clique
aqui para saber a diferença entre “cracker” e “hacker”) tentou se passar pelo ministro no último dia 4 (vide
imagem que ilustra esta matéria). Após a ativação da conta, um contato de Moro recebeu a mensagem “4 de junho. SFM entrou para o Telegram”
e, imaginando ser o ministro quem estava do outro lado, escreveu: “Boa noite. O que achou dessa matéria?”,
e anexou uma publicação do site do próprio Ministério da Justiça sobre o
projeto anticrime do governo. O falso
Moro respondeu: “vou ler”.
Embora sejam ambos aplicativos mensageiros, WhatsApp e Telegram funcionam de maneiras diferentes. Na verdade, o Telegram é mais parecido com o Facebook Messenger e o Skype do que com o WhatsApp.Ele foi criado
em 2013 pelos irmãos Nikolai e Pavel
Durov, fundadores da rede social VKontakte
(o Facebook da Rússia), que, após serem forçados a vender o VK ao grupo Mail.ru,
ligado ao governo russo, deixaram o país e usaram os US$ 260 milhões que receberam para criar
um aplicativo mensageiro imune à bisbilhotice dos espiões russos. E assim nasceu o Telegram,
cujo uso a Rússia proibiu em seu
território, alegando que a empresa se recusou a abrir sua criptografia
(codificação de dados) para o governo — o que de certa maneira estimulou o uso
do app, pois, além de ser mais rápido que os concorrentes na entrega das mensagens, prometia sigilo absoluto, o que é sopa no mel tanto para quem atua à margem da lei,
como organizações terroristas, pedófilos, traficantes e o escambau, quanto para pessoas não veem com bons olhos o fato de o WhatsApp
pertencer ao Facebook, que explora a
publicidade e não deixa claro como usa os dados, hábitos e conteúdo das
conversas dos usuários.
No WhatsApp — que contabiliza mais de 1,5 bilhão de assinantes, 120 milhões só no Brasil — as
mensagens são encriptadas e salvas no celular do usuário; no Telegram elas seguem abertas e são
armazenadas “em nuvem” — leia-se nos servidores online que a empresa tem espalhados
pelo mundo —, sendo apagadas a pedido do usuário ou automaticamente, quando este não acessa o aplicativo por um determinado período (que por padrão é de 6 meses).
No WhatsApp não é possível ativar a conta em mais de um aparelho com o
mesmo número, e ainda que o serviço possa ser acessado pelo computador, o modo WhatsApp Web só funciona se o smartphone estiver ligado e conectado
à Internet. Já o Telegram não
limita o uso a um dispositivo que atue como central — ou seja, a mesma conta
pode ativada simultaneamente em vários aparelhos — e o TelegramWeb funciona independentemente de o
smartphone estar ligado e conectado à Internet. Se esquecer o celular em casa ou ficar sem bateria, por
exemplo, o usuário pode usar outro dispositivo (smartphone, tablet ou PC) para continuar
suas conversas. Isso é cômodo, não resta dúvida, mas a questão é que comodidade e segurança não costumam andar
de mãos dadas. Observação: O WhatsApp
também salva o histórico “em nuvem”, mas não o faz automaticamente e nem armazena o backup em seus próprios servidores, mas sim em um arquivo no Google Drive (no caso do Android) ou no iCloud (no caso do iPhone),
e somente se o usuário ativar esse recurso. Para fazer o download,
além de acesso à conta no aplicativo, é necessário informar a senha que protege o arquivo no drive virtual. Assim, se uma
conta no WhatsApp for sequestrada, o
criminoso pode até se passar pelo titular, mas só terá acesso ao arquivo com seu histórico de
conversas se descobrir a respectiva senha.
As diferenças não param por aí. O WhatsApp é um software de código fechado (ou proprietário); no Telegram, o código é aberto, mas não na porção
que toca ao servidor — cujo papel é mais importante que no concorrente, pois
armazena todas as mensagens. Para invadir uma conta remotamente — ou seja, sem
acessar fisicamente um dispositivo desbloqueado e conectado ao serviço —, o criminoso
pode tentar se passar pelo dono da linha e pedir a transferência para outro
chip com o mesmo número (clonagem). Outra
maneira é recorrer ao "phishing"
(mais detalhes nesta postagem) para infectar o
dispositivo-alvo com algum software malicioso (trojan, spyware etc.), mas o modo mais fácil é valer-se de um descuido do dono do aparelho (smartphone, tablet ou PC) para obter um código de ativação e
autenticar o acesso em seu próprio dispositivo. Como são
armazenadas em nuvem, as conversas estarão visíveis para qualquer um que acessar a conta, e o
estrago pode ser grande.
No WhatsApp, a maneira
mais fácil de ver as mensagens antigas de outra pessoa é ativando uma sessão do
WhatsApp Web, mas, como dito, isso requer acesso completo ao celular e a senha do arquivo salvo em nuvem (supondo que esse backup exista, pois, também como foi dito, nada obriga o usuário a
fazê-lo). No Telegram, basta ter
acesso à linha de telefone para ativar a conta e ver todas as mensagens. Claro que hámaneiras mais sofisticadas, mas elas envolvem um grau de expertise que foge aos usuários comuns e, consequentemente, ao escopo desta abordagem.
Inicialmente, o WhatsApp tinha poucos recursos de segurança e podia ser grampeado em qualquer
rede Wi-Fi com um programa simples, ao passo que o Telegram já contava
com criptografia e chats secretos capazes de impedir até grampos eletrônicos sofisticados. Com o passar do tempo, ambos
evoluíram. Em 2016, constantes vazamentos
levaram o WhatsApp a implementar uma
tecnologia de embaralhamento de mensagens copiada do Signal — que é considerado por muitos o melhor aplicativo categoria,
e que você deve usar se realmente faz
questão de privacidade em suas comunicações (a versão para Android pode ser baixada a partir deste link). Já o Telegram, mesmo sendo pioneiro em chats secretos criptografados, apostou
na comodidade, privilegiando o uso em múltiplos dispositivos e o armazenamento
centralizado das conversas — o que facilita a migração, mas compromete a
segurança de quem não ativa os recursos avançados.
Diante do exposto, fica difícil dizer qual dos dois
aplicativos em análise é o mais seguro, até porque isso depende de como eles são configurados e o uso que é feito deles. Muita gente não habilita os recursos avançados do Telegram por desconhecimento ou para não sofrer limitações no acesso a
determinadas funções e conveniências. Se, por exemplo, você utilizar o “chat secreto”, suas mensagens trafegarão encriptadas (a empresa oferece US$ 300 mil a quem conseguir quebrar
seus protocolos de criptografia), não poderão ser reencaminhadas
e serão apagadas automaticamente minutos ou segundos depois que forem lidas. A criação de grupos, que no
modo “normal” pode ter até 200 mil usuários, não é
permitida no privado, daí a conclusão de que Moro e os procuradores da Lava-Jato
não se valeram desse recurso, talvez porque, como em outras camadas segurança presentes
no aplicativo, é preciso definir uma senha que passa a ser
exigida a cada nova sessão. Se por um lado isso é incomodativo, por outro torna o programinha muito mais seguro. Resumo da ópera: se você optar pelo Telegram porque precisa de privacidade, use o chat secreto e ative autenticação
em dois fatores pela aba "privacidade
e segurança" — onde é possível também definir quem pode saber se você está
online, ver sua foto de perfil e número de telefone, ajustar o tempo que o histórico deve permanecer nos servidores se a conta ficar inativa, e assim
por diante. No WhatsApp, como o
histórico de conversas é armazenado localmente, apague-o de tempos em tempos,
não só para aprimorar a segurança, mas também para liberar espaço precioso na
memória interna do smartphone. E não deixe de ativar a autenticação em dois fatores (clique aqui para saber como fazer isso).
Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas. Causa espécie
o fato de Moro, Dallagnol e companhia terem sido tão relapsos. Qualquer
fã de filmes policiais com foco na Cosa
Nostra (ramificação da Máfia siciliana que dominou a costa leste dos EUA
durante boa parte do século passado) sabe que “assuntos sensíveis” devem ser tratados
pessoalmente, de preferência numa caminhada ao ar livre e longe de ouvidos
curiosos. Telefone, só "orelhão", e apenas para recados urgentes. Aliás, Tancredo Neves já dizia que
"telefone só serve para marcar
encontro, e assim mesmo no lugar errado". Reunião, portanto, só na
sauna, e com todo mundo nu.
Em nota ao portal G1,
o Telegram informou que protege as
mensagens trocadas pelos usuários, tanto no envio quando no armazenamento em seus servidores, quejamais compartilhou um único byte com
terceiros, que nenhuma maneira de corromper
sua encriptação foi descoberta até hoje e quenão foi alvo de invasão. Pelo visto, Moro,
Dallagnol e os demais envolvidos
nesse carnaval midiático deram sopa para o azar ao não ativar os recursos de
segurança disponibilizados pelo aplicativo — que, nunca é demais lembrar, se
tornarão ineficazes se o telefone for invadido, pois aí o criminoso terá acesso total ao dispositivo, podendo, inclusive, capturar tudo o que é digitado e visto
na tela. Em última análise, quem não quer correr riscos deve dispensar qualquer
meio de comunicação eletrônica.
Sem entrar no mérito do conteúdo vazado (que, como se sabe, pode ter sido
editado ou adulterado de várias maneiras) e a forma criminosa como ele foi
obtido (através de hackeamento digital), volto a salientar que bastaria aos envolvidos usar o
"chat secreto" para que suas conversas fossem encriptadas e apagadas automaticamente segundos ou minutos
após a leitura, em vez de permanecerem dando sopa nos servidores do Telegram. Especula-se que o acesso não autorizado ao terminal de Moro se deu através de malwares
(códigos maliciosos), mas existe a possibilidade de a linha ter sido
comprometida e o SMS com o
código de login no Telegram,
interceptado. É provável que o invasor tenha se
valido de um processo conhecido como SIM
Swap — clonagem do chip por meio de uma brecha (ou insider) da
operadora telefônica — e, após obter acesso ao número de telefone e clonar o chip, interceptado ligações, mensagens, localização e outras
informações pessoais. Nessas condições, os aplicativos e demais serviços providos
pelo chip ficam inoperantes até que a vítima perceba e entre em contato com a
operadora para tentar reverter o processo. Veja detalhes no vídeo a seguir:
Para concluir a conversa — haveria muito mais a dizer,
mas o tamanho do texto recomenda encerrá-lo o quanto antes —
segue mais um artigo lapidar do jornalista J.R.
Guzzo, publicado na edição impressa de VEJA
desta semana: O que você pode esperar de um país em que pelo menos um em
cada três membros do Congresso Nacional (algumas contas, mais pessimistas, estimam
que o total possa passar dos 40%) responde a algum tipo de processo criminal
perante a Justiça — um caso sem similar no resto do planeta? Isso é só uma
parte do problema. Roubava-se tanto na Odebrecht,
nos governos dos ex-presidentes Lula
e Dilma Rousseff, que a empresa
achou necessário criar um departamento inteiro destinado unicamente a cuidar da
corrupção de políticos e peixes graúdos da administração pública — com
diretores, gerentes, secretárias, sistemas de TI e tudo o mais que se precisa
para tocar um negócio de prioridade máxima. Não é apenas o Congresso. Há, nesse
mundo de treva, o resto dos políticos — no nível federal, nos estados e
municípios. Há também outras empreiteiras de obras, empresários escroques,
bancos com problemas junto a delatores e mais um montão de gente. Só se pode
esperar disso tudo, na verdade, uma coisa: os mais extraordinários esforços,
por parte dos criminosos, para manter as coisas o mais próximo possível da
situação em que sempre estiveram. Até uma criança com 10 anos de idade percebe que ninguém,
aí, quer ir para a cadeia. Todos, se pudessem, gostariam de voltar a roubar em
paz. E sabem, é claro, que não vai ser fácil. Juridicamente não não existe a menor
possibilidade de “zerar tudo” — quer dizer, anular os processos por corrupção
já decididos ou em andamento na Justiça, ou eliminar as provas materiais
colhidas contra condenados, réus à espera de sentença e suspeitos de ações
futuras. Que diabo se faz, por exemplo, com as confissões que foram colocadas
no papel? E com as “delações premiadas” ora em andamento? Também não é
possível, simplesmente, fazer com que se evaporem os resultados físicos dos
procedimentos judiciais de combate à corrupção já executados até agora. Em
números redondos, são cerca de 250 condenações, num total superior a 2.000 anos de prisão. Mais de 150
criminosos de primeira linha foram para a cadeia. Bilhões de reais foram devolvidos ao Tesouro Nacional.
Para ficar no caso mais vistoso: o ex-presidente Lula, após apresentar mais de 100 recursos de todos os tipos, já
está condenado em terceira instância — julgado, até agora, por 21 juízes
(possivelmente não há na história do direito penal brasileiro outro caso em que
o direito de defesa tenha sido tão utilizado por um réu). É um problema e tanto. Na impossibilidade de sumir com o
passado, o esforço, agora, é para armar um futuro menos complicado para todos.
Uma das esperanças mais caras do mundo político em geral é que prevaleça, uma
vez mais, o ponto de vista dominante na elite brasileira — que, como sabemos,
tem um código moral perfeito, mas gosta muito mais do código do que da moral.
Essa elite, ou as classes que definem a virtude nacional, está tentando
construir uma espécie de trégua — a trégua que for possível, baseada em
decisões que de alguma forma possam ser vinculadas à interpretação das leis.
Segundo os devotos do código, talvez seja uma pena para a visão comum que se
tem da ideia de justiça — mas se a majestade da lei exigir que a moral vá para
o diabo que a carregue, paciência. Como tem objeções à vacina, há gente que
acaba, na prática, ficando a favor da bactéria. É positivo anotar, de qualquer forma, que o roubo do Erário,
no Brasil de hoje, está mais difícil do que jamais foi ao longo de seus 500
anos de existência. Em consequência da ação da Justiça, jamais foi tão
arriscado ser corrupto como no Brasil de hoje — e jamais os corruptos tiveram
tanto medo de agir como têm agora. Talvez nada mostre melhor a calamidade que
impuseram ao país que o pedido de recuperação judicial da própria Odebrecht, aceito na semana passada —
após a destruição, em cinco anos, de quase 130.000
empregos na empresa campeã
de corrupção nos
governos de Lula e Dilma. No setor de obras públicas como
um todo, incluindo o restante das empresas envolvidas em atividades criminosas,
há estimativas de que até 600.000
empregos tenham sido perdidos em todo o Brasil desde que o aparato da ladroagem
começou a ruir.
Quem é culpado: os presidentes que roubaram, ou deixaram roubar, ou o sistema
judicial que puniu o roubo? Você sabe. Mas não vai ser fácil continuar esse combate.