A novela continua: Hoje, na segundo capítulo da Santa
Inquisição, o ministro Sérgio Moro deve ir à CCJ da Câmara para ser inquirido pelos
deputados sobre as revelações espúrias feitas pelo site esquerdista The Intercept. Prevê-se um ambiente ainda mais hostil do que da primeira vez, quando o ex-juiz da Lava-Jato foi interpelado
por quase 9 horas na CCJ do Senado. Na
Câmara, a oposição ao governo Bolsonaro é maior e mais atuante, mas Moro chega respaldado pelas manifestações de rua em seu apoio, ocorridas, no último
domingo, em dezenas de cidades brasileiras.
Ficou também para esta terça-feira
a apresentação final do relatório do deputado Samuel Moreira na comissão especial que analisa a reforma
da Previdência. Ainda há pendências importantes, como a inclusão ou não de
estados e municípios no projeto. A leitura do parecer final estava prevista
para a semana passada, mas não ocorreu porque Rodrigo Maia buscava costurar um acordo com os governadores.
Em sua participação no Jornal da Gazeta da noite de ontem, José Nêumanne sugeriu ao Congresso, que se jacta de representar a cidadania, e ao STF, que considera como principal missão corrigir decisões de juízes de instâncias inferiores e fazer ouvidos de mercador à pressão popular, convocarem o povo a defender suas prerrogativas institucionais nas mesmas ruas onde os atos de 26 de maio e 30 de junho os recriminaram. Se políticos e magistrados não gostaram de ser execrados nas passeatas em defesa de Moro e da Lava-Jato, por que Alcolumbre, Maia e Toffoli não convocam o povo que os dois primeiros dizem representar e o terceiro prefere não ouvir para desagravá-los em atos mais concorridos do que os que consideram pífios? Se o fizerem, a PM nem precisará fazer a contagem, pois é provável que o número de policiais seja maior que o de manifestantes.Dito isso, segue o baile.
No apagar das luzes do primeiro semestre,
atos em defesa do ex-juiz Sérgio Moro eclodiram nos 26 estados e no DF, com maior repercussão
em capitais como Rio, Sampa, BH, Recife e Salvador. Houve manifestações
também em apoio à Lava-Jato, à
reforma previdenciária e às medidas anticrime e anticorrupção, além de repúdio a
determinados políticos e membros do STF. Estima-se que a adesão tenha sido
menor do que no dia 26 de maio, mas é bom lembrar que esta foi a segunda vez, em
menos de 2 meses, que o povo saiu às ruas para “protestar a favor do governo”, o que é algo inusitado — pelo menos para mim, que nunca havia visto, em seis décadas de existência, protestos a favor
de alguma coisa.
Não se tem uma ideia precisa do número de manifestantes e de municípios participantes, já que as PMs estaduais deixaram de fazer essa contagem
e divulgar os resultados. É claro que os inimigos da Lava-Jato — parlamentares suspeitos, acusados, processados e
condenados pela operação — desdenharam os protestos, mas isso era esperado
e não quer dizer muita coisa. O fato é que os atos de domingo mostraram que as
tentativas — da esquerda em geral e do PT
em particular — de desestabilizar o ministro da Justiça têm produzido o efeito
inverso, pois abre a porta da política, através da qual Moro poderá se tornar
um competidor de peso.
Em sua participação no Jornal da Gazeta da noite de ontem, José Nêumanne sugeriu ao Congresso, que se jacta de representar a cidadania, e ao STF, que considera como principal missão corrigir decisões de juízes de instâncias inferiores e fazer ouvidos de mercador à pressão popular, convocarem o povo a defender suas prerrogativas institucionais nas mesmas ruas onde os atos de 26 de maio e 30 de junho os recriminaram. Se políticos e magistrados não gostaram de ser execrados nas passeatas em defesa de Moro e da Lava-Jato, por que Alcolumbre, Maia e Toffoli não convocam o povo que os dois primeiros dizem representar e o terceiro prefere não ouvir para desagravá-los em atos mais concorridos do que os que consideram pífios? Se o fizerem, a PM nem precisará fazer a contagem, pois é provável que o número de policiais seja maior que o de manifestantes.Dito isso, segue o baile.
Num país onde os ratos culpam o queijo, pode parecer natural o Coringa querer ser solto porque o Batman conversou com o Comissário Gordon. Mas não tem nada de natural na maneira como boa parte da imprensa, do Congresso e do Judiciário reage aos vazamentos do Intercept Brasil. A menos que seja natural defender a corrupção, prender o xerife e soltar os bandidos.
Os novos trechos divulgados pelo site neste final de semana envolvem críticas
que procuradores do MPF supostamente
fizeram ao então juiz federal Sérgio
Moro. Essa “bomba” produziu orgasmos múltiplos na mais petista das
jornalistas da Folha e levou ao
delírio a patuleia em geral, os petistas em particular e uma porção de debiloides
fanáticos, para quem o fato de a
procuradora Monique Cheker não reconhecer a autenticidade dos diálogos não
passa de mero detalhe.
Ao Antagonista, Monique afirmou que jamais havia ouvido falar de Sérgio Moro ou tido qualquer contato com alguém do MPF/PR na época em que as supostas
conversas teriam ocorrido, e que não reconhece os registros
remetidos pelo Intercept, que possuem dados errados e alterações de conteúdo. Pelo Twitter, o ministro da Justiça disse que, se verdadeiras, as
mensagens não passariam de "supostas fofocas de procuradores, a maioria de
fora da Lava-Jato”, e salientou mais
uma vez a possibilidade de os diálogos terem sido adulterados: "o que se
tem é um balão vazio, cheio de nada".
Não é o que pensa muita gente, a começar pelo semideus
togado mato-grossense — brilhantemente definido pelo também ministro supremo Luís Roberto Barroso como “uma pessoa horrível, uma mistura
do mal com o atraso e pitadas de psicopatia“, e pelo jornalista J.R Guzzo como “uma fotografia ambulante do subdesenvolvimento brasileiro, mais um na
multidão de altas autoridades que constroem todos os dias o fracasso do país”.
Na última terça-feira, de seu trono no alto da versão tupiniquim do Monte
Olimpo, o obelisco do saber jurídico roubou o papel da defesa de Lula ao sugerir a soltura do petralha e
sua permanência em liberdade até o julgamento do mérito do HC baseado na suspeição do juiz de primeira instância responsável
pela condenação.
Na subida opinião do excelso ministro, o então juiz federal Sérgio Moro cometeu falhas funcionais
gravíssimas, que podem anular todas as atos processuais na ação sobre o tríplex
no Guarujá. Se você tem estômago forte, não deixe de assistir à entrevista que Mendes deu à Globo News um dia depois de a 2ª Turma do STF decidir nada decidir, mas ainda assim rejeitar a concessão da liminar
sugerida pelo ministro numa manobra indecente, mas não inédita, dada a semelhança com o salvo-conduto dado pelo plenário da Corte ao próprio Lula em março de 2018, depois de desistir de
prosseguir com o julgamento e, atendendo a um pedido verbal da defesa, conceder uma estapafúrdia liminar que impedia a prisão do petista até que o mérito do
recurso fosse julgado — o que veio a acontecer somente após os feriados da Semana
Santa.
Vamos combinar que essa caça às bruxas já está virando
palhaçada (detalhes no post anterior). Afinal, o que teria a ver a suposta “parcialidade”
de Sérgio Moro com o bloqueio de R$ 78 milhões de Lula, determinado recentemente pelo juiz Luís Antonio Bonat nos autos do processo que trata do terreno que a
Odebrecht se propôs a doar para
servir de sede ao Instituto Lula? E com
o fato de o MP, no recurso contra a
decisão da juíza-substituta Gabriela
Hardt nesse mesmo processo, pedir o aumento da pena de 12 anos e 11 meses de prisão que foi
imposta ao molusco? E como Lula, o
desempregado que deu certo, teria acumulado patrimônio suficiente, como
sindicalista e político, para justificar um bloqueio dessa magnitude? E o que
tudo isso tem a ver com a suspeita de que Moro
e os procuradores, no caso do tríplex, considerando que a condenação foi
ratificada, por unanimidade, tanto pelo TRF-4
(que, de quebra, aumentou a pena) quanto pelo STJ (que a reduziu para algo próximo do que Moro havia estabelecido em sua decisão)? Vão insultar nossa
inteligência na ponte que os partiu!
Na entrevista à Globo
News, Gilmar traça um paralelo entre o material que vem sendo
vazado pelo Intercept com a
gravação da conversa de alcova entre o então presidente Michel Temer e o moedor de carne bilionário dono da JBS, publicada por Lauro Jardim em O Globo em maio de
2017. Data venia, uma coisa nada tem a ver com a outra.
Naquele caso de Temer, quem gravou
a conversa, ainda que à sorrelfa, foi um dos interlocutores. Quando a notícia
veio à público, todos sabiam disso. Mesmo assim, foram feitas perícias para
atestar a veracidade do conteúdo. Segundo Ricardo Molina, contratado pela defesa do então presidente para periciar os arquivos, mas que atuou mais como advogado do
vampiro do Jaburu do que como perito, a gravação era imprestável ―
dada a existência de mais de 70 “pontos de obscuridade” ― e o MPF, “inocente e
incompetente”.
Os peritos ouvidos pelo Jornal Nacional chegaram à conclusão de que toda a gravação
estava intacta ― a exemplo do que a PF atestaria mais adiante ― e Temer só não foi afastado porque as marafonas da Câmara venderam
seus votos a peso de ouro, e ele empenhou as cuecas da nação para os comprar. Nem é preciso lembrar que desde o início do ano, quando deixou o Planalto
e perdeu a prerrogativa de foro, Temer
se tornou alvo de 11 ações criminais na Justiça Federal do Rio de
Janeiro, de São Paulo e do DF, chegando a ser preso preventivamente, em duas ocasiões,
por determinação do juiz Marcelo Bretas,
responsável pelos processos da Lava-Jato
no Rio.
Para encurtar a conversa, ideologias e paixões à parte, o bom
jornalismo é aquele que recorre a expedientes que facilitam a separação do joio
do trigo no noticiário. A prática de ouvir as partes citadas em reportagens
logo após os fatos revelados é ao mesmo tempo a oportunidade de dar voz ao
outro lado e uma defesa prévia para eventuais ações judiciais que vierem a
questionar a correção das notícias divulgadas.
Até agora, o Intercept
e seus parceiros não apresentaram nenhum atestado de autenticidade das
mensagens que obtiveram (criminosamente, uma vez que fruto de hackeamento
digital), o que reduz a cada dia a credibilidade dos diálogos reproduzidos. Essa
dúvida só será dirimida se e quando os diálogos vazados forem autenticados por
registro de fé pública — e o resultado, qualquer que seja, não afastará a
essência criminosa da maneira como os arquivos foram obtidos. Demais disso,
somente agentes que atuaram e atuam no combate à corrupção vêm sendo mirados
nesses ataques, numa evidente tentativa de desqualificar e desmoralizar a
Lava-Jato e outras medidas em curso de combate à corrupção.
Em contrapartida, eventuais vazamentos e delações premiadas
no bojo da Lava-Jato nunca
privilegiaram políticos ou partidos. Foram denunciadas quase todas as
organizações partidárias do espectro político brasileiro, do PT e seus
satélites ao PSDB, legenda tida tradicionalmente como opositora ao lulopetismo.
Dilma, em sua subida sabedoria, costumava a se referir aos vazamentos como “seletivos”,
quando seletiva, mesmo, é a espionagem dirigida exclusivamente a agentes da lei
que devassaram, investigaram, processaram, condenaram e até conseguiram repor
dinheiro roubado do erário.
O Intercept perdeu a credibilidade — se é que a teve em
algum momento — ao fatiar as “informações bombásticas” e disseminá-las a conta-gotas. Nos jornais que têm reproduzido com mais destaque o material divulgado pelo site,
o colunista Elio Gaspari referiu-se
explicitamente a esse erro de origem cometido pelo militante americano. No último dia 23, ele publicou: O
site Intercept Brasil deveria
divulgar todo o acervo de grampos que amealhou. A divulgação parcial e seletiva
dos grampos, acompanhada por insinuações ameaçadoras de Glenn Greenwald, é um feitiço que pode se virar contra o
feiticeiro. Antes da internet era comum que revelações jornalísticas fossem
expostas em séries, mas Greenwald
vem fazendo bem outra coisa, prometendo isso ou aquilo, às vezes em tom de vaga
ameaça. A divulgação de denúncias num regime de conta-gotas foi uma das piores
táticas dos procuradores da Lava-Jato”.
Greenwald não se
comportou em nenhum momento como repórter, mas, sim, como ativista político.
Isso, de per si, não significa que o material que divulgou não tem valor,
ou mesmo que o jornalista mente. Mas a maneira como escolheu divulgar esse material,
de forma unilateral, sem checagem, autenticação e, sobretudo, sem nenhum
cuidado em dar ao lado exposto o direito elementar de expor sua versão dos
fatos, torna sua história bastante suspeita. Isso para dizer o mínimo.
Segundo o Estadão,
a versão de integrantes da inteligência do governo dá conta de que já se
esgotou o arsenal do The Intercept
contra Moro, e que os próximos
capítulos seriam sobre conversas entre Dallagnol e outros procuradores. Com
efeito: no mais recente episódio dessa abominável novela, Greenwald primeiro atribuiu a nova troca de mensagens ao procurador
Ângelo Villela, depois disse que
seria Ângelo Augusto Costa. A
interlocutora, segundo Glenn, era Monique Cheker, a quem o americano
atribui lotação na Procuradoria em Osasco — local onde ela nunca trabalhou. Quem
tem lotação original em Osasco é justamente Ângelo Villela, retirado
da matéria por “erro de edição”. Villela,
como é de conhecimento público, foi preso pela Operação Greenfield, do MPF
em Brasília, vendendo informações privilegiadas à JBS.
Não se trata, portanto, de erro de edição, mas de pura (e atrapalhada)
manipulação com nítido objetivo político.