CONSCIÊNCIA É
COMO VESÍCULA, A GENTE SÓ SE PREOCUPA COM ELA QUANDO DÓI.
Se quiser saber mais sobre a história do
antivírus, siga
este link e leia a sequência de
três postagens que eu publiquei a propósito há alguns anos. Talvez muita coisa
tenha mudado desde então, mas as informações conceituais continuam plenamente
válidas.
Voltando a John
McAfee, que considera o antivírus
obsoleto, o cara pode ser um gênio, mas também é doido de pedra. Filho de
um suicida, ele chegou a trabalhar como programador para a NASA, mas consumia grandes quantidades de cocaína, vendia o
excedente a colegas de trabalho, dormia sobre a mesa e passava as manhãs
bebendo whisky. Foi expulso da Northeast
Louisiana State University por transar com uma de suas alunas, e da Univac de Bristol, no Tennessee, depois de ser flagrado vendendo
maconha. Em 1986, quando soube que dois paquistaneses haviam criado aquilo que
poderia ser considerado o primeiro vírus de computador, JM fundou a McAfee Associates, pensando,
inicialmente, em desenvolver ferramentas antivírus e distribuí-las
gratuitamente. Mas o sucesso foi tamanho que, em 1991, todas as maiores
empresas dos EUA usavam seu programa (pelo qual já era cobrada uma pequena taxa
de licenciamento, que lhe rendia US$ 5
milhões por ano).
Em pouco tempo, o valor da
McAfee
Associates alcançou impensáveis
US$
80 milhões, e
John passou a
figurar entre os grandes nomes da indústria tecnológica nos anos 90. Em 2011,
ele vendeu a companhia para a
Intel
por
US$ 7,7 bilhões. No ano
seguinte, fundou uma fábrica de cigarros, uma companhia de distribuição de café
e um serviço de táxi marítimo. Mais adiante, foi preso por criar um exército
privado e traficar drogas em
Belize;
solto sob fiança, voltou a morar em companhia de cinco mulheres (com idades
entre 17 e 20 anos). Suspeito do assassinato de um vizinho, JM fugiu para a
Guatemala, de onde foi extraditado para
os EUA. No ano passado, já como CEO da
MGT Capital Investments, resolveu mudar o nome da companhia
para
John McAfee Global
Technologies, contrariando o contrato celebrado com a Gigante dos
microchips por ocasião da venda de sua empresa (o imbróglio aguarda decisão
judicial).
Para alguns,
McAfee é um homem
perigoso, um dos chefes de um cartel de drogas na América Central. Para outros,
é apenas alguém que perdeu contato com a realidade e tenta convencer os outros
de seus delírios. Em seu
blog oficial, ele alimenta
histórias mirabolantes, como a de que é líder de um grupo de espiões que
descobriu uma célula terrorista do
Hezbollah
em plena América Central. No início do ano, em entrevista concedida ao site de tecnologia
Tecmundo, afirmou que “deveríamos jogar fora nossos smartphones”,
pois eles podem ser hackeados, independente da marca, do modelo e dos
aplicativos de segurança instalados para protegê-los. E o pior é que faz
sentido.
Semanas atrás, o Wikileaks
vazou arquivos confidenciais da CIA que revelam a existência de ferramentas de
espionagem sofisticadas, capazes de quebrar a criptografia de sistemas
operacionais e obter acesso remoto a computadores, smartphones, automóveis, e
até Smart TVs (voltaremos a esse assunto numa futura postagem).
McAfee afirma que os antivírus
são inúteis porque se baseiam numa tecnologia ultrapassada, que as soluções
desenvolvidas pelos crackers para burlar a proteção são bem mais criativas e
avançadas, e que usa celulares sem GPS. Se, por algum motivo, precisa acessar a
Internet a partir de um smartphone, ele compra um aparelho (da
Samsung), que troca por um novo a cada
duas semanas.
Mas não é só esse desvairado que acredita na morte eminente dos antivírus.
Brian Dye, vice-presidente da
Symantec ― uma das mais conceituadas
empresas de segurança digital do mundo ― compartilha da mesma opinião. Para
ele, se os antivírus não são totalmente inúteis, no mínimo são insuficientes.
De acordo com um estudo da
FireEye, 82%
dos malwares desaparecem por completo depois de uma hora. Em média, 70% só
existem uma vez. Assim, os gigantescos bancos de dados dos fabricantes dos
antivírus são
cemitérios de malwares
que jamais afetarão os usuários. Daí a popularização da heurística na detecção
de softwares mal-intencionados, que permite identificá-los a partir de seu
comportamento, mas que, em contrapartida, consomem muitos recursos e apresentam
resultados difíceis de interpretar.
Talvez os antivírus tenham se transformado em
coisas monstruosas e lentas.
Ao longo dos anos, foram adicionando às suas janelas uma grande quantidade de
funções extras, como cópias de segurança ou limpadores de arquivos ― recursos
úteis, mas que nada têm a ver com a proteção antimalware; são apenas uma
estratégia de marketing para aliciar os consumidores e convencê-los da
utilidade das ferramentas.
A conclusão fica para a próxima postagem. Até lá.
RODRIGO JANOT E A DISENTERIA VERBAL DE GILMAR MENDES
Depois que a Folha
divulgou uma suposta “coletiva em off” para vazar seletivamente nomes de
políticos que figuram na “Lista de Janot”,
o grandiloquente ministro Gilmar Mendes
teceu críticas incisivas aos procuradores.
No pronunciamento mais contundente
desde que assumiu a Procuradoria Geral da República,
Rodrigo Janot rebateu: “
Não vi uma só palavra de quem teve uma disenteria verbal a se pronunciar sobre
essa imputação do palácio do planalto, congresso nacional e supremo tribunal
federal. só posso atribuir tal ideia a mentes
ociosas e dadas a devaneios. mas, infelizmente, com meios para distorcer
fatos e instrumentos legítimos de comunicação institucional”. Ainda que não
tenha citado
Mendes nominalmente, o
PGR não deixou dúvidas sobre quem era o alvo das suas críticas.
Disse Janot que
magistrado preferiu atacar o Ministério Público e omitir, de forma deliberada,
as menções ao uso do off no Palácio, no Congresso e no Supremo, que a
informação de que houve uma coletiva para a divulgação de uma lista de políticos
investigados é mentirosa, que Mendes estaria tentando nivelar todas
as autoridades ao atribuir aos procuradores conduta que, na prática, seria
dele, qual seja chamar jornalistas para conversas reservadas e divulgar
informações sigilosas.
“Ainda assim, meus
amigos, em projeção mental, alguns tentam nivelar todos a sua decrepitude moral e para isso
acusam-nos de condutas que lhes são próprias, socorrendo-se, não raras vezes,
da aparente intangibilidade proporcionada pela posição que ocupam no estado”
— completou Janot. E não deixou por
menos: “procuramos nos distanciar dos
banquetes palacianos. Fugimos dos círculos de comensais que cortejam desavergonhadamente o poder público e repudiamos a relação promíscua com a
imprensa”, em patente reprovação à suposta conduta promíscua do ministro,
que estaria participando com frequência de jantares no Palácio do Planalto.
A bola está com o ministro. Aguardemos, pois, o próximo lance.