quinta-feira, 23 de março de 2017

AINDA SOBRE A OBSOLESCÊNCIA DO ANTIVÍRUS (Parte 2)

CONSCIÊNCIA É COMO VESÍCULA, A GENTE SÓ SE PREOCUPA COM ELA QUANDO DÓI.

Se quiser saber mais sobre a história do antivírus, siga este link e leia a sequência de três postagens que eu publiquei a propósito há alguns anos. Talvez muita coisa tenha mudado desde então, mas as informações conceituais continuam plenamente válidas.

Voltando a John McAfee, que considera o antivírus obsoleto, o cara pode ser um gênio, mas também é doido de pedra. Filho de um suicida, ele chegou a trabalhar como programador para a NASA, mas consumia grandes quantidades de cocaína, vendia o excedente a colegas de trabalho, dormia sobre a mesa e passava as manhãs bebendo whisky. Foi expulso da Northeast Louisiana State University por transar com uma de suas alunas, e da Univac de Bristol, no Tennessee, depois de ser flagrado vendendo maconha. Em 1986, quando soube que dois paquistaneses haviam criado aquilo que poderia ser considerado o primeiro vírus de computador, JM fundou a McAfee Associates, pensando, inicialmente, em desenvolver ferramentas antivírus e distribuí-las gratuitamente. Mas o sucesso foi tamanho que, em 1991, todas as maiores empresas dos EUA usavam seu programa (pelo qual já era cobrada uma pequena taxa de licenciamento, que lhe rendia US$ 5 milhões por ano).

Em pouco tempo, o valor da McAfee Associates alcançou impensáveis US$ 80 milhões, e John passou a figurar entre os grandes nomes da indústria tecnológica nos anos 90. Em 2011, ele vendeu a companhia para a Intel por US$ 7,7 bilhões. No ano seguinte, fundou uma fábrica de cigarros, uma companhia de distribuição de café e um serviço de táxi marítimo. Mais adiante, foi preso por criar um exército privado e traficar drogas em Belize; solto sob fiança, voltou a morar em companhia de cinco mulheres (com idades entre 17 e 20 anos). Suspeito do assassinato de um vizinho, JM fugiu para a Guatemala, de onde foi extraditado para os EUA. No ano passado, já como CEO da MGT Capital Investments, resolveu mudar o nome da companhia para John McAfee Global Technologies, contrariando o contrato celebrado com a Gigante dos microchips por ocasião da venda de sua empresa (o imbróglio aguarda decisão judicial).

Para alguns, McAfee é um homem perigoso, um dos chefes de um cartel de drogas na América Central. Para outros, é apenas alguém que perdeu contato com a realidade e tenta convencer os outros de seus delírios. Em seu blog oficial, ele alimenta histórias mirabolantes, como a de que é líder de um grupo de espiões que descobriu uma célula terrorista do Hezbollah em plena América Central. No início do ano, em entrevista concedida ao site de tecnologia Tecmundo, afirmou que “deveríamos jogar fora nossos smartphones”, pois eles podem ser hackeados, independente da marca, do modelo e dos aplicativos de segurança instalados para protegê-los. E o pior é que faz sentido. Semanas atrás, o Wikileaks vazou arquivos confidenciais da CIA que revelam a existência de ferramentas de espionagem sofisticadas, capazes de quebrar a criptografia de sistemas operacionais e obter acesso remoto a computadores, smartphones, automóveis, e até Smart TVs (voltaremos a esse assunto numa futura postagem).

McAfee afirma que os antivírus são inúteis porque se baseiam numa tecnologia ultrapassada, que as soluções desenvolvidas pelos crackers para burlar a proteção são bem mais criativas e avançadas, e que usa celulares sem GPS. Se, por algum motivo, precisa acessar a Internet a partir de um smartphone, ele compra um aparelho (da Samsung), que troca por um novo a cada duas semanas.

Mas não é só esse desvairado que acredita na morte eminente dos antivírus. Brian Dye, vice-presidente da Symantec ― uma das mais conceituadas empresas de segurança digital do mundo ― compartilha da mesma opinião. Para ele, se os antivírus não são totalmente inúteis, no mínimo são insuficientes.

De acordo com um estudo da FireEye, 82% dos malwares desaparecem por completo depois de uma hora. Em média, 70% só existem uma vez. Assim, os gigantescos bancos de dados dos fabricantes dos antivírus são cemitérios de malwares que jamais afetarão os usuários. Daí a popularização da heurística na detecção de softwares mal-intencionados, que permite identificá-los a partir de seu comportamento, mas que, em contrapartida, consomem muitos recursos e apresentam resultados difíceis de interpretar.

Talvez os antivírus tenham se transformado em coisas monstruosas e lentas. Ao longo dos anos, foram adicionando às suas janelas uma grande quantidade de funções extras, como cópias de segurança ou limpadores de arquivos ― recursos úteis, mas que nada têm a ver com a proteção antimalware; são apenas uma estratégia de marketing para aliciar os consumidores e convencê-los da utilidade das ferramentas.

A conclusão fica para a próxima postagem. Até lá.

RODRIGO JANOT E A DISENTERIA VERBAL DE GILMAR MENDES

Depois que a Folha divulgou uma suposta “coletiva em off” para vazar seletivamente nomes de políticos que figuram na “Lista de Janot”, o grandiloquente ministro Gilmar Mendes teceu críticas incisivas aos procuradores. 
No pronunciamento mais contundente desde que assumiu a Procuradoria Geral da República, Rodrigo Janot rebateu: “Não vi uma só palavra de quem teve uma disenteria verbal a se pronunciar sobre essa imputação do palácio do planalto, congresso nacional e supremo tribunal federal. só posso atribuir tal ideia a mentes ociosas e dadas a devaneios. mas, infelizmente, com meios para distorcer fatos e instrumentos legítimos de comunicação institucional”. Ainda que não tenha citado Mendes nominalmente, o PGR não deixou dúvidas sobre quem era o alvo das suas críticas.

Disse Janot que magistrado preferiu atacar o Ministério Público e omitir, de forma deliberada, as menções ao uso do off no Palácio, no Congresso e no Supremo, que a informação de que houve uma coletiva para a divulgação de uma lista de políticos investigados é mentirosa, que Mendes estaria tentando nivelar todas as autoridades ao atribuir aos procuradores conduta que, na prática, seria dele, qual seja chamar jornalistas para conversas reservadas e divulgar informações sigilosas.

Ainda assim, meus amigos, em projeção mental, alguns tentam nivelar todos a sua decrepitude moral e para isso acusam-nos de condutas que lhes são próprias, socorrendo-se, não raras vezes, da aparente intangibilidade proporcionada pela posição que ocupam no estado” — completou Janot. E não deixou por menos: “procuramos nos distanciar dos banquetes palacianos. Fugimos dos círculos de comensais que cortejam desavergonhadamente o poder público e repudiamos a relação promíscua com a imprensa”, em patente reprovação à suposta conduta promíscua do ministro, que estaria participando com frequência de jantares no Palácio do Planalto.

A bola está com o ministro. Aguardemos, pois, o próximo lance.

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