CONSCIÊNCIA É
COMO VESÍCULA, A GENTE SÓ SE PREOCUPA COM ELA QUANDO DÓI.
Se quiser saber mais sobre a história do antivírus, siga este link e leia a sequência de
três postagens que eu publiquei a propósito há alguns anos. Talvez muita coisa
tenha mudado desde então, mas as informações conceituais continuam plenamente
válidas.
Voltando a John
McAfee, que considera o antivírus
obsoleto, o cara pode ser um gênio, mas também é doido de pedra. Filho de
um suicida, ele chegou a trabalhar como programador para a NASA, mas consumia grandes quantidades de cocaína, vendia o
excedente a colegas de trabalho, dormia sobre a mesa e passava as manhãs
bebendo whisky. Foi expulso da Northeast
Louisiana State University por transar com uma de suas alunas, e da Univac de Bristol, no Tennessee, depois de ser flagrado vendendo
maconha. Em 1986, quando soube que dois paquistaneses haviam criado aquilo que
poderia ser considerado o primeiro vírus de computador, JM fundou a McAfee Associates, pensando,
inicialmente, em desenvolver ferramentas antivírus e distribuí-las
gratuitamente. Mas o sucesso foi tamanho que, em 1991, todas as maiores
empresas dos EUA usavam seu programa (pelo qual já era cobrada uma pequena taxa
de licenciamento, que lhe rendia US$ 5
milhões por ano).
Para alguns, McAfee é um homem perigoso, um dos chefes de um cartel de drogas na América Central. Para outros, é apenas alguém que perdeu contato com a realidade e tenta convencer os outros de seus delírios. Em seu blog oficial, ele alimenta histórias mirabolantes, como a de que é líder de um grupo de espiões que descobriu uma célula terrorista do Hezbollah em plena América Central. No início do ano, em entrevista concedida ao site de tecnologia Tecmundo, afirmou que “deveríamos jogar fora nossos smartphones”, pois eles podem ser hackeados, independente da marca, do modelo e dos aplicativos de segurança instalados para protegê-los. E o pior é que faz sentido. Semanas atrás, o Wikileaks vazou arquivos confidenciais da CIA que revelam a existência de ferramentas de espionagem sofisticadas, capazes de quebrar a criptografia de sistemas operacionais e obter acesso remoto a computadores, smartphones, automóveis, e até Smart TVs (voltaremos a esse assunto numa futura postagem).
McAfee afirma que os antivírus são inúteis porque se baseiam numa tecnologia ultrapassada, que as soluções desenvolvidas pelos crackers para burlar a proteção são bem mais criativas e avançadas, e que usa celulares sem GPS. Se, por algum motivo, precisa acessar a Internet a partir de um smartphone, ele compra um aparelho (da Samsung), que troca por um novo a cada duas semanas.
Mas não é só esse desvairado que acredita na morte eminente dos antivírus. Brian Dye, vice-presidente da Symantec ― uma das mais conceituadas empresas de segurança digital do mundo ― compartilha da mesma opinião. Para ele, se os antivírus não são totalmente inúteis, no mínimo são insuficientes.
De acordo com um estudo da FireEye, 82% dos malwares desaparecem por completo depois de uma hora. Em média, 70% só existem uma vez. Assim, os gigantescos bancos de dados dos fabricantes dos antivírus são cemitérios de malwares que jamais afetarão os usuários. Daí a popularização da heurística na detecção de softwares mal-intencionados, que permite identificá-los a partir de seu comportamento, mas que, em contrapartida, consomem muitos recursos e apresentam resultados difíceis de interpretar.
Talvez os antivírus tenham se transformado em coisas monstruosas e lentas. Ao longo dos anos, foram adicionando às suas janelas uma grande quantidade de funções extras, como cópias de segurança ou limpadores de arquivos ― recursos úteis, mas que nada têm a ver com a proteção antimalware; são apenas uma estratégia de marketing para aliciar os consumidores e convencê-los da utilidade das ferramentas.
A conclusão fica para a próxima postagem. Até lá.
RODRIGO JANOT E A DISENTERIA VERBAL DE GILMAR MENDES
Depois que a Folha
divulgou uma suposta “coletiva em off” para vazar seletivamente nomes de
políticos que figuram na “Lista de Janot”,
o grandiloquente ministro Gilmar Mendes
teceu críticas incisivas aos procuradores.
No pronunciamento mais contundente
desde que assumiu a Procuradoria Geral da República, Rodrigo Janot rebateu: “Não vi uma só palavra de quem teve uma disenteria verbal a se pronunciar sobre
essa imputação do palácio do planalto, congresso nacional e supremo tribunal
federal. só posso atribuir tal ideia a mentes
ociosas e dadas a devaneios. mas, infelizmente, com meios para distorcer
fatos e instrumentos legítimos de comunicação institucional”. Ainda que não
tenha citado Mendes nominalmente, o
PGR não deixou dúvidas sobre quem era o alvo das suas críticas.
Disse Janot que
magistrado preferiu atacar o Ministério Público e omitir, de forma deliberada,
as menções ao uso do off no Palácio, no Congresso e no Supremo, que a
informação de que houve uma coletiva para a divulgação de uma lista de políticos
investigados é mentirosa, que Mendes estaria tentando nivelar todas
as autoridades ao atribuir aos procuradores conduta que, na prática, seria
dele, qual seja chamar jornalistas para conversas reservadas e divulgar
informações sigilosas.
“Ainda assim, meus
amigos, em projeção mental, alguns tentam nivelar todos a sua decrepitude moral e para isso
acusam-nos de condutas que lhes são próprias, socorrendo-se, não raras vezes,
da aparente intangibilidade proporcionada pela posição que ocupam no estado”
— completou Janot. E não deixou por
menos: “procuramos nos distanciar dos
banquetes palacianos. Fugimos dos círculos de comensais que cortejam desavergonhadamente o poder público e repudiamos a relação promíscua com a
imprensa”, em patente reprovação à suposta conduta promíscua do ministro,
que estaria participando com frequência de jantares no Palácio do Planalto.
A bola está com o ministro. Aguardemos, pois, o próximo lance.
Confira minhas atualizações diárias sobre
política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/