Coerência é artigo em falta nas prateleiras do presidente Bolsonaro, que, entre outras falas paradoxais, negou o golpe
militar de 64, mas reconheceu que a ditadura errou por torturar demais e matar
de menos. Hipocrisia à parte, assiste alguma razão ao nosso indômito capitão, sobretudo porque a "abertura" deu azo à volta
de personae non gratae e a criação de
partidos "de esquerda", como o Partido dos Trabalhadores que não
trabalham, dos estudantes que não estudam e dos intelectuais que não pensam e
seus execráveis satélites.
Em 1988, sob efeito da formidável ressaca resultante de duas
décadas de repressão, nossa nova Carta Magna foi recheada benefícios sem que a
fonte dos recursos que os sustentariam fosse apontada, e trouxe a reboque uma política pública de produção de leis, regras e regulamentos divorciadas
do mundo real e escritas para fomentar o crime e favorecer os criminosos. E
como nada nunca é tão ruim que não passa piorar, o STF guindou esta banânia à condição de única democracia no mundo com
13 Poderes: O Executivo, o Legislativo e 11 ministros supremos que muito falam, pouco fazem e raramente se
entendem.
Saliento que tenho o maior respeito pelo Supremo como instituição, mas não por seus membros, sobretudo na composição atual, que é a pior de todos os tempos, como comprovam a distribuição de habeas corpus em massa, a anulação de sentenças em processos onde réus
delatados não apresentaram suas razões finais depois dos delatores (não existe
absolutamente nada na legislação brasileira que dê suporte a esse entendimento
absurdo), a reversão da jurisprudência sobre a prisão em segunda instância e,
mais recentemente, a proibição liminar e monocrática do compartilhamento de
informações pela UIF e Receita Federal com o MP e a PF sem prévia autorização judicial. Pelo menos esse jabuti deve
cair da árvore, mas o julgamento vem se arrastando e só será concluído antes do
recesso do Judiciário se os ministros que ainda não votaram deixarem de lado a
poesia e se pronunciem de maneira clara e concisa — restam 8 sessões até o
encerramento do ano judiciário ainda há 9 magistrados a votar.
Contribuiu para o Supremo
se tornar um ninho de cobras a cizânia fomentada pelo maior câncer que já
presidiu esta banânia e, ao deixar o posto, fez eleger a mãe de todas as
calamidades, visando manter sua poltrona aquecida até que ele próprio pudesse
voltar a ocupá-la, e foi graças à facção pró-crime dos togados que esse abjeto
carcinoma retornou à atividade depois de passar 580 dias preso na sala VIP da Superintendência da PF em Curitiba, embora sua breve reclusão jamais
o impediu de explorar politicamente sua situação, nem de transformar a cela em
escritório político, sede de comitê de campanha, sala de entrevistas e por aí
afora. Com a cara de pau que Deus lhe deu e demônio lustrou, a autodeclarada
alma viva mais honesta do Brasil afirmou candidamente que a cadeia o transformou
"numa pessoa melhor".
Horas depois do voto de minerva do eminente ministro Dias Toffoli, o sevandija vermelho
subiu num palanque improvisado por apoiadores e, no melhor estilho
"encantador de burros", destilou seu ódio contra Jair Bolsonaro, Sérgio Moro,
a Lava-Jato; no dia seguinte, já em São Bernardo do Campo — para onde voou
num luxuoso jatinho da empresa da empresa Brisair Serviços Técnicos Aeronáutica, pertencente ao casal de
apresentadores globais Luciano Huck e Angélica —, repetiu a dose defronte ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e, na
sequência, saiu em caravana Brasil afora para espalhar seu veneno.
Na capital de Pernambuco, seu estado de origem (num hotel de
luxo da praia da Boa Viagem, o bairro mais chique da cidade, é claro), o cancro
sifilítico petista levou ao delírio seus miquinhos amestrados com seguinte
troçulho: “Eu não queria falar de política num festival cultural e eu queria
assistir ao povo exaltar toda a sua ternura por esse país maravilhoso. Eu hoje
sou um homem melhor do que aquele que entrou na cadeia, sou mais maduro, sou um
homem que aprendi que nada derrota as pessoas que se amam nesse país. Nós
não vendemos ódio, vendemos amor, paixão. É muito coração nessa história”.
Enfiado no fundo de um desses ônibus de luxo com vidro
escuro para ninguém ver nada dentro, aprontava-se o morfético para partir rumo
ao que, aparentemente, seria um compromisso de sua nova peregrinação pelo
Brasil, com a qual imagina atrair as massas e voltar a ser o que foi um dia.
Porém, em vez de ouvir o aplauso da multidão, ouviu o que tem ouvido sempre que
sai à rua: “Lula, ladrão, teu lugar é na
prisão”. Na verdade, não havia multidão nenhuma — só um grupo de gente
vestida de verde e amarelo, mandando o ex-presidente para o raio que o parta.
Sabe lá Deus — ou o Diabo? — onde estavam os milhares e milhões de “brasileiros
do povo”, os “pobres”, os “desesperados” com o governo”, que deveriam ter
aparecido para dar força ao ex-presidente. E isso no coração do Nordeste, onde
Lula, com o apoio dos “institutos de pesquisa de opinião”, sempre diz que tem 120%
de popularidade. Talvez seja melhor no interiorzão. Talvez não seja tão ruim da
próxima vez. Quiçá o sofrido e inculto povo nordestino acorde e se dê
conta de que precisa carregar Lula
em triunfo. Mas ainda não rolou.
Pouco antes de ser preso, Lula teve uma das suas piores ideias — fazer uma “caravana” pelos
estados do Sul. Acabou escorraçado de lá na base da pedrada. Precisa tomar
cuidado para a história não começar de novo nas “caravanas” que tenciona fazer daqui
por diante. Isso sem mencionar que, a caminho de novos e desconhecidos
horizontes na política brasileira e mundial, pelo que se lê ou se ouve no
noticiário, o safardana tem uma porção de obstáculos práticos pela frente. Há
problemas com o Código Penal, com a lei eleitoral e com a não-capacidade do seu
partido et caterva de aprovar leis no
Congresso ou decidir votações na Câmara e no Senado. Será necessária uma assistência praticamente integral do STF
para resolver encrencas que vão de seus próximos processos criminais à condição de político ficha suja — e, portanto, inelegível, pelo menos segundo o
que está escrito hoje.
Como bem salientou J.R. Guzzo, Lula sabe que vai bombar nas próximas sondagens de “intenção de voto”, “popularidade”,
“imagem”, etc. encomendadas aos Ibopes e Datafolhas por uma dessas
confederações nacionais de alguma coisa que você encontra em qualquer esquina.
Já deve saber, também, que os especialistas em algoritmos têm números imensos
sobre a sua presença nas redes sociais. Nos últimos doze meses, apesar de todos
os pesares a “tração” do presidente Jair
Bolsonaro foi mais de 40 vezes maior que a dele. Nas 72 horas seguintes ao
seu alvará de soltura, o chefe do quadrilhão vermelho teria passado à frente do
inimigo, mas os números dos institutos são sempre uma revelação sobrenatural, e
o próprio Lula já se acostumou há
muito tempo a não colocar a mão no fogo, nem perto, em relação a eles. Quanto
ao algoritmo que mede a capacidade de um agente digital propagar em ondas sua
circulação na internet, o problema é o seguinte: estão falando muito de mim,
mas estão falando bem ou mal? Essa vida é mesmo complicada.