Como será o amanhã? Responda quem souber. Como ficará a
nação sob a nova direção, isso só o tempo dirá.
Chegamos onde chegamos porque nosso “esclarecidíssimo eleitorado” dispensou impiedosamente os candidatos que representavam um ponto
de equilíbrio e levou ao segundo turno os dois extremos do espectro político
partidário — de um lado, um boneco de ventríloquo de um criminoso condenado,
preso e sedento de vingança; do outro, um capitão do exército reformado, antipetista
e antiesquerdista, tido como machista, truculento, homofóbico e saudosista da
ditadura militar. Quem semeia ventos colhe tempestades, diz um velho ditado. Mas
quando as alterativas são o desastre anunciado e um caminho para o
desconhecido, o jeito é optar pela segunda — daí Bolsonaro ter derrotado Luladdad por uma vantagem de quase 11
milhões de votos.
Observação: Como salientou Roberto Pompeu de Toledo na edição impressa
da revista Veja da semana passada, a
Venezuela foi um dos fantasmas
acionados contra o PT na campanha. E
com razão: o partido de Lula
entrincheirou-se na solidariedade para com o regime dito bolivariano, num
estratagema de deliberada cegueira diante do desastre político, econômico e
social ali em curso. Some-se a isso a falta de autocrítica aos desatinos da
política econômica de Dilma e estava
servido, farto e saboroso, o prato com que os adversários alimentaram o
prognóstico de que, com a vitória do PT,
o Brasil se tornaria uma nova Venezuela.
Ano novo, presidente novo, segue dividido o povo, tendo a
raiva como combustível da polarização onde “os de direita” apoiam
incondicionalmente o “mito”, e a patuleia, má perdedora, promete ampla, geral, irrestrita, intransigente,
arrogante e exclusivista oposição — sobretudo o bando petista, que se enxerga
como o único e legítimo dono da chave da história. Aliás, o
PT informou que nenhum dos seus
parlamentares participará da cerimônia de posse de
Bolsonaro, no que foi prontamente seguido pelo
PSOL (para mais detalhes, clique
aqui).
A camarilha de Lula
diz que “reconhece o resultado das eleições, mas defende que elas foram marcadas
por falta de lisura por ter sido descaracterizada pelo golpe do impeachment,
pela proibição ilegal da candidatura do ex-presidente Lula e pela manipulação
criminosa das redes sociais para difundir mentiras contra o candidato Fernando
Haddad". Já a caterva do candidato derrotado Guilherme Boulos, eterno líder MTST,
classificou a efeméride como “um momento de festa em que, para o partido,
não há nada a comemorar”.
O boicote, vindo de quem vem, não chega a surpreender.
Aliás, dizer que o governo que ora se inicia tem como princípios o ódio, o
preconceito, a intolerância e a violência é esquecer — de maneira muito conveniente e com toda a má intenção — que foi Lula quem, de sua primeira candidatura presidencial, em 1989, ao discurso que fez antes de ser levado para a prisão, em abril do ano passado, repisou sempre a retórica do “nós contra eles”, onde “nós” seria o povo, que o PT e seu líder representariam, e “eles”, as elite econômicas interessadas apenas em manter seus privilégios.
Observação: O embate às vezes duro entre visões divergentes faz parte da vida democrática. Num debate polarizado, porém, cada um dos lados, convicto do acerto absoluto de suas ideias extremas, deseja não só a derrota, mas a aniquilação dos opositores, a quem vê como inimigos.
Claro que houve polarização política em outras épocas — como
em 1964, com as “marchas da família com Deus pela liberdade” contra o governo João Goulart, ou em 1968, com a
Passeata dos Cem Mil contra a ditadura militar, e por aí vai —, mas jamais com
a magnitude da que teve início em 2013 a pretexto do reajuste de R$ 0,20 nas
passagens de ônibus e acabou promovendo uma substancial mudança de padrão da
condução de seus conflitos políticos e resultando no (até então improvável)
impeachment da gerenta incompetenta que por pouco não levou o país à
bancarrota. De lá para cá, o maniqueísmo político cresceu exponencialmente e
explodiu durante a campanha pela sucessão presidencial de 2018, que, em
paralelo ao duelo entre Bolsonaro e Luladdad, magnificou o confronto entre
petismo e antipetismo. O PT, que até então dominava o jogo da vilanização do adversário, perdeu o rumo; sustentando até o limite a ficção de que Lula era perseguido pelas elites, o partido da estrela apagada insistiu em sua candidatura, mesmo estando ele preso, e quando afinal o "plano B" foi acionado, a transferência de votos impulsionou a candidatura do fantoche, mas não o suficiente para derrotar "o mito". Resta saber se a jararaca — como Lula apelidou a si mesmo — desta vez foi ferida de morte ou se ainda
terá forças para reconstituir-se num mito à altura do argentino Juan Domingo Perón, envolto num misto
de saudade do passado e miragem de um futuro idílico.
Como dito, conflitos são inerentes à democracia, e a polarização, que é
o enrijecimento das posições e seu aquartelamento em duas facções, sem muita
coisa de relevante no meio, pode ser tolerável enquanto regulada por
instituições fortes. É o que ocorre nos Estados Unidos. Por mais que Trump se rebele contra a imprensa e
chame de fake news as notícias que
lhe desagradem, não se concebe que vá fechar o The New York Times. É o que não ocorre na Venezuela, onde Nicolás Maduro fecha estações de TV
inoportunas — sob aplausos entusiásticos do bando vermelho tupiniquim, nunca é
demais lembrar. Ao fim e ao cabo, a polarização brasileira será julgada por seu
desfecho, se desfecho houver. Se não houver, é porque foi contida nos quadros
institucionais e seu andamento se dará na cadência desse benfazejo produto da
ordem democrática que é a alternância no poder.
Voltando ao cenário local, há que dedicar mais algumas
linhas ao “imbróglio Queiroz”. As
“movimentações financeiras atípicas” e mal explicadas que o COAF identificou na conta do
ex-assessor e motorista do então deputado e ora senador eleito Flávio Bolsonaro não implica diretamente
o presidente, mas pegaram muito mal para quem baseou sua campanha no combate à
corrupção. E uma parcela substancial da mídia tem feito o possível e o
impossível para manter esse assunto em destaque.
Não é preciso ter olfato de perdigueiro para farejar a
prática de pedágio no gabinete do “01”
(como Bolsonaro se refere ao filho
mais velho). Engordar os próprios salários garfando parte da remuneração dos
assessores sempre foi tão comum entre parlamentares quanto o uso da gravata, e
o número absurdo de funcionários que podem ser contratado a expensas do
contribuinte assanha o apetite pantagruélico dessa corja: na Câmara Federal, cada gabinete pode
ter entre 5 e 25 servidores comissionados, com salários que variam de
aproximadamente R$ 1 mil a R$ 15 mil; no Senado, o número de funcionários dobra
e a remuneração vai de R$ 4 mil a R$ 17 mil. Nada disso justifica
ou isenta de culpa os envolvidos, naturalmente. Por outro lado, Lula foi poupado das investigações sobre
o Mensalão e reeleito quando a
roubalheira já era pública e notória, além de ter emplacado uma ilustre
desconhecida e rematada incompetente como sucessora em 2010 e mantê-la no posto
2014, quando a Lava-Jato já estava
em curso e os primeiros prenúncios do Petrolão
já surgiam no horizonte. Não sei o leitor há de concordar, mas eu acho que toda
essa indignação fede mais do que o
caso em si.
Bolsonaro deu uma
explicação plausível para os depósitos na conta de sua esposa, e o general
Santos Cruz, ministro-chefe da
Secretaria de Governo, disse que o caso “
não
é uma questão de governo”. Não obstante, o misterioso desaparecimento
ex-assessor, motorista e amigo há décadas do
clã Bolsonaro deu à oposição farta munição para disparar contra a
credibilidade de um presidente que ainda nem começou a governar. Além disso, mesmo
tendo reaparecido, depois de faltar a duas oitivas convocadas pelo Ministério Público
(detalhes
nesta
postagem),
Queiroz
não explicou por que funcionários do gabinete de
Flavio Bolsonaro depositavam dinheiro em sua conta todo início de
mês, embora tenha afirmado que nunca foi laranja, que as transações de compra e
venda de carros explicam as movimentações em sua conta e que complicações
decorrentes de um câncer no intestino impediram-no de depor quanto foi
convocado. “
Eu sou um cara de
negócios. Faço dinheiro. Compro, revendo, compro, revendo, compro carro,
revendo carro. Sempre fui assim. Gosto muito de comprar carro de seguradora. Na
minha época lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar, revendia…”,
disse
Queiroz, cuja renda mensal,
segundo ele, gira em torno de 23 mil reais (clique
aqui
para conferir a íntegra da entrevista concedida ao
SBT).
Para encerrar, volto rapidamente à ex-presidanta incompetenta,
não para detalhar as barbaridades que ela gestou e pariu durante os 5 anos, 4
meses e 12 dias em que desgovernou esta Banânia, mas apenas para relembrar que,
a pretexto de combater a ditadura,
Dilma
participou de três organizações terroristas (
Colina,
VAR-Palmares e
VPR), e seus “camaradas” — alguns
saudados por ela em discursos de campanha, praticaram toda sorte de crimes, aí
incluídos assaltos a banco, sequestros e assassinatos,
e não para resistir à
ditadura, mas sim para fazer a “luta revolucionária” e instaurar a ditadura do
proletariado, como lembrou o jornalista
Reinaldo Azevedo nesta
postagem.
Para bom entendedor...