Para encerrar esta sequência de inserções sobre política neste Blog de informática, seguem o discurso de despedida da "chefa" afastada e o primeiro pronunciamento oficial de Michel Temer depois de ter assumindo a presidência. A postagem original pode ser lida e comentada na minha comunidade de informática, cujo link para acesso se encontra na coluna à direita desta página.
Obrigado a todos pela paciência.
Na postagem desta sexta-feira, 13 de maio de 2016, segundo dia da era pós-Dilma e data em que, coincidentemente, comemora-se a libertação dos escravos, limito-me a transcrever, ipsis litteris, o primeiro discurso do ora presidente Michel Temer
― a quem desejo toda a sorte do mundo, até porque seu sucesso será o
sucesso da nação brasileira, esse povo sofrido que já não suportava
viver sob a égide da cleptocracia petralha. Acompanhem:
Meus amigos, eu quero cumprimentar todos os ministros
empossados, os senhores governadores, senhoras e senhores parlamentares,
familiares, amigos, senhoras e senhores. Eu pretendia que esta
cerimônia fosse extremamente sóbria e discreta, como convém ao momento
que vivemos. Entretanto, eu vejo o entusiasmo dos colegas parlamentares,
dos senhores governadores, e tenho absoluta convicção de que este
entusiasmo deriva, precisamente, da longa convivência que nós todos
tivemos ao longo do tempo. Até pensei, num primeiro momento, que não
lançaria nenhuma mensagem neste momento. Mas percebi, pelos contatos que
tive nestes dois últimos dias, que indispensável seria esta
manifestação.
E minha primeira palavra ao povo brasileiro é a palavra
confiança. Confiança nos valores que formam o caráter de nossa gente, na
vitalidade da nossa democracia; confiança na recuperação da economia
nacional, nos potenciais do nosso país, em suas instituições sociais e
políticas e na capacidade de que, unidos, poderemos enfrentar os
desafios deste momento que é de grande dificuldade.
Reitero, como tenho dito ao longo do tempo, que é urgente
pacificar a Nação e unificar o Brasil. É urgente fazermos um governo de
salvação nacional. Partidos políticos, lideranças e entidades
organizadas e o povo brasileiro hão de emprestar sua colaboração para
tirar o país dessa grave crise em que nos encontramos. O diálogo é o
primeiro passo para enfrentarmos os desafios para avançar e garantir a
retomada do crescimento. Ninguém, absolutamente ninguém,
individualmente, tem as melhores receitas para as reformas que
precisamos realizar. Mas nós, governo, Parlamento e sociedade, juntos,
vamos encontrá-las.
Eu conservo a absoluta convicção de que é preciso resgatar a
credibilidade do Brasil no concerto interno e no concerto internacional,
fator necessário para que empresários dos setores industriais, de
serviços, do agronegócio, e os trabalhadores, enfim, de todas as áreas
produtivas se entusiasmem e retomem, em segurança, com seus
investimentos. Teremos que incentivar, de maneira significativa, as
parcerias público-privadas, na medida em que esse instrumento poderá
gerar emprego no País.
Sabemos que o Estado não pode tudo fazer. Depende da atuação
dos setores produtivos: empregadores, de um lado, e trabalhadores de
outro. São esses dois polos que irão criar a nossa prosperidade. Ao
Estado compete – vou dizer, aqui, o óbvio -, compete cuidar da
segurança, da saúde, da educação, ou seja, dos espaços e setores
fundamentais, que não podem sair da órbita pública. O restante terá que
ser compartilhado com a iniciativa privada, aqui entendida como a
conjugação de ação entre trabalhadores e empregadores.
O emprego, sabemos todos, é um bem fundamental para os
brasileiros. O cidadão, entretanto, só terá emprego se a indústria, o
comércio e as atividades de serviço, estiverem todas caminhando bem.
De outro lado, um projeto que garanta a empregabilidade,
exige a aplicação e a consolidação de projetos sociais. Por sabermos
todos, que o Brasil lamentavelmente ainda é um País pobre. Portanto,
reafirmo, e o faço em letras garrafais: vamos manter os programas
sociais. O Bolsa Família, o Pronatec, o Fies, o Prouni, o Minha Casa
Minha Vida, entre outros, são projetos que deram certo, e, portanto,
terão sua gestão aprimorada. Aliás, aqui mais do que nunca, nós
precisamos acabar com um hábito que existe no Brasil, em que assumindo
outrem o governo, você tem que excluir o que foi feito. Ao contrário,
você tem que prestigiar aquilo que deu certo, completá-los, aprimorá-los
e insertar outros programas que sejam úteis para o País. Eu expresso,
portanto, nosso compromisso com essas reformas.
Mas eu quero fazer uma observação. É que nenhuma dessas
reformas alterará os direitos adquiridos pelos cidadãos brasileiros.
Como menos fosse sê-lo-ia pela minha formação democrática e pela minha
formação jurídica. Quando me pedirem para fazer alguma coisa, eu farei
como Dutra, o que é diz o livrinho? O livrinho é a Constituição Federal.
Nós temos de organizar as bases do futuro. Muitas matérias
estão em tramitação no Congresso Nacional, eu até não iria falar viu,
mas como todo mundo está prestando atenção, eu vou dar toda uma
programação aqui. As reformas fundamentais serão fruto de um
desdobramento ao longo do tempo. Uma delas, eu tenho empenho e terei
empenho isso, porque eu tenho nela, é a revisão do pacto federativo.
Estados e municípios precisam ganhar autonomia verdadeira sobre a égide
de uma federação real, não sendo uma federação artificial, como vemos
atualmente.
A força da União, nós temos que colocar isso na nossa cabeça,
deriva da força dos estados e municípios. Há matérias, meus amigos,
controvertidas, como a reforma trabalhista e a previdenciária. A
modificação que queremos fazer, tem como objetivo, e só se este objetivo
for cumprido é que elas serão levadas adiante, mas tem como objetivo o
pagamento das aposentadorias e a geração de emprego. Para garantir o
pagamento, portanto. Tem como garantia a busca da sustentabilidade para
assegurar o futuro.
Esta agenda, difícil, complicada, não é fácil, ela será
balizada, de um lado pelo diálogo e de outro pela conjugação de
esforços. Ou seja, quando editarmos uma norma referente a essas
matérias, será pela compreensão da sociedade brasileira. E, para isso, é
que nós queremos uma base parlamentar sólida, que nos permita conversar
com a classe política e também com a sociedade.
Executivo e legislativo precisam trabalhar em harmonia e de
forma integrada. Até porque no Congresso Nacional é que estão
representadas todas as correntes da opinião da sociedade brasileira, não
é apenas no executivo. Lá no Congresso Nacional estão todos os votos de
todos os brasileiros. Portanto, nós temos que governar em conjunto.
Então, nós vamos precisar muito da governabilidade e a
governabilidade exige – além do que eu chamo de governança que é o apoio
da classe política no Congresso Nacional – precisam também de
governabilidade, que é o apoio do povo. O povo precisa colaborar e
aplaudir as medidas que venhamos a tomar. E nesse sentido a classe
política unida ao povo conduzirá ao crescimento do País. Todos os nossos
esforços estarão centrados na melhoria dos processos administrativos, o
que demandará maior eficácia da governança pública.
A moral pública será permanentemente buscada por meio dos
instrumentos de controle e apuração de desvios. Nesse contexto, tomo a
liberdade de dizer que a Lava-Jato se tornou referência e como tal, deve
ter (falha no áudio) e proteção contra qualquer tentativa de
enfraquecê-la.
O Brasil, meus amigos, vive hoje sua pior crise econômica.
São 11 milhões de desempregados, inflação de dois dígitos, déficit quase
de R$ 100 bilhões, recessão e também grave a situação caótica da saúde
pública. Nosso maior desafio é estancar o processo de queda livre na
atividade econômica, que tem levado ao aumento do desemprego e a perda
do bem-estar da população.
Para isso, é imprescindível, reconstruirmos os fundamentos da
economia brasileira. E melhorarmos significativamente o ambiente de
negócios para o setor privado. De forma que ele possa retomar sua
rotação natural de investir, de produzir e gerar emprego e renda.
De imediato, precisamos também restaurar o equilíbrio das
contas públicas, trazendo a evolução do endividamento no setor público
de volta ao patamar de sustentabilidade ao longo do tempo. Quanto mais
cedo formos capazes de reequilibrar as contas públicas, mais rápido
conseguiremos retomar o crescimento.
A primeira medida, na linha dessa redução, está, ainda que
modestamente, aqui representada, já eliminamos vários ministérios da
máquina pública. E, ao mesmo tempo, nós não vamos parar por aí. Já estão
encomendados estudos para eliminar cargos comissionados e funções
gratificadas. Sabidamente funções gratificadas desnecessárias.
Sabidamente, na casa de milhares e milhares de funções comissionadas.
Eu quero, também, para tranquilizar o mercado, dizer que
serão mantidas todas as garantias que a direção do Banco Central hoje
desfruta para fortalecer sua atuação como condutora da política
monetária e fiscal. É preciso, meus amigos, – e aqui eu percebo que eu
fico dizendo umas obviedades, umas trivialidades, mas que são
necessárias porque, ao longo do tempo, eu percebo como as pessoas vão se
esquecendo de certos conceitos fundamentais da vida pública e da vida
no Estado.
Então, quando eu digo “é preciso dar eficiência aos gastos
públicos”, coisa que não tem merecido maior preocupação do Estado
brasileiro, nós todos estamos de acordo com isso. Nós precisamos atingir
aquilo que eu chamo de “democracia da eficiência”. Porque se, no
passado, nós tivemos, por força da Constituição, um período da
democracia liberal, quando os direitos liberais foram exercitados
amplamente. Se, ao depois, ainda ancorado na Constituição, nós tivemos o
desfrute dos chamados direitos sociais, que são previstos na
Constituição, num dado momento aqueles que ascenderam ao primeiro
patamar da classe média, começaram a exigir eficiência, eficiência do
serviço público e eficiência nos serviços privados. E é por isso que
hoje nós estamos na fase da democracia da eficiência, com o que eu quero
contar com o trabalho dos senhores ministros, do Parlamento e de todo o
povo brasileiro.
Eu quero também remover – pelo menos nós faremos um esforço
extraordinário para isto – a incerteza introduzida pela inflação dos
últimos anos. Inflação alta – vai mais uma trivialidade – atrapalha o
crescimento, desorganiza a atividade produtiva e turva o horizonte de
planejamento dos agentes econômicos. E sabe quem sofre as primeiras
consequências dessa inflação alta? É a classe trabalhadora e os
segmentos menos protegidos da sociedade, é que pagam a parte mais pesada
dessa conta.
Nós todos sabemos que, há um bom tempo, o mundo está de olho
no Brasil. Os investidores acompanham, com grande interesse, as mudanças
no nosso país. Havendo condições adequadas – e nós vamos produzi-las -,
a resposta será rápida, pois é grande a quantidade de recursos
disponíveis no mercado internacional e até internamente, e ainda maior
as potencialidades no nosso País. E com base no diálogo, nós adotaremos
políticas adequadas para incentivar a indústria, o comércio, os serviços
e os trabalhadores. E a agricultura, tanto a familiar quanto o
agronegócio. Precisamos prestigiar a agricultura familiar, que é quase
um micro empreendimento na área da agricultura, especialmente apoiando e
incentivando os micros, pequenos e médios empresários. Além de
modernizar o País, estaremos realizando o maior objetivo do governo:
reduzir o desemprego. Que há de ser, os senhores percebem, estou
repetindo esse fato porque eu tenho tido – e os senhores todos têm tido
-, contato em todas as partes do País, com famílias desempregadas. E nós
vemos o desespero desses brasileiros, que contam com um País com
potencialidades extraordinárias e que não consegue levar adiante uma
política econômica geradora de empregos para todos os brasileiros.
Quero falar um pouco sobre a atuação nas linhas interna e
externa do Brasil. E esses princípios estão consagrados na Constituição
de [19]88, senador Mauro Benevides, que nós ajudamos a redigir, não é?
Eu indico, porque esses preceitos indicam caminho natural para definição
das linhas da atuação interna e externa do Brasil. Os senhores veem que
eu insisto muito no tema da Constituição porque, ao meu modo de ver,
toda vez que nós nos desviamos dos padrões jurídicos, e o Direito
existe, exata e precisamente, para regular as relações sociais, quando
nós nos desviamos as (incompreensível) dos limites do Direito, nós
criamos a instabilidade social e a instabilidade política. Por isto eu
insisto sempre em invocação do texto constitucional.
Muito bem, nesta Constituição, a independência nacional, a
defesa da paz e da solução pacífica de conflitos, o respeito à
autodeterminação dos povos, a igualdade entre os estados, a
não-intervenção, a centralidade dos direitos humanos e o repúdio ao
racismo e ao terrorismo, dentre outros princípios, são valores profundos
da nossa sociedade. E traça uma imagem de um País pacífico e ciente dos
direitos e deveres estabelecidos pela nossa Constituição.
São, meus amigos, esses elementos de consenso que nos permite
estabelecer bases sólidas para a política externa que volte a
representar os valores e interesses permanentes no nosso País. A
recuperação do prestígio do País e da confiança em seu futuro serão
tarefas iniciais e decisivas para o fortalecimento da inserção
internacional da nossa economia.
Agora em agosto o Brasil estará no centro do mundo com a
realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro. Bilhões de pessoas
assistirão jogos, jornalistas de vários países estarão presentes para
reportar o país-sede das competições. Muito além dos esportes, sabemos
disso, as pautas se voltaram para as condições políticas e econômicas do
País. Tão cedo não voltaremos oportunidade como esta de atrair a
atenção de tanta gente, ao mesmo tempo, em todos os cantos do mundo.
Nesta tarde de quinta-feira, porém, e desde já pedindo
desculpas pelo possível, para usar um refrão, pelo possível alongado da
exposição, eu quero dizer, reiterar, que a minha intenção era realizar
essa cerimônia, digamos assim, com a maior sobriedade possível. Estamos
fazendo porque, sem embargo do entusiasmo de todos os senhores, todos
nós compreendemos o momento difícil, delicado, ingrato que estamos todos
passando.
Por isso, nessa tarde de quinta-feira não é momento para
celebrações, mas para uma profunda reflexão: é o presente e o futuro que
nos desafiam e não podemos olhar para frente com os olhos de ontem.
Olhamos com olhos no presente e olhos no futuro.
Faço questão, e espero que sirva de exemplo, e declarar meu
absoluto respeito institucional à senhora presidente Dilma Rousseff. Não
discuto aqui as razões pelas quais foi afastada. Quero apenas sublinhar
a importância do respeito às instituições e a observância à liturgia
nas questões, no trato das questões institucionais. É uma coisa que nós
temos que recuperar no nosso País. Uma certa cerimônia não pessoal, mas
uma cerimônia institucional, uma cerimônia em que as palavras não sejam
propagadoras do mal-estar entre os brasileiros, mas, ao contrário, que
sejam propagadoras da pacificação, da paz, da harmonia, da
solidariedade, da moderação, do equilíbrio entre todos os brasileiros.
Tudo o que disse, meus amigos, faz parte de um ideário que
ofereço ao País, não em busca da unanimidade, o que é impossível, mas
como início de diálogo com busca de entendimento. Farei muitos outros
pronunciamentos. E meus ministros também. “Meus ministros” é exagero,
são ministros do governo. O presidente não tem vice-presidente, não tem
ministro, quem tem ministro é o governo. Então, os ministros do governo
farão manifestações nesse sentido, sempre no exercício infatigável de
encontrar soluções negociadas para os nossos problemas. Temos pouco
tempo, mas se nos esforçarmos, é o suficiente para fazer as reformas que
o Brasil precisa.
E aí, meus amigos, eu quero dizer, mais uma vez, da
importância dessa harmonia entre os Poderes, em primeiro lugar. Em
segundo lugar, a determinação, na própria Constituição – e eu a
cumprirei – no sentido de que cada órgão do Poder tem as suas tarefas: o
Executivo executa, o Legislativo legisla, o Judiciário julga. Ninguém
pode interferir em um ou outro poder por uma razão singela: a
Constituição diz que os poderes são independentes e harmônicos entre si.
Ora, bem, nós não somos os donos do poder, nós somos
exercentes do poder. O poder, está definido na Constituição, é do povo.
Quando o povo cria o Estado, ele nos dá uma ordem: “Olha aqui, vocês,
que vão ocupar os poderes, exerçam-no com harmonia porque são órgãos
exercentes de funções”. Ora, quando há uma desarmonia, o que há é uma
desobediência à soberania popular, portanto há uma
inconstitucionalidade. E isso nós não queremos jamais permitir que se
pratique.
Dizia aos senhores que a partir de agora nós não podemos mais
falar em crise. Trabalharemos. Aliás, há pouco tempo, eu passava por um
posto de gasolina, na Castelo Branco, e o sujeito botou uma placa lá:
“Não fale em crise, trabalhe”. Eu quero ver até se consigo espalhar essa
frase em 10, 20 milhões de outdoors por todo o Brasil, porque isso cria
também um clima de harmonia, de interesse, de otimismo, não é verdade?
Então, não vamos falar em crise, vamos trabalhar.
O nosso lema – que não é um lema de hoje -, o nosso lema é
Ordem e Progresso. A expressão da nossa bandeira não poderia ser mais
atual, como se hoje tivesse sido redigida.
Finalmente, meus amigos, fundado num critério de alta religiosidade. E vocês sabem que religião vem do latim religio, religare,
portanto, você, quando é religioso, você está fazendo uma religação. E o
que nós queremos fazer agora com o Brasil, é um ato religioso, é um ato
de religação de toda a sociedade brasileira com os valores fundamentais
do nosso País.
Por isso que eu peço a Deus que abençoe a todos nós: a mim, à
minha equipe, aos congressistas, aos membros do Poder Judiciário e ao
povo brasileiro, para estarmos sempre à altura dos grandes desafios que
temos pela frente.
Meu muito obrigado e um bom Brasil para todos nós.
Para não dizerem que não falei “das flores” transcrevo também o
discurso de despedida que a gerentona de araque proferiu logo após ter
sido notificada do seu afastamento ― ramerrão no qual manteve o tom dos
últimos pronunciamentos e a pedir às pessoas continuem defendendo a
manutenção de seu mandato ― embora seja difícil entender por que ela se
agarra à possibilidade de voltar a nos assombrar ― como se já não
bastasse o fato de termos de custear suas (muitas) mordomias durante o
período de afastamento, assunto que discutiremos em outra oportunidade.
Enfim, cada louco com sua mania. Com a palavra a nefelibata da mandioca:
Bom dia. Bom dia senhores e senhoras jornalistas, bom dia —
aqui tem parlamentares, ministros, bom dia a todos aqui. Eu vou fazer
uma declaração à imprensa, portanto, não é uma entrevista, é uma
declaração.
Queria, primeiro, dizer a vocês e dizer, também, a todos os
brasileiros e a todas as brasileiras, que foi aberto pelo Senado Federal
o processo de impeachment e determinada a suspensão do exercício do meu
mandato pelo prazo máximo de 180 dias.
Eu fui eleita presidenta por 54 milhões de cidadãs e de
cidadãos brasileiros e é nesta condição, na condição de presidenta
eleita pelos 54 milhões, que eu me dirijo a vocês nesse momento decisivo
para a democracia brasileira e para nosso futuro como Nação.
O que está em jogo no processo de impeachment não é apenas o
meu mandato. O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade
soberana do povo brasileiro e à Constituição. O que está em jogo são as
conquistas dos últimos 13 anos: os ganhos das pessoas mais pobres e da
classe média, a proteção às crianças, os jovens chegando às
universidades e às escolas técnicas, a valorização do salário mínimo, os
médicos atendendo a população, a realização do sonho da casa própria,
com o Minha Casa Minha Vida. O que está em jogo é, também, a grande
descoberta do Brasil, o pré-sal. O que está em jogo é o futuro do País, a
oportunidade e a esperança de avançar sempre mais.
Diante da decisão do Senado, eu quero, mais uma vez,
esclarecer os fatos e denunciar os riscos para o País de um impeachment
fraudulento, um verdadeiro golpe.
Desde que fui eleita, parte da oposição, inconformada, pediu
recontagem de votos, tentou anular as eleições e depois passou a
conspirar abertamente pelo meu impeachment. Mergulharam o País em um
estado permanente de instabilidade política, impedindo a recuperação da
economia com um único objetivo: de tomar à força o que não conquistaram
nas urnas.
Meu governo tem sido alvo de intensa e incessante sabotagem. O
objetivo evidente vem sendo me impedir de governar, e, assim, forjar o
meio ambiente propício ao golpe. Quando uma presidente eleita é cassada,
sob a acusação de um crime que não cometeu, o nome que se dá a isto, no
mundo democrático, não é impeachment: é golpe.
Não cometi crime de responsabilidade, não há razão para um
processo de impeachment. Não tenho contas no exterior, nunca recebi
propinas, jamais compactuei com a corrupção. Esse processo é um processo
frágil, juridicamente inconsistente, um processo injusto, desencadeado
contra uma pessoa honesta e inocente. É a maior das brutalidades que
pode ser cometida contra qualquer ser humano: puni-lo por um crime que
não cometeu.
Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um
inocente. Injustiça cometida é mal irreparável. Esta farsa jurídica de
que estou sendo alvo deve-se ao fato de que, como presidenta, nunca
aceitei chantagem de qualquer natureza.
Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes. Estou sendo
julgada injustamente por ter feito tudo o que a lei me autorizava a
fazer. Os atos que pratiquei foram atos legais, corretos, atos
necessários, atos de governo. Atos idênticos foram executados pelos
presidentes que me antecederam. Não era crime na época deles, e também
não é crime agora.
Acusam-me de ter editado seis decretos de suplementação, seis
decretos de crédito suplementar e, ao fazê-lo, ter cometido crime
contra a Lei Orçamentária. É falso. É falso, pois os decretos seguiram
autorizações previstas em lei. Tratam como crime um ato corriqueiro de
gestão. Acusam-me de atrasar pagamentos do Plano Safra. É falso. Nada
determinei a respeito. A lei não exige a minha participação na execução
deste Plano. Meus acusadores sequer conseguem dizer que ato eu teria
praticado, que ato? Qual ato? Além disso, nada restou para ser pago, nem
dívida há.
Jamais, em uma democracia, um mandato legítimo de um
presidente eleito poderá ser interrompido por causa de atos legítimos de
gestão orçamentária. O Brasil não pode ser o primeiro a fazer isto.
Queria me dirigir a toda a população do meu País dizendo que o
golpe não visa apenas me destituir, destituir uma presidenta eleita
pelo voto de milhões de brasileiros, voto direto em uma eleição justa.
Ao destituir o meu governo querem, na verdade, impedir a execução do
programa que foi escolhido pelos votos majoritários dos 54 milhões de
brasileiros e brasileiras. O golpe ameaça levar de roldão não só a
democracia, mas também as conquistas que a população alcançou nas
últimas décadas.
Durante todo esse tempo tenho sido, também, uma fiadora
zelosa do Estado Democrático de Direito. Meu governo não cometeu nenhum
ato repressivo contra movimentos sociais, contra movimentos
reivindicatórios, contra manifestantes de qualquer posição política.
O risco — o maior risco para o país nesse momento —, é ser
dirigido por um governo dos sem-voto, um governo que não foi eleito pelo
voto direto da população brasileira. Um governo que não terá a
legitimidade para propor e implementar soluções para os desafios do
Brasil. Um governo que pode ser ver tentado a reprimir os que protestam
contra ele. Um governo que nasce de um golpe, de um impeachment
fraudulento, nasce de uma espécie de eleição indireta, um governo que
será ele próprio a grande razão para a continuidade da crise política em
nosso País.
Por isso, quero dizer a vocês, a todos vocês que eu tenho
orgulho de ser a primeira mulher eleita presidenta do Brasil. Tenho
orgulho de ser a primeira mulher eleita presidenta do Brasil. Nestes
anos, exerci meu mandato de forma digna e honesta. Honrei os votos que
recebi. Em nome desses votos e em nome de todo o povo do meu País, vou
lutar com todos os instrumentos legais de que disponho para exercer o
meu mandato até o fim. Até o dia 31 de dezembro de 2018.
O destino sempre me reservou muitos desafios, muitos e
grandes desafios. Alguns pareciam intransponíveis, mas eu consegui
vencê-los. Eu já sofri a dor indizível da tortura; a dor aflitiva da
doença; e agora eu sofro mais uma vez a dor igualmente inominável da
injustiça. O que mais dói, neste momento, é a injustiça. O que mais dói é
perceber que estou sendo vítima de uma farsa jurídica e política.
Mas não esmoreço. Olho para trás e vejo tudo o que fizemos;
olho para a frente e vejo tudo o que ainda precisamos e podemos fazer. O
mais importante é que posso olhar para mim mesma e ver a face de alguém
que, mesmo marcada pelo tempo, tem forças para defender suas ideias e
seus direitos.
Lutei a minha vida inteira pela democracia, aprendi a confiar
na capacidade de luta do nosso povo. Já vivi muitas derrotas e vivi
grandes vitórias, confesso que nunca imaginei que seria necessário
lutar, de novo, contra um novo golpe no meu País. Nossa democracia
jovem, feita de lutas, feita de sacrifícios, feita de mortes não merece
isso.
Nos últimos meses, nosso povo foi às ruas, foi às ruas em
defesa de mais direitos, de mais avanços. É por isso que tenho certeza
de que a população saberá dizer ‘não’ ao golpe. O nosso povo é sábio e
tem experiência histórica. Aos brasileiros que se opõem ao golpe,
independentemente de posições partidárias, faço um chamado: mantenham-se
mobilizados, unidos e em paz. A luta pela democracia não tem data para
terminar: é luta permanente, que exige de nós dedicação constante. A
luta pela democracia não tem data para terminar.
A luta contra o golpe é longa. É uma luta que pode ser
vencida e nós vamos vencer. Esta vitória, esta vitória depende de todos
nós. Vamos mostrar ao mundo que há milhões de defensores da democracia
em nosso País.
Eu sei e muitos aqui sabem, sobretudo nosso povo sabe que a
história é feita de luta e sempre vale a pena lutar pela democracia. A
democracia é o lado certo da história. Jamais vamos desistir, jamais vou
desistir de lutar.
Muito obrigada a todos.
Sem comentários.