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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

AINDA SOBRE A CERIMÔNIA DE POSSE



Como era previsto, a maioria das emissoras de rádio e televisão acompanharam pari passu a posse do novo presidente da República. Muitos jornalistas se queixaram do aparato de segurança montado em Brasília; alguns chegaram a falar em “restrições” que os impediram de reportar aos ouvintes e telespectadores a plenitude da efeméride — sobretudo porque seus crachás não lhes davam acesso amplo, geral e irrestrito, como havia sido nas cerimônias de posse anteriores. Prefiro não entrar no mérito.

A exemplo de muita gente, não tive paciência para acompanhar integralmente a novela e ouvir todos os discursos (talvez por efeito da síndrome do macaco). Dos trechos a que assisti, destaco a formidável cara-de-pau do (ainda) presidente do Senado e do Congresso, cujo nariz crescia a olhos vistos conforme ele proferia seu interminável discurso, para atingir o ápice no trecho em que afirmou que “aqui neste Congresso não houve pauta-bomba nem deixou-se herança maldita”. Caberia perguntar ao nobre parlamentar como ele classifica o aumento dos super salários do funcionalismo e o déficit da Previdência.

Eunício  um dos mais notáveis expoentes da velha e imprestável política tupiniquim — demonstrou para além de qualquer dúvida razoável que ele e seus pares nos tomam por um bando de idiotas, cuja única função é comparecer às urnas e votar neles a cada quatro anos. Felizmente, o senador cearense foi derrotado nas urnas por Cid Gomes — que se notabilizou por ensinar a um bando de petistas, dias antes do segundo turno, que “Lula está preso, babacas” — e pelo presidente do Fortaleza Futebol Clube, cujo nome ora me escapa, mas cujo partido era o PROS.

Mesmo excluído da próxima legislatura, o parlamentar parlapatão não se furtou a proferir um discurso mais longo que o do próprio presidente, cuja atuação nos 28 anos de vida parlamentar Eunício chegou a elogiar. Mais chato que seu interminável discurso, só os votos de alguns ministros do STF — que parecem se encantar com o som da própria voz. Mas valeu a pena assistir ao episódio pela expressão de Bolsonaro durante a lengalenga. 

Citando Confúcio, Eunício ensinou que o discurso empolga (duvido que se referisse ao próprio, já que de burro ele não tem nada), e em outro trecho, numa paráfrase mal ajambrada de Otto von Bismarck, lembrou que a política é a arte do consenso. Na verdade, o Chanceler de Ferro disse que a política é a arte do possível, e se os políticos tupiniquins só chegam a algum consenso, é para favorecer a si próprios e ferrar a população. 

Para encerrar, um excerto da introdução da matéria de capa da Revista Veja desta semana:

Todo início de governo é um mar de novidades, com a revelação de novos nomes, novos gostos, novos estilos — e, quase sempre, velhos hábitos. Na recente história da democracia brasileira houve a República de Alagoas, de Fernando Collor. Depois do impeachment de 1992, o Brasil apressou-se para conhecer a República mineira do pão de queijo de Itamar Franco. Com Fernando Henrique Cardoso e Lula, o país primeiramente entrou no bairro paulistano de Higienópolis para depois flanar pelas ruas de São Bernardo do Campo, e em cada região teve de aprender a reconhecer gestos inéditos. Veio Dilma, deu-se um outro impeachment, veio Michel Temer — e a velocidade das mudanças impôs uma corrida para intuir o que se veria pela frente. É o que viveremos a partir da próxima terça-feira, com a posse de Jair Bolsonaro.

Que Deus esteja conosco.