Quando Moro for
inquirido na Câmara sobre a troca de mensagens com Dallagnol — cujo processo administrativo disciplinar foi arquivado
pelo corregedor nacional do MPF — os parlamentares que apoiam a Lava-Jato deveriam neutralizar os
interrogadores mais agressivos com um método simples e eficaz: a cada ataque,
um deles recordaria o codinome do atacante no Departamento de Propinas da Odebrecht. Por exemplo: depois da
intervenção de Gleisi Hoffmann,
algum parlamentar informaria que a pergunta fora feita pela excelentíssima
deputada conhecida como Amante ou Coxa.
Será divertido ver o efeito do lembrete sobre o ímpeto dos vilões que, como
sempre acontece no faroeste à brasileira, querem prender o xerife e roubar o
filme.
(Com Augusto Nunes).
CONVERSA ENTRE ARAPONGAS DO BEM
— E aí, já falou lá no Supremo?
— Sim, a Lula ser
inocente e vai estar solta amanhã.
— Que bom. E na Câmara? Tudo certo?
— Eu só ter dúvida se amigas da PT ir botar tapete vermelha pra eu.
— Não exagera. Já tem um palco lindo pra você brilhar e uma
imprensa meiga pra te dar todas as manchetes como jornalista investigativo. Se
melhorar, estraga.
— Você pensar pequena. Eu querer poder e grana, mas querer
prêmia também.
— Vamos focar: o que você vai falar na Câmara?
— Que a Moro ser
chefe do Lava-Jato e que isso desmascarar esse operação contra a Lula.
— Deixa só eu te passar uma informação que a gente
interceptou aqui: tá saindo um acordo de leniência com devolução de mais de 800
milhões de reais roubados da Petrobras…
— Essa problema não ser minha…
— Claro que não. Mas é coisa da Lava-Jato, podem querer te perguntar sobre isso.
— Elas não vai perguntar de isso.
— Como você sabe?
— Darling,
nós só lidar com duas grupos de gente: as comparsas e as otárias. As duas só ir
repetir até morte minha mantra: Lavo-Jata
ser armação de Mora pra fuck Lula.
— Gênio. Mas só pra te alertar que dessa vez a Lava-Jato conseguiu que os sócios da
gangue do Lula indenizem também o
governo dos Estados Unidos…
— Minha país ser fascista e estar nas mãos de uma fascista
que gosta da Moro porque ser
fascista também.
— Incrível, você tem tudo mesmo na ponta da língua.
— Jornalista investigativa ter que saber muita.
— Não te preocupa o STF
dar defeito?
— Que defeita?
— Desistir de botar em votação a tal liberdade provisória do
Lula.
— Ser ruim, hein?
— Sei não. Uma coisa é tu combinar uma gambiarra dessas no
escurinho, outra coisa é botar o carão ali no plenário da suprema corte e
mandar uma barbaridade dessas sem cair na gargalhada.
— Elas não ir cair no gargalhada. Elas ser triste, igual
nós. Todas que vive fingimento ser pessoa que não é e lutar luta de mentira não
rir nunca.
— Pô, também não precisava ser tão sincero… Que baixo
astral.
— É isso que eu te falar a tempo toda: ser sincera é uma
baixo astral. Melhor ser triste mentindo que ser muito triste falando verdade.
— Agora você falou tudo. Seu português até saiu legal…
Aliás, tava pra te perguntar: tanto tempo por aqui, por que você continua
falando português como se tivesse chegado ontem?
— Não ter tempo, muito sabotagem pra inventar. E linguagem
do fake news ser universal,
não precisar aprender esse língua chato.
— Tá certo. Lula
também nunca aprendeu. Lula livre!
— Não precisar dessa gritinha ridícula, só ter nós duas
aqui.
— Ah, é. Foi mal.
(Por Guilherme Fiúza — publicado na Forbes
Brasil)