Com o fim do recesso no Judiciário, é provável que o
ministro Marco Aurélio decida ainda nesta sexta-feira se as investigações sobre o caso Queiroz/Bolsonaro
prosseguirão mesmo no MP-RJ. Dada
essa possibilidade, resolvi sobrestar a publicação do capítulo final da minha
sequência sobre o imbróglio e dedicar mais algumas linhas ao mais recente “episódio
Lula”.
"Não deixaram
que eu me despedisse do Vavá por pura maldade. Não posso fazer nada porque não me deixaram ir. O que eu posso fazer é
ficar aqui e chorar", disse o molusco abjeto, deixando claro que sua opção pela política privou a dramaturgia tupiniquim do que poderia
vir a ser um grande ator.
À luz dos argumentos do MPF e da PF, tanto a juíza Carolina Lebbos quanto o desembargador Leandro
Paulsen negaram o pedido da defesa de Lula, mas o ministro Dias Toffoli, o conciliador, numa decisão salomônica, autorizou o encontro do molusco com seus familiares, mas desde que numa
base militar, sem a presença de militantes, repórteres e telefones celulares.
Sem palanque, sem comício, sem vitimismo, Lula preferiu não deixar suas acomodações na Superintendência da PF em Curitiba. Como sua ideia era capitalizar politicamente a morte do irmão — de quem, dizem, ele nunca foi muito próximo — recorrendo à demagogia politiqueira, a decisão tardia do presidente do STF lhe deu o argumento ideal para se fazer de vítima.
Sem palanque, sem comício, sem vitimismo, Lula preferiu não deixar suas acomodações na Superintendência da PF em Curitiba. Como sua ideia era capitalizar politicamente a morte do irmão — de quem, dizem, ele nunca foi muito próximo — recorrendo à demagogia politiqueira, a decisão tardia do presidente do STF lhe deu o argumento ideal para se fazer de vítima.
Observação: A decisão de Toffoli causou espécie entre militares das Forças Armadas. O
próprio presidente Bolsonaro demonstrou
preocupação com a operacionalidade da ação. A ideia era Lula ser levado de Curitiba para a Base Aérea de Guarulhos e, ao final da reunião familiar, devolvido
a sua cela. Seria um voo ponto a ponto, sem necessidade de uso de helicópteros,
o que tornaria a operação mais simples e com menos risco. Não obstante, os
militares receavam que o próprio pessoal da caserna reagisse mal à “regalia”
que estaria sendo concedida ao prisioneiro. Um oficial-general lembrou tratar-se
de procedimento complexo, de alto custo e que poderia gerar revolta entre os
militares devido ao uso de suas instalações.
Responsável pela decisão administrativa que embasou a decisão
de Lebbos e Paulsen, o superintendente da Polícia Federal no Paraná, Luciano Flores de Lima disse que
atender ao pedido da defesa era impossível. “Temos que botar na balança se é possível e se o pedido vai ser
alcançado”, afirmou, depois de questionado pela Folha durante entrevista sobre a nova fase da Lava-Jato. “Eu não entendi a polêmica. Simplesmente não
era possível; não dependia da boa vontade de ninguém. Apenas não havia
condições logísticas e policiais suficientes para garantir a segurança do
próprio conduzido e dos agentes públicos.”
Toffoli, criticado pelo PT por liberar a saída do prisioneiro somente quando faltavam poucos minutos para enterro, rebateu: “o juiz não pode acordar de manhã e decidir: vou solucionar tal problema da sociedade. Se um juiz quer ter desejos e ir além de sua função tradicional, que vá ser deputado”.
Toffoli, criticado pelo PT por liberar a saída do prisioneiro somente quando faltavam poucos minutos para enterro, rebateu: “o juiz não pode acordar de manhã e decidir: vou solucionar tal problema da sociedade. Se um juiz quer ter desejos e ir além de sua função tradicional, que vá ser deputado”.
Lula nunca se
interessou por enterro de irmão. Faltou a dois eventos do tipo antes de se
tornar presidiário. O que interessa a ele é alimentar a narrativa de perseguido.
Se agora não pode compartilhar com a família momentos como esse, deveria ter sopesado essa possibilidade antes de cometer os crimes que o puseram na cadeia. Para encerrar, um texto de Augusto Nunes:
É tão avassaladora a
paixão de Lula por Lula, é tão gigantesco o seu ego, que
não sobra espaço para outros afetos reais. Lula
só ama Lula. E faz apenas o que acha
que o deixa melhor no retrato.
O presidiário mais
conhecido do Brasil não estava interessado em despedir-se do irmão Vavá, nem em rever parentes que nunca
visitou quando estava em liberdade. O que o explorador de cadáveres queria
era fazer outro comício à beira do caixão. Como faltou palanque, preferiu
faltar ao encontro com a família em São Bernardo.
No cemitério, falaram
por ele Gleisi Hoffmann e Fernando Haddad. Ambos atacaram o
ministro Sergio Moro e a crueldade
dos juízes que, na versão da dupla, perseguem o chefe. Nenhum deles mencionou
uma única vez o nome de Vavá. No
lugar do toque de silêncio, dois corneteiros sopraram a musiquinha “Lula, lá”.
Pela primeira vez, o
morto fez o papel de figurante no próprio velório.