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quinta-feira, 9 de maio de 2019

LULA ESTÁ PRESO, BABACA!



No que interessa ao PT e à legião de crentes na injustiça da prisão de Lula, a decisão do STJ de reduzir a pena aplicada no processo do tríplex do Guarujá é um fator que não altera a ordem do produto. Do ponto de vista do mote “Lula livre”, nada mudou. Lula teria direito, daqui a algum tempo, a pleitear o regime para o semiaberto.

O detalhe — e o diabo, dizem, mora nos detalhes — é que o ex-presidente responde a outros seis processos e já foi condenado nem deles a mais 12 anos e 11 meses de prisão. A ação se encontra em grau de recurso, e se a tramitação seguir o ritmo das apelações da Lava-Jato já julgadas pelo TRF-4, a decisão pode ser conhecida ainda este mês. Caso se repita a velocidade com o Regional julgou especificamente o caso do tríplex, o acórdão sai em agosto — antes, portanto, de Lula ter cumprido 1/6 da pena, o que é condição sine qua non para pleitear a progressão para o semiaberto (ao reduzir sua pena, o STJ antecipou para meados de setembro a data em que lhe será possível solicitar progressão de regime à juíza Carolina Lebbos, responsável pelas decisões sobre sua custódia). Mas mesmo que seja autorizado a sair do confinamento para trabalhar durante o dia, ele não poderia fazer política, e como não exerce desde os anos 1980 a função de torneiro mecânico e é desprovido de qualquer outra especialidade conhecida, precisaria encontrar uma nova função em que fosse, senão especialista, ao menos aprendiz (talvez aplicar golpes e velhinhas ou bater carteiras).

Lula sempre manipulou habilmente as declarações alheias. Agora, falseia até suas próprias afirmações. Na sua primeira entrevista como presidiário, declarou: "Não trocarei a minha dignidade pela minha liberdade." Na segunda entrevista, dessa vez ao jornalista Kennedy Alencar, ajustou o discurso para admitir o óbvio: equipa-se para solicitar a progressão de regime que levará à abertura de sua cela. "Obviamente, quando os meus advogados disserem ´Lula, você pode sair´, eu vou sair. Só sairei daqui se qualquer coisa que tiver que tomar decisão não impedir de eu continuar brigando pela minha inocência." Ainda que desejasse, o molusco não poderia trocar a dignidade pela liberdade, até porque não se pode oferecer, em troca de alguma coisa, algo que não se tem. Se algum dia Lula teve alguma dignidade, ela se perdeu quando ele cometeu os crimes que o levaram à prisão.

Observação: A alegada "inocência" de Lula perdeu o prazo de validade quando sua culpa foi ratificada na terceira instância do Judiciário. Mas ao dizer que não abre mão de "continuar brigando", o preso como que desmente afirmações anteriores, nas quais tratava o Judiciário como parte de um grande complô político.

Fato é que o petralha não dá sinal de que esteja desconfortável no quarto com televisão e água quente da Polícia Federal em Curitiba, diferentemente de vários de seus parceiros obrigados a conviver com a cadeia dos comuns. Em casa, abdicaria da condição de “preso político”, teria de fazer frente às cobranças por reativação do PT e responder às necessidades do partido no exercício de uma oposição fragmentada e desarticulada. De onde está, nada lhe é cobrado.

Lula costuma dizer que, quando puder, voltará a percorrer o país. Talvez não tenha a oportunidade de expor seu discurso desconexo a plateias companheiras cada vez menores. Como dito linhas atrás, está a caminho uma segunda condenação em segunda instância, no caso do sítio de Atibaia. Somando-se as penas, ele voltará para o regime fechado antes de se acostumar com as vantagens do semiaberto ou os confortos da prisão domiciliar. Melhor seria se voltasse para o buraco imundo de onde jamais deveria ter saído, mas aí já é querer demais.



Com Dora Kramer e Josias de Souza

segunda-feira, 6 de maio de 2019

O “CONJE” DE MORO E FÃ-CLUBE DE LULA


Durante discurso na CCJ da Câmara, o ministro Sérgio Moro falou em "conje" quando se referia a "cônjuge". Litteris: "A possibilidade, por exemplo, de uma mulher, uma 'conje', seja morta pelo seu 'conje' ..." O vídeo viralizou nas redes sociais, claro que por obra e graça daqueles não veem provas contra Lula e acreditam (ou dizem acreditar) que o papa da seita do inferno é um preso político, não um político corrupto preso. Mas até aí morreu o Neves.

Na minha desvaliosa opinião, o que aconteceu foi mais um problema de dicção do que propriamente um erro. Portanto, chamar Moro de “burro” é tão absurdo quanto insistir na inocência do presidiário mais famoso do Brasil, depois de 8 magistrados em três instâncias da Justiça terem-no considerado culpado.

Se somarmos ao fato de Moro ser novo na política o estresse de passar horas respondendo perguntas dos membros da CCJ — que não morrem de amores pela proposta de medidas anticrime e anticorrupção —, fica fácil concluir que o excesso de adrenalina (que leva as pessoas, mesmo aparentemente calmas, a se sentirem desconfortáveis a ponto de perderem o controle sobre o que estão dizendo) tenha desencadeado o deslize.

Isso não significa que a dicção do ministro seja primorosa — aspecto que não chamava a atenção enquanto era juiz, pois então ele raramente falava em público — e que sua oratória não seja a de um Demóstenes — que era gago, mas colocava pedras na boca e uma faca entre os dentes para se foçar a falar sem gaguejar, e graças a essa disciplina conseguiu vencer a gagueira e entrar para a história como o maior orador da Grécia Antiga. Mas, de novo, até aí morreu o Neves.

As dimensões continentais do Brasil, combinadas com a miscigenação, faz com que o português falado no Oiapoque seja diferente do usado no Chuí. Moro nasceu em Maringá, no interior do Paraná, o que não o autoriza a confundir impunemente "cônjuge” com “conje”, até porque esse vocábulo não existe. Mas, de novo, em situações de estresse, as pessoas tendem a se comportar de forma diferente. Estrangeiros há muito radicados no Brasil, por exemplo, se expostos a situações de forte emoção, recuperam “do nada” o sotaque que perderam ao longo de décadas.

Ninguém — com a possível exceção dos esquerdopatas incorrigíveis — questiona a excelente formação do ex-juiz e ora ministro, que certamente sabe pronunciar a palavra "cônjuge". Vale lembrar que, não por acaso, a revista Time o incluiu, em 2016, na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo. Ademais, a sabedoria popular recomenda que o macaco olhe o próprio rabo e deixe o rabo do vizinho.

Que moral tem para criticar Moro quem endeusa um desaculturado exótico e notório exterminador do plural, que já falou todo tipo de sandice e acabou na cadeia — e não como preso político, mas como político corrupto preso? Ou a calamidade em forma de gente que veio depois — useira e vezeira em verbalizar toda sorte de asnices — e acabou impichada, investigada em diversos inquéritos e ré em pelo menos uma ação penal. Salvar-se-ia o vampiro do Jaburu — citado aqui porque, apesar de emedebista, protagonizou o terceiro capítulo da série de governos lulopetistas —, que falava bem até demais para os padrões tupiniquins, mas mentia ainda melhor, ao menos até ser desmascarado pelo carniceiro bilionário e aí... bem, deu no que deu.

As escorregadelas de Moro, conquanto lamentáveis, não afetam sua credibilidade, mas seria bom que o ministro — que não precisa de conselhos, muito menos deste obscuro articulista — revisasse os vídeos com seus pronunciamentos e palestras, identificasse os deslizes que tem cometido e evitasse sua repetição em ocasiões futuras. Não são muitos e não passam de meros detalhes, mas até aí, mais uma vez, morreu o Neves.


terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

TRISTE DO PAÍS QUE PRECISA DE HERÓIS



Podem-se contar nos dedos os heróis nacionais tupiniquins. Além Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, resta quem? Há uma lista com 43 heróis e heroínas oficiais do Brasil, cujos nomes estão escritos em páginas de aço no Panteão da Pátria em Brasília, mas eles estão longe de ser, digamos, uma unanimidade: figuras Zumbi, Chico Mendes ou Deodoro da Fonseca mostram bem o tipo de qualidades requeridas para um cidadão receber o certificado de herói brasileiro.

O jornalista J.R. Guzzo, cuja coluna quinzenal é quase tudo que restou da revista Veja que ainda vale a pena ler, relembra que depois de Tiradentes não se produziu um único herói nacional que honre o título. No passado remoto, houve Anhanguera, Fernão Dias e Raposo Tavares, mas, se você lembrar esses nomes, a CNBB, o Papa Francisco e a Comissão de Direitos Humanos da ONU podem vir com acusações de genocídio contra os índios; melhor não mexer com isso. 

Por outro lado, dependendo da sua imagem nas classes intelectuais, liberais, progressistas etc., ser herói é uma das coisas mais fáceis desta vida: basta obter uma certidão de “pessoa de esquerda”. Assassinos patológicos como um Carlos Marighela, por exemplo, têm direito a estrelar, no papel de salvador do Brasil, filmes pagos com o dinheiro dos seus impostos. Um psicopata homicida como Carlos Lamarca chegou a ganhar uma estátua num parque florestal de São Paulo. A vereadora Marielle Franco jamais recebeu uma única citação por algo de útil que tenha feito em toda a sua vida política, mas, depois de ser assassinada “pelo fascismo”, passou a ser tratada como um dos maiores colossos da história nacional.

O herói dos comunicadores, neste momento, é o ex-deputado Jean Wyllys. A soma total das realizações de sua existência se resume a ter ganhado, anos atrás, o prêmio de um programa de televisão que compete com o que existe de pior na luta pela audiência das classes Y e Z. Outra foi cuspir, no conforto de quem está cercado por um bolo de gente, num colega na Câmara dos Deputados justamente o que acabaria se tornando o atual presidente da República, vejam só. Agora, alegando subitamente ameaças à própria vida na internet, Wyllys abandonou o mandato, os eleitores e suas promessas de “resistência” e fugiu para a Espanha. Pronto: virou herói instantâneo. Agredido mesmo nessa disputa foi Bolsonaro, vítima de uma tentativa de homicídio que quase lhe tirou a vida e acaba de exigir uma terceira cirurgia, com sete horas de duração. Mas o mártir é a figura que cuspiu.

Neste país do Deus me livre, o presidente que derrotou o fantoche do presidiário de Curitiba é malhado como boneco de pano em Sábado de Aleluia. No mês passado, durante o Fórum Mundial de Davos, ele foi criticado porque seu discurso durou apenas uns poucos minutos. Durante a campanha, foi criticado sistematicamente por não ter participado dos debates. Para seus detratores, o fato de estar evacuando numa aviltante bolsa de colostomia, resultado de um atentado que quase o matou, era uma questão de somenos. Chegaram mesmo a dizer que a facada foi encomendada pelo próprio Bolsonaro, como forma de alavancar sua campanha. Ou seja: rebaixaram uma clara tentativa de homicídio ao nível de um ataque pra lá de suspeito, desfechado contra um ônibus da caravana de Lula, quando o ícone da podridão petista ainda perambulava livremente pelo país, regurgitando sua cantilena vitimista para quem se dispusesse a ouvir.

Voltando ao discurso de Bolsonaro em Davos, enquanto um chefe de governo da Alemanha ou da Austrália, por exemplo, vai lá quando os seus assessores julgam conveniente, cumpre em 24 horas, ou menos, o programa definido por eles e volta para casa sem apresentar alguma demonstração concreta da possível utilidade pública de sua viagem aos Alpes Suíços — e menos ainda ser julgado pelos “resultados” que obteve —, o presidente do Brasil tem de “performar”, como gostam de dizer os executivos de hoje em dia. Começa a ser cobrado antes mesmo de desembarcar, e não tem mais sossego até esquecerem do assunto uns dias depois de sua volta à Brasília. 

Quantos bilhões de dólares em investimentos Bolsonaro conseguiu atrair para a economia brasileira? “Interagiu” direito com os líderes mundiais que estavam ao seu redor? Foi elogiado pelos sábios das ciências econômicas, políticas e sociais presentes? Já é muito difícil, em condições normais, atender às expectativas da banca examinadora, mas se o presidente da República se chama Jair Bolsonaro, como é o caso no presente momento da nossa história, aí você já pode esquecer: vai voltar de Davos com um zero no boletim, seja lá o que tenha feito ou deixado de fazer durante sua participação no evento.

Como na história do Velho, o menino e o burro (para relembrar essa fábula, siga este link), Bolsonaro será criticado “por ter cachorro e por não ter”. Entre tudo o que disse em sua estreia no cenário internacional, não conseguiu acertar uma. Levou uma comitiva pequena demais, o que, segundo a crítica, mostrou o seu pouco caso com a grandiosidade da conferência. Ficou num hotel excessivamente barato, o que seria um desprestígio para a majestade do Estado brasileiro. Foi almoçar num bandejão do centro da cidade, por 19 francos suíços; foi condenado pela prática de “demagogia barata”. Pior ainda: causou, potencialmente, prejuízos econômicos de valor inestimável para o Brasil, já que deveria ter aproveitado a hora do almoço para levar “grandes investidores”, etc., a algum restaurante de primeira classe e, assim, fechar negócios vitais para o interesse público nacional. Que investidores? Que negócios? Não foram fornecidas informações a respeito. Seu discurso foi acusado de ser “muito curto”, sem que os inquisidores especificassem qual seria a duração correta, em sua avaliação, da fala presidencial.

O conselho de sentença se manifestou particularmente chocado com o que considerou a “superficialidade” das palavras de Bolsonaro. Mas não se esclareceu, em nenhum momento, qual o nível de profundidade que o discurso deveria ter atingido, nem se fez qualquer comparação com os discursos dos quatro outros presidentes brasileiros que foram a Davos Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer. O que teria qualquer um deles dito de útil, inteligente ou inovador para escapar da reprovação por superficialidade? De FHC ninguém se lembra mais nada; Lula falou que os “países ricos” deveriam se comportar melhor com os países pobres, ou alguma coisa com esse grau de originalidade; Dilma, na prática, entrou muda e saiu calada o que com certeza foi uma grande sorte para todos, levando-se em conta as coisas prodigiosas que costuma dizer toda vez que abre a boca para falar em público —, e Temer revelou que era importante “fazer a reforma da previdência”— o que, francamente, não impressionou ninguém pela profundidade. Em suma: nada que se possa aproveitar nestes últimos 25 anos. Mas como Bolsonaro é Bolsonaro, sua participação foi julgada “um fiasco histórico”. Vejam que ele não foi poupado sequer da catástrofe ocorrida há pouco mais de uma semana em Brumadinho — resultado, segundo alguns falastrões de cabeça não pensante, da privatização da Vale nos anos 1990 e da insensibilidade do atual governo ao tema do meio ambiente. 

Observação: Tomando em consideração isso tudo, a melhor coisa que Bolsonaro fez em Davos foi não ter comparecido à entrevista coletiva à imprensa que estava no programa e na qual só iria receber perguntas com o teor de qualidade mental que se percebe acima. Com uma cirurgia altamente complicada para dali a três dias, preferiu repousar um pouco. O público não perdeu absolutamente nada com a sua decisão.

Magistrados dos tribunais das redes sociais, sem compromisso algum com a realidade e com os efeitos que possam causar aos outros, condenam sem julgar tudo, absolutamente tudo, que seus desafetos dizem ou fazem. Quando Lula “foi impedido” de comparecer ao enterro de Vavá — por uma série de motivos que não vou enumerar novamente porque já o fiz em três ou quatro postagens recentes —, a caterva esquerdopata só faltou dizer que Bolsonaro encomendou a morte do irmão de seu amado lidar apenas para impedi-lo de participar da cerimônia fúnebre. No entanto, depois de conseguir sinal verde do ministro Dias Toffoli, o sevandija vermelho desistiu ao saber que a reunião teria de acontecer numa base militar, sem a presença de manifestantes e da imprensa. Isso deixou claro como o dia que sua intenção era transformar em palanque o esquife do irmão, a exemplo do que havia feito com o da mulher em 2017.

Para os esquerdopatas de plantão e outros boçais, porém, as restrições impostas for Toffoli foram um “sequestro” dos direitos do ex-presidente, o que demonstra que as pessoas se impõem a obrigação de dar opinião sobre tudo, saibam ou não a respeito do que falam, tenham ou não informações mínimas sobre o assunto de que tratam.

Como bem pontuou Dora Kramer, o que se tem com isso é um misto de superficialidade e distorção, cujo resultado é um elogio permanente à ignorância. Seus autores são todos uns indignados de plantão, donos da convicção de que suas opiniões dão rumo ao mundo. Tomando emprestada de Nelson Rodrigues a expressão e pedindo licença para trabalhar no seu inverso, formariam com louvor na tropa dos imbecis da falta de objetividade.

Triste Brasil.